Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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domingo, 13 de agosto de 2017

ONU diz que Venezuela supera Brasil em qualidade de vida

ONU diz que Venezuela supera Brasil em qualidade de vida

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E as polêmicas envolvendo a Venezuela só fazem crescer porque é fácil atirar em um país cercado de inimigos por todos os lados. A questão venezuelana é perfeita para governos atolados em impopularidade como o do Brasil distraírem a população de seus próprios problemas.
A guerra ideológica está espalhada pela América Latina há muito tempo, mas a direita vinha sendo surrada desde o fim do século passado. Eis que nos últimos anos, os efeitos da crise econômica internacional atingiram as economias do Terceiro Mundo após flagelarem o Primeiro Mundo.
Foi a chance para a direita se reerguer na América Latina. Vários países da região passaram a ter regimes conservadores. Na América do Sul, em particular, Argentina, Brasil e Paraguai endireitaram. Os dois últimos através de golpes.
Apesar de o Brasil ter passado às mãos da direita através de um golpe, não se pode ignorar que houve apoio popular a esse golpe, o que não o faz menos golpe, porque a lei não permite que a população derrube governos só por estar insatisfeita.
Enfim, o fato é que a direita usou e continua usando técnicas de mídia muito eficientes para enganar incautos. E incautos não faltam neste país.
Este post é produto de um surto de indignação gerado por um canal do YouTube que construiu um discurso com aparência de sério para contar uma montanha de mentiras sobre a Venezuela.
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É um canal forte. A farsa que montou já conta com mais de 200 mil visualizações. Uma legião de zumbis feitos de trouxas com dados falsos, produzidos pela rede farsante de desinformação montada pela mídia venezuelana, sempre decidida a derrubar o regime eleito pela primeira vez em 1998 e reeleito em 2015.
O espertinho só “linkou” matérias em inglês para dificultar a verificação da veracidade dos dados. Vai dar muito trabalho desmontar tantas farsas. A gente sabe que o dado é falso, mas precisa provar que é falso. Desse modo, o Blog vai desmontar essa farsa pedacinho por pedacinho, para se aprofundar bem.
Comecemos pelo primeiro link postado pelo canal enganador:

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Trata-se de uma matéria do The Guardian (Grã Bretanha). É um texto opinativo que diz que OITENTA E DOIS POR CENTO do povo venezuelano vive na pobreza.

ONU diz que Venezuela supera Brasil em qualidade de vida

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E as polêmicas envolvendo a Venezuela só fazem crescer porque é fácil atirar em um país cercado de inimigos por todos os lados. A questão venezuelana é perfeita para governos atolados em impopularidade como o do Brasil distraírem a população de seus próprios problemas.
A guerra ideológica está espalhada pela América Latina há muito tempo, mas a direita vinha sendo surrada desde o fim do século passado. Eis que nos últimos anos, os efeitos da crise econômica internacional atingiram as economias do Terceiro Mundo após flagelarem o Primeiro Mundo.
Foi a chance para a direita se reerguer na América Latina. Vários países da região passaram a ter regimes conservadores. Na América do Sul, em particular, Argentina, Brasil e Paraguai endireitaram. Os dois últimos através de golpes.
Apesar de o Brasil ter passado às mãos da direita através de um golpe, não se pode ignorar que houve apoio popular a esse golpe, o que não o faz menos golpe, porque a lei não permite que a população derrube governos só por estar insatisfeita.
Enfim, o fato é que a direita usou e continua usando técnicas de mídia muito eficientes para enganar incautos. E incautos não faltam neste país.
Este post é produto de um surto de indignação gerado por um canal do YouTube que construiu um discurso com aparência de sério para contar uma montanha de mentiras sobre a Venezuela.
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É um canal forte. A farsa que montou já conta com mais de 200 mil visualizações. Uma legião de zumbis feitos de trouxas com dados falsos, produzidos pela rede farsante de desinformação montada pela mídia venezuelana, sempre decidida a derrubar o regime eleito pela primeira vez em 1998 e reeleito em 2015.
O espertinho só “linkou” matérias em inglês para dificultar a verificação da veracidade dos dados. Vai dar muito trabalho desmontar tantas farsas. A gente sabe que o dado é falso, mas precisa provar que é falso. Desse modo, o Blog vai desmontar essa farsa pedacinho por pedacinho, para se aprofundar bem.
