Por mais que a confirmação do impeachment de Dilma Rousseff seja prejudicial à democracia, seu principal efeito deletério não seria contra ela, mas contra seus algozes. É o que mostra a 5ª rodada da Pesquisa CUT / Vox Populi, divulgada nesta semana.
Vale rever os critérios da sondagem.
- Objetivos: Os objetivos da 5º rodada da pesquisa CUT/Vox Populi, realizada em junho de 2016, foram avaliar sentimentos e opiniões da população brasileira a respeito do governo de Michel Temer e seus primeiros atos como presidente interino.
- Metodologia: A pesquisa foi feita de acordo com a técnica de survey, que consiste na aplicação de questionários estruturados e padronizados a uma amostra representativa da população.
- Data de campo: Os trabalhos de campo foram realizados entre os dias 07 e 09 de junho de 2016.
- População pesquisada: População brasileira com idade superior a 16 anos, residente em todos os estados brasileiros (exceto Roraima) e no Distrito Federal, em áreas urbanas e rurais, de todos os segmentos socioeconômicos e demográficos.
- Amostra: Foi adotada uma amostra estratificada por cotas, com o total de 2.000 entrevistas, para obter representatividade para o conjunto do Brasil. As cotas utilizadas para a seleção dos entrevistados foram de gênero, idade, escolaridade, renda familiar e situação perante o trabalho, sendo calculadas proporcionalmente a cada estrato de acordo com os dados do IBGE (censo de 2010 e PNAD 2013).
- Margem de erro: A margem de erro, para o total do estudo, é de 2,2%, estimada em um intervalo de confiança de 95%.
Tanto a pesquisa CUT / Vox Populi quanto CNT / MDA mostram Temer com 11% de aprovação, ou seja, com o mesmo percentual de Dilma. Os dois institutos detectaram que a sociedade acha que a corrupção será igual ou maior sob Temer, que a economia vai piorar e que o impeachment não resolverá nada. Tanto MDA como Vox Populi mostram forte pessimismo da população.
A seguir, o resumo da pesquisa CUT / Vox Populi para comparação com a pesquisa CNT / MDA
67% dos brasileiros avaliam de forma negativa o governo interino do vice-presidente, Michel Temer, 32% acham que ele é pior do que esperavam e o futuro não é nada animador: o desemprego vai aumentar (52%), os direitos trabalhistas (55%) vão piorar e medidas como idade mínima para aposentadoria vão prejudicar muita gente (77%). Essas são as principais conclusões da última pesquisa CUT-Vox Populi, realizada entre os dias 7 e 9 de junho.
Para 34% dos entrevistados o desempenho de Temer é negativo – 33% acham que é regular, 11% positivo e 21% não souberam ou não responderam. O Nordeste é a Região do País onde o vice tem pior avaliação – 49% negativo, 41% regular e 10% positivo. Em segundo lugar vem o Sudeste com 45% negativo, 42% regular e 13% positivo. No Centro-Oeste, 39% consideram o desempenho negativo, 43% regular e 18% positivo. No Sul, 31% negativo, 45% regular e 24% positivo.
Os trabalhadores e os mais pobres serão mais prejudicados
Com um mês de governo interino, pioraram todos os percentuais de avaliação sobre a gestão golpista com relação a classe trabalhadora e as pessoas que mais necessitam de políticas públicas para ter acesso à saúde, moradia, educação e alimentação digna.
Para 52% dos entrevistados, o desemprego vai aumentar – o percentual dos que acreditam que vai diminuir e dos que acham que não vai mudar empatou em 21%. Na pesquisa anterior, realizada nos dias 27 e 28/4, 29% acreditavam que o desemprego iria aumentar; 26% que iria diminuir e 36% que não ia mudar.
Ainda com relação a pesquisa anterior, aumentou de 32% para 55% o percentual dos que acreditam que o respeito aos direitos dos trabalhadores vai piorar. Para 19% vai melhorar e 20% acreditam que não vai mudar.
Aumentaram também as expectativas negativas com relação aos programas sociais em relação a pesquisa feita em abril. Antes, 34% achavam que com Temer na presidência os programas iriam piorar. Agora, são 56%.
O percentual dos que acreditavam que ia melhorar variou um dígito apenas – de 19% para 18%; e dos que acreditavam que não ia mudar que era de 36% caiu para 19%.
Foram consideradas ruins porque prejudicam a maioria das pessoas, as propostas de Temer de aumentar a idade mínima para aposentadoria (77%), a diminuição de verbas do Programa Minha Casa Minha Vida (54%) e a diminuição do número de pessoas que recebem o Bolsa Família (48%).
Acabar com o monopólio da Petrobrás no Pré-Sal e aumentar a privatização de empresas e de concessões de rodovias e aeroportos foram consideradas ruins porque prejudicam o Brasil para 50% dos entrevistados. Para 31% a questão da privatização e das concessões é uma medida necessária e não vai prejudicar o país, outros 19% não souberam ou não responderam. Quanto ao Pré-Sal, 25% acham que não vai prejudicar o país e 25% não souberam ou não responderam.
