Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O contador e as fitas que estão por aí

Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo:

A Globo pediu acesso a todos os documentos da Operação Monte Carlo, que resultaram num processo que corre em segredo de Justiça, no STF. A Carta Maior também pediu. O acesso foi negado a ambos.

Demóstenes Torres, como parte envolvida, teve acesso.

Curiosamente, por pura coincidência, depois que isso aconteceu sobrou para Protógenes Queiroz, Agnelo Queiroz e a construtura Delta — a construtora do PAC, grita O Globo –, que também seria a favorita de Sergio Cabral.



O objetivo que precede a CPI é jogar a rede o mais amplamente possível, suscitar medos e, ainda que não impeça a Comissão, domá-la desde o início.

Al Capone não faria melhor.

Faz sentido a notícia de que a tática dos acusados seria a de não falar absolutamente nada durante os depoimentos, deixando a bomba explodir no colo dos políticos e agentes públicos convocados.

Não digo que a tática vá funcionar, mas que faz sentido divulgar a suposta tática agora, colocando minhoca na cabeça dos deputados e senadores antes que eles criem a CPI.

Mas será que eu assino esta CPI, que pode se voltar contra quem a criou?

O movimento inclui jogar Lula — que apóia a CPI — contra Dilma que, segundo a Folha de S. Paulo, teme a investigação. Mas, será que teme mesmo?

O movimento inclui dizer que o PT pretende usar politicamente a CPI para cercear a liberdade de imprensa.

Compreendam: a mídia corporativa tem muito a perder com a CPI do Cachoeira. Pela primeira vez na história da República, o grande público terá acesso aos métodos aplicados em nome do “jornalismo investigativo” e à relação entre arapongas e redações. São estes métodos que garantem à mídia ascendência sobre políticos e agentes públicos e, portanto, atendimento a importantes interesses econômicos. Ou vocês acreditam que os tucanos alimentam a mídia paulista por achá-la boazinha?

Além disso, as capas bomba da revista Veja eram repercutidas automaticamente, sem qualquer questionamento. A bola rolava na revista, era impulsionada pelo JN de sábado e ganhava as páginas de O Globo, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo já no domingo. A ordem era repercutir, repercutir, repercutir. Se possível, com novos ângulos e novas investigações. O mar de lama, curiosamente, só banhava uma praia.

Não foi por acaso que nada menos que quatro senadores se negaram a relatar as acusações contra Demóstenes Torres no Conselho de Ética do Senado, Lobão Filho (PMDB-MA), Ciro Nogueira (PP-PI), Gim Argello (PTB-DF) e Renan Calheiros (PMDB-AL). O que Demóstenes teria guardado contra eles?

Sobrou para o ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT-PE).

Costa, lembrem-se, foi acusado de envolvimento com a máfia dos sanguessugas, que atuou no Ministério da Saúde desde “o governo anterior”, como em priscas eras o JN se referia ao governo de FHC. Em 2006, na semana que antecedia o primeiro turno das eleições, o Jornal Nacional noticiou com destaque o indiciamento dele — que era candidato a governador de Pernambuco — no inquérito, ao lado do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Mas a lista de indiciados era muito mais longa e incluía gente próxima do ex-ministro José Serra, como Platão Fischer-Pühler — Serra concorria ao governo paulista. A lista completa dos indiciados, disse Fátima Bernardes naquela ocasião, você vê no site do Jornal Nacional.

Posteriormente, Costa foi inocentado de todas as acusações. Mas, em 2006, nem chegou ao segundo turno.

Se a CPI sair — só acredito vendo –, vai nascer amedrontada. Tem muita gente com muito a perder. Ou será que teremos um acordão no fim-de-semana? É esperar e ver…

PS do Viomundo: Fonte bem informada, que nunca nos decepcionou, diz que o homem-chave continua foragido, o contador de Carlinhos Cachoeira, Giovani Pereira da Silva. Giovani, diz a fonte, guardava num cofre as fitas produzidas pela arapongagem a serviço de Cachoeira. Nos próximos dias podem vazar fitas, que serão atribuídas ao inquérito mas na verdade são do arquivo de Cachoeira. A própria fonte, no entanto, disse que às vezes é impossível discernir quem está a serviço de quem, no submundo de Brasília. Há, segundo ele, brincando, “agentes duplos, triplos e quadrúpedes”.

Diálogos no JN desmentem o JN (de novo)

