Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Golpistas sonham transformar Dilma em Collor e PT no PRN


collor capa

Em meados de 1991, a imprensa começou a divulgar denúncias envolvendo o círculo próximo de Fernando Collor de Mello, como ministros, amigos e até a então primeira-dama, Rosane Collor. Menos de um ano depois (em maio de 1992), a revista Veja, que construíra a imagem dele como “caçador de marajás”, publica entrevista de Pedro Collor de Mello, irmão do presidente, em que este denunciou o dito esquema de corrupção, que envolvia o ex-tesoureiro da campanha colorida, Paulo César Farias.

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Em 27 de maio de 1992, uma Comissão Parlamentar de Inquérito é instalada para apurar a responsabilidade do presidente sobre os fatos divulgados. Em 1° de junho, a CPI começa seus trabalhos, que passam a ser acompanhados, a cada passo, pela grande imprensa. A Revista IstoÉ publica, em 24 de junho, matéria na qual Eriberto França, motorista da secretária de Collor, revela que pagava despesas pessoais do presidente com dinheiro de conta fantasma mantida por PC Farias, reforçando a tese do irmão do presidente

Em 2 de outubro é aberto o processo de impeachment na Câmara dos Deputados, impulsionado pela maciça presença do povo nas ruas, como o movimento dos caras-pintadas.

Collor começou a cair no dia 20 de setembro de 1992, poucos dias antes de a Câmara instalar o processo de impeachment, quando foi à tevê, em rede nacional, fazer um pronunciamento contra a abertura do processo legislativo contra si. Em tom de desafio, tentou usar sua oratória quase perfeita para tentar mudar os ventos da política.



 
 Poucos dias depois, em solenidade no Palácio do Planalto, o ainda presidente da República jogou sua última cartada: convocou os brasileiros a saírem à rua vestindo verde e amarelo em apoio a ele mesmo e ao seu governo.




Como todos sabem, o chamamento de Collor foi um desastre – para ele mesmo. No domingo seguinte, milhares de jovens, os famosos caras-pintadas, vestiram-se e pintaram os rostos de preto e saíram às ruas clamando pela deposição do presidente da República.

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As comparações entre a saga collorida e o calvário enfrentado pela presidente Dilma Rousseff  têm sido frequentes na mídia antipetista e nas declarações da oposição, apesar das enormes diferenças entre um caso e outro. Dilma não foi alvo de denúncia pessoal. Apesar disso, foi alvo de um parecer tabajara encomendado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e emitido pelo jurista Ives Gandra Martins, prontamente desmontado por uma longa fila de juristas – aqui e aqui.

Apesar disso, os pistoleiros contratados por Globos, Folhas, Vejas e Estadões para manter o PT e o governo Dilma sob fogo cerrado vêm espargindo a teoria de que, tal qual ocorreu com Collor, apesar da falta de elementos contra si a presidente da República pode, sim, ser alvo de impeachment porque esse é um “processo político” que, tal qual o de Collor, dispensa provas para ser levado a cabo.

De fato, apesar de Collor ter sido deposto – ou levado a renunciar, porque o fez antes de o Congresso votar seu impeachment – ele nunca foi condenado por nada, na Justiça. Não havia elementos suficientes para uma condenação. Inúmeros juristas consideraram a denúncia judicial inepta. Porém, contra Collor não faltaram denúncias pessoais. A começar de seu irmão e do motorista Eriberto França, que afirmou que ia buscar propinas em nome do então presidente.

O processo de impeachment contra Collor, porém, atendeu a um clamor da sociedade que se fazia ouvir desde o confisco da poupança, levado a cabo no limiar de seu desastroso governo. A grande ironia é que a medida que a então ministra Zélia Cardoso de Mello adotou visando exterminar a inflação galopante com uma “bala de prata”, como se dizia à época deixou a esquerda perplexa e a direita indignada. Collor se indispôs com a direita midiática naquele momento.

De volta ao presente, o que se vê são tentativas dos pistoleiros midiáticos não só no sentido de levar a cabo um processo parecido contra Dilma, mas, como o leitor verá a seguir, de reproduzir evento que foi a pá de cal no governo Collor. Qual seja, o gigantesco protesto dos caras-pintadas.

