Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 4 de agosto de 2015

'Até o final do ano, tentarão prender o Lula'


Prisões sem provas, pressões físicas e psicológicas. A Lava-Jato transita num fio da navalha e é impressionante ouvir quem acompanha os fatos de perto.
Wikimedia Commons


A frase que dá título a esse texto não foi dita por um militante petista desvairado. Nem por um jornalista (como esse que escreve) afeito a teorias da conspiração.
 
Saiu da boca de um advogado paulistano, bem-sucedido, com sólida formação acadêmica (é também professor de Direito), sócio de um escritório na região da avenida Paulista.
 
Detalhe: ele votou em Aécio no ano passado, mas não disse a frase em tom de “comemoração”, mas de alerta.
 
A conversa aconteceu num encontro social privado, há alguns dias, antes portanto da prisão de José Dirceu. O advogado, a quem conheço há mais de 30 anos, tem na sua carteira de clientes alguns empreiteiros. Um deles está em prisão domiciliar, por causa da Lava-Jato, e algumas semanas atrás foi obrigado a depor algemado em Curitiba – como forma de pressão.
 
“Um homem de quase 60 anos, franzino, que não oferece nenhum risco físico às autoridades, foi obrigado a depor algemado durante várias horas, sob alegação de ameaça à segurança do delegado“, contou.
 
Prisões sem provas, pressões físicas e psicológicas. A Lava-Jato transita num fio da navalha muito perigoso. Já sabemos disso. Mas é impressionante ouvir quem acompanha o desenrolar dos fatos ali, bem ao lado dos investigados e dos algozes da PF e do Judiciário.
 
Experiente operador do Direito, minha fonte está impressionada com o grau de truculência de delegados, procuradores e do juiz Sérgio Moro. Perguntei a ele (com veia sempre “conspiratória”) quem seria a cabeça pensante a traçar o roteiro da Lava-Jato: “Moro me parece frágil, mal preparado, tropeçando nas palavras nas inquirições…”, eu disse.
 
E o advogado: “não se engane, ele pode não ser brilhante ao falar, mas o cérebro é ele. Moro se acha imbuído de uma santa missão, e vai seguir em frente, nem que pra isso tenha que destruir metade da República. Ele é uma personalidade perigosa para a democracia”.
 
Todos advogados que trabalham na Lava-Jato estão assustados. Mas quase todos (e agora a avaliação é minha) temem enfrentar abertamente Sergio Moro. O juiz de primeira instância – com suas soturnas camisas pretas (ôpa, Itália dos anos 20 e 30!) acompanhadas de gravatas também escuras – virou uma espécie de intocável. Montou uma operação que – mais do que respeitada – é temida por todos que atuam no Judiciário.
 
“É uma espécie de estado islâmico judicial, onde tudo é permitido; afinal há um objetivo final que é sagrado: combater a corrupção”.
 
Algumas delações premiadas já chegam prontas, feito matéria da “Veja”: primeiro o editor escreve, depois o repórter acha alguma coisa que corrobore a tese. “Eles trazem a delação e dizem ao preso: você assume isso aqui? Sabemos que você sabe, fica mais fácil pra você”.
 
Mas o que explicaria essa voracidade, voltada não contra todos os corruptos, mas contra o governo (PMDB e PT são os alvos, com o PSDB poupado)? Não haveria uma operação tucana, uma conexão com a mídia?
 
“Pode haver alianças, mas são circunstanciais. Moro é bem tratado pela Globo, e faz o jogo. Mas não pense que a Globo ou o PSDB controlam cada passo dele e de todos envolvidos na operação”, foram as palavras do advogado, entre um gole e outro de vinho.
 
Minha fonte, que votou em Aécio sob o argumento pragmático de que “o Brasil e a Dilma não vão aguentar o que vem por aí na Lava-Jato; se o Aécio ganhar, isso tudo estará pacificado” (foi essa, mais ou menos, a frase dele em outubro de 2014, quando nos reunimos num jantar a poucos dias do segundo turno), está convicto de que a guerra santa promovida por Moro tem um alvo: o ex-presidente Lula.
 
“O Lula ainda não é a bola da vez, mas é a cabeça que os meninos de Curitiba querem sangrando numa bandeja”, disse o advogado. Segundo ele, muitos réus foram indagados nas últimas semanas sobre o que sabiam do “peixe grande”.
 
A conversa que narro nesse post aconteceu durante um encontro com 6 ou 8 pessoas, em São Paulo. Um dos presentes, que não é advogado, indagou: “então, caminhamos para uma grave crise institucional?
 
“Não”, respondeu o advogado. “Não caminhamos. Já estamos em plena crise”.
 
E a prisão de Lula então é inevitável, dada a inação do PT e do governo?
 
“Avaliação política eu deixo por sua conta” [o advogado disfarça, mas é também um arguto observador político]. “O o que posso dizer é na seara jurídica:  posso apostar com você que até o fim do ano vão tentar prendê-lo; vai depender da postura do STJ e do STF nos HCs pendentes”.
 
Ou seja: Moro precisa ter certeza que não vai passar vergonha, mandando prender Lula, mas tendo sua decisão revogada em 24 horas, num tribunal superior.
 
“Quais seriam os próximos passos, antes do Lula?”
 