Comecemos pelo primeiro link postado pelo canal enganador:

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Trata-se de uma matéria do The Guardian (Grã Bretanha). É um texto opinativo que diz que OITENTA E DOIS POR CENTO do povo venezuelano vive na pobreza.
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O autor do texto é um sujeito chamado “Reinaldo Trombetta”. Até 2007, vivia na Venezuela e trabalhava em um dos jornais que fazia – e continua fazendo – oposição cerrada a Hugo Chávez, o El Nacional. Eis que surge uma jornalista norte-americana chamada Eva Golinger afirmando que Trombetta estava sendo pago pelo Departamento de Estado norte-americano para atacar Chávez.
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A notícia foi publicada pelo diário antichavista venezuelano El Universal em 26 de maio de 2007. Segue trecho da matéria.
33 comunicadores de varios medios están en la lista presentada por Gollinger
MARÍA LILIBETH DA CORTE |  DIARIO
sábado 26 de mayo de 2007  12:00 AM
MARÍA LILIBETH DA CORTE
EL UNIVERSAL
La abogada estadounidense, Eva Golinger, advirtió que no pretende “perseguir o atacar ni emprender una campaña de intimidación contra nadie”. Aclaró que s´olo busca “alertar” que los periodistas que participaron en el programa de la Oficina de Asuntos Culturales del Departamento de Estado de EEUU pasan a ser “sus empleados”, según las leyes de esa nación.
“Los objetivos del programa son obtener influencia sobre la línea editorial de los medios venezolanos y aquí, lamentablemente, a lo mejor hay periodistas que han sido manipulados por el Departamento de Estado”, agregó la también autora del libro El Código Chávez, quien informó que la lista de participantes fue “desclasificada” por el Gobierno de EEUU, dos años después de que se los solicitara, bajo la Ley de Acceso a la Información.
[…]
En la rueda de prensa, presentada por el presidente de Telesur, Andrés Izarra, Golinger mencionó a los periodistas María Fernanda Flores y Ana Karina Villalba (Globovisión), Roger Santodomingo (Noticiero Digital), Fausto Masó, Miguel Ángel Rodríguez (RCTV) y Reinaldo Trombetta, quien al momento de realizar el curso trabajaba en El Nacional y actualmente es director de Asuntos Públicos del Instituto de Artes Escénicas y Musicales del Ministerio de la Cultura.
Em 2 de agosto de 2007, o mesmo El Universal reconheceu que Trombetta era mesmo pago pelo governo norte-americano, apesar de dizer  que esses pagamentos não tinham nada que ver com suas críticas ao inimigo estadunidense Hugo Chávez.
Seja como for, no ano seguinte Reinaldo Trombetta deixou a Venezuela e foi viver na Grã Bretanha trabalhando como colunista do The Guardian e alegando que era perseguido pela “ditadura chavista” na Venezuela.
Nada disso prova, porém, que sua afirmação sobre a pobreza na Venezuela seja falsa. Porém, seu artigo, supra reproduzido diz, no título, que “Na Venezuela, 82% do povo vive na pobreza”, mas o assunto só é abordado – superficialmente – no último parágrafo de um texto de 12 parágrafos.
O Blog traduziu o trecho final, no qual o articulista “explica” a enormidade da afirmação sobre os 82% de pobres naquele país.
“(…) Mas e as dezenas de políticos e jornalistas – incluindo o líder da oposição – quem até recentemente elogiou as “conquistas” de Hugo Chávez e agora ficou quieto? Eles sempre pareciam sugerir que tinham o bem-estar do povo venezuelano no coração. Agora que 82% das famílias vivem na pobreza, elas não parecem interessadas em tudo o que está acontecendo na Venezuela. É uma pena, porque suas vozes podem realmente ser úteis, porque o mundo convida Maduro a restaurar a democracia e respeitar os direitos humanos (…)”
A gente não sabe se ri ou chora. Um texto intitulado “Na Venezuela, 82% do povo vive na pobreza” não deveria explicar melhor essa informação? Qual a fonte? Quem disse? Qual é a confiabilidade disso.
Apesar de Trombetta não ter trombeteado a fonte da informação, assim como o canal picareta lá do YouTube, o Blog foi atrás e descobriu de onde saiu essa enormidade.