Temer é pior do que as pessoas esperavam
Para 32% dos entrevistados na pesquisa CUT-Vox Populi, Temer é pior do que esperavam. Empatou em 16% o percentual dos que acham que ele é tão ruim quanto achavam que ia ser e dos que consideram que ele é melhor do que esperavam. Só 7% acham que ele é tão bom quanto esperavam que ia ser e 29% não souberam ou não responderam.
Com relação ao combate a corrupção, 44% acham que vai piorar, 26% melhorar e 25% que não vai mudar. A equipe de ministros de Temer é considerada negativa por 36% dos entrevistados – 32% acham que é regular e 11% positiva. Para 33% foi um erro grave o governo interino não nomear nenhuma mulher, 30% acham que foi um erro, mas não muito grave e 30% que é normal.
O impeachment é a solução para o país?
O percentual de brasileiros que NÃO acreditam que a cassação de Dilma seja a solução para os problemas econômicos do Brasil aumentou para 69%. Na pesquisa CUT-Vox Populi, realizada em dezembro, o percentual era de 57%¨. Nos levantamentos feitos em abril, o índice foi de 58% (9 e 12/04) e 66% (27 e 28/04).
Para 26% o golpe é a solução. Nas pesquisas anteriores, os percentuais foram de 34% (dezembro), 35% 9 de abril e 28% em 27 de abril.
Antecipação da eleição presidencial
A grande maioria dos brasileiros quer eleição já para Presidente da República. 67% dos entrevistados acham que o Brasil deveria fazer uma nova eleição para presidente ainda este ano. 29% não concordam com uma nova eleição e 4% não sabem ou não responderam.
A percepção das pessoas de que suas vidas irão piorar vista nas duas pesquisas não leva em conta quanta piora haverá porque a esmagadora maioria nem imagina o que Temer está planejando. Se a sociedade soubesse do “teto” de gastos públicos que o governo de facto está preparando, haveria uma revolução.
O Brasil não cabe no teto de gastos de Temer. Os economistas dele querem reduzir o tamanho do governo federal em 30% nos próximos 20 anos. É o que diz a versão mais radical e duradoura para esse limite de gastos, o “teto”.
Temer enviará um Projeto de Emenda Constitucional ao Congresso nesta semana propondo tais medidas. Na versão mais nefasta desse plano, a despesa do governo chegaria a 2036 no mesmo nível de 1997.
Essa medida dá uma ideia de quais são os planos do governo golpista para a redução do deficit e, ainda, da sua intenção de reduzir o tamanho do Estado.
O “teto” temerário vai limitar o crescimento anual da despesa do governo ao valor da inflação do ano anterior. Ou seja, em termos reais, o gasto fica praticamente congelado no valor despendido neste ano.
Para que se possa mensurar o tamanho do estrago, o “teto” atingirá, prioritariamente, Previdência, Saúde e Educação, mas todas as demais despesas federais serão asfixiadas. O teto criaria uma situação inviável.
Essa fixação do “teto” é explicada pelos economistas de Temer como medida para que o governo faça mais com menos, seja mais eficiente. Porém, é um crime o que ele está fazendo. O país é desigual e pobre demais em renda e em iniciativas privadas de infraestrutura. Insistir no congelamento de gastos públicos por 20 anos é um plano deliberado de diminuir o tamanho do Estado e, assim, favorecer a privatização de serviços públicos.
Tudo isso cairá como uma bomba entre os setores da sociedade que precisam do Estado. Irá gerar uma “guerra civil”. A instabilidade política só tende a aumentar.
Mesmo a classe média-média nem sonha com medidas que vão impedir valorização dos salários e aumento do emprego formal. E muito menos com medidas que vão extirpar direitos trabalhistas.
As pesquisas citadas mostram, portanto, que, se o impeachment de Dilma se confirmar, pode ocorrer uma forte convulsão social no país.
Se antes mesmo de as medidas de Temer começarem a surtir efeitos a visão da sociedade sobre seu governo já está desse jeito, imagine, leitor, o que acontecerá quando as pessoas começarem a sentir esses efeitos.
O principal efeito do “teto” de Temer será piora na Saúde e na Educação. Pessoas que estão em vias de se aposentar, não vão conseguir. Os salários vão cair, muita gente vai ter que aceitar emprego sem registro em carteira.
A desidratação de programas sociais vai gerar aumento da violência e da criminalidade.
As pesquisas supracitadas comprovam a previsão de uma convulsão social no país. Muitos pensaram que o impeachment resolveria tudo, que traria de volta o bem-estar social da era Lula. Muito pelo contrário. Produzirá saudade dos governos do PT.
É por isso que o partido já está achando bom que o Congresso confirme o impeachment de Dilma. Deixar a direita governar é o melhor meio de pavimentar o caminho da esquerda em 2018. E agora temos até pesquisas a apoiar essa tese.
E você, o que acha? É melhor mesmo Temer ficar no cargo e afundar a direita, já que falta pouco para 2018 e até lá os golpistas se enforcarão sozinhos? Ou será que a democracia é mais importante e, assim, ele não pode ficar no cargo?