O ex-presidente Lula divulgou e-mail negando que esteja preocupado com a aliança entre o PSB e a virtual Rede.
“São absolutamente fantasiosas as declarações sobre a aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva atribuídas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no blog do jornalista Josias de Souza e também na coluna Painel, da Folha de S.Paulo.”, diz a nota da assessoria de Lula.
Josias e o Painel dizem que Lula teria achado que a aliança é um perigo para a reeleição de Dilma.
E Lula não acha nada disso.
Aliás, quem acha, acha porque quer achar.
Que Campos terá algum reforço, é óbvio. De parte (impossível dizer de quanto será essa parte, mas certamente é bem menor que o todo) dos marinistas e da exposição de mídia que está tendo.
Mas daí a dizer que passa de azarão a pule de 10 vai uma distância maior do que a da realidade do governador de Pernambuco e as suas pretensões.
Não há nenhuma indicação de que isso vá provocar um salto de Campos.
Isso é muito mais o desejo de quem “topa qualquer negócio” na esperança de derrotar Dilma do que análise político-eleitoral.
Até porque Eduardo só chegou a ser a força que é em Pernambuco porque foi, até o ano passado, o maior “lulista” do Estado. Eduardo contra Lula não é o mesmo.
Quem tem de se preocupar – e muito – com isso é Aécio Neves, porque mesmo pequena, uma ascensão do pernambucano faz balançar sua condição de, agora, segundo colocado nas pesquisas.
Balançar é muito perigoso, sobretudo quando o jacaré José Serra está ali por baixo, de boca aberta esperando a desgraça aecista.
Por: Fernando BritoJânio: Campos e Marina só se parecem na pretensão e no
mal-contido autoritarismo
A coluna de Jânio de freitas, na Folha de hoje, faz uma crua radiografia da aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva, muito diferente das análises mais supérfluas que se tem lido. Aliás, mais festejos de ter – duvido eu – surgido uma “grande esperança branca” para a oposição do que propriamente um diagnóstico sereno do quadro eleitoral.
Jânio vai à natureza que cada um dos dois tem demonstrado em sua trajetória política. E lhes analisa as contradições: Eduardo Campos não é um homem de esquerda; Marina Silva tem traços conservadores.
A reuni-los, o que ele resume com a sabedoria de décadas de observação da cena polìtica: “as conveniências políticas dos dois são as mesmas e concorrentes entre si. Sustentadas, de uma parte e de outra, em graus equivalentes de pretensão e mal contido autoritarismo.”
Presente e futuro
Jânio de Freitas
Visão política é a capacidade de olhar para o momento presente e, em vez dele, ver o futuro.
Tudo indica que Marina Silva e Eduardo Campos voltaram os olhos para o futuro e viram apenas um momento do presente.
Em um só lance, os dois plantaram fartos problemas para sua adaptação mútua, em meio a igual dificuldade de seus grupos. Políticos costumam ter flexibilidade circense, mas não é o caso, por certo. Bem ao contrário.
Nem mesmo o pessoal do PSB cita o nome do partido por inteiro, há muito tempo: fazê-lo exigiria mencionar a palavra “Socialista”. O que se sabe das ideias do próprio Eduardo Campos não é muito mais do que se sabe de Marina Silva. Em relação aos dois sabe-se, porém, o suficiente para perceber a inconciliação quase completa. Não cabe mais dizer que o PSB seja partido “de esquerda”, nem se pode dizer isso de Eduardo Campos. Mas conservadores, o partido e seu presidente não são, nem podem sê-lo, por exigência da ambição eleitoral que expõem.
Marina Silva tem mais de esfinge que de política (sem alusão a certa semelhança de traços básicos). Se não há clareza de como a ex-candidata à Presidência pensa o país e seus problemas, ao menos se dispõe de uma percepção básica, na medida em que uma dedicação religiosa intensa exprime uma concepção bastante mais ampla. E ao deixar o catolicismo para tornar-se evangélica dedicada, Marina Silva integrou-se a uma corrente de notório conservadorismo. Demonstrado, inclusive, em extensão política, nas posições e atos de sua bancada no Congresso, com frequentes referências nos meios de comunicação.
Imaginar que tamanha diferença, digamos, conceitual caminhe para a conciliação, em nome de conveniências políticas imediatistas, exige esquecer o início da questão: as conveniências políticas dos dois são as mesmas e concorrentes entre si. Sustentadas, de uma parte e de outra, em graus equivalentes de pretensão e mal contido autoritarismo.
Com este pano de fundo, veremos o que se passará diante das posições de ambos invertidas na chapa do PSB em comparação com as pesquisas. Os seguidores de Marina nem esperam por próximas pesquisas, já entregues à campanha pela cabeça da chapa. As simpatias dos dois grupos vão mostrar o que são, de fato, quando se derem as verdadeiras discussões sobre liderança, temas de campanha, respostas às cobranças do eleitorado, a batalha.
A história das eleições, mesmo a recente, já legou exemplos suficientes de que acordos, garantias, alianças e comunhões são passíveis de também desmanchar-se no ar. É só bater um ventinho mais conveniente para um dos lados. Eduardo Campos sabe disso, o que significa que o festejado entendimento com Marina representa, para ele, múltiplos riscos. Entre os quais, até o desgaste político decorrente da simples dificuldade de convivência, descoberta agora por vários (ex-)entusiastas da Rede Sustentabilidade.
Marina Silva, ao passar de uma posição de liderança para a duvidosa inserção em partido alheio e com líder-candidato definido, na melhor hipótese fez uma jogada no escuro sob a luz do dia. Ao menos terá tempo para sair pelo país explicando ao seu eleitorado o que quer dizer sustentabilidade, um nome de partido à altura da incompetência com que foi tratado por seus sustentadores.
Por: Fernando Brito
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