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Esse protesto convocado para meados do mês que vem, no entanto, não guarda qualquer semelhança com o levado a cabo contra Collor. Está sendo organizado pelos grupos que pedem a volta da ditadura militar, sendo, pois, um movimento de ultradireita, enquanto que o legítimo movimento dos caras-pintadas teve, à frente, a União Nacional dos Estudantes, a Central Única dos Trabalhadores e tantos outros movimentos de esquerda.

Todavia, farsas não requerem precisão histórica. Eis por que os pistoleiros da grande mídia antipetista já tentam reproduzir o golpe final no governo Collor.

Na última terça-feira, o blogueiro da Globo Ricardo Noblat aproveitou-se de uma iniciativa ingênua de alguns militantes do PT no Facebook de convocarem – sem apoio do partido – uma contra-manifestação em resposta àquela convocada pelos golpistas para 15 de março para estabelecer uma comparação entre a a manifestação contra Collor em 1992 e a manifestação contra Dilma no mês que vem.
Abaixo, a tentativa de Noblat de transformar Dilma em Collor.

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Como se vê, o blogueiro da Globo até admite que não existe base sequer parecida nos delírios golpistas contra Dilma com as razões concretas que levaram Collor ao impeachment, mas “argumenta” que mesmo sem elementos mínimos para abertura do processo a Câmara, comandada por Eduardo Cunha, pode jogar no lixo 54 milhões de votos, configurando um “golpe paraguaio” como o que este Blog anunciou tantas vezes que seria tentado.

Este blogueiro, vendo a tentativa de enganar o público anunciando uma orientação do PT que nunca existiu, tratou de tentar esclarecer o caso pedindo informações sobre a suposta contra-manifestação do partido no dia da marcha golpista. Ao que recebeu resposta do vice-presidente nacional do PT, Alberto Cantalice.


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Além disso, Cantalice ainda divulgou mensagem em redes sociais negando qualquer iniciativa do PT no sentido de promover o que seria uma sandice, pois encontro dos grupos anti e pró Dilma poderia provocar um banho de sangue, haja vista nos ânimos exaltados dessas facções, sob insuflação incessante da mídia.


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Com esse post mentiroso, o blogueiro da Globo mata dois coelhos com a mesma cajadada: divulga o protesto e ainda estimula quem pensa como ele a sair de casa para participar.

O plano de Noblat et caterva, porém, tem uma falha. Em 1989, Collor saiu candidato por uma legenda de aluguel, o então chamado Partido da Reconstrução Nacional (PRN), que já fora Partido da Juventude, criado em 1985 no âmbito do processo de redemocratização que culminou com a eleição do mesmo Collor.
Em 1992, o PRN, que mal existia, ficou assistindo, impotente, à deposição de Collor. Tratava-se de mera legenda de aluguel, sem ideologia, sem lideranças de peso. O PRN era uma farsa destinada a emoldurar a imagem de “novidade” que cercava o “caçador de marajás” inventado por Veja.

O PT, por mais que tenha sido afetado pela campanha de difamação da mídia antipetista, ainda é o maior partido político brasileiro em termos de militância e de base social. Supostamente, tem ao seu lado movimentos sindicais e sociais históricos como CUT e MST, que, por mais que estejam indispostos com Dilma, diante de uma tentativa de “golpe paraguaio” acabarão se mexendo, pois sabem muito bem que a volta da direita ao poder os dizimaria.

Passado o Carnaval, a tese do impeachment irá ganhar força simplesmente porque a direita midiática sabe que os ajustes que Dilma Rousseff vem promovendo na economia deverão funcionar e lá por 2016 o Brasil deve começar a crescer de novo, mais uma vez com distribuição de renda, diminuição do desemprego e valorização dos salários. Desse modo, para os golpistas é agora ou nunca. Falta, porém, combinar com “os russos”, ou seja, com a ainda consistente base social e política do PT.

Petrobras parou de perfurar em Libra. Parou por que? Porque deu certo!

testelibra

Petrobras paralisa perfuração em Libra e cai 3%“.

O título do site de economia Infomoney dá bem ideia da Petrobras que se mostra à opinião pública.
Uma empresa falida, quebrada, fracassada.
E por que a Petrobras “paralisou” a perfuração em Libra?
Simples, porque terminou a perfuração de um poço de testes.
E concluiu com sucesso total.

