Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 8 de outubro de 2013

JANIO: ATÉ QUANDO DURA A LUA DE MEL DE CAMPOS E MARINA ? “as conveniências políticas dos dois são as mesmas e concorrentes entre si. Sustentadas, de uma parte e de outra, em graus equivalentes de pretensão e mal contido autoritarismo.”


Conversa Afiada reproduz artigo de Janio de Freitas, na Folha (*)


JANIO DE FREITAS

PRESENTE E FUTURO



A história das eleições já legou exemplos suficientes de que acordos são passíveis de desmanchar-se no ar

Visão política é a capacidade de olhar para o momento presente e, em vez dele, ver o futuro.

Tudo indica que Marina Silva e Eduardo Campos voltaram os olhos para o futuro e viram apenas um momento do presente.

Em um só lance, os dois plantaram fartos problemas para sua adaptação mútua, em meio a igual dificuldade de seus grupos. Políticos costumam ter flexibilidade circense, mas não é o caso, por certo. Bem ao contrário.

Nem mesmo o pessoal do PSB cita o nome do partido por inteiro, há muito tempo: fazê-lo exigiria mencionar a palavra “Socialista”. O que se sabe das ideias do próprio Eduardo Campos não é muito mais do que se sabe de Marina Silva. Em relação aos dois sabe-se, porém, o suficiente para perceber a inconciliação quase completa. Não cabe mais dizer que o PSB seja partido “de esquerda”, nem se pode dizer isso de Eduardo Campos. Mas conservadores, o partido e seu presidente não são, nem podem sê-lo, por exigência da ambição eleitoral que expõem.

Marina Silva tem mais de esfinge que de política (sem alusão a certa semelhança de traços básicos). Se não há clareza de como a ex-candidata à Presidência pensa o país e seus problemas, ao menos se dispõe de uma percepção básica, na medida em que uma dedicação religiosa intensa exprime uma concepção bastante mais ampla. E ao deixar o catolicismo para tornar-se evangélica dedicada, Marina Silva integrou-se a uma corrente de notório conservadorismo. Demonstrado, inclusive, em extensão política, nas posições e atos de sua bancada no Congresso, com frequentes referências nos meios de comunicação.

Imaginar que tamanha diferença, digamos, conceitual caminhe para a conciliação, em nome de conveniências políticas imediatistas, exige esquecer o início da questão: as conveniências políticas dos dois são as mesmas e concorrentes entre si. Sustentadas, de uma parte e de outra, em graus equivalentes de pretensão e mal contido autoritarismo.

Com este pano de fundo, veremos o que se passará diante das posições de ambos invertidas na chapa do PSB em comparação com as pesquisas. Os seguidores de Marina nem esperam por próximas pesquisas, já entregues à campanha pela cabeça da chapa. As simpatias dos dois grupos vão mostrar o que são, de fato, quando se derem as verdadeiras discussões sobre liderança, temas de campanha, respostas às cobranças do eleitorado, a batalha.

A história das eleições, mesmo a recente, já legou exemplos suficientes de que acordos, garantias, alianças e comunhões são passíveis de também desmanchar-se no ar. É só bater um ventinho mais conveniente para um dos lados. Eduardo Campos sabe disso, o que significa que o festejado entendimento com Marina representa, para ele, múltiplos riscos. Entre os quais, até o desgaste político decorrente da simples dificuldade de convivência, descoberta agora por vários (ex-)entusiastas da Rede Sustentabilidade.

Marina Silva, ao passar de uma posição de liderança para a duvidosa inserção em partido alheio e com líder-candidato definido, na melhor hipótese fez uma jogada no escuro sob a luz do dia. Ao menos terá tempo para sair pelo país explicando ao seu eleitorado o que quer dizer sustentabilidade, um nome de partido à altura da incompetência com que foi tratado por seus sustentadores.

Clique aqui para ler “Janio: Eduardo é um embuste. Um engodo melhorzinho”
Aqui para “Bláblárina é uma autoritária”
Aqui para “Dudu + Bláblá: a culpa é do Haddad”
E aqui para “Há seis meses, Bláblá espinafrava Dudu”



(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.
Gilberto Maringoni: Marina está à direita de Aécio, mas pode concorrer à esquerda de Dilma.

