Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 15 de julho de 2013

PML: "DILMA ESTÁ SENDO ESFAQUEADA PELAS COSTAS"

DILMA VAI AO OBAMA OU À BOEING ? O Brasil vai criar outra singularidade: o “Capitalismo de Estado Dependente” !

O Ataulfo Merval de Paiva (*), como se sabe, mantém relações para-normais com a Embaixada americana.

Nos bons tempos do Dr Roberto eram normalíssimas, conspícuas.

A propósito da notável descoberta do Fantástico – o Fantástico descobriu a CIA ! -, o Ataulfo “anotou” na colona (**) de sábado (insista na leitura, leia duas, três vezes, até entender – o rapaz escreve mal, mesmo – clique aqui para ler sobre as lambanças do Ataulfo) :

“Foi ‘anotada’ – grifo meu -  pela diplomacia dos EUA a não adesão do Governo brasileiro a sugestões drásticas feitas no calor da descoberta do esquema de espionagem, como dar asilo a Snowden ou cancelar a viagem de Estado que a presidente Dilma fará aos EUA brevemente”.

“O Governo americano está ‘ciente’ – grifo meu – de que será necessário dar um tratamento especial a Brasil nesses gestos de boa (sic) vontade …”

“O fato é que o Governo brasileiro soube enfrentar as denuncias com uma atitude firme (sic), mas sem transformá-las em crise institucional que impedisse a continuidade (sic) das relações com os Estados Unidos em bom nível, como hoje.”

O amigo navegante entendeu !

O Bernardo plim-plim expõe a posição do embaixador americano com mais clareza que o próprio embaixador.

E o chanceler Patriota – que precisa, urgente, de uma fonoaudióloga, para engrossar a voz ! – anuncia, com firmeza e altivez que vai levar o assunto à ONU.

Onde a questão andará mais rápido do que a da Palestina.

O que se esconde embaixo desse angu, amigo navegante ?

Uma decisão estratégica central para o futuro do Brasil.

A questão do acesso à tecnologia nuclear.

E ao controle do pré-sal.

A embaixada americana e seus porta-vozes nativos devem ter “anotado” esses últimos movimentos do Governo Dilma como atomicamente promissores.

O Nunca Dantes optou pelos caças franceses da Dassault.

A Eliane Catanhêde, especialista em AR, foi contra.

Mas, o Lula conseguiu enfrentá-la com galhardia.

Mas, aparentemente, Lula perdeu a batalha para o Governo Dilma.

Seria interessante entender por que o Nunca Dantes preferia os caças franceses.

(E por que vai tanto à África.)

O Lula queria tecnologia de ponta nas áreas nuclear, militar e de telecomunicações.

Telecomunicações associada a segurança e inteligência.

O Lula pensava no Brasil que, um dia, terá força para fazer com a embaixada americana o que a embaixada americana faz com o Palácio do Planalto.

O Nunca Dantes vê longe.

Ele e seu excelente chanceler Celso Amorim, com a ajuda do Samuel Pinheiro Guimarães, no Itamaraty.

Por que a França ?

Porque a França do De Gaulle conseguiu, nos interstícios da Guerra Fria, construir tecnologia própria de telecomunicações, nuclear e militar.

A França gaullista se tornou uma potencia média.

Com muito potencial e poucos resultados.

A França não tem escala.

O Brasil tem.

O Brasil tem acesso à América do Sul, Central – o México não conta … – e à África.

E entre o Brasil Leste e a África do Oeste existe, lá no fundo, uma bobagem, um tal de pré-sal !

O que está em jogo nessa questão de “anota”e “ciente” ?

O controle do Atlântico Sul e, portanto, da maior reserva petrolífera encontrada nos últimos tempos.

E, aí, a pergunta, amigo navegante:

A Dilma vai a Washington ou a Seattle ?

Vai a Obama ou à Boeing ?

Quem sabe está em gestação um modelo singular.

O Brasil é um país singular: tem até corrida espontânea a banco.

Uma das singularidades do Brasil pode ser a criação de um novo modelo de desenvolvimento: “Capitalismo de Estado Dependente”.

“Capitalismo de Estado Dependente” dos Estados Unidos !

Já tivemos o neolibelismo (***) dependente, que tirava o sapato, do FHC.

Agora teríamos uma Dependência com Estado Forte !

Uma espécie de “China Frouxa”.

Sim, porque comprar os caças da Boeing significa que a transferência de tecnologia será … digamos … singular.