“Aí não é informação, mas especulação minha e de vários advogados que atuam na Lava-Jato. Não é segredo. Vão tentar prender o Dirceu ou o Palocci, primeiro, nas próximas semanas. Depois vem o Lula.”
 
Reparem, leitores. A conversa com esse advogado ocorreu na segunda quinzena de julho.
 
O penúltimo passo foi dado. Dirceu está preso.
 
Não há mais teoria conspiratória, pois.
 
Lembremos que Vargas, em 1954, estava na iminência de ser preso pela República do Galeão, e por isso tomou a medida extrema em 24 de agosto.
 
Espero que não caminhemos para o mesmo desfecho. Politicamente, Vargas salvou o trabalhismo com um tiro no peito. Foi o suicídio que salvou seu campo politico.
 
Dilma, até aqui, com sua inação, de certa forma faz o caminho inverso. Preserva-se pessoalmente, mas leva todo o campo político do lulismo e do trabalhismo para um suicídio político.
 
E Lula? A reação não pode mais levar semanas, ou meses.  Acordos “pelo alto” (com a banca e a elite emprersarial) não vão adiantar. Vargas era estancieiro, e foi pro cadafalso. Por que poupariam o metalúrgico nordestino?
 
Moro não vai parar. Ele é o estado islâmico judicial.
 
O advogado, minha fonte, fala que tentarão a prisão de Lula  “até o fim do ano”. Minha impressão é de que o relógio se acelerou.
 
Em 2015, o agosto terrível da política pode cair em agosto mesmo. Mas também pode cair em setembro ou outubro. Até lá, teremos um desfecho.

quinta-feira, 12 de março de 2015

1789: Barbosa seria um fâmulo dos plutocratas Será Barbosa o Berlusconi brasileiro ? – perguntou o Lazenha.

O Conversa Afiada reproduz artigo de Paulo Nogueira, extraído do Diário do Centro do Mundo:

A ignorância histórica de Joaquim Barbosa



Deu a louca no mundo.

Ou, pelo menos, deu a louca em Joaquim Barbosa.

No Twitter, ele conseguiu comparar o atual momento brasileiro às vésperas de duas revoluções, a Francesa e a Russa.

Nesta visão turvada e obtusa, é como se na França de 1789 a insatisfação revolucionária houvesse partido da aristocracia. E na Rússia de 1917 da corte czarista.

Que JB era insuficiente em direito já sabíamos. Que era incapaz de articular frases que fizessem sentido, também.

Mas que era analfabeto em história é uma novidade.

O Brasil de 2015 se aproximaria da França de 1789 e da Rússia de 1917 se os privilegiados estivessem na iminência de ser varridos.

Mas não.

Os privilegiados brasileiros – cujo porta-voz é a mídia – se batem ferozmente para derrubar um governo popular.

Na verdade, o Brasil de 2015 lembra, sinistramente, o Brasil de 1954 e o Brasil de 1964. A plutocracia, mais uma vez, se insurge contra a democracia.

Repetem-se muitas coisas.

O demagógico e seletivo discurso anticorrupção, por exemplo. Aécio chegou a empregar uma expressão de Lacerda, o Corvo, contra Getúlio: mar de lama.

Não pude notar se ele não ficou vermelho ao falar em mal de lama. Mas deveria. Aécio construiu um aeroporto privado com dinheiro público. Colocou, pelas mãos da irmã, dinheiro público nas rádios da família quando governador de Minas. Viu ser exposta a monumental roubalheira de seus eminentes colegas de PSDB no metrô de São Paulo.

Agora mesmo, escapou por um triz de entrar na lista de Janot, da qual não escapou sua cria, Anastasia.

Mesmo assim, ele posa de Catão. Ou de Catão 2, dado que o Catão 1 é FHC, o homem que comprou a emenda de reeleição. Essa compra está toda documentada, nos detalhes mais patéticos, graças ao depoimento milimétrico de um comprado.

O repórter que tratou solitariamente do assunto na era FHC disse, recentemente, que seu trabalho recolheu não evidências – mas “provas”.

Alguns personagens de 54 e 64 estão presentes em 2015, uma demonstração de quão pouco as coisas mudam no Brasil.

A Globo, por exemplo. Sabotou Getúlio, sabotou Jango, sabotou Lula e agora sabota Dilma.

Neste longo percurso de sabotagem, os donos da Globo acumularam a maior fortuna do Brasil.

Se o Brasil vivesse uma situação parecida com a França e a Rússia pré-revolucionárias, como escreveu Barbosa, os Marinhos estariam de malas prontas para recomeçar a vida em outro país.

Eles e todo o grupo que tanto tem feito, ao longo da história, para dar ao Brasil as feições classicamente definidas por Rousseau como as perfeitas para uma insurreirão popular: aquelas marcadas pelos “extremos de opulência e de miséria”.

Com diferentes nomes, figuras como Joaquim Barbosa participaram das tramas de 1954 e de 1964.

Eram os mistificadores.

Eles fingiam defender os interesses da voz rouca das ruas, mas na verdade estavam do lado dos poderosos, dos exploradores, dos predadores sociais.

Em 1789, para voltar ao início, Barbosa não derrubaria a Bastilha.

Estaria do outro lado, como um fâmulo dos plutocratas.

Tudo igual a 1964; só faltam os EUA. Ou não faltam?



golpe


Vejamos se esqueci alguma coisa.