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A pesquisa Encovi (Encuesta Sobre Condiciones de Vida em Venezuela) fundamentou o artigo de trombeta. Você pode ler o estudo na íntegra no box abaixo
A pesquisa usa uma malandragem clara. Em primeiro lugar, divide as classes sociais na Venezuela de uma forma maluca: pobres, não-pobres e pobres-extremos.
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Ou seja, não tem classe média alta, classe média baixa ou classe rica. Desse modo, se não for rico é pobre (?!).
Mas, afinal, é um estudo. Ou ao menos parece ser. Mas a pesquisa Encovi é confiável? O Blog foi saber de quem se trata. E que cada um julgue como quiser. Afinal, a inconfiabilidade dessa pesquisa não é o golpe de misericórdia que será aplicado nela nesta matéria. É apenas um golpe contundente. O nocaute virá por último.
Esse estudo foi apresentado pela mídia Venezuelana como tendo sido elaborado pelas Universidades Central, Simón Bolívar y Católica Andrés Belo, mas, na verdade, é uma publicação confeccionada sob a direção da Fundação Bengoa, do Observatório Venezuelano de Violência e outras supostas ONGs financiadas (entre outros) pelo governo norte-americano através da Agência dos Estados Unidos Para o Desenvolvimento Internacional (USAID)
A Fundação Bengoa pertence a duas instituições vinculadas à oposição Venezuelana e vinculadas à USAID: a Rede Venezuelana para Organizações de Desenvolvimento social e a Organização Venezuela Sem Limites.

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Se nos aprofundamos um pouco mais descobrimos que a Rede Venezuelana para Organizações Para Desenvolvimento Social (REDSOC) é uma entidade financiada pela Agência dos Estados Unidos Para o Desenvolvimento Internacional (USAID)
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Ou seja, o “estudo” foi feito por gente muito interessada em vender ao mundo essa barbaridade de que 82% dos venezuelanos são pobres. E é incrível como, no Brasil, esse conto do vigário pegou graças a uma mídia  irresponsável ao ponto de divulgar um estudo fake de uma organização sem maior respaldo e sob financiamentos suspeitos.
O malandrinho que postou no YouTube esse “estudo” fake poderia ter usado um veículo brasileiro em lugar do artigo opinativo do tal Trombetta, pois, em fevereiro, o G1 e todos os outros grandes e pequenos sites de direitas “trombetearam” essa farsa sem parar.
grande mídia brasileira difundir fartamente essa farsa dos 82% de pobres na Venezuela só serve para mostrar como há uma conspiração internacional contra a Venezuela, regida pelos Estados Unidos.
Porque o Estudo não faz sentido. Esses números são falsos, são absurdos. Só países miseráveis como Sudão do Sul (IDH 181), Burkina Faso (IDH 185) ou República Centro Africana (IDH 188, o último) teriam tantos pobres.
Aí é que vem o golpe de misericórdia nesse estudo criminoso que andam divulgando. Em março deste ano, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) publicou o Relatório do Desenvolvimento Humano 2016, no qual a Venezuela se mantém como um dos países com um alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no ranking de 188 países.
O IDH mede o progresso de uma nação com base na renda, saúde e educação, e vai de zero a um. Quanto mais pero do um, maior é o índice de desenvolvimento humano do país avaliado.
No relatório deste ano, a Venezuela aparece com uma pontuação de 0,767, no 71º lugar, acima do Brasil, cujo índice é 0,754 e ocupa o 79º lugar no ranking de melhores ou piores países para se viver.
Mais uma vez, o estudo foi encabeçado pela Noruega e o último colocado, como o pior país do mundo para se viver, foi a República Centro Africana, IDH 188.
No box abaixo você pode ler o estudo na íntegra. O site do PNUD só disponibiliza versão em inglês.
A imprensa séria divulga os dados corretos sobre a Venezuela. Veículos como Huffpost ou BBC Brasil divulgaram boas matérias desmontando as  mentiras sobre a Venezuela.

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Quem quiser entender quem é quem no mundo contemporâneo, em termos de qualidade de vida, pode acessar a integra do ranking no IDH clicando aqui
Aí vem a malandragem. Os farsantes afirmam que a pesquisa desconhecida bancada pelos inimigos do governo venezuelano é boa e o Índice de Desenvolvimento da ONU não vale nada porque o presidente Nicolás Maduro teria mandado os órgãos oficiais entregarem dados falsos ao organismo internacional.