O jornal Nacional ignorou a informação de que, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski cobrou explicações do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), sobre as recorrentes citações nas conversas telefônicas gravadas pela Polícia Federal (PF) para a Operação Monte Carlo.
Segundo uma nota publicada no jornal Correio Braziliense, na última segunda-feira, dia 9, Lewandowski expediu os ofícios para o governador e para o prefeito, que ainda não elaboraram as respostas ao ministro. Os pedidos de explicação foram feitos dentro do inquérito aberto pelo STF para investigar os indícios de crime na relação de amizade entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (ex-DEM/GO).
O procedimento corre em segredo de Justiça, mas o jornal diz que apurou as razões para as citações oficiais de Perillo no inquérito. Nos grampos telefônicos remetidos ao STF, com o envolvimento de parlamentares do esquema de Cachoeira, os nomes do governador e do prefeito são frequentemente citados.
Em razão desse envolvimento, o STF poderá investigar os dois, caso haja solicitação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Por enquanto, o inquérito foi aberto apenas para investigar Demóstenes. Outros três parlamentares deverão ser investigados – Carlos Alberto Leréia (PSDB/GO), Sandes Júnior (PP/GO) e Stepan Nercessian (PPS/RJ) – em razão dos indícios de crime deduzidos a partir dos diálogos telefônicos trocados com Cachoeira.
Mas o jornal nacional da Globo preferiu a trama do novelão anti-Agnelo Queirós, que continuou ne edição de quinta-feira. Só que a análise dos diálogos divulgados não batem com a narrativa de William Bonner.
Eis um trecho do JN:
No dia 30 de março, Idalberto Matias, o Dadá, um dos principais auxiliares de Cachoeira, conversa com o então diretor da empresa Delta, Cláudio Abreu. Abreu reclama que os pedidos da empresa não estão sendo atendidos e diz que vai procurar o governador:
“Não dá mais rapaz, nós ‘tamos’ sem receber, não cai dinheiro. Nós temos uma audiência, pode falar que o governador mandou me chamar, quer conversar comigo. Então, eu vou ter que tratar direto é com governador, como é que eu faço?”.
O JN, de novo, manipula o telespectador para esconder informação, e transforma o diálogo em monólogo. Mesmo assim, pelo diálogo seguinte dá para entender que Dadá estava pedindo dinheiro para pagar gente que estava na 'folha de pagamento' de Cachoeira.
Cláudio Abreu diz que não tem o dinheiro porque o governo Agnelo não está atendendo os pleitos dele. Ou seja, se ele queria fazer maracutaia, não estava conseguindo. Parece até pior para a Delta: o contexto dá a entender que o governo Agnelo estaria até congelando pagamentos.
Aí Cláudio Abreu diz que tem uma audiência (coisa normal entre fornecedores que tem contratos e estão com pagamentos atrasados), sem especificar se é com a presença do governador .
Então ele manda Dadá dizer para os outros "pode falar que o governador mandou me chamar, quer conversar comigo. Então, eu vou ter que tratar direto é com o governador, como é que eu faço?" - Ora, o "pode falar..." significa que ele está inventando para se valorizar. Ele tinha uma audiência marcada sabe-se lá com quem, e diz uma bravata para não perder a imagem de ter prestígio e ser influente.
Aí o Jornal Nacional continua seu roteiro de novela:
Dadá repassa o descontentamento da Delta para Marcelo Lopes, ex-assessor de Agnelo, e diz que a direção da empresa no Rio de Janeiro vai cobrar a fatura da campanha.
DADÁ - A chefia do Rio entendeu. É que mexeu com... Ele ficou fora da negociação de campanha, que as autoridades lá do Rio de Janeiro que vieram. Então as autoridades do Rio que se mexeram, né? Cobraram a fatura aí, né?
MARCELÃO - Entendi, beleza. Quando eu sair daqui, te dou uma ligada.
DADÁ - O Cláudio Abreu, ele tem chefe, cara. Ele é simplesmente diretor regional. Em cima dele tem muita gente e a diretoria lá em cima. O Cláudio não participou da negociação da campanha. Os caras dizem assim “Pô o Cláudio não ‘tá’ resolvendo”. O pagamento não sai, entendeu? Então eu vou em cima do zero-um, meu irmão.
Mas o roteirista da novela do JN entrou em contradição e perdeu o nexo:
O Dadá doura a pílula ao repassar sua versão da desculpa que Claudio havia mandado dizer para atrasar o pagamento de Marcelão. Logo, Marcelão não sabe bulhufas do que se passa no gabinete de Agnelo, para precisar ser informado através de Dadá.
O JN havia dito no capítulo do dia anterior que Marcelão seria um assessor direto de Agnelo, insinuando que teria poder para traficar influência junto à Agnelo, coisa que os diálogos acima desmentem categoricamente.
De novo, se isolar os fatos, ou seja, os diálogos e as pessoas, eles dementem a "explicação" que Bonner quer passar ao telespectador. Em vez de incriminar o governador, os diálogos o inocentam.
E tal qual uma novela, no JN teve repetição das cenas do capítulo anterior. Aguardamos os próximos capítulos, porque até que está divertido desmantelar as mentiras do telejornal.

A tranquilidade dos petistas

Quem conhece o modus operandi de Cachoeira sabe que se ele tivesse algo concreto contra Agnelo, já estaria na capa da revista Veja há muito tempo (e esse diálogo aí em cima tem mais de um ano). Basta lembrar o que aconteceu com Waldomiro Diniz, quando não atendeu os interesses do bicheiro.
Além disso, o deputado Fernando Ferro (PT/PE) disse “não estar nem aí” para a imprensa querer intimidar através de ataques à Agnelo:
“Não, de forma alguma, é motivo para investigar e esclarecer. E nós não podemos aceitar acusações simplesmente como tentativa de desviar o foco, uma vez que o centro desta corrupção está no DEM, está aí nos setores da mídia que participou desse esquema de escândalo e faz parte da articulação do Cachoeira. Se tiver alguém do PT envolvido nisso, na investigação vai aparecer. E aí não tem motivo para ter medo. Se tiver culpa eu sinto muito, a nossa posição tem de ser esclarecer, isso é em benefício da democracia, do próprio partido e da política limpa. Eu me recuso a aceitar acusações sem ter investigação, me recuso a não fazer a investigação, que aí é o pior dos mundos”.
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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Diálogos no JN desmentem o JN (de novo)

