O Conversa Afiada reproduz artigo de Janio de Freitas, na Folha (*)
JANIO DE FREITAS
JANIO DE FREITAS
PRESENTE E FUTURO
A história das eleições já legou exemplos suficientes de que acordos são passíveis de desmanchar-se no ar
Visão política é a capacidade de olhar para o momento presente e, em vez dele, ver o futuro.
Tudo indica que Marina Silva e Eduardo Campos voltaram os olhos para o futuro e viram apenas um momento do presente.
Em um só lance, os dois plantaram fartos problemas para sua adaptação mútua, em meio a igual dificuldade de seus grupos. Políticos costumam ter flexibilidade circense, mas não é o caso, por certo. Bem ao contrário.
Nem mesmo o pessoal do PSB cita o nome do partido por inteiro, há muito tempo: fazê-lo exigiria mencionar a palavra “Socialista”. O que se sabe das ideias do próprio Eduardo Campos não é muito mais do que se sabe de Marina Silva. Em relação aos dois sabe-se, porém, o suficiente para perceber a inconciliação quase completa. Não cabe mais dizer que o PSB seja partido “de esquerda”, nem se pode dizer isso de Eduardo Campos. Mas conservadores, o partido e seu presidente não são, nem podem sê-lo, por exigência da ambição eleitoral que expõem.
Marina Silva tem mais de esfinge que de política (sem alusão a certa semelhança de traços básicos). Se não há clareza de como a ex-candidata à Presidência pensa o país e seus problemas, ao menos se dispõe de uma percepção básica, na medida em que uma dedicação religiosa intensa exprime uma concepção bastante mais ampla. E ao deixar o catolicismo para tornar-se evangélica dedicada, Marina Silva integrou-se a uma corrente de notório conservadorismo. Demonstrado, inclusive, em extensão política, nas posições e atos de sua bancada no Congresso, com frequentes referências nos meios de comunicação.
Imaginar que tamanha diferença, digamos, conceitual caminhe para a conciliação, em nome de conveniências políticas imediatistas, exige esquecer o início da questão: as conveniências políticas dos dois são as mesmas e concorrentes entre si. Sustentadas, de uma parte e de outra, em graus equivalentes de pretensão e mal contido autoritarismo.
Com este pano de fundo, veremos o que se passará diante das posições de ambos invertidas na chapa do PSB em comparação com as pesquisas. Os seguidores de Marina nem esperam por próximas pesquisas, já entregues à campanha pela cabeça da chapa. As simpatias dos dois grupos vão mostrar o que são, de fato, quando se derem as verdadeiras discussões sobre liderança, temas de campanha, respostas às cobranças do eleitorado, a batalha.
A história das eleições, mesmo a recente, já legou exemplos suficientes de que acordos, garantias, alianças e comunhões são passíveis de também desmanchar-se no ar. É só bater um ventinho mais conveniente para um dos lados. Eduardo Campos sabe disso, o que significa que o festejado entendimento com Marina representa, para ele, múltiplos riscos. Entre os quais, até o desgaste político decorrente da simples dificuldade de convivência, descoberta agora por vários (ex-)entusiastas da Rede Sustentabilidade.
Marina Silva, ao passar de uma posição de liderança para a duvidosa inserção em partido alheio e com líder-candidato definido, na melhor hipótese fez uma jogada no escuro sob a luz do dia. Ao menos terá tempo para sair pelo país explicando ao seu eleitorado o que quer dizer sustentabilidade, um nome de partido à altura da incompetência com que foi tratado por seus sustentadores.
Clique aqui para ler “Janio: Eduardo é um embuste. Um engodo melhorzinho”
Aqui para “Bláblárina é uma autoritária”
E aqui para “Há seis meses, Bláblá espinafrava Dudu”
(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.
(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.
Gilberto Maringoni: Marina está à direita de Aécio, mas pode concorrer à esquerda de Dilma.
Colunistas| 06/10/2013 | Copyleft
DEBATE ABERTO
Marina, um problemaço para o PT
Marina não é de esquerda. Não bastassem as acusações de “chavismo” ao atual governo, seu fundamentalismo religioso provavelmente a coloca à direita de Aécio Neves.
Ambos devem ter o mesmo programa econômico – produzido por inquilinos da Casa das Garças e órfãos de FHC – com uma diferença: até aqui Aécio não fala em ensinar criacionismo nas escolas e nem se coloca contra avanços nos costumes.
Mas essa seguramente é opinião de um setor minoritário da população.
Para a maioria, Marina foi ministra do Meio-ambiente de Lula, defende a natureza e saiu do governo por causa da “velha política” (algo tão indefinível quanto “rede sustentabilidade”).