Colunistas| 06/10/2013 | Copyleft
DEBATE ABERTO
Marina, um problemaço para o PT
Marina não é de esquerda. Não bastassem as acusações de “chavismo” ao atual governo, seu fundamentalismo religioso provavelmente a coloca à direita de Aécio Neves.
Ambos devem ter o mesmo programa econômico – produzido por inquilinos da Casa das Garças e órfãos de FHC – com uma diferença: até aqui Aécio não fala em ensinar criacionismo nas escolas e nem se coloca contra avanços nos costumes.
Mas essa seguramente é opinião de um setor minoritário da população.
Para a maioria, Marina foi ministra do Meio-ambiente de Lula, defende a natureza e saiu do governo por causa da “velha política” (algo tão indefinível quanto “rede sustentabilidade”).
Além disso, ela e Eduardo Campos foram ministros e aliados de primeira hora da gestão petista.
Todos integrariam um condomínio político semelhante e representam – aos olhos das maiorias – um racha no campo progressista.
Como diferenciar?
Como se diferenciarão as candidaturas de Dilma e Marina/Eduardo Campos em 2014?
Tudo indica que não será pelo contraste político. A postulante petista não poderá falar que o PSB tem como aliados Bornhausen, Heráclito Fortes e Paulo Skaf, integrantes da fina flor da direita brasileira.
A aliança petista com Sarney, Collor, Sérgio Cabral, Blairo Maggi, Paulo Maluf e Katia Abreu (para não falar de Gleici Hoffmann, Paulo Bernardo e José Eduardo Cardozo) deixarão a presidente sem argumentos, se for retrucada à altura.
Zero a zero até aí.

No segundo turno de 2010, Dilma atacou pesadamente seu oponente José Serra, em debate pela TV Bandeirantes.
Acusou-o de ser privatista e de planejar vender o pré-sal. Eleita, ela rendeu-se à fúria privatizante – estradas, portos e aeroportos – e quer passar nos cobres parte do pré-sal.
Jogo empatado.
Lula, nesta semana, deu mais uma contribuição à geleia política. Afirmou que o projeto do PT para a Constituição de 1988, “se tivesse sido aprovado, certamente tornaria o país ingovernável”.
E detalhou os motivos: “O PT queria um texto mais avançado, contemplando reforma agrária, estabilidade no emprego, imposto sobre fortuna, criação do Ministério da Defesa”.
Ou seja, uma plataforma democrática básica, segundo o ex-presidente, tornaria o país “ingovernável”.
É mais menos ou que dizia José Sarney, em 1988, e o empresariado nacional nos anos seguintes.
Marquetagem
A diferença em 2014 será também marcada por quem tiver o marqueteiro mais competente (e mais caro).
A julgar pelas arrecadações de campanha de três anos atrás, Dilma levará a melhor nesse quesito.
A presidenta poderá alardear os êxitos dos governos petistas em elevar salários e manter a estabilidade da moeda.
Mas estará discursando sobre o passado, enquanto campanhas pedem mais. Pedem planos para o futuro.
Eduardo Campos não exibe conteúdo algum em suas falas. Ninguém sabe ao certo o que pensa da vida. Mas sempre que pode, propaga que fará “mais” e “diferente”.
Numa campanha esvaziada de demarcações claras, é um começo.
Economia e protestos

Um componente importante da disputa de 2014 estará largamente pautado pelo desempenho da economia e pela volta ou não das manifestações de junho.
Apesar do crescente déficit externo, nada parece indicar uma queda abrupta nas expectativas.
Emprego, renda e inflação seguem estáveis.
O governo escolheu a senda da contração – através da agressiva política de elevação dos juros básicos – e devemos ter mais um ano de PIB medíocre. Mas não um solavanco, como em 2009.
Uma nova explosão social às portas das eleições (na época da Copa, por exemplo) pode ter efeito devastador para a candidatura oficial. Mas aqui adentramos, por enquanto, no terreno do imponderável.
Saída pela esquerda?
O 1º. vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, em entrevista à Carta Maior, afirmou sobre a candidatura Eduardo Campos (possivelmente extensiva hoje à Marina) que “A minha expectativa é que ele seja uma pontuação à esquerda da candidatura da Dilma. Uma oposição pela esquerda”.
Se for verdade, a postulação Marina/Campos poderá ter algumas consequências importantes na conjuntura eleitoral:
A. Tornará o apoio do PMDB ainda mais vital para o PT. Com isso, teremos uma bolha especulativa no preço do apoio da agremiação de Michel Temer;
B. Pode forçar alguma definição política entre as candidaturas.
C. Mandará para o limbo as pretensões do PSDB e seu candidato.
D. Uma postulação mais à esquerda, com maior nitidez, pode se destacar.