O jornal Nacional ignorou a informação de que, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski cobrou explicações do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), sobre as recorrentes citações nas conversas telefônicas gravadas pela Polícia Federal (PF) para a Operação Monte Carlo.
Segundo uma nota publicada no jornal Correio Braziliense, na última segunda-feira, dia 9, Lewandowski expediu os ofícios para o governador e para o prefeito, que ainda não elaboraram as respostas ao ministro. Os pedidos de explicação foram feitos dentro do inquérito aberto pelo STF para investigar os indícios de crime na relação de amizade entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (ex-DEM/GO).
O procedimento corre em segredo de Justiça, mas o jornal diz que apurou as razões para as citações oficiais de Perillo no inquérito. Nos grampos telefônicos remetidos ao STF, com o envolvimento de parlamentares do esquema de Cachoeira, os nomes do governador e do prefeito são frequentemente citados.
Em razão desse envolvimento, o STF poderá investigar os dois, caso haja solicitação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Por enquanto, o inquérito foi aberto apenas para investigar Demóstenes. Outros três parlamentares deverão ser investigados – Carlos Alberto Leréia (PSDB/GO), Sandes Júnior (PP/GO) e Stepan Nercessian (PPS/RJ) – em razão dos indícios de crime deduzidos a partir dos diálogos telefônicos trocados com Cachoeira.
Mas o jornal nacional da Globo preferiu a trama do novelão anti-Agnelo Queirós, que continuou ne edição de quinta-feira. Só que a análise dos diálogos divulgados não batem com a narrativa de William Bonner.
Eis um trecho do JN:
No dia 30 de março, Idalberto Matias, o Dadá, um dos principais auxiliares de Cachoeira, conversa com o então diretor da empresa Delta, Cláudio Abreu. Abreu reclama que os pedidos da empresa não estão sendo atendidos e diz que vai procurar o governador:
“Não dá mais rapaz, nós ‘tamos’ sem receber, não cai dinheiro. Nós temos uma audiência, pode falar que o governador mandou me chamar, quer conversar comigo. Então, eu vou ter que tratar direto é com governador, como é que eu faço?”.
O JN, de novo, manipula o telespectador para esconder informação, e transforma o diálogo em monólogo. Mesmo assim, pelo diálogo seguinte dá para entender que Dadá estava pedindo dinheiro para pagar gente que estava na 'folha de pagamento' de Cachoeira.
Cláudio Abreu diz que não tem o dinheiro porque o governo Agnelo não está atendendo os pleitos dele. Ou seja, se ele queria fazer maracutaia, não estava conseguindo. Parece até pior para a Delta: o contexto dá a entender que o governo Agnelo estaria até congelando pagamentos.
Aí Cláudio Abreu diz que tem uma audiência (coisa normal entre fornecedores que tem contratos e estão com pagamentos atrasados), sem especificar se é com a presença do governador .
Então ele manda Dadá dizer para os outros "pode falar que o governador mandou me chamar, quer conversar comigo. Então, eu vou ter que tratar direto é com o governador, como é que eu faço?" - Ora, o "pode falar..." significa que ele está inventando para se valorizar. Ele tinha uma audiência marcada sabe-se lá com quem, e diz uma bravata para não perder a imagem de ter prestígio e ser influente.
Aí o Jornal Nacional continua seu roteiro de novela:
Dadá repassa o descontentamento da Delta para Marcelo Lopes, ex-assessor de Agnelo, e diz que a direção da empresa no Rio de Janeiro vai cobrar a fatura da campanha.
DADÁ - A chefia do Rio entendeu. É que mexeu com... Ele ficou fora da negociação de campanha, que as autoridades lá do Rio de Janeiro que vieram. Então as autoridades do Rio que se mexeram, né? Cobraram a fatura aí, né?
MARCELÃO - Entendi, beleza. Quando eu sair daqui, te dou uma ligada.
DADÁ - O Cláudio Abreu, ele tem chefe, cara. Ele é simplesmente diretor regional. Em cima dele tem muita gente e a diretoria lá em cima. O Cláudio não participou da negociação da campanha. Os caras dizem assim “Pô o Cláudio não ‘tá’ resolvendo”. O pagamento não sai, entendeu? Então eu vou em cima do zero-um, meu irmão.
Mas o roteirista da novela do JN entrou em contradição e perdeu o nexo:
O Dadá doura a pílula ao repassar sua versão da desculpa que Claudio havia mandado dizer para atrasar o pagamento de Marcelão. Logo, Marcelão não sabe bulhufas do que se passa no gabinete de Agnelo, para precisar ser informado através de Dadá.
O JN havia dito no capítulo do dia anterior que Marcelão seria um assessor direto de Agnelo, insinuando que teria poder para traficar influência junto à Agnelo, coisa que os diálogos acima desmentem categoricamente.
De novo, se isolar os fatos, ou seja, os diálogos e as pessoas, eles dementem a "explicação" que Bonner quer passar ao telespectador. Em vez de incriminar o governador, os diálogos o inocentam.
E tal qual uma novela, no JN teve repetição das cenas do capítulo anterior. Aguardamos os próximos capítulos, porque até que está divertido desmantelar as mentiras do telejornal.

A tranquilidade dos petistas

Quem conhece o modus operandi de Cachoeira sabe que se ele tivesse algo concreto contra Agnelo, já estaria na capa da revista Veja há muito tempo (e esse diálogo aí em cima tem mais de um ano). Basta lembrar o que aconteceu com Waldomiro Diniz, quando não atendeu os interesses do bicheiro.
Além disso, o deputado Fernando Ferro (PT/PE) disse “não estar nem aí” para a imprensa querer intimidar através de ataques à Agnelo:
“Não, de forma alguma, é motivo para investigar e esclarecer. E nós não podemos aceitar acusações simplesmente como tentativa de desviar o foco, uma vez que o centro desta corrupção está no DEM, está aí nos setores da mídia que participou desse esquema de escândalo e faz parte da articulação do Cachoeira. Se tiver alguém do PT envolvido nisso, na investigação vai aparecer. E aí não tem motivo para ter medo. Se tiver culpa eu sinto muito, a nossa posição tem de ser esclarecer, isso é em benefício da democracia, do próprio partido e da política limpa. Eu me recuso a aceitar acusações sem ter investigação, me recuso a não fazer a investigação, que aí é o pior dos mundos”.
 
 

Porquê o silêncio sobre a Islândia?

Os acontecimentos que sucederam ao desencadear da crise na Islândia - demissão em bloco do governo; nacionalização da banca; referendo, de modo a que o povo se pronuncie sobre as decisões económicas fundamentais; prisão dos responsáveis pela crise e reescrita da Constituição pelos cidadãos – têm sido sistematicamente silenciados. Compreende-se porquê. Mas há a necessidade de divulgar esse exemplo.
 