“Os resultados da perfuração confirmaram a existência de uma coluna de petróleo de aproximadamente 290 metros e reservatórios de alta qualidade. Os dois testes de produção – realizados em duas zonas distintas – confirmaram a excelente produtividade e qualidade do petróleo (27ºAPI*) desses reservatórios”

É o que diz o comunicado da empresa em nota do seu site de relações com investidores.

E deppis dos testes, reunidas todas as informações sobre rochas, camadas, pressões e tudo o mais, para-se para fazer os planos de exploração ou definir onde se fará novas perfurações de delimitação do campo.
E que campo!

Imagine uma imensa “esponja” de petróleo com esta altura e área de  1,5 mil quilômetros quadrados, o mesmo tamanho de todo o município de São Paulo, como é Libra, e terá noção de quanto isso representa de petróleo.

E pense no que representa perder, em nome do “enxugamento” da empresa, esta e outras áreas tão ricas?
Não pense que há ingenuidade fora dos círculos de bobões que ficam dizendo que a empresa é um antro de roubalheiras.

A roubalheira que se planeja é muito maior que a de Paulo Roberto Costa.
Bilhões de vezes maior.

Gabrielli, dava para pegar o Paulo Roberto ? A Petrobras licita segundo regras de Fernando Henrique e Gilmar Mendes.




Gabrielli: o STF deu à Petrobras liminares que garantem a legalidade do decreto FHC/Gilmar

O ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, afirmou, nesta terça-feira (10), que a corrupção na Petrobras, investigada pela Operação Lava-Jato, ocorreu “fora da empresa”, e que, portanto, “era impossível a petroleira investigar” o ocorrido.

Em entrevista ao Conversa Afiada, que você pode assistir em vídeo, Gabrielli esclarece como se dava a ilegalidade cometida pelo diretor de Abastecimento, Paulo Roberto, e o gerente de Engenharia Pedro Barusco a partir do minuto 8′40.

Segundo Gabrielli, a operação envolvia o empreiteiro, o fornecedor do empreiteiro e o doleiro. “Então, é impossível no sistema da Petrobras se perceber isso”, relata ao ansioso blogueiro com exclusividade.

“Só se vai perceber [a corrupção] com uma ação da polícia, que foi o que aconteceu. A Polícia Federal saiu de uma investigação de um doleiro, por razões que nada tinham com a Petrobras, chega o Paulo Roberto, ele faz uma delação premiada e as investigações se aprofundam”, lembra Gabrielli, que define Paulo Roberto como “operador da relação das empresas com a Petrobras”.

“E a Petrobras não tinha como saber disso. Não tinha como nós da diretoria sabermos disso”, revela.

Já no início da conversa, o ex-presidente Petrobras falou das ferramentas utilizadas para se combater os atos ilícitos na empresa e do balanço que ainda não foi assinado pela audi​tora americana Price & Waterhouse.

(Leia também “Bendine vs Price. O balanço da Petrobras”.)

A partir do minuto 3′25, Gabrielli explica como funciona o processo de licitação da Petrobras.

“A Petrobras tem um cadastro das empresas fornecedoras, que é muito rígido em que são analisadas as condições técnicas da empresa, a experiência dela… Você faz uma avaliação do que ela tem em contrato com a Petrobras de três em três meses, um relatório chamado BAT (Boletim de Avaliação de Desempenho) e dá uma nota ao fornecedor.Quando você vai fazer uma licitação, você escolhe do cadastro da Petrobras os fornecedores pré-qualificados que podem entrar na concorrência”, declarou.

Por fim, Gabrielli diz ser “impossível” registrar o valor da corrupção no balanço companhia. “Não há a possibilidade de se fazer previsões para corrupção. Você tem que provar que teve corrupção para lançar”.


Leia a entrevista na íntegra:


PHA: Não havia um controle possível para controlar a corrupção?
Os controles após a lei Sarbanes-Oxley​, que foram aplicados na Petrobras em 2006 – uma lei americana para aumentar os controles das empresas internacionais e das empresas com ações negociadas em bolsas, que é o caso da Petrobras – esses controles exigem em que todo ano se faça um processo de certificação, em que se faz ​em​ testes das informações que estão no seu balanço e se essas informações representam a realidade.

Isso envolve milhares de processos e centenas de testes. E o certificador atesta que os valores estão de acordo com a realidade da empresa.