Só uma besta quadrada poderia dar crédito a uma pesquisa fake em detrimento do maior estudo do mundo sobre as condições de vida dos países.
O IDH é vital para determinar investimentos estrangeiros, por exemplo. Se fosse tão simples fazer a ONU chancelar dados falsos, todos os países estariam em condições aceitáveis. Quem iria querer integrar os países de baixo desenvolvimento se bastasse uma mentirinha para sair bem na foto?
Porém, a mídia brasileira deu uma publicidade estratosférica a essa farsa dos 82% de pobres na Venezuela e sonegou ao público que dados internacionalmente reconhecidos, como os do IDH, dizem exatamente o oposto que esse estudo fake.
É angustiante ver essas mentiras contaminando inclusive gente decente, que, involuntariamente, junta-se a uma rede de mentiras cujo objetivo é colocar a América Latina de joelhos diante dos Estados Unidos e do grande capital transnacional.
Como sempre, esta página fez a sua parte. Agora é com você, se tiver chegado até aqui. Não deixe de divulgar a verdade dos fatos. E de usar este meio para contestar tantas informações falsas que circulam por aí. Se nos omitirmos, tornamo-nos cúmplices desses criminosos.
*
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sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Os EUA por trás do Golpe no Brasil Como os americanos ganharam com a queda da Dilma

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Conversa Afiada reproduz artigo de Brian Mier, geógrafo norte-americano e editor da Brasil Wire (clique aqui para ler o texto original em inglês):
Os Estados Unidos e o Golpe de 2016
O que sabemos, o que não sabemos e o que podemos deduzir sobre o papel de hegemonia geopolítica no “golpe suave” que retirou a Presidenta Dilma Rousseff e seu governo.
Durante uma visita recente a Porto Alegre, o professor e escritor cubano Raúl Antonio Capote Fernandéz falou sobre o processo de 20 anos de recrutamento que resultou no Projeto Gênesis da CIA. O objetivo da CIA era de fomentar um “golpe suave” em Cuba, utilizando um aplicativo, parecido com Twitter, para gerar descontentamento com o governo cubano e, através do financiamento e capacitação para artistas, estudantes e professores (utilizando-se de ONG’s) criar um partido de oposição de falsa esquerda. Fernandéz falou que estratégias parecidas eram aplicadas na Venezuela, Irã e Líbia e continuavam a ser implementadas em muitos outros países no terceiro mundo. Ele falou, também, que uma estratégia-chave do “golpe suave” é solapar os pilares de um governo até que ele imploda, gerando caos. “Com o país em caos,” ele disse, “é possível recorrer a meios mais extremos.” Fernandéz relatou que o projeto Gênesis foi baseado nas teorias de Gene Sharp sobre o “golpe suave”. No caso cubano, o projeto da CIA enfraqueceu em 2006, quando Fidel Castro renunciou. De acordo com Fernandéz, os fatores que causaram o fracasso do plano em Cuba foram: 1) O Agente Darsi Ferrer desistiu dos seus planos de participar da geração de notícias falsas sobre o “caos em Cuba” que seriam espalhadas nas companhias de mídia americanas em 2006; 2) Os EUA subestimaram a inteligência do povo cubano; 3) a má compreensão sobre a revolução cubana, tida apenas como o culto à personalidade construído sobre Fidel Castro ao invés da expressão da vontade coletiva da grande maioria da população cubana; e 4) o fato de que a inteligência cubana sabia sobre o projeto o tempo todo e a CIA, inadvertidamente, contratou um agente duplo para gerenciar Projeto Gênesis.
Por uma questão retórica vou supor que Fernandéz está falando a verdade e vou procurar fazer alguns paralelos entre a tentativa de “golpe suave” fracassado em Cuba e o “golpe suave” brasileiro de 2016, com o intuito de lançar alguma luz sobre o possível envolvimento do estado norte americano em todo este processo. Quando eu me refiro ao estado norte americano, penso no que Buci-Glucksmann chama de o “estado expandido” - não apenas o governo e suas instituições, mas a mídia comercial, o setor empresarial, partidos políticos e instituições de ensino que suportam tal estado.