Se há quem acredite que nos dias de hoje não existe censura, então que nos esclareça porque é ficámos a saber tanta coisa acerca do que se passa no Egipto e porque é que os jornais não têm dito absolutamente nada sobre o que se passa na Islândia.
Na Islândia:
- o povo obrigou à demissão em bloco do governo;
- os principais bancos foram nacionalizados e foi decidido não pagar as dívidas que eles tinham contraído junto dos bancos do Reino Unido e da Holanda, dívidas que tinham sido geradas pelas suas más políticas financeiras;
- foi constituída uma assembleia popular para reescrever a Constituição.
Tudo isto pacificamente.
Uma autêntica revolução contra o poder que conduziu a esta crise. E aí está a razão pela qual nada tem sido noticiado no decurso dos últimos dois anos. O que é que poderia acontecer se os cidadãos europeus lhe viessem a seguir o exemplo?
Sinteticamente, eis a sucessão histórica dos factos:
- 2008: o principal banco do país é nacionalizado. A moeda afunda-se, a Bolsa suspende a actividade. O país está em bancarrota.
- 2009: os protestos populares contra o Parlamento levam à convocação de eleições antecipadas, das quais resulta a demissão do primeiro-ministro e de todo o governo.
A desastrosa situação económica do país mantém-se.
É proposto ao Reino Unido e à Holanda, através de um processo legislativo, o reembolso da dívida por meio do pagamento de 3.500 milhões de euros, montante suportado mensalmente por todas as famílias islandesas durante os próximos 15 anos, a uma taxa de juro de 5%.
- 2010: o povo sai novamente à rua, exigindo que essa lei seja submetida a referendo.
Em Janeiro de 2010, o Presidente recusa ratificar a lei e anuncia uma consulta popular.
O referendo tem lugar em Março. O NÃO ao pagamento da dívida alcança 93% dos votos.
Entretanto, o governo dera início a uma investigação no sentido de enquadrar juridicamente as responsabilidades pela crise.
Tem início a detenção de numerosos banqueiros e quadros superiores.
A Interpol abre uma investigação e todos os banqueiros implicados abandonam o país.
Neste contexto de crise, é eleita uma nova assembleia encarregada de redigir a nova Constituição, que acolha a lições retiradas da crise e que substitua a actual, que é uma cópia da constituição dinamarquesa.
Com esse objectivo, o povo soberano é directamente chamado a pronunciar-se.
São eleitos 25 cidadãos sem filiação política, de entre os 522 que apresentaram candidatura. Para esse processo é necessário ser maior de idade e ser apoiado por 30 pessoas.
- A assembleia constituinte inicia os seus trabalhos em Fevereiro de 2011 a fim de apresentar, a partir das opiniões recolhidas nas assembleias que tiveram lugar em todo o país, um projecto de Magna Carta.
Esse projecto deverá passar pela aprovação do parlamento actual bem como do que vier a ser constituído após as próximas eleições legislativas.
Eis, portanto, em resumo a história da revolução islandesa:
- Demissão em bloco de um governo inteiro;
- Nacionalização da banca;
- Referendo, de modo a que o povo se pronuncie sobre as decisões económicas fundamentais;
- Prisão dos responsáveis pela crise e
- reescrita da Constituição pelos cidadãos:
Ouvimos falar disto nos grandes media europeus?
Ouvimos falar disto nos debates políticos radiofónicos?
Vimos alguma imagem destes factos na televisão?
Evidentemente que não!
O povo islandês deu uma lição à Europa inteira, enfrentando o sistema e dando um exemplo de democracia a todo o mundo.
Theo Buss

PT vai à guerra (?)

Sob a liderança de Lula e com a concordância da presidente Dilma, o Partido dos Trabalhadores parece finalmente ter entendido que estava sendo tramado um golpe eleitoral contra si. A direita midiática pretendia usar o julgamento do inquérito do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal neste semestre ou, no máximo, no próximo – em pleno processo eleitoral – para vitaminar a oposição e debilitar o PT.
Eis que cai no colo do partido o escândalo envolvendo Carlinhos Cachoeira e expoentes da oposição demo-tucana como a vestal-mor da República, o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), e o acusador de Lula de ter tomado conhecimento do “mensalão”, o governador de Goiás, Marconi Perillo.
Aturdida, a mídia passa a tentar se desvincular de Demóstenes e cai de pau em cima dele afetando indignação e se dizendo “traída”. Parceira de Cachoeira, que lhe fundamentou a maioria dos ataques ao PT – inclusive durante eleições presidenciais – na década passada e que acabara de ser flagrada em centenas de contatos diretos com o bicheiro, tenta reagir à ameaça de investigação por suas relações com o crime organizado e desencadeia uma campanha em que ameaça o partido do governo com um “efeito bumerangue” contra si e o governo Dilma caso a investigação prossiga.
Poucos dias após dizer que Lula e Dilma apoiavam a criação da CPI, agora a mídia diz que a presidente e “setores do PT” estariam “com medo” da investigação. Além disso, atende à estridência do senador tucano do Paraná, Álvaro Dias, que vinha afirmando que o vazamento de escutas seria seletivo, e começa a noticiar cobranças ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, sobre os vazamentos e a tal “seletividade” cobrada pela oposição.
O PT reage com vídeo de seu presidente, Rui Falcão, em que denuncia que a mídia quer abafar o escândalo de Cachoeira e impedir a CPI, e cobra empenho do partido e de aliados pela instalação da investigação e posterior desmascaramento da “farsa do mensalão”.
Em seguida, o partido divulga em seu site resolução política em que repete a exortação de seu presidente e também denuncia uma “Operação abafa em torno do envolvimento do senador Demóstenes Torres (DEM-Goiás) com a organização criminosa comandada pelo notório Carlos, alcunhado de Carlinhos  Cachoeira”.
Por fim, nesta sexta-feira 13, no Jornal Folha de São Paulo, uma prévia daquilo em que deverá se transformar a CPI que a mídia tenta convencer o PT a não levar adiante ou, se levar, que ao menos não leve a sério, sob ameaça de transformá-la em uma CPI contra si mesmo. Ciente do envolvimento da Editora Abril, que edita a Veja, e possivelmente de outros meios de comunicação nas investigações, o jornal dá outro passo para o inevitável.
Em primeiro lugar, publica artigo de Rui Falcão que desanca a oposição e a mídia e as acusa de envolvimento com o crime organizado. Abaixo, reproduzo o texto.
—–
FOLHA DE SÃO PAULO
13 de abril de 2012
Tendências / Debates
Página A3
CPI na falsa Vestal
Por Rui Falcão
Mais do que uma “vendetta” contra o fanfarrão, a CPI pode explicar o que existia além da ligação de patrão e empregado entre Cachoeira e Demóstenes
O episódio que revelou a escandalosa participação do senador Demóstenes Torres (ex-DEM) em uma organização criminosa merece algumas reflexões e, olhando para o futuro, uma ação imediata.
Desde que foi constatada a cumplicidade do senador com uma gama infindável de crimes, assistimos a uma tentativa (às vezes ridícula)de explicação para o logro em que alguns caíram.
Como justificar que o arauto da moralidade, crítico feroz dos governos Lula e Dilma, trabalhava e traficava informações, obtidas pelo uso indevido do mandato, para um conhecido contraventor?
Até a psicanálise foi fonte de argumentos na tentativa vã de entender as ligações do senador com o contrabando, o jogo ilegal, a escuta clandestina e a espionagem. todas práticas tipificadas no Código Penal.
O certo, porém, é que a veneração que setores da mídia nutriam por Demóstenes refletia uma espécie de gratidão pela incansável luta, essa sim verdadeira, do parlamentar contra todos os avanços sociais obtidos pelos governos petistas.
Ressalte-se, aliás, que mesmo depois de flagrado na participação ativa em organização criminosa, o ainda senador, fingindo ignorar o mundo real, arvora-se a analisar, sob o crivo crítico dos tempos de falsa vestal, ações do governo Dilma.
Mais do que uma “vendetta” contra o fanfarrão, porém, o Congresso está diante de uma oportunidade única de desvendar um esquema que, pelo que foi divulgado até agora, não se resume à ligação de empregado e patrão entre Demóstenes e o contraventor Carlinhos Cachoeira.
A morosidade do inquérito em algumas de suas fases e as ligações pessoais do promotor de carreira Demóstenes Torres com membros do Judiciário precisam ser investigadas. O mesmo se exige na apuração de vínculos obscuros do senador com altos mandatários de seu Estado, Goiás, bem como de sua quadrilha com veículos de comunicação. Que não se permita a operação abafa em andamento. Que se apure tudo, até para dissipar suspeitas.
O único caminho para o esclarecimento passa por uma CPI no Congresso, onde alguns parlamentares também foram ludibriados pelo falso paladino das causas morais.
Cabe à Câmara e ao Senado, sem nenhum espírito de corpo, aproveitar a oportunidade única de desmascarar a farsa até o fim.
Talvez, no caminho da investigação, descubramos outros pregadores da moralidade que também se beneficiem do esquema que se abastecia das informações colhidas e transmitidas ao chefe pelo senador Demóstenes Torres.
A história brasileira registra outros episódios em que a pregação das vestais serviu para embalar a defesa de interesses sempre contrários aos da maioria da população. O falso moralismo udenista não está tão distante.
Se a forma do engodo não é nova, cabe ao Congresso provar, com a CPI, que o país está disposto a dar um basta a esquemas de banditismo. O Partido dos Trabalhadores defende a instalação de CPI no Congresso e conclama a sociedade organizada a se mobilizar em defesa da mais ampla apuração do esquema corrupto desvendado pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo.
Rui Falcão é deputado estadual (SP) e presidente nacional do PT
—–
Na mesma edição, na página A7, o jornal, finalmente, materializa quase que por completo a assunção inevitável de um assunto que já dá de barato que virá à pauta por força da CPI, caso o PT continue se mantendo disposto a ir à guerra contra a inversão de uma investigação que surpreenderá o país ao expor as relações incestuosas entre imprensa, oposição e crime organizado.
Abaixo, a “reportagem” que pretende responder ao texto do presidente do PT publicado quatro páginas antes.
—–
FOLHA DE SÃO PAULO
13 de abril de 2012
Tendências / Debates
Página A7
Catia Seabra / Márcio Falcão, de Brasília
PT associa “setor da mídia” a criminosos e defende regulação
Partido afirma que relações reveladas pelo caso Cachoeira comprovam “urgência” de medidas de controle da imprensa