Até aqui, Dilma tem ampla vantagem. O que se desenha agora é um possível segundo turno. Mas há muito tempo pela frente.
Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, é professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC. Doutor em história pela Universidade de São Paulo, é autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).
PS do Viomundo: As primeiras declarações de Marina Silva, se foram resultado de uma estratégia eleitoral já definida com Eduardo Campos, demonstram que ela fará o papel clássico do candidato a vice. Engordar a chapa. No caso, engordar à direita, destacando o “chavismo” do PT para agradar a setores antipetistas hoje ligados ao PSDB. Enquanto isso, o cabeça de chapa falará à esquerda.
Veja também:

FHC, Gilmar e o “esqueçam o que escrevi”

escrevi


O jornalista Frederico Vasconcelos, que mantém o blog Interesse Público na Folha, ironiza, sem usar adjetivos, o comportamento de Fernando Henrique Cardoso e do Ministro Gilmar Mendes.
Fred, como é conhecido, extrai trechos do artigo publicado no jornal “O Estado de S. Paulo”pelo ex- presidente, com lamúrias pelo STF ter acolhido os embargos infringentes, “recurso de que só os doutos se lembravam e sabiam dizer no que consistia”, diz que isso caiu sobre a opinião pública “como ducha de água fria”.
O jornalista traz, então, trechos do voto de Celso de Mello, lembrando que o douto Fernando Henrique deles deveria se lembrar, pois os tentara extinguir, quando Presidente, propondo a sua supressão, em projeto de lei do Executivo.
E corta na carne, com uma faca gentil:
Talvez por elegância ou esquecimento, o decano (Celso de Mello) não mencionou que o seu vizinho de plenário, ministro Gilmar Mendes, que votara pela rejeição dos embargos infringentes, foi um dos autores do projeto que pretendia abolir esses recursos no STF.
Em seu currículo, Gilmar Mendes registra que, “na condição de Subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil (abril de 1996/janeiro de 2000) participou da elaboração, coordenação ou revisão dos projetos e estudos legislativos e constitucionais do Governo Fernando Henrique Cardoso”.
“É um dos autores, junto com Ives Gandra Filho e Sálvio de Figueiredo Teixeira, do texto do Projeto de Lei no 4.070/98 do Poder Executivo, que resultou na Lei no 9.756/98, que introduziu importantes mudanças na legislação processual civil”.
Ou seja, Gilmar Mendes “esqueceu” – e certamente não por elegância, mas por conveniência e escasso espírito jurídico – o que ele próprio escreveu e recebeu a chancela presidencial de FHC.
Quem sai aos seus não degenera, não é verdade?
Por: Fernando Brito



