Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
AS IMPLICAÇÕES INCÔMODAS DO PLEITO ARGENTINO
Em 2003, quando começou o ciclo Kirchner, a Argentina era uma espécie de Grécia da América do Sul. Desacreditada aos olhos de seu próprio povo, balançava como um 'joão bobo' nas mãos do capital especulativo interno e externo. Nestor Kirchner herdou uma taxa de pobreza produzida pelo extremismo neoliberal que afetava 60% dos 37 milhões de argentinos. A dívida de US$ 145 bilhões, impagável, corroia seu sistema financeiro. Fruto mais do desespero do que de uma estratégia, a moratória de 2001 colapsava os mecanismos de crédito e financiamento, sem os quais nenhuma economia funciona. Os credores sobrevoavam a nação argentina à espera do melhor momento para arrancar os seus olhos. E o que lhe restasse ainda da carne. O cerco contra o país era brutal. A mídia, aliada dos interesses plutocráticos locais e forâneos, interditava o debate de qualquer alternativa fora da rendição. Poucos listavam-se entre os aliados.Mesmo no Brasil, o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, impunha distancia sanitária entre Kirchner e Lula, em sintonia com a pressão internacional. Para se ter a dimensão do cerco vivido então pela Casa Rosada, basta conferir o que a liderança do euro, os banqueiros e o FMI fazem hoje com Atenas e Papandreu.A diferença é que Nestor Kirchner não se dobrou: impôs um desconto de 70% da dívida aos credores; destinou a receita crescentre a programas sociais e de fomento. A taxa de pobreza recuou a 10% da população. A economia argentina foi a que mais cresceu no hemisfério ocidental na última década. As circunstancias desse braço de ferro são espertamente omitidas pela crítica conservadora, que hoje desdenha da vitória esmagadora de Cristina, atribuindo-a a um fogo fátuo feito de populismo insustentável,inflação maquiada e boom passageiro de commodities. Mark Weisbrot , do CEPR, critica a frivolidade desse enfoque. No fundo,sugere, trata-se de uma auto-defesa conservadora contra as implicações políticas do sucesso argentino, face à catastrófica safra de desastres colhidos na Grécia, Espanha, Portugal e outros, ora submetidos ao purgante ortodoxo que Nestor, Cristina e seus eleitores desmoralizaram.
(Carta Maior; 3ª feira, 25/10/ 2011)
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R$ 150 mil para evitar publicação de matéria na revista Veja - revela o Estadão
Sobre fim dos jornalistas, na acampada
Estou saindo da acampada do 15-0 na Cinelândia e uma jovem jornalista, de um velho jornal carioca, me aborda. Depois de perguntar nome, idade, ocupação, vai direto ao ponto:
— O que vocês propõem, qual é a pauta de reivindicações do movimento?
— Acho que mais importante é perguntar o que o movimento faz, o que ele produz e, mais importante ainda, como ele faz e produz. A forma é diferente.
— Tá, mas, pode dar um exemplo…
— Por exemplo, aqui se está experimentando fazer uma mídia de maneira que não precisemos mais de jornalistas e jornalismo. — respondo sem tom de provocação, mas ela reage com uma atitude de condescendência, que é o pior tipo de arrogância.
— Sei, porque a mídia é golpista e tal, e vocês não, são os revolucionários. O jornalismo vai continuar existindo de um jeito ou de outro.
— Se o jornalismo surgiu há alguns poucos séculos, ele pode acabar também, as coisas mudam. E não entraria no mérito se é golpista, acho que seja mais simples e menos conspiratório: é porque você não é livre enquanto jornalista, a sua reportagem não será livre, esse movimento no fundo também é pra você.
— Claro que não. Por quê?
— Você tem um chefe, uma pauta, uma carreira, uma edição centralizada dos textos, você não escreve o que deseja e sobre o que deseja e, mais importante,como deseja; tem uma linha editorial, tem que respeitar certa forma de escrever, de construir e selecionar os fatos, tem truques e convenções impostos de fora pela profissão do jornalismo, do jornalismo sério. Por isso que a nova mídia tem que ser pós-jornalista e quando o jornalista vem pra nova mídia, ele precisa largar essa identidade e esses macetes. Se a nova mídia reproduz o mesmo jornalismo no formato 2.0, não é nova. — e ela vai anotando, condescendente.
— Então o melhor é deixar tudo para o estado, estatizar?