1 – O que mais se fala hoje, no Brasil, é em depor uma presidente da República reeleita há pouco mais de quatro meses.

2 – As ruas são tomadas por grupos que, aos milhares, pedem que essa deposição do governo seja feita via golpe militar.

3 – A grande imprensa divulga diariamente, e em destaque, textos opinativos pregando a deposição da presidente, ainda que por manobra no Congresso e apesar de não haver acusação formal alguma contra ela.

4 – A imprensa divulga em grande destaque a manifestação que tem, entre os seus, milhares de pessoas que pregam golpe militar

5 – Nas ruas, militantes de dois grupos antagônicos envolvem-se em choques violentos, ainda que restritos a pequenos grupos.

6 – Campanhas milionárias pela deposição do governo são vistas e ninguém sabe exatamente como foram financiadas.

7 – Nas ruas, pessoas que usem roupas identificadas com um determinado grupo político sofrem insultos e agressões físicas.

8 – Como em tantas vezes na história brasileira, a desculpa para depor o governo é a “corrupção” – contudo, investigações só foram possíveis porque o governo que supostamente roubou, nomeou pessoas com autoridade para investigá-lo que não hesitaram em fazê-lo.

9 – A campanha contra uma presidente acusada (sem provas) de corrupção debocha dela até em sua compleição física e a insulta cotidianamente valendo-se de nomes impublicáveis, lembrando os ataques debochados contra Jango Goulart e até contra sua família.

10 – O preenchimento deste espaço é de livre provimento pelo leitor.

O décimo tópico da lista acima é o que falta para que a situação política hoje no Brasil seja praticamente idêntica à que vigia em 1964, quando o Brasil foi sequestrado e assim permaneceu por 21 anos.

De acordo com vídeo que anda circulando na internet, porém, nem isso falta.

O vídeo que você assistirá a seguir reproduz com imagens artigo atribuído a Frederick William Engdahl, economista, escritor e jornalista americano que discute temas de geopolítica econômica e de energia há mais de três décadas. Engdahl contribui regularmente para várias publicações, incluindo Nikon Keizai Shimbun, a revista Foresight, Investor.com de Grant, Banker Europeu e Negócios Banker International e da revista italiana Eurasia estudos geopolíticos. Ele já participou de muitas conferências internacionais sobre a geopolítica, economia e energia.

Esse vídeo faz um resumo do que aconteceu na política brasileira ao longo dos últimos dois anos e insere na equação o décimo tópico da lista acima. Teoria conspiratória ou fato? Em 13 minutos de atenção, você terá elementos para decidir.

EUA JÁ AGEM PARA DERRUBAR DILMA ROUSSEFF

(Por F. William Engdahl na Revista americana NEO)

Vídeo e narração: Cibele Laura

Texto: publicado no “NEO – New Eastern Outlook”. Escrito por F. William Engdahl, norte-americano, engenheiro e jurisprudente (Princeton, EUA-1966), pós-graduado em economia comparativa (Estocolmo, Suécia-1969). Artigo transcrito no “Patria Latina” com tradução de Renato Guimarães.

Adaptação para o vídeo: Cibele Laura

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Golpista da Veja confunde ensino com apologia à ditadura