A primeira pergunta que farei é: Como os Estados Unidos podem se beneficiar de um golpe suave no Brasil? Algumas possíveis razões estão abaixo:
1) Petróleo. Brasil tem enormes depósitos de petróleo na bacia de Santos, o pré-sal, que antes do golpe de 2016 estavam nas mãos de uma empresa que, embora seja de capital misto, continuava 100% brasileira, a Petrobras. Depois do golpe, a Petrobras começou vender acesso aos seus depósitos de pré-sal para empresas estrangeiras por preços abaixo do valor de mercado. O envolvimento do José Serra, Ministério de Relações Exteriores pós-golpe, em articulações de longo prazo com a empresa Chevron e o Departamento de Estado dos Estados Unidos, encorajou a privatização e o abandono da lei do pré-sal, tudo documentado aqui.
2) Enfraquecimento dos BRICS. Antes do Brasil ser desestabilizado e as economias da China e Rússia diminuírem o crescimento pareceu que os BRICS estavam se transformando em um poderoso contrabalanço ao poder estadunidense no palco mundial. Neste momento, as economias das nações que compõem o BRICS, somadas, quase igualaram a norte americana, e o Brasil era seu segundo membro mais rico. Os Estados Unidos tradicionalmente preferem negociações bilaterais às negociações com blocos comerciais. Um argumento similar pode ser feito sobre o desejo de enfraquecer Mercosul.
3) Os Estados Unidos sempre intervieram em assuntos brasileiros. Em seu novo livro best-seller, O Quarto Poder, Paulo Henrique Amorim documenta os 70 anos de penetração norte-americana nos assuntos políticos e econômicos brasileiros. “US Penetration of Brazil”, de Jan Black, conta em detalhes o apoio e envolvimento estadunidense com a ditadura militar brasileira, incluindo treinamento em técnicas de interrogação e tortura para milhares de policiais e militares brasileiros, em lugares como a Escola das Américas. Apesar do fato de que China ultrapassou os Estados Unidos como o maior parceiro comercial do Brasil em anos recentes, ainda serve aos interesses do setor empresarial norte-americano que os preços das commodities brasileiras se mantenham baixos e a produção industrial interna seja limitada para encorajar compras dos produtos norte-americanos.
4. Hegemonia. O governo petista foi caraterizado por uma economia política neo-desenvolvimentista. Enquanto Lula manteve o tripé macroeconômico neoliberal de FHC e a autonomia para o Banco Central (movimento livre de capital e politicais fiscais rígidas), ele também implementou uma série de medidas tradicionalmente desenvolvimentistas que se aprofundaram durante os primeiros 4 anos da presidência de Dilma Rousseff. Estas incluem aumentos anuais do salário mínimo acima do nível de inflação, bilhões de reais de estímulos para produção e consumo industrial interno, estabelecimento de um sistema de bem-estar social e vinculação das pensões do INSS ao salário mínimo. Essas medidas redistributivas criaram uma majoritária população de classe média, pela primeira vez na história do Brasil, além de retirar o Brasil do Mapa Mundial da Fome da ONU. Será que o fato de que o segundo maior país do hemisfério ocidental estava caminhando bem e em um sistema que não era 100% neoliberal foi uma pedra no sapato dos Estados Unidos? E se os norte-americanos começarem a exigir que, como no Brasil, as universidades fossem 100% gratuitas? E se eles demandarem que a comida das merendas escolares seja comprada exclusivamente dos pequenos agricultores, como é no programa brasileiro do PAA? O que aconteceria se eles exigissem que os pagamentos mínimos de pensão precisariam igualarem-se ao salário mínimo? O fato que o Brasil estava andando bem e não seguindo ao pé da letra a fórmula do FMI/Banco Mundial era uma tapa na cara do Consenso de Washington e seu dogma da TINA (Não há alternativa/There Is No Alternative) além de si.
Agora que motivos possíveis foram estabelecidos vou olhar áreas possíveis em que o estado norte-americano poderia ter “solapado os pilares” do governo brasileiro até que ele implodisse, em 2015, quando o maior parceiro da coalizão política governante, o PMDB, traiu Dilma Rousseff e fez o impeachment por uma infração que foi legalizada pelo Senado dois dias depois do afastamento da presidenta do cargo.
Apoio para novos partidos da “esquerda”
Fernandéz falou que uma das estratégias para solapar os pilares dos governos de esquerda é a criação de uma falsa “nova esquerda”. Será que atores do estado norte-americano apoiaram partidos políticos de uma falsa nova esquerda durante a preparação para o golpe no Brasil?