Em evento ontem no Planalto, no entanto, a presidente Dilma Rousseff defendeu a liberdade de imprensa


BRASÍLIA – O PT vai usar a instalação da CPI do Cachoeira para voltar a investir contra a mídia. A disposição está expressa em documento divulgado ontem pela cúpula do partido.
Redigido pelo comando petista, o texto cita a investigação do esquema de Carlos Cachoeira, acusado de exploração do jogo ilegal, a pretexto de voltar a cobrar a fixação de um marco regulatório para os meios de comunicação.
“Agora mesmo, ficou evidente a associação de um setor da mídia com a organização criminosa da dupla Cachoeira-Demóstenes, a comprovar a urgência de uma regulação que, preservada a liberdade de imprensa e livre expressão de pensamento, amplie o direito social à informação”, diz a nota.
Mesmo sem dar nomes, o alvo primário do PT é a revista “Veja”. Em grampos já divulgados do caso, um jornalista da publicação tem o nome citado por membros do grupo do empresário.
A revista já publicou texto informando que Cachoeira era fonte de jornalistas, inclusive do chefe da sucursal de Brasília, Policarpo Júnior, e que não há impropriedades éticas nas conversas.
Integrantes da Executiva do PT e congressistas do partido defendiam que a “Veja” fosse investigada na CPI.
O cálculo político petista inclui o raciocínio segundo o qual o bombardeio sobre mídia e oposição poderá concorrer na opinião pública com o julgamento do mensalão -o esquema de compra de apoio político ao governo Lula descoberto em 2005, que deve ser apreciado pelo Supremo Tribunal Federal neste ano.
O próprio presidente petista, Rui Falcão, falou que a CPI deve investigar “os autores da farsa do mensalão”.
Há a intenção de questionar reportagens sobre o mensalão usadas como prova judicial. A estratégia é tentar comparar a produção de reportagens investigativas, que naturalmente envolvem contato de jornalistas com fontes de informação de várias matizes, a práticas criminosas.
Para tanto, segundo a Folha apurou, réus do mensalão como o ex-ministro José Dirceu instruíram advogados a buscar menções à revista e à mídia nas apurações da PF sobre o caso Cachoeira. Dirceu vai a evento no final de semana sobre regulamentação da mídia em Fortaleza.
O movimento do PT contrasta com discurso da presidente Dilma Rousseff. Ontem, em cerimônia do Minha Casa, Minha Vida, ela defendeu a liberdade de imprensa.
“Somos um país que convive com a liberdade de imprensa, somos um país que convive com a multiplicidade de opiniões, somos um país que convive com a crítica.”
—–
Como se vê, o jornal termina o texto como que recorrendo a Dilma.
E como disse acima, a matéria escancarou quase tudo. Faltou informar ao distinto público que o que houve entre a Veja e Cachoeira não foi “Produção de reportagens investigativas, que naturalmente envolvem contato de jornalistas com fontes de informação de várias matizes”, mas centenas de ligações telefônicas, encontros e declarações comprometedoras da quadrilha que afirmam que Cachoeira foi o autor intelectual de “todos” os ataques da Veja ao PT.
A única coisa que se espera do partido, portanto, é que não aceite uma negociata que envolva recuo da direita midiática no uso político do julgamento do mensalão, talvez até com postergação desse julgamento, em troca de a CPI não fazer tudo o que prometem o presidente do PT e o próprio em vídeo e textos supra reproduzidos.