Por exemplo: os caças brasileiros não poderão voar em direção a Angola, para não atrapalhar as atividades da Frota americana estacionada em cima do pré-sal.

Em matéria nuclear, a Boeing cederia ao Brasil a tecnologia para abrir aqueles saquinhos de amendoim sem derramar um amendoim no colo do passageiro.

Os caças da Boeing cederiam a inteligência de comunicação ao Brigadeiro Juniti Saito ?

Ou o amigo navegante acha que os caças da Boeing poderiam participar dos exercícios do Prosub, o Programa de Desenvolvimento de Submarinos da Marinha, com tecnologia francesa ?

Os Boeings, certamente, significariam transformar Itaguaí numa Disney à beira mar.

O Brasil tem uma das maiores reservas de urânio do mundo.

O Brasil sabe beneficiar o urânio.

Por causa do Collor e do Fernando Henrique, o Brasil renunciou à bomba e renunciou a pedaço substantivo de sua soberania.

Agora, pode afundar o submarino nuclear de tecnologia francesa .

Dentro, outra parte da soberania.

O Ataulfo, amigo navegante, tem antenas atômicas.


Paulo Henrique Amorim

(*) Ataulfo de Paiva foi o mais medíocre – até certa altura – dos membros da Academia. A tal ponto que seu sucessor, o romancista José Lins do Rego quebrou a tradição e espinafrou o antecessor, no discurso de posse. Daí, Merval merecer aqui o epíteto honroso de “Ataulfo Merval de Paiva”, por seus notórios méritos jornalísticos,  estilísticos, e acadêmicos, em suma. Registre-se, em sua homenagem, que os filhos de Roberto Marinho perceberam isso e não o fizeram diretor de redação nem do Globo nem da TV Globo. Ofereceram-lhe à Academia.E ao Mino Carta, já que Merval é, provavelmente, o personagem principal de seu romance “O Brasil”.

(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

(***) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.

Alstom volta a assombrar PSDB

DENÚNCIA DA SIEMENS COLOCA PRESSÃO EM ALCKMIN
Multinacional alemã denuncia formação de cartel nas obras do metrô de São Paulo; preços eram combinados e chegavam a ficar 20% acima do valor normal; esquema envolveria ainda outras empresas polêmicas, como a Alstom, que já foi investigada por atos de corrupção em países como o Brasil; governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, promete conduzir investigação própria sobre o caso
14 DE JULHO DE 2013 ÀS 07:58
247 – As obras bilionárias do metrô de São Paulo podem causar uma tremenda dor de cabeça para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB. Segundo denúncia da multinacional alemã Siemens, as empresas contratadas para fornecer equipamentos, como ela própria, formavam cartel e colocavam preços até 20% superiores aos de mercado nas licitações de novas linhas do metrô.
A Siemens denunciou o caso às autoridades antitruste brasileiras, do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, para escapar de uma punição maior – o caso foi revelado na edição deste domingo da Folha (leia mais aqui). Além da Siemens, o esquema envolveria ainda outras multinacionais, como a Alstom (já investigada na Europa por corrupção na América Latina), a canadense Bombardier, a espanhola CAF e a japonesa Mitsui. Todas essas empresas também fazem parte do projeto federal do trem-bala entre Rio de Janeiro e São Paulo, que será licitado no próximo mês.
De acordo com as denúncias, o cartel dos fabricantes de equipamentos atuou em seis licitações e o prejuízo total para o governo paulista ainda não foi totalmente estimado. Segundo a investigação do Cade, o conluio envolveria ainda as empresas TTrans, Tejofran, MGE, TCBR Tecnologia, Temoinsa, Iesa e Serveng-Civilsan. Destas, a Tejofran é fortemente ligada ao PSDB e cresceu exponencialmente nos governos de Mario Covas.
As multinacionais Alstom e Mitsui disseram estar colaborando com as investigações do Cade. O governador Geraldo Alckmin, por sua vez, prometeu conduzir uma investigação própria. Ao todo, o mercado de equipamentos para o transporte por trilhos movimenta R$ 4 bilhões ao ano no Brasil.
Por: Miguel do Rosário