Pode ser que o Partido Verde tenha começado com boas motivações, mas ele foi imediatamente sequestrado pela família Sarney, que são responsáveis pelo desmatamento quase inteiro do estado do Maranhão. Com o Ministério do Meio Ambiente durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, Sarney Filho, filho do ex-presidente José Sarney, reduziu a percentagem de Mata Amazônica existente a ser protegida de 50% para 25% em cada propriedade. O PV tradicionalmente se alinha com a extrema-direita assim como o partido DEM apoia o conceito de “capitalismo verde”. A rejeição do “capitalismo verde” foi o objetivo principal dos ativistas do mundo inteiro que participaram do Fórum Alternativo ao Rio+20, ocorrido também no Rio de Janeiro em 2012. Entretanto, a traidora ambiental Marina Silva candidatou-se à presidência com uma pauta claramente de capitalismo verde em 2010, com apoio de um dos maiores bancos brasileiros, empresas de agroindústria e uma mídia internacional empolgada, com publicações como o New York Times Time a promovendo, quase até o status de uma deusa.
O partido Solidariedade, criado pelo Paulinho da Força em 2013, apresenta-se como uma nova alternativa para os trabalhadores organizados. Parece que depois das acusações de fraude contra Paulinho da Força, o partido está enfraquecendo, porém o fato dele compartilhar o nome com Solidarity (o mesmo do sindicato de Lech Walesa apoiado pela CIA em Polônia no fim da época da União Soviética) faz especular que, talvez, ele tenha sido criado para solapar o pilar sindicalista do governo petista.
Marina Silva, a queridinha da imprensa internacional liberal, tentou criar um partido político novo em 2013 chamado REDE. De acordo com Marina, este seria “nem esquerda nem direita”. Por conta de alegações de fraude na coleção das assinaturas ele foi impedido de legalmente formar-se antes das eleições presidenciais de 2014. Ela, então, foi convidada para ser vice-presidente com Eduardo Campos, numa plataforma ideologicamente incoerente com o PSB. Logo depois, Campos morreu num acidente de avião e Marina acabou candidatando-se a presidente de novo. De novo falou sobre capitalismo verde e de novo recebeu os aplausos da mídia norte americana. Depois que ela perdeu, a Rede conseguiu se legalizar e juntou-se com Marina napoio para o tecnicamente ilegal impeachment.
O PT nunca teve mais do que 22% da bancada no Congresso e foi obrigado para poder governar a uma coalizão com um grupo de partidos corruptos e conservadores, como o PMDB, legado de um dos dois partidos oficiais permitidos durante a ditadura militar. Esta coalizão forçou o PT a sacrificar muitos dos seus objetivos mais importantes, como acabar com a polícia militar, a reforma agrária e a reforma política, e acabou afundando o partido na lama de uma série de escândalos de corrupção, enquanto a mídia brasileira ignorava os principais culpados e colocava toda culpa no PT. Isso alienou a corrente interna da esquerda radical do partido, chamada “Socialismo ou Barbárie”. Liderada pela senadora Heloísa Helena, muitos deles saíram e formaram o Partido de Socialismo e Liberdade (PSOL). O PSOL foi uma força importante nas eleições presidenciais de 2006, quando Helena levou 7% dos votos no primeiro turno, forçando Lula para o segundo turno contra governador conservador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Em 2010 o candidato a presidente do PSOL (e lenda da reforma agrária), Plínio Arruda, não conseguiu mobilizar o apoio integral dos sindicatos e movimentos sociais recebendo menos de 1% dos votos. Em 2014, Luciana Genro melhorou um pouco, recebendo 1,5%, mas ela só ficou em quinto lugar nas eleições recentes para prefeito, em Porto Alegre. Se você escutasse vários acadêmicos da esquerda norte americana, imaginaria que PSOL era uma força crescente, representando a verdadeira esquerda brasileira e não o que Gramsci chamou um “partido de autoridade moral” sem plano sério de tomar o poder. Será que o PSOL recebeu apoio indireto dos Estados Unidos e suas instituições de estado, expandindo-se em sua apresentação como uma alternativa viável ao PT? Ele certamente é apoiado por vários (aparentemente) bem-intencionados acadêmicos e publicações de esquerda burguesa norte americana, que têm o costume de papagaiar sua propaganda partidária sem análise crítica.