tarifa

Celular mais caro – e mais injusto – do mundo, a obra de

FHC que Bernardo conserva


Os números da União Internacional de Telefonia, divulgados nesta segunda-feira, mostrando que o Brasil tem a telefonia celular mais cara do mundo, jogam por terra a única área em que os tucanos se gabavam dos resultados em “eficiência” da privatização.
A estrutura tarifária da telefonia celular no Brasil é, além de tremendamente cara e absolutamente irracional, a mais injusta socialmente.
Tremendamente cara porque nos coloca como o país onde o minuto de ligação é o mais dispendioso do mundo.
Completamente irracional porque viramos o paìs onde o cidadão anda com dois ou três telefones, para driblar, com as promoções de cada operadora o custo proibitivo do uso do celular.
Temos 260 milhões de celulares e 196 milhões de habitantes, o que dá 1,35 aparelho por brasileiro. Se descontarmos os que não possuem celular por diversas razões, econômicas, etárias ou geográficas, vamos chegar bem perto de dois aparelhos por usuário.
E sociamente injusta porque o pobre paga muitìssimo mais que o que tem um pouco mais de dinheiro para usar o mesmíssimo serviço.
Mais de 80% dos usuários de telefonia celular usam os planos pré-pagos. E, por isso, pagam preços que chegam, no caso dos planos pós-pagos de mais minutos, tarifas por tempo de até o triplo do celular “de conta”.
O blog Dr. Money,Pre-x-Pos-1de Marcelo Guterman, fez as contas e mostra, como você vê no gráfico ao lado, que mesmo no caso de planos pós pagos de minutagem relativamente baixa, a diferença fica na casa dos 65% e vai aumentando e muito no montante quanto mais se usa – e como se usa, hoje – o celular.
O modelo selvagem de privatização do setor, sem regras universais para a interconexão entre operadoras e sem regras de tarifação claras e compreensìveis, faz as coisas serem assim: quem tem menos, paga mais, quem tem mais paga menos.
O ministro Paulo Bernardo, que um dia foi a esperança de se disciplinar as telefônicas, vai para o final de seu perìodo sem ter absolutamente nada para mostrar em matéria de “civilização” da telefonia brasileira.
A única “vantagem” da telefonia celular brasileira é que ela é tão ruim, cai tanto, que deve dar trabalho dobrado aos espiões americanos…

Por: Fernando Brito

Vandalismo de jovens mostra perda de fé na democracia

Pelo quinto mês consecutivo, o país convive com cenas assustadoras de violência em protestos convocados pelas mais diversas razões – algumas justíssimas, outras nem tanto. Em todos esses movimentos populares, porém, a violência, o vandalismo e algumas vezes verdadeiras tragédias tornaram-se subprodutos. Eventos tão previsíveis como o próximo alvorecer.
Por exemplo: na segunda-feira, um protesto de moradores de três favelas de São Paulo terminou em tragédia: manifestantes viraram um carro em cima de uma barreira com material pegando fogo e o veículo explodiu. Seis pessoas ficaram feridas. Duas delas, gravemente. Uma das vítimas foi uma criança.
Algumas dezenas de pessoas já morreram durante protestos, desde junho. Os feridos chegam a centenas, entre civis e policiais. E algumas vítimas nem participavam dos protestos, tendo sido tolhidas por estarem passando pelos locais.
Os prejuízos ao patrimônio público e privado alcançam bilhões de reais e frequentemente têm sido suportados não só por bancos e grandes empresas, mas por cidadãos comuns e pequenos comerciantes que perderam veículos ou pequenos negócios, como bancas de jornal, pequenas lojas etc.
No mesmo dia da tragédia em São Paulo, um protesto no Rio de Janeiro provocou um princípio de incêndio na Câmara Municipal. Mascarados atiraram coquetéis molotov contra o patrimônio do povo carioca.
No Facebook, na postagem de uma foto do incêndio que por pouco não consumiu a sede do Legislativo municipal, centenas de comentários. A grande maioria de pura comemoração pela cena dantesca.
Lendo o que as pessoas dizem naqueles comentários, salta aos olhos que são todos jovens. Os mascarados – ou “black blocs” – que promovem esses atos de vandalismo, idem. Ou seja: primordialmente, quem está indo à rua (mascarado ou não) para “quebrar tudo” são jovens. E eles acreditam firmemente que estão agindo bem, em prol do país.
Dirão que no Rio há partidos políticos envolvidos nas depredações e que esses que promovem essas sandices são todos filhinhos de papai – ou “coxinhas”, como preferem alguns. Sim, há políticos por trás, mas há muita gente que participa sem ser estimulada por nada além de sua visão das coisas.
O elitismo dos que protestam até já foi verdade, lá no começo dos protestos, mas deixou de ser. Sabe-se que há muito jovem pobre e revoltado que se uniu a protestos que começaram nas classes mais favorecidas e contagiaram a juventude cansada de não ter esperança no futuro devido à cor da pele ou à classe social a que pertence.
Pobres ou ricos, o fato é que essa juventude que comemorava no Facebook ou nas ruas as cenas trágicas que se viu ontem em cidades como Rio ou São Paulo decididamente não acredita mais na democracia, nos meios tradicionais de luta política – e muito menos na classe política.
Alguns desses comentários na postagem no Facebook sobre o princípio de incêndio na Câmara municipal do Rio chegaram a descrever a cena dantesca como “linda”, como indício de que o país estaria “mudando” por uma Casa que é do povo estar sendo atacada com aquele nível de violência.
Vendo a honestidade das manifestações daqueles jovens que comemoravam o caos e o descaminho da democracia – pois naquela Casa legislativa que foi atacada é que deveria ocorrer o embate, mas não físico e sim de ideias –, reflito que nós, os maduros, estamos perdendo essa juventude para a desesperança na única força que pode nos salvar.
De quem é a culpa? É minha e sua, que, como eu, tem idade para ser pai ou mãe desses jovens. Não soubemos legar-lhes um pais melhor ou educá-los de forma a que entendessem que a nossa geração lutou para que Casas legislativas funcionassem e não para que fossem depredadas.
Sim, julgo que estão equivocados. Mas não têm culpa. Aliás, por que ocorreu aquele tumulto? Porque os professores que educam tantos daqueles jovens são pisoteados pelo Estado, que finge que os paga enquanto fingem que ensinam, até por não terem condições mínimas de fazê-lo após jornadas exaustivas e até desumanas de trabalho mal pago.
Enquanto penso nisso, arrependo-me de não tê-los compreendido antes. Talvez por ter me esquecido do que é ser jovem e se frustrar com o status quo. Eu, que vivi um período da história deste país em que havia infinitamente mais motivos para frustração.
Estaremos fadados, os seres humanos, a perder a capacidade de sonhar e de ousar conforme a idade passa? Estaremos fadados a perder a capacidade de dialogar com a juventude? Por que os maduros que desaprovamos – com carradas de razão – os desatinos que a desesperança instilou nessa juventude não estamos sabendo chamá-la à razão?
Talvez por termos esquecido a linguagem da juventude…
Por mais que discorde desses jovens, não posso negar que é bonito ver como acreditam no que estão fazendo. Julgam que estão ajudando o país. Não percebem que estão fazendo o contrário. E se não percebem a culpa é nossa, da geração anterior que não soube educar esta transmitindo-lhe a importância da democracia.
Quando jovens descreem completamente da política ao ponto de atacar seus símbolos estão abandonando o caminho democrático para mudar o país para melhor e apelando para a barbárie, como se esta fosse resultar em algo mais além de um excelente pretexto para alguns espíritos autoritários invocarem uma repressão que a minha geração conheceu muito bem.
Não sei se há tempo para chegar a essa juventude e convencê-la a não dar pretextos para que autoritários desencadeiem a boa e velha reação contra demandas legítimas da sociedade, mas, seguramente, não podemos tratá-la como criminosa ou vilã. É, no máximo, vítima da geração anterior, que não soube lhe transmitir valores e legar-lhe o país que deveria.