Fernando Henrique, o esquecido











O economista Luiz Gonzaga Beluzzo, em sua coluna na Carta Capital – infelizmente o texto não está ainda na rede  - dá um “chega pra lá” no esquecido Fernando Henrique Cardoso que postou em  em seu Facebook: “Nunca soube de espionagem da CIA”. E acrescentou: “Só poderia saber se fosse com o conhecimento do governo, o que não foi o caso”.
Beluzzo lembra que, entre 1999 e 2002, só a  CartaCapital ”publicou mais de uma dúzia de capas sobre a intervenção da CIA, do FBI e da DEA na Polícia Federal e nos ditos órgãos de segurança brasileiros”, grampeando ” até conversas do então presidente da República”.
Escreve Beluzzo: Diz o texto da edição n°97 de CartaCapital: “Assim, enquanto o Brasil tocava o maior negócio privado dos EUA naquele ano, o Sivam, projeto de 1,4 bilhão de dólares, a CIA, órgão de espionagem dos americanos em consórcio com a polícia do Brasil, gravava conversas com o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso”. FHC tem o hábito irrefreável de esquecer o passado.
Fernando Henrique só é coerente em uma coisa: o cinismo elitista com que se expressa, semore achando que a opinião pública é formada por um bando de idiotas que o veneram. Não, não é. Apenas as editorias dos grandes meios de comunicação, que o aplaudem em tudo,  o são.
Por: Fernando Brito

O pré-sal e o fim do petróleo











O pré-sal brasileiro atrai a cobiça internacional, claro, porque representa dinheiro, muito dinheiro.
Mas não é apenas por isso. É, também, pelo controle de uma fonte de energia que está longe de perder a hegemonia e tem um horizonte de duração mais curto do que a gente costuma imaginar.
Ficamos supondo que o fim do petróleo é algo como a extinção do Sol: a gente sabe que acontecerá, mas é daqui a tanto tempo que “nem te ligo”.
É muito diferente disso.
Em março, um estudo do banco HSBC  avaliou que, mantidos os atuais ritmos de produção e consumo, temos apenas mais meio século de petróleo pela frente.
Isso mesmo: apenas 50 anos.
E as fontes alternativas de energia só passam a ser viáveis economicamente, segundo o estudo, com o preço médio do barril acima de US$ 150, 60 % a mais do que hoje.
O pré-sal brasileiro é a maior jazida de petróleo recém-descoberta no mundo. É verdade que podem surgir outras, especialmente na costa oeste da África e, quem sabe, por correspondência na formação geológica, ao largo do Nordeste brasileiro.
Mas ainda são suposições e, convenhamos, num mundo onde a tecnologia é capaz de vasculhar tudo, não é provável que se ache uma nova Arábia Saudita.
O controle – ou mesmo a presença associada – sobre jazidas de alto volume de petróleo, como o nosso pré-sal, é vital para a geopolítica do poder.
O quadro real, objetivo, hoje, é de que a América do Sul  - e, nela, o Brasil – é a maior província petrolífera do mundo, em potencial, como mostra o gráfico publicado peloWall Street Journal reproduzido acima.
Se consideramos que a duração de um campo pode andar na faixa de 30 anos, dependendo da velocidade de exploração, o futuro é já.
Que tal trocar tudo isso por três ou cinco bilhões de reais a mais no lance que definirá a distribuição do primeiro e maior campo de petróleo do pré-sal, o de Libra, que será terá os direitos de exploração  leiloados em outubro?
Porque será isso, ou pouco mais que isso, o que definirá o quanto teremos de controle destas reservas, porque será isso que dirá se, apesar de todo o esforço em fazer caixa, a Petrobras poderá bancar lances mais ambiciosos na disputa.
Ao fixar em R$ 15 bilhões o bônus mínimo de aquisição dos direitos exploratórios do campo de Libra, o que a ANP fez foi reduzir as condições de competição da Petrobras – que já terá de desembolsar um terço disso pela sua participação mínima de 30%, prevista na lei do pré-sal,  e também a diferença relativa ao “plus” de participação extra que puder conseguir. Para ter 50%, por exemplo, terá de fazer um esforço de caixa de R$ 7,5 bilhões. Sessenta por cento? R$ 9 bilhões.
Mas fez pior: reduziu a parcela do petróleo produzido que será entregue aos Estado, como prevê o regime de partilha. Se, em  lugar dos 41% de participação estatal previstos no pré-edital anunciado pela ANP, tivéssemos 51%, isso seria 10% de uma produção que – a própria agência reconhece – vai chegar a 1 milhão de barris/dia. Estimando em 80 dólares o barril, para sacar do valor o gasto na extração, 10% disso representa 100 mil barris ou oito milhões de dólares diários, ou quase três bilhões de dólares num ano de produção máxima, ou quase R$ 7 bi.
Num campo que produzirá por 30 anos, só os R$ 7 bilhões a menos na participação  estatal  anulam num único ano a metade do bônus de aquisição dos direitos exploratórios.
Que tal quinze ou vinte mais vezes dinheiro  por um superavit fiscal “agrada-mercado” em 2013?
A questão não é ideológica, é negocial.
Só se torna ideológica quando se entende que o dono do petróleo é o povo brasileiro, que não pode ter prejuízo na venda. E mais ideológica ainda é  quando se sabe que estes recursos, que vão para o Fundo do Pré-Sal, serão destinados à educação e à saúde.
Ainda é tempo de solucionar isso. A Petrobras, contra o “mercado” e até contra parte do Governo, está fazendo um esforço monstruoso para reunir recursos para poder ser o player que – com os 30% que já detém – possa ser o integrante majoritário de um consórcio que ofereça um lance de participação maior ao Governo brasileiro nos resultados da exploração.
Mas não pode ir além do factível, porque sem dinheiro para investir em equipamento de perfuração, instalações de exploração e logística de transporte de óleo, não poderá dar conta de um prospect de petróleo que equivale a, simplesmente, a metade do que é produzido hoje no Brasil.
Do contrário, mesmo atuando como guardiã dos poços, a maior parte das riquezas que eles produzirão será drenada daqui.
E sua capacidade de controle da operação, como sócio minoritário, ficará comprometida.
É isso que desejam, que deixemos escapar de nossas mãos  a maior reserva da fonte de energia, da qual o mundo depende cada vez mais desesperadamente.
O jogo de poder e dinheiro no mundo é bruto e sem princípios. Aí está o caso da espionagem americana sobre as telecomunicações de todo o planeta para prová-lo.
Não podemos joga-lo com sutilezas e melindres. Vale qualquer artifício, dentro da lei, que nos permita vencer, deve ser usado.
Afinal, na capitalização da Petrobras, a cessão onerosa de áreas do pré-sal não permitiu que o Estado recuperasse parte da parcela perdida na propriedade da empresa, criminosamente alienada no Governo FHC?
Portanto, agora, vamos ver se aquela ousadia valeu mesmo.
Definimos regras que favorecem o país.  E definimos que é à Petrobras que cabe atuar, em nome do Brasil, no oceano de petróleo do pré-sal.
Se não tivermos, agora, a coragem cívica de dar à empresa brasileira os meios para fazê-lo, tudo terá sido inútil.
E o leilão de Libra, em lugar de ser um marco na retomada do Brasil sobre suas riquezas terá sido mais um – e imenso – crime de lesa-pátria como tantos se praticou nos últimos 20 anos.
Por: Fernando Brito