Um vídeo se alastrou pela internet a partir do último dia 31 de março. Foi feito pelos alunos da Faculdade de Direito da USP, instalada no Largo de São Francisco, em São Paulo, desde 1903. Este post não se destina a divulgar esse vídeo, mas a expor fatos que sucederam sua divulgação.
O vídeo mostra protesto feito por estudantes contra o professor Eduardo Gualazzi, quem, no dia do aniversário do golpe de 1964, em vez de dar aula resolveu afrontar não só os seus alunos, mas o próprio Centro Acadêmico XI de agosto.
Para quem não sabe, o Centro Acadêmico XI de Agosto é o órgão representativo dos estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e recebe o nome “XI de Agosto” em homenagem à data da lei que criou as duas primeiras faculdades de Direito do Brasil, uma em São Paulo e outra em Olinda.
O XI de Agosto é o mais antigo centro acadêmico de Direito do país. Teve participação decisiva nas mais relevantes campanhas políticas nacionais, principalmente nos movimentos de defesa do Estado Democrático de Direito contra a ditadura militar que brotou do golpe de 1964.
O professor Gualazzi cometeu um desatino ao levar para leitura em sala de aula um texto de sua autoria intitulado “Continência a 1964”. O texto exalta a ditadura militar justamente em uma instituição cuja história se confunde com a luta contra essa ditadura.
A ligação da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco com a luta contra o regime militar é tão forte que, enquanto Gualazzi fazia apologia àquele regime em sala de aula, o próprio reitor daquela instituição, José Rogério Cruz e Tucci, participava de protesto contra a ditadura a algumas centenas de metros daquela Faculdade.
A intenção de Gualazzi, portanto, foi claramente a de provocar. O que ele estava fazendo, quando sua “aula” foi interrompida pela manifestação dos alunos, não era ensinar. O texto que lia não continha fatos históricos, mas a sua opinião sobre a ditadura.
Professores dão opiniões em sala de aula em todos os níveis de ensino. Isso é comum. Todavia, qualquer professor que disser opiniões em classe corre sérios riscos.
Conto uma história para explicar como é perigoso um professor confundir suas opiniões com a matéria que é pago para ensinar aos seus alunos.
Há alguns anos, uma de minhas filhas, durante aula na faculdade, ouviu de uma professora críticas duras a blogueiros de esquerda e, surpresa das surpresas, também ouviu o nome de seu pai ser incluído na acusação de que tais blogueiros seriam “pagos pelo governo”. Obviamente que ela protestou com veemência na mesma hora e, depois, fez queixa formal da professora, que foi advertida pela faculdade.
Apesar de o vídeo em questão já ter sido muito visto, vale explicar, para quem não viu, que os estudantes organizaram um protesto à altura da ousadia do professor de afrontar não só a eles, mas à própria instituição em que leciona.
O protesto começou do lado de fora da sala de aula. Estudantes simularam gritos de pessoas sendo torturadas e depois entraram cantando em classe, todos vestindo capuzes iguais aos que eram colocados nos presos políticos que a ditadura torturou e/ou matou.
Quem quiser ficar em cima do muro pode dizer que os dois lados erraram. Ainda assim, terá que reconhecer que quem cometeu o primeiro erro foi o tal professor Gualazzi. Contudo, à luz do amplo repúdio (inclusive internacional) à ditadura militar iniciada em 1964, é difícil qualificar a reação dos alunos como um erro. Foi mera reação a uma afronta.
A razão deste post é a de rebater uma versão distorcida desses fatos que está sendo alardeada pela revista Veja através de seus colunistas, entre os quais Rodrigo Constantino. Ele publicou um post em seu blog, hospedado no portal da revista, em que afirma que o tal professor da USP foi “impedido de criticar o comunismo”.
Abaixo, o comentário de Constantino no portal da Veja:
—–
Vejam como agem os comunistas, esses seres jurássicos que ainda procriam e se espalham, colocando em xeque a teoria da evolução darwinista. São tolerantes, democratas, a favor do debate aberto. Só que não! São autoritários, intimidam quem pensa diferente, querem calar o contraditório no grito. Impediram uma aula sobre as tiranias vermelhas e o contexto de 1964. Invadiram a sala e humilharam o professor. É apenas assim que sabem agir: covardemente e em bando
—–
Ao fim deste post, o leitor que ainda não assistiu o vídeo em questão poderá assistir. Quem assistiu, sabe que o texto do professor Gualazzi não se destinou a criticar o comunismo e sim a fazer apologia da ditadura militar. O próprio título do texto (“Continência a 1964”) diz tudo.
Chega a ser bizarro que alguém que, como Constantino, apoia um regime cuja principal característica foi a censura por meios violentos se queixe do que enxerga como “censura”.
Aliás, o regime que Constantino defende não se valia de manifestações teatrais para censurar. Preferia métodos mais “eficientes”, tais como torturas, estupros, assassinatos. Sevícias inclusive a crianças e adolescentes diante dos pais, a esposas diante dos maridos etc.
Concluo externando a opinião deste blog sobre a iniciativa dos alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. É mais do que necessário que todos quantos possam não percam a oportunidade de denunciar a ditadura militar. Este país não pode mais conviver com apologias a um crime de lesa-humanidade como foi aquela ditadura.
Cada cidadão consciente dos horrores daquele período terrível de nossa história deve tomar para si a obrigação de não permitir que exaltem aquele processo criminoso desencadeado neste país há meio século. Pesquisas recentes sobre o que pensam os brasileiros mostra que estão divididos sobre o que aconteceu neste país. É inaceitável.
A ausência de denúncias contundentes sobre a violação da democracia e dos direitos humanos durante cerca de duas décadas é o que faz quase metade dos brasileiros julgarem de forma tão equivocada a ditadura militar.
Este blog, pois, exorta a todo aquele que sabe a verdade a que não aceite, de modo algum, apologias de quem quer que seja à ditadura. Pode ser amigo, parente, colega de trabalho etc. Se fizer apologia da ditadura deve ser contestado prontamente, mesmo ao custo da ruptura ou do esfriamento de sua relação com aquela pessoa.
Este blogueiro tem dito nas redes sociais que não tem o menor interesse em manter amizade ou qualquer outra relação com pessoas que apoiam o regime militar de 1964. Hoje há muita informação. Todos sabem dos crimes cometidos naquele período. Quem apoia aquilo, portanto, não presta. Não vale a pena manter relações com alguém assim.
*
Assista, abaixo, ao vídeo citado no post

Interpelação de Gilmar Mendes
Informo que no último dia 31 de março foi protocolada no Supremo Tribunal Federal a ação inicial contra o ministro Gilmar Mendes. Por instruções dos advogados, por enquanto o Blog não divulgará publicamente o teor da inicial. As pessoas que participam da ação receberão por e-mail cópia do processo.

terça-feira, 1 de abril de 2014

João Vicente Goulart: Washington estava disposta a dividir o Brasil para garantir o golpe; coronel da reserva diz que dinheiro fez general mudar de lado