Veja na capa da Carta Capital

A revista Veja virou matéria de capa da revista CartaCapital ao lado de Demóstenes Torres, Marconi Perillo, Gilmar Mendes, Roberto Gurgel e Agnelo Queiroz, com o título: "Na mira: Quem tem medo da CPI do Cachoeira".

Cachoeira e Dantas – é o todo. E demora a limpar

Nestes momentos de incerteza, o ansioso blogueiro recorre invariavelmente ao sábio Oráculo de Delfos.

– Oráculo, por favor me acuda ! A Globo diz que a culpa é toda do Agnello !

– Calma, meu filho. Quem é o Agnello ?

– O Governador de Brasília … Do PT.

– Roriz, Arruda e quem ?, pergunta ele, como se não soubesse quem é o Agnello.

– Agnello.

– Meu filho, em Brasília até o lago é falso.

– Mas, Oráculo, por favor, o que é isso tudo ? No que vai dar essa bafa-bafa ?

– Abafa, meu filho. A imprensa quer abafar.

– O que, Oráculo ?

– Tudo.

– Mas, como, tudo ?

– Porque está tudo comprometido.

– Como assim, Oráculo, não aumente o meu desespero.

– Calma, meu filho. Tome um chá de camomila.

– Não tomo chá, Oráculo. Prefiro tequilla.

– Meu filho, se você soma a Satiagraha com o Demóstenes, o Brasil inteiro está lá dentro. É uma coisa só ! É um Brasil só.

– É … pensando bem, sempre desconfiei disso. Daniel Dantas, empreiteira Delta. Tem uma lógica nessa loucura.

– O que você está vendo diante dos teus olhos é o processo como um todo. Não escapa nada, porque o conjunto é que está podre.

– Mas, Oráculo, não tem ninguém que preste ?

– Claro, claro que tem gente que preste. Mas, são os lírios da lama …

– Oráculo, não é bem assim, são os lírios …

– Meu filho, entenda o que eu estou falando: dentro da lama pode haver vida saudável. É difícil, mas pode, na borda.

– Mas, como sair dessa ?

– Não sei se há saída, nem sei é para já, se houver saída.

– Mas, o que está errado, Oráculo ?

– O sistema político, a forma de representação, a organização partidária e o financiamento das campanhas.

– Bom, Oráculo, aí você já quer reinventar o Brasil.

– Quem mandou perguntar ? E tem mais, viu ? O Judiciário. O Judiciário é a argila dessa massa fedida.

– Mas, como é que se sai dessa ?

- Vai demorar muito. Porque está todo mundo na roda. Eu te pergunto: quem não está no Daniel Dantas ou no Cachoeira ? Que partido ? Quem não tem o rabo preso ?

– A Folha !

– Como é que é ?

– Deixa pra lá, Oráculo.

– Veja uma coisa: não tem candidato a prefeito. Quantas grandes cidades do Brasil ainda não definiram o prefeito, quantas coligações já estão prontas ?

– E daí, Oráculo ?

– Porque esse sistema político aí é um sarapatel, uma misturança. Ninguém é de ninguém. Ou todos são de todos. Não tem coerência, partido. Aí, chega um Dantas, um Cachoeira, uma Delta … e ocupa o espaço. Abre a banca.

– Quem é a Delta, Oráculo ?

– Uma letra do alfabeto grego.

– Ah …

– E a imprensa também caiu na lama. Se misturou com os bandidos.

– Você acha ?, Oráculo, perguntou o ansioso blogueiro, como se soubesse a resposta.

– Veja, Globo, Estadao, Folha, não sobra nada. Não dá para ler mais nada.

– É o PiG, Oráculo.

– É o que ?

– Deixa pra lá, uma palavra inglesa. E a CPI, Oráculo ?

– O PSDB tem mais a perder que o PT.

– Por isso o PT quer tanto.

– Você faria o que ?

– Mas, a CPI vai resolver alguma coisa ?

– Vai.

– O que, Oráculo ?

– Melar o mensalão.

– Peraí, Oráculo, já ouvi isso em algum lugar …

– Mela, mas fica um pouco de lama na bainha da calça.

– Como assim, Oráculo ?

– Ora, meu filho, tenho mais o que fazer. Me dê licença.

Pano rápido.

Em tempo: clique aqui para ler o que disse o Tirésias: “quantos Agnellos vale um Dirceu ?”.


Paulo Henrique Amorim

PIG é 'homengeado' com música funk

A CPI de Cachoeira e o "mensalão"

Do sítio da CartaCapital:

Era questão de tempo: tímidos, até então, com a escancarada relação mantida pelo contraventor Carlinhos Cachoeira com senador, deputados e um governador tucano, os jornais chegaram às bancas, nesta quinta-feira 12, com a arma apontada na direção oposta.
Estamparam em suas capas a suspeita de que o lobby de Cachoeira chegara ao governador petista Agnelo Queiróz (DF). Num exercício de retórica mais elástico que os tentáculos políticos de Cachoeira, conseguiram trazer ao centro do debate a palavra “mensalão”.

Tudo isso às vésperas da instalação de uma CPI mista para investigar as relações suprapartidárias do contraventor pelo mundo político, tão ecléticas quanto suas áreas de influência – que iam do jogo do bicho à indústria farmacêutica, passando por serviços de coleta de lixo.

O esforço agora é tentar arrastar para o centro do escândalo quem até então parecia faturar com a situação. As movimentações mais recentes apontam que até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em campo para emplacar a comissão, já acertada pelos presidentes da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

A abertura da CPI passou a ser defendida abertamente pelo presidente do PT, Rui Falcão. Foi o suficiente para que O Globo visse na postura uma tentativa de desviar o foco do “mensalão”.