O PATRICIADO E A PLEBE

*EXCLUSIVO: a história da Booz Allen, o gabinete paralelo da comunidade de informação dos EUA, que assessorou  FHC nas 'reformas de mercado'.


 **Rui Falcão, presidente do PT, no Roda-Viva desta 2ª feira: prepare-se lendo o artigo de Tarso Genro: alianças para um novo período histórico.

**e no Blog das Frases:  'O Rubicão brasileiro' (aqui** E ainda: no blog do Emir: ' A nova Plataforma da Esquerda'; bem como,  a coluna de Leonardo Boff.
Elio Gáspari,  Eugenio Bucci e Merval Pereira manifestaram-se recentemente  contrários à proposta de plebiscito formulada pelo governo Dilma. Para eles, a iniciativa de reformar a estrutura política do país não guarda qualquer aderência com as inquietações recentes expressas nas ruas. Alckmin, Aécio, Ronaldo Caiado, Serra e Gilmar Mendes, entre outros, pensam assim também. Une-os, talvez, a resistência ao recorte político embutido no sentido etimológico da palavra plebiscito. Ela é formada pela junção de dois termos latinos (plebs e scitum) que podem ser traduzidos como o ‘decreto da plebe', a ordenação social definida por ela: soberania popular, digamos, para recorrer a uma expressão mais  usual. Outro entendimento deriva da  junção do latim, plebs scit .  E, neste caso, a colisão com a visão histórica do patriciado de todas as épocas é ainda mais inflamável: ‘a plebe sabe', dardeja a etimologia. Os centuriões, mortos e vivos, se arrepiam. Elio Gáspari, nos anos 80, acreditava que quem sabia era o coronel  Heitor Ferreira de Aquino. O porta-recados da ditadura, e secretário do general Golbery (segundo na hierarquia da ditadura Geisel), despachava regularmente com o então diretor-adjunto da revista 'Veja'. Não raro, na véspera do fechamento, a voz da secretária  ecoava pressurosa  pelos corredores da semanal dos Civitas: ‘Eeeliiiooo, o Heitor, o Heitor!  E lá ia o atual crítico do plebiscito beber  direto na fonte de quem sabia, na sua concepção de sabedoria. Heitor, uma espécie de faz-tudo de Golbery, de fato sabia. Muito. Um lado da história. Mas não toda ela. Sobretudo, não sabia o lado da rua. O da plebe que a seus olhos, a exemplo do patriciado atual,  estava alheia às questões do poder e da estrutura política. Até que em 1983 surgiu o ‘Diretas Já!' e , em 1988, uma Constituinte esticou o perímetro da cidadania a limites até hoje não digeridos pelo patriciado que, pelo visto, não quer viver a experiência novamente.
Carta Maior;2ª feira, 15/07/2013