Acima, reportagem do Jornal da Record do 31.03.2014
João Vicente, ao lado do pai e da irmã, nos anos 60
por Luiz Carlos Azenha
Cinquenta anos depois do golpe de 1964, ainda há muitas vozes a ouvir, documentos a obter e avaliar e tramas a desenrolar.
Da direita midiática podemos esperar, sempre, muita fumaça. Por que? Porque ela, que se diz encarregada de informar a sociedade brasileira pairando nas nuvens da neutralidade, participou tanto da conspiração quanto do golpe — ou financiando, ou dando voz àqueles que derrubaram um presidente constitucional.
João Vicente Goulart, o filho do líder deposto, é hoje um homem de 57 anos de idade. Tinha, portanto, apenas 7 quando tudo aconteceu. Porém, talvez ninguém no Brasil tenha se preocupado tanto em entender a trama quanto ele, em nome da memória do pai.
Hoje João Vicente está convicto de que o pai poderia sair candidato nas eleições de 1965 e tinha forças políticas para fazê-lo. Ia enfrentar dois candidatos muito fortes, especialmente o ex-presidente Juscelino Kubistchek, mas também o direitista Carlos Lacerda.  Enquanto este foi golpista desde sempre, JK pairou sobre o muro, da mesma forma que Eduardo Frei fez no Chile antes do pinochetazo que matou Salvador Allende. Tudo por oportunismo político.
Porém, pesquisas da época demonstram que tanto Jango quanto sua política econômica quanto as reformas de base propostas por ele tinham alguma sustentação popular.
A direita brasileira, quando fala de 64, também costuma descartar a importância do apoio dado pelos Estados Unidos, alegando que afinal os norte-americanos nem precisaram intervir militarmente. O fato, porém, é que os golpistas só agiram como agiram por terem plena consciência de que contariam com o eventual apoio dos Estados Unidos.
Agora sabe-se que desde 1962 o presidente John Kennedy perguntava ao embaixador dos Estados Unidos no Rio, Lincoln Gordon, sobre possíveis ações contra Goulart. Fez isso, inclusive, em conversa gravada na Casa Branca.
Quem conhece a política dos Estados Unidos tanto quanto conheço, com 20 anos de experiência jornalística por lá, sabe que o grande fantasma de qualquer líder norte-americano, de qualquer partido, é ser visto como “fraco” em política externa.
George Bush, o pai, sofria do chamado “wimp factor” até autorizar a invasão do Panamá, mas nem isso nem a primeira guerra contra o Iraque foram suficientes para garantir a ele um segundo mandato — por causa do estado da economia, perdeu de Bill Clinton.
Harry Truman “perdeu” a China durante seu segundo mandato, mas não tinha nada a provar a ninguém àquela altura: tinha jogado bombas atômicas no Japão sob a alegação de que com isso o fim da Segunda Guerra, no Pacífico, seria acelerada.
Porém, justamente por ter “perdido” a China, não titubeou um segundo sequer na Coreia: despachou tropas norte-americanas para a Península sob a cobertura de uma força internacional da ONU.
A pressão sobre John Kennedy, quando este assumiu a Casa Branca, era enorme. Os generais queriam escalar a guerra no Vietnã — o que o substituto dele, Lyndon Johnson, faria –, mas Kennedy relutou. O fato de que não autorizou cobertura aérea dos Estados Unidos à má sucedida invasão da baía dos Porcos, em Cuba, custou a Kennedy ódio entre alguns falcões do Pentágono.
Perder o Brasil, para Kennedy, seria o mesmo que perder a China. Só que o Brasil ficava no que os norte-americanos viam como seu quintal.
É preciso olhar desta perpectiva para entender o engajamento dos Estados Unidos no golpe de 64, de forma aberta e encoberta.
É preciso entender que a cadeia de comando da Casa Branca sobre o Pentágono, indiscutível em público, é tênue nos bastidores. Oliver Stone, em seu documentário Untold History of the United States, chega a dizer que Kennedy sugeriu que corria o risco de tomar um golpe. Acabou assassinado.
Ninguém sabe exatamente o que aprontou Vernon Walters quando era adido militar da embaixada dos Estados Unidos no Rio, no mesmo período.
Walters era homem de inteligência. Foi o contato dos militares dos Estados Unidos com Castello Branco quando este serviu à Força Expedicionária Brasileira na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial, sob comando do exército norte-americano.
Estive com Walters em Bonn, então capital da Alemanha Ocidental, quando ele era embaixador dos Estados Unidos no país. Gravamos sobre a FEB. O então diplomata fez muitos elogios a Castelo e contou causos sobre nossos pracinhas, que chegaram despreparados para o inverno europeu. Walters emprestou a eles os agasalhos usados pelos gringos.
Porém, quando tentei conversar sobre o golpe de 64, Walters calou-se. Falou generalidades. É óbvio que nunca admitiu que foi ele, Walters, quem intermediou a benção dos Estados Unidos a Castelo, “confiável” aos olhos de Washington.
Estou certo de que o nome de Walters se esconde nos documentos sobre o golpe já divulgados nos Estados Unidos (alguns dados são encobertos por tinta preta, por motivos de segurança).
É lógico que enquanto Gordon, o embaixador, cuidava do trânsito entre os civis, publicamente, Walters trabalhava os bastidores, em segredo.
Dinheiro sempre foi uma arma poderosa e é certo que, se um dos dois trabalhou pelo trânsito de dólares, foi o homem da espionagem.
Se alguma dúvida havia sobre a mudança do alinhamento internacional do Brasil depois do golpe, ela foi desfeita em 1965. O país de Jânio Quadros, que havia condecorado Che Guevara, ou de João Goulart, que visitara a China, mandou soldados brasileiros para apoiar os fuzileiros navais dos Estados Unidos que invadiram a República Dominicana. Foi para combater a reforma agrária e a nacionalização de empresas estrangeiras!
Do ponto-de-vista de Washington, valeu ou não a pena ter investido no golpe?
Leia também:

domingo, 30 de março de 2014

Há 50 anos do terror

França volta às urnas neste domingo: Hollande abraçou receituário ortodoxo e foi esmagado no 1º turno das eleições municipais