A CPI pode complicar a vida do governador tucano Marconi Perillo, assim como a do petista Agnelo Queiróz. CartaCapital mostrou, em suas duas últimas edições, como o grupo de Cachoeira exercia influência na montagem do governo tucano e como recebia informações privilegiadas dos assessores diretos de Perillo.

No caso de Queiróz, o relatório da PF indica que o governador do Distrito Federal chegou até a pedir reunião com Cachoeira, apontado pela PF como o chefe da máfia dos caça-níqueis em Goiás e no Distrito Federal. O grupo de Cachoeira teria intenção de realizar negócios no governo do DF.

Outra suspeita, levantada pela Folha de S.Paulo, é que os homens ligados a Cachoeira intercediam, no governo petista, em favor da Construtora Delta, que domina o serviço de coleta de lixo no Distrito Federal.

Um desses elos entre o governo do DF e Cachoeira é o sargento da reserva da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá. Aliado de Cachoeira, ele tentou intermediar encontro entre o bicheiro e o governador – “apelidado”, segundo as investigações, como 01. Conforme revelou CartaCapital, Dadá, preso e investigado pela PF, era responsável por obter informações sigilosas de interesse da quadrilha em troca de um pagamento mensal de 5 mil reais.

As relações de Cachoeira em Goiás levaram até mesmo a ministra Laurita Vaz, do Superior Tribunal de Justiça, a se declarar impedida de julgar um habeas corpus impetrado pela defesa do bicheiro para tirá-lo da prisão. Ela alegou ter tido contado com alguns citados nas investigações.

A mídia também não deve escapar. As relações do esquema de Cachoeira com a revista Veja, se apuradas pela CPI, prometem expor os métodos de jornalismo investigativo e as cruzadas midiáticas dos últimos 10 anos. Por isso, os jornais parecem tão empenhados em ameaçar quem defende a instalação da CPI.

“Não houve o mensalão”

 En­tre­vis­ta com Aristides Junqueira 

Ex-procurador-geral da República critica o MP, ataca a mídia, diz que não houve pagamento mensal a deputados federais da base aliada nem desvio de recursos públicos para os cofres petistas, mas admite a utilização de caixa 2
O ex-procurador-geral da República Aristides Junqueira faz, em Goiânia, a defesa do ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares de Castro
Fernando Leite/Jornal Opção

O ex-procurador-geral da República Aris­tides Junqueira diz ao Jornal Opção que o mensalão, escândalo detonado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) que abalou a república petista em 2005, não existiu. “Não pode haver mensalão, já que não há repetição mensal de pagamento. Se houve um ou outro pagamento eles não foram contínuos durante meses”, afirma.
Após criticar o Ministério Público Federal, ele frisa que não houve desvio de recursos públicos para bolsos privados nem para abastecer os cofres petistas e de legendas aliadas. “A denúncia também não consegue provar isso. Não demonstrou nada disso. Evidentemente está provado nos autos que os recursos foram oriundos de empréstimos em bancos particulares”, explica.
Segundo ele, a denúncia do MP é improcedente.”Não se trata de uma crítica ao MP, mas um reconhecimento da improcedência dela quando se leva em conta a defesa feita por esse grupo de advogados, com relação a um réu apenas, já que são 40. Hoje, parece-me que são 38: um morreu e outro foi reconhecido que a denúncia contra ele era improcedente, que é o Luiz Gushiken”.
O advogado exorciza supostos pecados da mídia. “Ele já está condenado pela mídia. Aliás, não é só ele. É um grupo. Eu diria que eles já estão até demonizados. A defesa dele não quer que ele seja santificado, mas que não seja também demonizado eternamente. O fato é que com esse resultado todo falar em Delúbio Soares é um palavrão muito grande que a sociedade não pode admitir.”
Com ironia, o ex-procurador-geral de Justiça diz que o Ministério Público “coloca quadrilha em tudo”. Mais: avalia que não há risco de prescrição. “Não. Em pouco tempo não prescreve não. Isso não é interessante”, adianta. Ele ingressou no auditório do Bloco B da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) escoltado por Delúbio Soares e Marcus Vinícius de Faria Felipe, ex-presidente da Agecom.
Aristides Junqueira participou de fórum, na PUC, Câmpus 5, em Goiânia, ao lado do ex-prefeito de Goiânia Darci Accorsi, hoje secretário Legislativo do prefeito da Capital, Paulo Garcia (PT). O ato era para debater os aspectos jurídicos da denúncia do MP Federal e da defesa do matemático de Buriti Alegre Delúbio Soares, apontado como um dos chefes do mensalão do PT.
Qual é o objetivo do debate sobre a defesa jurídica de Delúbio Soares?
O objetivo do debate é saber se juridicamente a defesa apresentada pelos advogados de Delúbio Soares é uma peça satisfatória e que possa levar à improcedência da denúncia. Esse é o objetivo.
A defesa de Delúbio Soares diz que o mensalão não existiu. A tese tem fundamento jurídico?
Primeiro, eu quero saber o que é mensalão. Eu não sei. Nós temos de perguntar ao Roberto Jefferson, que inventou a palavra e não explicou direito o que é isso. E também ao Ministério Público. Para saber o que que é mensalão. A defesa do Delúbio, que não foi feita por mim, estou apenas apreciando, mas por um grupo de advogados capitaneado pelo advogado Arnaldo Malheiros Filho, de São Paulo, demonstra que não pode haver mensalão, já que não há repetição mensal de pagamento. Se houve um ou outro pagamento eles não foram contínuos durante meses.
Não houve pagamento regular pelo governo a deputados federais da base aliada?
Não houve. Não houve. Pelo menos dentro dos autos, a defesa diz que isso não está provado. Dentro dos autos ele não está provado. Não houve pagamento mensal a deputados da base aliada.
Houve desvio de recursos públicos para bolsos privados?
A denúncia também não consegue provar isso. Não demonstrou nada disso. Evidentemente está provado nos autos que os recursos foram oriundos de empréstimos em bancos particulares
Existem provas desse empréstimos?
Os empréstimos estão provados. Empréstimos de bancos particulares. Isso não é negado por ninguém.
Trata-se de uma crítica à denúncia do Ministério Público Fe­deral?
Não. Não diria que é uma crítica à denúncia do Ministério Público, mas um reconhecimento da improcedência dela quando se leva em conta a defesa feita por esse grupo de advogados de Delúbio Soares, com relação a um réu apenas, já que são 40. Hoje, parece-me que são 38. Já que um morreu e outro foi reconhecido que a denúncia contra ele era improcedente, que é o Luiz Gushiken.
A defesa de Delúbio Soares diz que os grandes conglomerados de comunicação querem condená-lo previamente...
Eu penso que ele já está condenado pela mídia. Aliás, não é só ele. É um grupo. Eu diria que eles já estão até demonizados. Penso que a defesa dele não quer que ele seja santificado, mas que não seja também demonizado eternamente como é hoje. O fato é que com esse resultado todo, falar em Delúbio Soares é um palavrão muito grande que a sociedade não pode admitir.
O advogado Luiz Eduardo Green­halgh admite a utilização de recursos não contabilizados.
E daí? Se forem ler a defesa que Arnaldo Malheiros faz de Delúbio Soares, ele confessa isso. Mas trata-se de um crime eleitoral cuja prescrição já ocorreu.
Há indícios de formação de quadrilha, como apontou o Mini­stério Público federal?
O Ministério Público Federal vê e coloca [formação de] quadrilha em tudo.
Existe risco de prescrição?
Não. Em pouco tempo não prescreve, não. Isso não é interessante.
Renato Dias
No Jornal Opção