Contratada no governo FHC, Booz-Allen já operava como Gabinete paralelo da comunidade da informação dos EUA


No portfólio da Booz-Allen, estão algumas das áreas em que a empresa atuou e que, a partir de agora, dadas as acusações de espionagem, estão sob suspeita. As "reformas governamentais" dos anos 1990 aparecem em destaque. A empresa orientou a reforma do sistema eleitoral do México e a privatização de empresas em diferentes países, incluindo os setores de bancos, energia, siderurgia e telecomunicações no Brasil.



A porta giratória entre as grandes corporações e o governo norte-americano reflete a eficiente sinergia entre o Estado e o mercado, no capitalismo mais poderoso do planeta. 

Cargos estratégicos na administração pública são regularmente ocupados por altos executivos e presidentes de gigantescos complexos industriais ou instituições financeiras dos EUA.

Atividades teoricamente específicas da esfera estatal são terceirizadas com absoluta desenvoltura para engordar negócios privados. Desde a guerra, até operações de segurança e espionagem transformam-se em canais de sucção de fundos públicos para a contabilidade privada.

É nessa dissipação de fronteiras e de recursos que se viabiliza a balela do Estado mínimo, maximizado em lucros privados. 

Nesse intercurso de dinheiro, poder e influencia emerge o nome da Booz-Allen, velha parceira do Departamento de Estado na área de espionagem e consultoria.

Desde os anos 40, no entorno da Segunda Guerra, o grupo trabalha em estreita colaboração com o complexo militar norte-americano.

A ponto de ser reconhecida como uma espécie de gabinete paralelo da comunidade de inteligência dos EUA.

A condição de braço do Estado e dos interesses norte-americanos, portanto, é um traço constitutivo na história da Booz-Allen, do qual o governo Fernando Henrique não poderia alegar desconhecimento, quando enganchou estrategicamente o interesse público brasileiro à empresa. 

A Booz-Allen nasceu em 1914, em Chicago, tornando-se rapidamente uma das gigantes do setor de consultoria. 

Como muitas das grandes corporações dos EUA, engatou seus lucros ao suculento orçamento do Estado, a partir da Guerra.

O livro "Spies for Hire: The Secret World of Intelligence Outsourcing" ("Espiões de aluguel: o mundo secreto da terceirização do serviço de inteligência", New York: Simon and Schuster, 2009), de Tim Shorrock, Dick Hill, dedica um capítulo inteiro à Booz-Allen. Dá detalhes de como a empresa engendrou seu trabalho de consultoria nas teias da comunidade de informação dos EUA.

O livro relata que, em 1998, uma funcionária de carreira do serviço secreto, ao assumir uma diretoria da CIA, já considerava a Booz-Allen uma verdadeira extensão da comunidade de inteligência norte-americana. 

Segundo Dempsey, em uma declaração pública registrada e divulgada por revistas especializadas em assuntos de defesa, era mais fácil encontrar ex-secretários e diretores do sistema nacional de inteligência americana na Booz-Allen do que em reuniões do governo.

Em 2005, comprovando o fundamento de suas afirmações, ela se tornaria vice-presidente da Booz-Allen, que já contabilizava 18.000 profissionais (é assim que a turma supostamente defensora do Estado mínimo esconde o real tamanho de seu Estado gigante) e US$3,7 bilhões anuais de faturamento. Em 2012 esse faturamento havia saltado para US$ 5,76 bilhões (mais de R$ 12 bilhões). O número de funcionários passava de 25 mil pessoas (agentes?) espalhados pelos quatro cantos do planeta.