Transformando a narrativa midiática para promover um senso de caos no Brasil
Em sua entrevista ao jornal Sul 21, Fernandéz explicou como a CIA planejou criar notícias falsas sobre “caos em Cuba” e espalhá-las pelas maiores companhias midiáticas americanas, “como eles fizeram na Líbia”. Começando em 2013, a cobertura mediática do Brasil transformou matérias geralmente positivas em calúnias. O New York Times publicou uma matéria enorme cheia de fotos branco e pretas de pessoas com rostos deprimidos e obras em construção inacabadas. As manifestações, inicialmente sobre aumentos de tarifas de ônibus e contra prefeitos e governadores, em 2013 foram quase totalmente transformadas em manifestações anti-Dilma e durante meses matérias apareceram insinuando que teriam enormes manifestações anti-governo durante a Copa do Mundo. Não aconteceram. Em uma das tentativas mais óbvias de criar caos às vésperas da Copa do Mundo, a produtora “Vice” dos Estados Unidos intitulou um documentário sobre greves de professores no Rio e em São Paulo, “Caos no Brasil, nas ruas na Copa do Mundo”.
Infiltração na Media Social
Como nos Estados Unidos, o bombardeamento de informações falsas na mídia social contribuiu para o ressurgimento da extrema-direita e seus ataques contra imigrantes, gays, mulheres, sindicatos e minorias étnicas. Em 2013, Aécio Neves contratou a empresa que foi gerenciada pelo ex-coordenador da campanha de Barack Obama, David Axelrod, para coordenar a sua campanha digital durante o período eleitoral. Neste período, várias páginas de extrema-direita apareceram no Facebook e Twitter, campanhas de difamação contra a Presidente Dilma Rousseff, Lula e seu filho (que processou várias companhias da mídia por falsas acusações de que ele era um bilionário e dono de Friboi). Duas destas páginas mais populares, Movimento Brasil Livre e Estudantes pela Liberdade, receberam financiamento dos bilionários petrolíferos da família Koch, que têm interesse na privatização do pré-sal, por exemplo.
Desestabilização econômica
Edward Boorstein, no seu livro “Allende's Chiledocumentou como o governo norte-americano e a empresa ITT causaram um boicote mundial ao cobre Chileno para desestabilizar a economia às vésperas do golpe que colocou Augusto Pinochet no poder. Durante o processo rumo ao golpe de 2016, o Juiz Sérgio Moro, que, de acordo com documentos vazado do departamento do Estado dos Estados Unidos, está recebendo apoio técnico do governo Americano para investigar crimes de lavagem do dinheiro como parte do “Projeto Pontes” desde, pelo menos, 2009, congelou operações das maiores companhias de construção civil no pais, causando uma queda de 6,7% no setor de construção civil e, segundo matéria da BBC, toda a lava à jato provocou uma queda de 2,5% no PIB do país . Apesar de ter várias razões para a desaceleração da economia brasileira, incluindo o erro do cálculo na taxa Selic feito pelo ex-Ministro de Fazenda Guido Mantega, a paralisação das indústrias de construção e petróleo feita por Moro foi um fator significante.
Apesar de talvez não haver provas concretas suficientes e disponíveis para fazer um argumento totalmente convincente sobre o envolvimento dos Estados Unidos no golpe de 2016 contra Dilma Rousseff, certamente existem provas suficientes para se especular sobre esta possibilidade. Será que os Estados Unidos se beneficiam com as novas políticas deste governo? Com certeza. Ele tem motivos para apoiar o golpe? Sim. Elementos do estado expandido norte-americano, como a imprensa burguesa, solaparam os pilares do governo Brasileiro? Sim. Será que o governo dos Estados Unidos foi diretamente envolvido nesta desestabilização? Neste momento as únicas provas concretas são as correspondências do Departamento de Estado dos EU implicando Sergio Moro, embora o nível deste envolvimento ainda não é claro. Entretanto, sob o risco de ser acusado de um teórico de conspiração, eu previno que com a passagem de tempo, como no caso do Golpe de 1964 no Brasil e do golpe de 1973 em Chile, mais e mais provas de envolvimento dos Estados Unidos na mudança de regime de 2016 vai subir até a superfície.