As “mervalices” de Merval para blindar Marconi “Perigo”

Qualquer cidadão respeitável, honesto e interessado no bem comum da sociedade deve se indignar com o que certos veículos de comunicação estão fazendo em favor de legítimos criminosos. A parcela da mídia que age como partido político enquanto jura ao seu público que é “isenta” tenta acobertar políticos envolvidos em corrupção e também transferir a culpa deles para os seus adversários políticos.
Serei mais específico: o colunista de O Globo Merval Pereira – e devem existir outros, desse e de outros veículos – está faltando com a verdade para com o público a fim de blindar o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), no âmbito das descobertas da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que prendeu dezenas de membros de uma quadrilha liderada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira que explorava jogatina ilegal naquele Estado.
A mentira vem aparecendo aqui e ali, mas foi mais indignante em texto do supracitado que li no blog de Ricardo Noblat ontem (12 de abril). Ele disse que há mais indícios de envolvimento com Cachoeira pesando contra o governador de Brasília, Agnelo Queiróz (PT), do que contra seu homólogo goiano, Marconi Perillo.
É mentira. Contra o governador tucano pesam escutas da Polícia Federal que revelam que dezenas de indicações para cargos públicos no governo de Goiás foram feitas por Cachoeira e acabaram se materializando. Essas conversas, que no caso de Agnelo Queiróz estão sendo levadas pela mídia ao pé da letra, no caso de Marconi estão sendo tratadas como inexistentes.
Há, também, doações para campanhas eleitorais feitas por sócios de Cachoeira envolvidos nos crimes dos quais ele é acusado que beneficiaram o PSDB de Goiás e que terminaram financiando a campanha de Perillo. E não fica por aí. Ainda há suspeitas de licitações dirigidas, gravações de conversas do próprio governador tucano com o bicheiro e muito mais.
Tudo isso transparecerá na CPI, mas, como está fazendo agora, a mídia tentará esconder ou minimizar, nessa mesma CPI, as denúncias contra Perillo enquanto distorce e maximiza denúncias contra Queiróz e outros petistas e aliados, contra os quais qualquer menção de um peão da quadrilha, mesmo não tendo nenhuma materialização em termos de indicações para cargos públicos ou outros “negócios”, será tratada como prova de culpa.
Isto é, ao menos enquanto a contundência dessas denúncias não chegar ao ponto que chegaram as que foram feitas contra Demóstenes Torres, outro blindado pela mídia que só deixou de sê-lo quando já não havia mais jeito.
O que vazou até agora contra Queiróz é incomparavelmente menos grave do que aquilo que vazou contra Perillo, não passando, até aqui, de menções a pagamento de propina a um assessor e a um negócio de Cachoeira  com o governo Distrital de Brasília que, pasme-se, foi feito na gestão anterior.
Contra Queiróz não há doações de campanha, não há indicações confirmadas, não há nada que tenha dito contra ele o membro da quadrilha de Cachoeira sargento Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, que tenha se confirmado. Todavia, muito do que diz essa quadrilha que recebeu de benefícios supostamente por ação de Perillo, concretizou-se.
Tais fatos têm sido fartamente denunciados. A revista Carta Capital publicou matérias que, em grande parte, a mídia escondeu. O repórter investigativo Leandro Fortes, entre outros, vasculhou o caso e deu aqueles fatos à luz. E o colunista de O Globo supracitado, entre outros, sabe disso. O que disse sobre os dois governadores, portanto, não passa de mentira que visa blindar um aliado político dos patrões.

JUROS: A DESFAÇATEZ DO SINDICATO DOS BANCOS.

* O Banrisul, o banco público gaúcho, foi o 1º banco estadual a cortar as taxas de juros, depois do impulso dado pelo BB e a CEF.
**as reduções vão de 27% a quase 74% nas diferentes linhas de crédito.
** dispositivo midiático demotucano já apresenta Demóstenes como protagonista menor do escândalo Cachoeira.
**agora, os alvos principais  na versão conservadora seriam políticos do PT e o deputado do PCdoB, Protógenes Queiroz. 



Murilo Portugal, o presidente do sindicato brasileiro dos bancos (a Febraban), é um veterano da piscina ortodoxa onde se nada a contrapelo dos interesses do país. Tem uma estante de troféus conquistados nessa modalidade. Agora resolveu peitar a Presidenta Dilma Rousseff no decisivo braço-de-ferro para derrubar os juros. Em vez de apresentar um cronograma de corte das taxas, como esperava o governo, cobrou 'incentivos e desonerações' para o mais lucrativo setor da economia. Com a soberba típica dos centuriões da plutocracia, divulgou a lista das 'condicionalidades' através do dispositivo midiático. Murilo Portugal acha que a diferença entre o que os bancos lucram captando a 9,5% numa ponta do guichê, e as taxas siderais de 50% a até 80% ao ano cobradas quando o recurso vira crédito é estreita. O spread médio brasileiro é o mais alto do mundo, da ordem de 37%.  (LEIA MAIS AQUI)