Metade-metade
Ainda segundo o livro de Shorrock e Hill, pelo menos 50% dos negócios da Booz-Allen são financiados pelo governo dos EUA. 

Os outros 50% são contratos de consultoria com grandes empresas do setor privado, nas áreas de energia ao setor químico, passando por bens de consumo. 

Uma de suas especialidades é auxiliar a influenciar governos e órgãos públicos de outros países a seguir políticas que representem oportunidades de negócio para grandes corporações e fundos de investimento norte-americanos. 

Um dos eixos mais lucrativos, como ela própria explicita em seus relatórios, tem sido o dos programas de privatizações. 

Foi esse o principal alicerce de penetração da versátil corporação no Brasil durante o governo FHC. 

As relações entre a Booz-Allen e o Departamento de Defesa, que já eram estreitas de longa data, tornaram-se ainda mais explícitas e se aprofundaram na presidência de George W. Bush. 

A partir de então, a empresa se envolveu nas atividades mais sensíveis da inteligência dos EUA e do Pentágono. 

Mais que isso, encabeçou os projetos mais importantes do Departamento de Defesa após os ataques de 11 de setembro.

Esse foi o gatilho para a montagem do megaesquema de espionagem denunciado por Edward Snowden.

Bush e seu vice-presidente, o todo-poderoso Dick Cheney, passaram um recado claro ao Departamento de Defesa: as corporações privadas, coordenadas pelas consultorias da Booz-Allen, estavam avalizadas na condição de gerentes do sistema de inteligência norte-americana. 

Os profissionais da Booz-Allen, notoriamente conhecidos como mais do que simples consultores, foram chancelados internamente como atores-chave do alto escalão da comunidade de inteligência.

O que já era um gabinete paralelo tornou-se unha e carne da comunidade de informação.

Nosso homem na Casa Branca
Figura central desse relacionamento íntimo foi Mike McConnell. Depois de se aposentar na Marinha dos Estados Unidos, McConnell tornou-se vice-diretor da Booz-Allen na área que a empresa chama de "cyber business":http://www.boozallen.com/about/leadership/executive-leadership/McConnell 

Em 2007, tornou-se nada mais, nada menos do que o vice-diretor do Departamento Nacional de Inteligência (DNI), administrando um time de 100 mil profissionais (agentes secretos, arapongas, informantes, analistas de informação) e 47 bilhões de dólares (pelo menos a parte contabilizada).

Na apresentação de seu currículo, a Booz-Allen se vangloriava de tê-lo como um líder no governo, responsável pela interlocução do gabinete presidencial na Casa Branca com o Congresso, líderes internacionais e a "comunidade de negócios" dos EUA. Em 2009, na presidência Obama, ele retornou à Booz-Allen.

Unindo o útil ao agradável
No portfólio da Booz-Allen, estão algumas das áreas em que a empresa atuou e que, a partir de agora, dadas as acusações de espionagem ampla, geral e irrestrita, estão sob suspeita. Veja:

http://www.booz.com/br/home/who-we-are/42544269

As "reformas governamentais" dos anos 1990 aparecem em destaque. 

A empresa ainda orientou a reforma do sistema eleitoral do México e a privatização de empresas em diferentes áreas de atuação e países: bancos, no Brasil e no México; energia (além do Brasil, Argentina, Peru e Bolívia), ferrovias (na Argentina), petroquímica (Brasil), portos (México e Venezuela), siderurgia (Argentina e Brasil) e telecomunicações (Brasil, México e Uruguai).

Esses setores, como a maioria se lembra, não foram considerados mais como polos estratégicos para o desenvolvimento e o Estado nacional – termo em desuso no ciclo tucano, tratado com derrisão pelos seus teóricos e operadores. 

Algo semelhante ocorreria nas demais presidências neoliberais que infestaram os governos latino-americanos. 

Estratégicos, porém, eles se tornariam para os interesses norte-americanos, conforme as recomendações de seu braço de informação e dublê de consultoria.

Para os EUA, foi uma ação orquestrada de inteligência. Para a América Latina, foi um exemplo da imensa estupidez da sapiência neoliberal que deixou cicatrizes profundas e, como se vê agora, abriu flancos estratégicos no aparato público das nações.