Racismo, homofobia, misoginia e até uma outrora impensável xenofobia (o caso do frentista haitiano, agredido no Rio Grande do Sul, ainda está fresco em nossa memória) – e algo mais que possa ter sido esquecido – são fenômenos que não param de crescer no Brasil no âmbito da onda ultraconservadora que se instalou por aqui de junho de 2013 para cá.
Além dos prejuízos econômicos que a instabilidade política tem promovido – afastou investimentos (investidor gosta de previsibilidade) e sabotou um evento (a Copa do Mundo) que poderia ter nos rendido lucros estratosféricos via turismo, e não rendeu porque protestos intimidaram turistas –, uma cultura do ódio começa a promover duro retrocesso em conquistas sociais – a partir da Câmara dos Deputados.
Nesse aspecto, episódios recentíssimos dão a medida de a quantas anda o retrocesso político-cultural-institucional a que a parcela pensante do país assiste boquiaberta.
A pedido de muitas pessoas – em grande maioria, mulheres –, não se deve reproduzir os adesivos asquerosos para automóveis vendidos por picaretas da internet nos quais a presidente da República, Dilma Rousseff, aparece em situação vexatória.
O abuso foi tão grande que a Organização das Nações Unidas (ONU) emitiu “nota de repúdio” à agressão praticada contra a presidente do Brasil, agressão que qualificou como “violência política sem precedentes”.
Sem termos tido tempo sequer para respirar, chegam-nos imagens e áudio de outra agressão fascista, grotesca, selvagem praticada contra a primeira mandatária da nação por um infeliz que, em sua página no Facebook, espalha, além de tudo, homofobia, entre outros comportamentos intolerantes e odiosos.
Quase simultaneamente, o país é novamente afrontado com agressão igualmente descabida contra outra mulher, agora de origem diametralmente distinta da de Dilma Rousseff, mas afrontada de forma igualmente grotesca em sua dignidade humana, com expressões racistas intoleráveis e criminosas.
A jornalista Maria Júlia Coutinho, a Maju, “moça do tempo” do Jornal Nacional, porém, à diferença do que ocorreu com a presidente da República, foi brindada com um justo desagravo não só pela Globo – cujo “núcleo de jornalismo” é comandado por alguém que afirma, em livro, que não existe racismo no Brasil –, mas, inclusive, pelas autoridades competentes, que já prometem providências legais contra os agressores.
Se faltasse alguma coisa para revoltar ainda mais nas agressões a essas duas mulheres, não falta mais. Simplesmente porque, enquanto a Maju foi justamente desagravada, sua colega de infortúnio ante a bestialidade de um setor da sociedade que ousa cada vez mais, a presidente Dilma, não recebeu nada além da solidariedade de alguns milhares de pessoas e de alguns sites na internet, além de nota de repúdio da ONU.
Mas o que difere nesses dois casos? Em que as agressões a Maju diferem das agressões a Dilma?
Resposta: uma é apoiada pela Globo, apesar de tudo que a emissora faz para manter vivo o racismo, com sua grade de programação no qual negros são ínfima minoria apesar de serem maioria esmagadora dos brasileiros – isso sem falar que o diretor de jornalismo da emissora renega a existência de racismo no país e, assim, ajuda a reforça-lo. A outra, é inimiga da poderosa Globo e, portanto, não mereceu nenhuma atitude tanto da grande mídia quanto das autoridades.
Alguns podem achar que, por haver especulações contra a idoneidade da presidente da República, isso justificaria esse tipo de “justiça” com as próprias mãos por parte de criminosos – ou quem produz aqueles adesivos para automóveis não é criminoso? Mas não há justificativa.
Só para pontuar, lembremo-nos de que os adesivos pornográficos não ferem apenas a presidente, mas, também, todas as mulheres, ao estimularem o uso de ataques sexistas e misóginos quando há divergência em relação a uma mulher; já os insultos do fascistinha nos EUA, demonstram bestialidade, falta de inteligência para fazer um protesto, pois qualquer imbecil pode disparar insultos e ameaças.
O que estimula esse tipo de comportamento que atingiu, igualmente, duas pessoas públicas do sexo feminino, portanto, é a seletividade. Na ditadura midiática que se abateu sobre o Brasil, ataques sexistas, misóginos, fascistas, racistas, homofóbicos, entre outros, só são punidos quando a mídia cai em cima, e essa só cai em cima se a vítima dispuser de sua simpatia.