FMI emprestará US$ 14 bi à Ucrânia mediante condicionalidades que incluem um arrocho semelhante ao imposto à Grécia

Espanha flerta com a deflação: anemia da demanda explica a taxa de -0,2% em março; o festejado sucesso do ajuste espanhol jogou 26% do país no desemprego e ressuscitou a fome entre os pobres

Ao PSDB a lei; ao PT, o domínio do fato: decisão do STF sobre mensalão tucano alivia para o PSDB, mas argui parâmetros da AP 470 e abre campo de contestação.


Foi o golpe civil-militar de 1964 que deu inicio à implantação de ditaduras que constituiriam um círculo de terror como nunca a América Latina conhecera.

por Emir Sader

Emir Sader
O golpe civil-militar de 1964 no Brasil deu inicio à implantação de ditaduras que constituiriam um círculo de terror como nunca a América Latina conhecera. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, com o inicio da Guerra Fria, os Estados Unidos promoveram no continente a Doutrina de Segurança Nacional, sua ideologia da luta "contra a subversão" que desembocaria na instauração dessas regimes.
 
A Doutrina, elaborada pelo Departamento de Estado dos EUA e propagada pela Escola das Américas e por cursos ministrados diretamente por oficiais norte-americanos, propugnava a militarização dos Estados, que se tornariam Estados-maiores, conduzidos pela oficialidade das forças armadas latino-americanas, no combate a todas as forças que a Doutrina considerasse que colocavam em risco a "democracia" no continente.
 
A concepção totalitária da Doutrina se materializou, na época da ditadura civil-militar brasileira, no slogan: "Ame-o ou deixe-o", isto é, ou te identificas com o regime ou deves ir embora do país. É coerente com a concepção ideológica segundo a qual toda forma de conflito era um vírus externo, inoculado de fora para dentro no corpo nacional, para sabotar, subverter seu bom funcionamento.
 
Bem ao estilo das concepções positivistas importadas da biologia, segundo as quais o bom funcionamento da sociedade se assemelharia ao funcionamento de um corpo saudável fisicamente, em que cada célula funciona em função da totalidade. Qualquer parte do corpo que deixa de funcionar assim, representa uma doença, a introdução de um vírus externo, que tem que ser extirpado.
 
Os regimes militares do Cone Sul agiram dessa forma em relação a qualquer forma de expressão que lhes parecesse sabotar o bom funcionamento do corpo social. Era uma concepção totalmente intolerante em relação às diversidades, às divergências, aos conflitos sociais. A eliminação física dos opositores ou dos considerados opositores tinha essa origem, de "depuração democrática" de elementos considerados subversivos.
 
Quando se instaurou a primeira ditadura civil-militar, a brasileira, há 50 anos, se desenvolvia uma luta por modelos para um continente que via esgotar o impulso econômico das décadas anteriores. A Revolução Cubana radicalizou o horizonte de alternativas, ao colocar a possibilidade de ruptura da dominação norte-americana e do próprio capitalismo.
 
Os EUA tentaram forjar uma alternativa a Cuba com a chamada Aliança para o Progresso, que teve no governo do chileno democrata cristão Eduardo Frei seu exemplo mais importante, com a proposta de uma "revolução em liberdade". Sua reforma agrária fortaleceu os pequenos proprietários no campo, com objetivo de evitar vitórias dos novos movimentos guerrilheiros que se expandiam para a Venezuela, o Peru, a Guatemala, a Colômbia.
 
O golpe brasileiro seria modelar no sentido de que conseguiria derrotar de forma mais ou menos rápida a resistência armada. Inclusive porque foi um golpe prematuro, que pegou a um movimento popular brasileiro ainda em processo de constituição. Essa precocidade ajuda também a entender o motivo de seu sucesso econômico: pôde desfrutar ainda do final do longo ciclo expansivo do capitalismo no segundo pós-guerra, para canalizar grande quantidade de investimentos que permitiram a diversificação da dependência brasileira.
 
Mas o santo do chamado "milagre econômico" brasileiro foi a intervenção militar em todos os sindicatos e o arrocho salarial, os quais promoveram uma lua de mel entre o governo e as grandes empresas nacionais e estrangeiras, baseada na superexploração dos trabalhadores.
 
O sucesso da ditadura civil-militar no Brasil, com sua capacidade de impôr – baseada numa feroz repressão – a ordem e retomar a expansão econômica, fez dela referência para os outros regimes de terror que se implantariam em seguida na região. Foi o período mais terrível da historia desses países e de toda a história latino-americana. Tudo começou há 50 anos, com o golpe de primeiro de abril de 1964.

domingo, 23 de março de 2014

Fascistas transformam centro de São Paulo em hospício.