— Se fosse isso, a gente não estaria aqui acampado, teria procurado os partidos pra disputar o estado. Acho que a mídia não será livre quando toda ela for estado, mas quando todos formos mídia. Todo mundo pode colaborar numa narrativa em comum. A gente tá cansando de ouvir que no mundo socialista não tinha imprensa livre e é verdade. Mas não é muito diferente daqui. Lá na Romênia do Ceausescu o controle era mistificado pelo interesse público e o estado, e aqui ele é mistificado pela livre iniciativa, que qualquer um é livre pra montar uma empresa jornalística ou mudar de emprego, mas no fundo, aqui e na Romênia, é o mesmo jornalismo, ou seja, a falta de liberdade pra falar e de criatividade em comum. Se você for a favor da linha dos seus chefes, está bem, é livre, mas experimenta colocar opiniões verdadeiramente contrárias e que incomodam, ou então a fazer diferente, aí te censuram na certa. Claro que eles vão falar que no texto você perdeu a objetividade dos fatos, que está muito carregado de opiniões e achismos, que está político, ou horror, que está ideológico. Como se o fato e o jeito de montar esse fato que eles querem, e o modo como ensinam e pautam seus jornalistas, como prometem a carreira profissional, já não fosse a ideologia em primeiro lugar. E aí se você tem a opção de aceitar ou mudar pra outro jornal no mesmo formato controlado por outra família de poderosos, então não vai mudar muito. Você está num ciclo vicioso que se chama liberdade de imprensa, mas essa democracia não é real. Por isso quando a Acampada toma a palavra e faz diferente, essa é uma proposta importante. — nessa hora, a jornalista mudou a expressão, talvez tenha se dado conta que não ia me pegar no contrapé tão fácil, então tentou uma última.
—- Então você quer extinguir o jornalismo, isso não é complicado, não é totalitário?
— É tão totalitário quanto o fato que esta entrevista não vai aparecer no seu jornal amanhã.
E não apareceu mesmo.
Em primeira-mão no Blog Os Amigos do Presidente Lula em 23/10/2011 as 17:28hs
Sem querer o jornal Estadão jogou a revista Veja no caldeirão de suspeitos de cobrar R$ 150 mil para silenciar sobre encândalos.
Foi nesta matéria, onde o alvo era Agnelo Queiroz, mas se a Polícia Federal investiga as conexões políticas no caso, agora não pode deixar de fora as investigações sobre a revista Veja, para averiguar se a revista não estaria participando da partilha do dinheiro da máfia que fraudou convênios com o Ministério do Esporte.
Eis o trecho do Estadão onde "entrega" a revista:
Geraldo Nascimento contou à Polícia Civil que na reunião foi debatida uma forma de arrecadar R$ 150 mil para tentar evitar a publicação da matéria pela revista Veja, baseadas nas acusações feitas por Michael. A matéria foi publicada em abril de 2008. Discutiriam também o que fazer com o delator.
Clique nas imagens para ampliar
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,motorista-reafirma-reuniao-entre-agnelo-e-ongs,788930,0.htm |
É preciso advertir que estas acusações, como as outras, são frágeis, muita coisa baseada apenas em depoimento sobre a tal reunião, na base do "ouviu falar", do "fiquei sabendo". O depoente sequer diz que participou, nem que testemunhou. Além disso ele está envolvido no desvio das verbas e participou da campanha da família Roriz em 2010. Então todo cuidado é pouco.
Mas o fato é que a revista Veja publicou uma matéria na edição 2057 de 23 de abril de 2008, com o referido Michael atacando Agnelo.
Agnelo é o alvo das acusações na revista nesta matéria, o que evidencia que ele não pagou propina à revista para não ser atacado.
Isso poderia ser evidência a favor da revista, porém...
... nenhuma linhazinha sobre o PM João Dias. O nome dele nem é citado. E, em outros jornais, Michael o acusa de o ter ameaçado e até quebrado o pulso.
A revista saiu no sábado, dia 19 de abril de 2008.
Dezenove dias antes, no dia 01 de abril, o PM João Dias fora preso na Operação Shaolin, como comprova esta matéria do Correio Braziliense:
Por que a Veja fez silêncio sobre a Operação Shaolin e sobre o PM, e só atacou Agnelo?
E não foi apenas nesta edição 2057. Não há registro nos arquivos digitais da revista (arquivo completo com todas as edições) sobre a Operação Shaolin, nem da prisão do PM. Seu nome só aparece nas páginas da revista agora, em outubro de 2011.
O povo quer saber:
1) A revista (ou alguém da revista) recebeu ou não propina de R$ 150 mil do PM João Dias, para não publicar denúncias contra ele?
2) Qual o pacto da revista Veja com o PM João Dias, para esconder todos os escândalos que ele está envolvido desde 2008, e só citá-lo agora quando ele quis aparecer como "denunciante"?
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Última chance do governo Dilma
Publicado, originalmente, em 23 de outubro de 2011 às 11:41
Não foi por falta de aviso que o governo Dilma Rousseff mergulhou na crise política em que se encontra, com a inédita perda de cinco ministros em menos de um ano. Este blog, assim como o ex-presidente Lula, previram, já no início de 2011, que a demissão do ex-ministro Antonio Palocci por pressão da mídia e de setores do PT faria com que milhões de brasileiros que apoiavam o governo anterior deixassem de apoiar a este.A diferença de apoio popular do governo anterior para o atual, segundo revelam as pesquisas, mostra que parte dos setores da sociedade dispostos a sustentar este governo contra o partidarismo político da mídia – assim como sustentaram o governo anterior –, pulou fora. Apesar de este governo ainda ter bom nível de apoio, esse nível é pelo menos 1/3 menor do que o do governo Lula, o que significa dezenas de milhões de brasileiros.