Além disso, ela e Eduardo Campos foram ministros e aliados de primeira hora da gestão petista.
Todos integrariam um condomínio político semelhante e representam – aos olhos das maiorias – um racha no campo progressista.
Como diferenciar?
Como se diferenciarão as candidaturas de Dilma e Marina/Eduardo Campos em 2014?
Tudo indica que não será pelo contraste político. A postulante petista não poderá falar que o PSB tem como aliados Bornhausen, Heráclito Fortes e Paulo Skaf, integrantes da fina flor da direita brasileira.
A aliança petista com Sarney, Collor, Sérgio Cabral, Blairo Maggi, Paulo Maluf e Katia Abreu (para não falar de Gleici Hoffmann, Paulo Bernardo e José Eduardo Cardozo) deixarão a presidente sem argumentos, se for retrucada à altura.
Zero a zero até aí.
No segundo turno de 2010, Dilma atacou pesadamente seu oponente José Serra, em debate pela TV Bandeirantes.
Acusou-o de ser privatista e de planejar vender o pré-sal. Eleita, ela rendeu-se à fúria privatizante – estradas, portos e aeroportos – e quer passar nos cobres parte do pré-sal.
Jogo empatado.
Lula, nesta semana, deu mais uma contribuição à geleia política. Afirmou que o projeto do PT para a Constituição de 1988, “se tivesse sido aprovado, certamente tornaria o país ingovernável”.
E detalhou os motivos: “O PT queria um texto mais avançado, contemplando reforma agrária, estabilidade no emprego, imposto sobre fortuna, criação do Ministério da Defesa”.
Ou seja, uma plataforma democrática básica, segundo o ex-presidente, tornaria o país “ingovernável”.
É mais menos ou que dizia José Sarney, em 1988, e o empresariado nacional nos anos seguintes.
Marquetagem
A diferença em 2014 será também marcada por quem tiver o marqueteiro mais competente (e mais caro).
A julgar pelas arrecadações de campanha de três anos atrás, Dilma levará a melhor nesse quesito.
A presidenta poderá alardear os êxitos dos governos petistas em elevar salários e manter a estabilidade da moeda.
Mas estará discursando sobre o passado, enquanto campanhas pedem mais. Pedem planos para o futuro.
Eduardo Campos não exibe conteúdo algum em suas falas. Ninguém sabe ao certo o que pensa da vida. Mas sempre que pode, propaga que fará “mais” e “diferente”.
Numa campanha esvaziada de demarcações claras, é um começo.
Economia e protestos
Um componente importante da disputa de 2014 estará largamente pautado pelo desempenho da economia e pela volta ou não das manifestações de junho.
Apesar do crescente déficit externo, nada parece indicar uma queda abrupta nas expectativas.
Emprego, renda e inflação seguem estáveis.
O governo escolheu a senda da contração – através da agressiva política de elevação dos juros básicos – e devemos ter mais um ano de PIB medíocre. Mas não um solavanco, como em 2009.
Uma nova explosão social às portas das eleições (na época da Copa, por exemplo) pode ter efeito devastador para a candidatura oficial. Mas aqui adentramos, por enquanto, no terreno do imponderável.
Saída pela esquerda?
O 1º. vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, em entrevista à Carta Maior, afirmou sobre a candidatura Eduardo Campos (possivelmente extensiva hoje à Marina) que “A minha expectativa é que ele seja uma pontuação à esquerda da candidatura da Dilma. Uma oposição pela esquerda”.
Se for verdade, a postulação Marina/Campos poderá ter algumas consequências importantes na conjuntura eleitoral:
A. Tornará o apoio do PMDB ainda mais vital para o PT. Com isso, teremos uma bolha especulativa no preço do apoio da agremiação de Michel Temer;
B. Pode forçar alguma definição política entre as candidaturas.
C. Mandará para o limbo as pretensões do PSDB e seu candidato.
D. Uma postulação mais à esquerda, com maior nitidez, pode se destacar.
Até aqui, Dilma tem ampla vantagem. O que se desenha agora é um possível segundo turno. Mas há muito tempo pela frente.
Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, é professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC. Doutor em história pela Universidade de São Paulo, é autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).
PS do Viomundo: As primeiras declarações de Marina Silva, se foram resultado de uma estratégia eleitoral já definida com Eduardo Campos, demonstram que ela fará o papel clássico do candidato a vice. Engordar a chapa. No caso, engordar à direita, destacando o “chavismo” do PT para agradar a setores antipetistas hoje ligados ao PSDB. Enquanto isso, o cabeça de chapa falará à esquerda.
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