Confesso que senti medo ao sair de casa no sábado para cobrir a Marcha da Família Fascista que ocorreu em São Paulo e que você, leitor, entre incrédulo e estupefato irá conferir no texto, nas fotos e no vídeo (ao fim do texto) que este post contém.
Meu medo tinha duas origens, uma subjetiva e outra objetiva. A subjetiva, por ver ocorrer de novo em meu país uma demonstração tão grande de selvageria, de egoísmo e de um desprezo surreal pela democracia. A objetiva, por medo de ser reconhecido pelos fascistas.
A necessidade de denunciar toda a loucura que sabia que encontraria, porém, falou mais alto.
Caminhei pelos corredores da estação do metrô próxima de casa como quem caminha para o cadafalso. Inconscientemente – depois me dei conta –, decidi passar primeiro na marcha antifascista que ocorreria na Praça da Sé.
Foi a forma que encontrei de postergar o sofrimento que me impus.
Na Sé, encontrei menos gente do que esperava – cerca de 300 pessoas. Porém, depois a marcha antifascista superaria a fascista em número.
A fauna antifascista era a esperada. Antigos militantes de esquerda, estudantes, black blocs, sindicalistas, intelectuais.
Se não fosse um episódio que me fez criar coragem para ir logo à marcha fascista, teria ficado até menos tempo. Não havia nada para ver lá que já não conhecesse e eu queria era novidade. Como dizem, o cachorro morder o homem não é notícia; notícia é o homem morder o cachorro.
Mas houve um episódio digno de nota, sim.
Uma mulher da marcha fascista foi até a marcha antifascista para provocar. Um estudante discursava contra a ditadura quando ela, aos berros, passou a acusar a manifestação adversária de querer transformar o Brasil em Cuba.
A confusão se formou. Tentaram dialogar com a mulher, mas ela estava enlouquecida. Começou a empurrar as pessoas e, aí, o tempo fechou. Quase foi linchada, mas mulheres e homens mais maduros a conduziram até a polícia militar, que a colocou numa viatura e a levou embora.
Vendo que dali em diante só seria dito naquela manifestação o racional, tomei o caminho da Praça da República para cumprir a missão que me impus.
Chego à República. Os malucos estão diante do Colégio Caetano de Campos. Muita polícia. Umas dez vezes mais do que na marcha antifascista. Depois descobriria que os fascistas convocaram a PM para ir em peso “protegê-los”.
Mais tarde, veria cenas de confraternização entre a PM e os organizadores da marcha fascista. Conversavam ao pé do ouvido e trocavam informações. Vi um oficial falando ao rádio e passando informações a um dos organizadores fascistas.
A primeira cena bizarra que vi na marcha fascista foi justamente a que justifica esse adjetivo para aquela gente. E quando digo que justifica, justifica mesmo. Confira por que na foto abaixo.
Quem segurava cartaz dizendo “Salve o fascismo era uma garota de cerca de vinte anos, magricela, alta, cheia de piercings no rosto. Travei com ela o seguinte diálogo:
– Vocês defendem o fascismo?
– Sim, defendemos o fascismo.
– O que é o fascismo?
Nesse momento, a garota me afastou com o braço, deu-me as costas e sumiu na multidão.
Caminho mais um pouco por aquele hospício e encontro um jovem de uns 30 anos, talvez. Sua manifestação você pode conferir na foto abaixo.
Novamente, cumpro a pena que me impus e vou falar com ele.
– Você pode me explicar essa questão da “intervenção militar”?
– Sim. Intervenção militar é garantida pela Constituição Federal. É um recurso para derrubada de presidente e é o que a gente está pedindo (…)
– Derrubar presidente é permitido pela Constituição?
– Sim, pela Constituição Federal.
– Tem algum artigo, alguma coisa…?
– Artigo primeiro e artigo, se não me engano, 42…
Reproduzo, abaixo, o artigo 142 da Constituição de 1988, ao qual o indivíduo se refere:
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Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
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Como se vê, não há nada, absolutamente nada nesse texto que autorize a derrubada de um governo pelas Forças Armadas. Muito pelo contrário: o texto constitucional diz que essas Forças devem defender os poderes constitucionais, não derrubá-los.
Vendo a falta de futuro também nessa conversa, vou à próxima.
Uma mulher de meia-idade segurava um cartaz interessante. Veja a foto:
Pergunto à portadora do cartaz dizendo “Saímos do Facebook. Hahaha” o que o seu movimento pretende. Resposta: “Eu pretendo acabar com o PT”.
Hospício é assim: cheio de complexos de Napoleão.
Vejo, ao lado, alguém que me parece menos delirante. Outro homem de meia-idade, mas parecendo um pouco menos alucinado. Vejamos o diálogo.
– O que seria “intervenção militar”?
– É, talvez, um governo militar…
– Mas intervenção quer dizer que eles vão intervir em alguma coisa.
– Se for necessário, sim (…)
– O senhor acha que alguma coisa assim aconteceria nos Estados Unidos, por exemplo?
– Não entendi…
– Por exemplo: se alguém quiser derrubar o governo dos Estados Unidos, o que acontece? Se um cidadão pegar e for pra rua e disser “Olha, vou derrubar o governo Obama”, o que acontece? Acho que vai pra Guantánamo, não?