Não é difícil entender a razão. Se você tem um crítico feroz e as acusações que ele lhe faz o obrigam a tomar medidas que ele prega que tome e que confirmam que suas escolhas foram erradas, você admite a própria incompetência. Daí que grande parte da sociedade deixou de apoiar este governo enquanto afirma que o governo anterior era melhor.
Pesquisa Ibope divulgada no mês passado mostra que o nível de aprovação pessoal de Dilma, neste momento, é de 71%, mas seu governo tem apenas 51% de avaliações como bom e ótimo enquanto que o governo Lula era aprovado por cerca de 80%. Mesmo sendo um governo de continuidade, milhões de cidadãos vêem o governo Dilma como inferior ao de Lula
Muitas pessoas de boa fé compraram a tese da mídia de que Dilma é uma coisa e seu governo é outra, o que é uma impossibilidade física. Quem acha o governo Dilma ruim pode até achar sua titular uma boa pessoa, mas o cargo de presidente da República não é preenchido por simpatia e bondade e, sim, pela expectativa popular de que seja exercido com competência, seriedade e honestidade.
Lula previra, no início do ano, que da queda de Palocci decorreria uma onda de demissões de ministros que, dito e feito, acabou se confirmando. E tudo à toa. Meses a fio após sua queda, só agora um obscuro procurador tenta investigá-lo, certamente para não dar tanto na vista que sua derrubada ocorreu por razões políticas e não por conta de algum crime comprovado. E todos os outros ministros derrubados “por corrupção” foram deixados em paz após desistirem.
A mídia aproveita a fragilidade do apoio popular ao governo Dilma – com 51% de aprovação, está a um passo de ser reprovado pela maioria – para fomentar um movimento “contra a corrupção” que a última capa da Veja mostra que é orquestrado. A revista estampou na capa a imagem da máscara que esse movimento usa como símbolo, a do revolucionário inglês Guy Fawkes, junto a chamada para matéria acusando o ministro “bola da vez”, Orlando Silva.
No próximo dia 15 de novembro, mais uma vez em um feriado, esse movimento oposicionista-midiático sai às ruas com a pretensão de reunir “um milhão de pessoas”. E certamente irá bradar contra o ministério do Esporte.
Apesar de “marchas contra a corrupção” anteriores terem sido um fracasso de público (diante da campanha martelada por todos os grandes meios de comunicação de massa), percebe-se que os fatos políticos gerados pela campanha de desmoralização do governo Dilma, através da temporada de caça aos ministros que a presidente da República nomeou, dão fôlego a esse movimento.
Como antes, mais uma vez vai retornando um discurso suicida entre a base de apoio do governo Dilma na sociedade, de que, apesar de não haver provas, o ministro “bola da vez” não teria mais “condições políticas” de permanecer no cargo. E lá se vai o quinto ministro derrubado “por corrupção”, ainda que, à diferença do ex-chefe da Casa Civil, Orlando Silva não tenha apartamento de milhões de reais para servir como “prova” de que é “corrupto”.
Como em qualquer ministério há milhares de convênios com entidades privadas, tais como ONGs etc., a mídia achou um manancial inesgotável de matéria-prima para novas denúncias. Qualquer irregularidade em qualquer ministério derrubará o titular da pasta e é fisicamente impossível que algum ministério ou secretaria de governo estadual ou municipal não tenha casos questionáveis a serem explorados.
A mídia oposicionista, pois, adquire uma arma para pressionar o governo Dilma que o colocará de joelhos pelos próximos três anos. Qualquer política pública que este governo tente fazer vingar e da qual a mídia não goste, bastará ela ameaçar com novo escândalo para obrigar o governo a ceder.
A grande pergunta que se faz, portanto, é a seguinte: quanto tempo levará até que a mídia e a oposição decidam culpar a própria Dilma pela “corrupção” que dizem haver em seu governo? E como o cidadão poderá deixar de concluir que ela é a responsável pelo que se passa em seu próprio governo se a própria presidente elogia, afaga e obedece a esses detratores de sua administração?
A manutenção de Orlando Silva no cargo, portanto, é a última chance do governo Dilma de se manter autônomo. Se a Veja, a Folha, o Estadão e a Globo vencerem mais essa queda de braço, e se o PC do B cumprir a promessa de deixar a base de apoio do governo em caso de demissão de seu ministro, rejeitando indicar outro representante para o Esporte, a presidente não governa mais. Terá que pedir a benção da mídia e da oposição para cada medida.
Estamos no décimo mês do governo Dilma e, até agora, o que simboliza a sua administração é a incessante queda dos ministros que, não nos esqueçamos, foi a presidente que nomeou. Sem provas, sob esse mesmo “pragmatismo” que, inocentemente, até pessoas de boa fé acham que deixará o governo “livre para governar”, quando, na verdade, não passa de capitulação.
Agora lhe pergunto, leitor: você votou em Dilma Rousseff ou na mídia? Sim, porque quem está governando é a mídia, com esse poder de criar crises e paralisar o governo. Enquanto isso, as “marchas contra a corrupção”, infestadas por partidos de oposição e infladas pela mídia, caminham para se tornar o que fatalmente se tornarão: campanha pela queda do governo, provavelmente via impeachement.
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