Devagar com o andor de Eduardo Campos

naosao2


O ex-presidente Lula divulgou e-mail negando que esteja preocupado com a aliança entre o PSB e a virtual Rede.
“São absolutamente fantasiosas as declarações sobre a aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva atribuídas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no blog do jornalista Josias de Souza e também na coluna Painel, da Folha de S.Paulo.”, diz a nota da assessoria de Lula.
Josias e o Painel dizem que Lula teria achado que a aliança é um perigo para a reeleição de Dilma.
E Lula não acha nada disso.
Aliás, quem acha, acha porque quer achar.
Que Campos terá algum reforço, é óbvio. De parte (impossível dizer de quanto será essa parte, mas certamente é bem menor que o todo) dos marinistas e da exposição de mídia que está tendo.
Mas daí a dizer que passa de azarão a pule de 10 vai uma distância maior do que a da realidade do governador de Pernambuco e as suas pretensões.
Não há nenhuma indicação de que isso vá provocar um salto de Campos.
Isso é muito mais o desejo de quem “topa qualquer negócio” na esperança de derrotar Dilma do que análise político-eleitoral.
Até porque Eduardo só chegou a ser a força que é em Pernambuco porque foi, até o ano passado, o maior “lulista” do Estado. Eduardo contra Lula não é o mesmo.
Quem tem de se preocupar – e muito – com isso é Aécio Neves, porque mesmo pequena, uma ascensão do pernambucano faz balançar sua condição de, agora, segundo colocado nas pesquisas.
Balançar é muito perigoso, sobretudo quando o jacaré José Serra está ali por baixo, de boca aberta esperando a desgraça aecista.
Por: Fernando Brito
camarina