– Não sei… Não sei o que aconteceria lá, porque lá a democracia é pra valer, né?
– Lá não pode pregar “intervenção militar”, certo?
Já estava começando a me sentir meio maluco, também. Porém, a preocupação diminuiu porque aquele bando de doidos decidiu marchar. Conforme foram deixando a praça, começam os berros: “Fora, PT! Fora, PT!”.
Menos mal. Fora PT, fora Dilma, fora Lula é direito deles pedir.
Ou não?
Seja como for, pareceu-me menos maluco do que os diálogos que acabara de travar. Contudo, o surrealismo não tinha terminado.
Alguns metros mais e vejo uma cena ainda mais inusitada: dois rapazes de batina começam a rezar e logo a multidão toda abandona o “fora, PT” e se junta a eles.
Aproximo-me dos “padres” para saber se eram mesmo religiosos ou se estavam apenas fantasiados.
– Vocês são padres mesmo?
– Seminaristas.
(…)
– Vocês apoiam a “intervenção militar”?
– Se for a solução.
– Vocês apoiam um golpe militar?
– Se for a solução, mas não chamaria um golpe. Chamaria (…) de parar o governo para voltar ao início, aonde começou o erro.
(…)
— Mas você, um religioso… Você ficou sabendo de torturas, de assassinatos que a ditadura cometeu?
– Infelizmente fiquei sabendo, sim. Mas tem contrapartes (…)
– Mas você apoia que o Estado brasileiro torture pessoas, mate…
– Jamais.
– Mas foi o que aconteceu. Foi isso que a primeira marcha fez.
– Não foi cem por cento e não foi a marcha (…)
– Mas foi uma ditadura que durou vinte anos, em que mulheres foram estupradas diante dos maridos…
– O senhor está olhando só o lado negativo (…)
Sem entender como pode haver algo positivo em um regime que torturava, estuprava e assassinava pessoas, troco mais algumas palavras de cortesia e me mando de perto de quem, talvez, fosse o mais maluco, ali…
Enquanto tento fugir do hospício por alguns momentos para recuperar o fôlego – ou a razão – a tropa enlouquece de vez. Para de rezar e começa a berrar: “Ô Dilma, safada! Ô Dilma, Safada!”.
Juro que saí correndo. Ultrapassei a manifestação e dela me afastei até que não estivesse tão próxima. Sentei-me em uma mureta, pus o rosto entre as mãos, respirei fundo e disse a mim mesmo: você vai até o fim.
E lá fui eu.
Mas precisava de um pouco de sanidade. Via que as pessoas às portas dos comércios que não tinham fechado pareciam embasbacadas vendo aquele bando de doidos. Escolhi uma senhora e uma jovem à porta do metrô Anhangabaú que, aparentemente, estavam juntas.
Já orava por não ouvir mais maluquices. Não sei se Deus estava na manifestação, mas Ele me ouviu.
– O que vocês acham da proposta de uma “intervenção militar” no Brasil?
– Intervenção militar no Brasil – repete a senhora, fazendo um ar grave.
– É o que eles estão pedindo. Estão pedindo uma “intervenção militar”, ou seja, igual à que foi feita em 1964, quando os militares derrubaram o Jango Goulart.
– É, e eles governaram o Brasil, né?
– Por vinte anos…
– Não, isso não! Não!
A jovem entra na conversa: “Isso é um absurdo”.
Resolvi ficar com o pouco de lucidez que tinha. Dali, parei a entrevista e fui caminhando calmamente para a praça da Sé, junto com os fascistas. Mas sem falar com mais ninguém.
Quando chegamos à Sé, sinto-me culpado. Estava ali para ouvir os doidos. Tinha que prosseguir.
Tentei fazer mais algumas entrevistas, mas ao chegarem lá os fascistas pareceram ter ficado mais arredios.
Naquele momento, começa uma correria. Fui atrás. Os PM’s cercaram uma loja de eletrodomésticos onde manifestantes antifascistas se abrigaram. Pelo que pude entender, em meio à confusão, tinham ido devolver provocações e começou uma briga.
A PM controla logo a confusão. Volto para perto do protesto fascista, que agora jazia aos pés da Catedral da Sé.
Aproximo-me de uma senhora com o rosto pintado de verde e amarelo. Começo a falar, mas ela não responde. Fica me olhando longamente. De repente, começa a gritar e apontar para mim: “Blogueiro do PT! Blogueiro do PT! Cuidado, blogueiro do PT!”.
Fiquei sem ação por alguns segundos, mas logo notei três homens corpulentos que comentaram algo entre si e começaram a caminhar em minha direção. Eram enormes. Um deles, completamente careca. Não tinham cara de quem vinha pedir autógrafo.
Comecei a me afastar lentamente. Dei as costas à manifestação e apressei o passo. Olho para trás e vejo os três homens ainda vindo em minha direção. E também apressando o passo. Começo a correr. Olho para trás e eles estão correndo também.
Chego à escadaria do metrô antes deles. Ao passar pelos seguranças, eles desistem. Desço afobado a escadaria e passo como um raio pela catraca.
Estou no trem. Escrevo no Facebook a perseguição. Ainda contaminado pelos psicopatas, achei que se me pegassem na saída do metrô pelo menos as pessoas saberiam onde e como eu fora trucidado.
Enquanto me dirijo para casa, a frase que escrevi após ser perseguido no hospício em que os fascistas transformaram São Paulo não me sai da cabeça: que merda é essa que estão fazendo com o nosso país?
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Assista, abaixo, ao vídeo do hospício São Paulo
 


 Opinião do opedeuta: Abriram as portas do hospício para terapia conjunta em forma de recreação !