Jânio: Campos e Marina só se parecem na pretensão e no

mal-contido autoritarismo


A coluna de Jânio de freitas, na Folha de hoje, faz uma crua radiografia da aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva, muito diferente das análises mais supérfluas que se tem lido. Aliás, mais festejos de ter – duvido eu – surgido uma “grande esperança branca” para a oposição do que propriamente um diagnóstico sereno do quadro eleitoral.
Jânio vai à natureza que cada um dos dois tem demonstrado em sua trajetória política. E lhes analisa as contradições: Eduardo Campos não é um homem de esquerda; Marina Silva tem traços conservadores.
A reuni-los, o que ele resume com a sabedoria de décadas de observação da cena polìtica: “as conveniências políticas dos dois são as mesmas e concorrentes entre si. Sustentadas, de uma parte e de outra, em graus equivalentes de pretensão e mal contido autoritarismo.”

Presente e futuro

Jânio de Freitas
Visão política é a capacidade de olhar para o momento presente e, em vez dele, ver o futuro.
Tudo indica que Marina Silva e Eduardo Campos voltaram os olhos para o futuro e viram apenas um momento do presente.
Em um só lance, os dois plantaram fartos problemas para sua adaptação mútua, em meio a igual dificuldade de seus grupos. Políticos costumam ter flexibilidade circense, mas não é o caso, por certo. Bem ao contrário.
Nem mesmo o pessoal do PSB cita o nome do partido por inteiro, há muito tempo: fazê-lo exigiria mencionar a palavra “Socialista”. O que se sabe das ideias do próprio Eduardo Campos não é muito mais do que se sabe de Marina Silva. Em relação aos dois sabe-se, porém, o suficiente para perceber a inconciliação quase completa. Não cabe mais dizer que o PSB seja partido “de esquerda”, nem se pode dizer isso de Eduardo Campos. Mas conservadores, o partido e seu presidente não são, nem podem sê-lo, por exigência da ambição eleitoral que expõem.
Marina Silva tem mais de esfinge que de política (sem alusão a certa semelhança de traços básicos). Se não há clareza de como a ex-candidata à Presidência pensa o país e seus problemas, ao menos se dispõe de uma percepção básica, na medida em que uma dedicação religiosa intensa exprime uma concepção bastante mais ampla. E ao deixar o catolicismo para tornar-se evangélica dedicada, Marina Silva integrou-se a uma corrente de notório conservadorismo. Demonstrado, inclusive, em extensão política, nas posições e atos de sua bancada no Congresso, com frequentes referências nos meios de comunicação.
Imaginar que tamanha diferença, digamos, conceitual caminhe para a conciliação, em nome de conveniências políticas imediatistas, exige esquecer o início da questão: as conveniências políticas dos dois são as mesmas e concorrentes entre si. Sustentadas, de uma parte e de outra, em graus equivalentes de pretensão e mal contido autoritarismo.
Com este pano de fundo, veremos o que se passará diante das posições de ambos invertidas na chapa do PSB em comparação com as pesquisas. Os seguidores de Marina nem esperam por próximas pesquisas, já entregues à campanha pela cabeça da chapa. As simpatias dos dois grupos vão mostrar o que são, de fato, quando se derem as verdadeiras discussões sobre liderança, temas de campanha, respostas às cobranças do eleitorado, a batalha.
A história das eleições, mesmo a recente, já legou exemplos suficientes de que acordos, garantias, alianças e comunhões são passíveis de também desmanchar-se no ar. É só bater um ventinho mais conveniente para um dos lados. Eduardo Campos sabe disso, o que significa que o festejado entendimento com Marina representa, para ele, múltiplos riscos. Entre os quais, até o desgaste político decorrente da simples dificuldade de convivência, descoberta agora por vários (ex-)entusiastas da Rede Sustentabilidade.
Marina Silva, ao passar de uma posição de liderança para a duvidosa inserção em partido alheio e com líder-candidato definido, na melhor hipótese fez uma jogada no escuro sob a luz do dia. Ao menos terá tempo para sair pelo país explicando ao seu eleitorado o que quer dizer sustentabilidade, um nome de partido à altura da incompetência com que foi tratado por seus sustentadores.
 
Por: Fernando Brito