Isso foi certificado em 2006, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2011 pela KPMG.

Em 2012, 2013 foram certificados também pela Price & Waterhouse.

Só em 2014 que a Price está gerando dúvidas por causa das confissões de Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, um diretor da Petrobras e outro gerente de uma empresa com mais de 3000 gerentes com cerca de 100 de primeira linha.

Após as denuncias de Paulo Roberto, a Petrobras contrata dois escritórios, um brasileiro e outro norte-americano especializados na investigação desse tipo de fraude.

Tem dezenas de técnicos da Petrobras trabalhando em comissões internas para avaliar essa questão.

Os setores financeiros da companhia estão se debruçando inteiramente e não chegam a uma conclusão.

E centenas de policiais investigando o assunto e apesar disso você não tem uma visão clara do que aconteceu.

Como é que um procedimento normal de uma empresa que chegou a ter 240 mil contratos por ano você descobre um comportamento que é de fora da empresa? É praticamente impossível se encontrar isso.



PHA: Nesse caso especifico, de dois funcionários, um diretor e um gerente de alto nível, como se aprova uma concorrência, como se faz um processo de compra de um copo, um clips na Petrobras?
É preciso distinguir o que é despesa de custeio do investimento.

A Petrobras hoje, o plano de investimento dela deve ter mais de 750 projetos.

E tem projetos de vários tipos: os que estão na fase embrionárias de ideias ou fase um, a segunda fase é o projeto conceitual, na fase três é o chamado projeto básico, a fase quatro é a de contratação, que é quando se tem já uma ideia mais definida do que é que se vai contratar.

Essas quatro fases são fundamentais para ver como o processo decisório da Petrobras não é uma decisão individual. Não há decisões individuais na Petrobras. São todas coletivas.

A responsabilidade dos diretores é de até US$ 25 milhões, mas eles não tomam decisões individuais, eles fazem isso junto com comitês de gerentes.


PHA: Nessa fase quatro, na hora de comprar o equipamento e contratar uma empreiteira, como é feita a escolha? Ao escolher, não havia como controlar?

A Petrobras tem um cadastro das empresas fornecedoras, que é muito rígido em que são analisadas as condições técnicas da empresa, a experiência dela… Você faz uma avaliação do que ela tem em contrato com a Petrobras de três em três meses, um relatório chamado BAT (Boletim de Avaliação de Desempenho) e dá uma nota ao fornecedor.

Quando você vai fazer uma licitação, você escolhe do cadastro da Petrobras os fornecedores pré-qualificados que podem entrar na concorrência.

Feita a concorrência, se chama os fornecedores para fazer aquele projeto.

Ao mesmo tempo, a Petrobras faz uma avaliação interna dela de quanto custa aquele projeto.

Então, ela tem uma avaliação própria dos custo e recebe as ofertas. Compara o proposto com a avaliação dela e se for compatível com as regras internacionalmente aceitas, se chama a empresa para negociar quanto é a margem de ganho que ela vai ter, o chamado BDI.

Essa margem de ganho também tem limites e, geralmente, você negocia para baixo essa margem.

O Paulo Roberto e o Pedro Barusco disseram que fizeram tudo isso. O que eles dizem é que seguiram as regras, baixaram os preços, baixaram os BDIs. Então, dentro da Petrobras estava tudo dentro dos conformes.



PHA: Como se dá a ilegalidade?
O processo ocorre fora da Petrobras.

O que eles dizem: o fornecedor da Petrobras ( o empreiteiro) na relação dele com o seu fornecedor (o fornecedor do empreiteiro, que não é o da Petrobras) junto com um doleiro faz uma negociação e coloca dinheiro em uma conta A,B ou C sem envolver a Petrobras.

Então, é impossível no sistema da Petrobras se perceber isso.

Só se vai perceber com uma ação da polícia, que foi o que aconteceu. A Polícia Federal saiu de uma investigação de um doleiro, por razões que nada tinham com a Petrobras, chega o Paulo Roberto, ele faz uma delação premiada e as investigações se aprofundam.

Era impossível a Petrobras investigar isso.



PHA: O Paulo Roberto fala que a operação com ele moveu algo em torno de US$ 2 bi.
Onde está isso? O que está comprovado é muito menos do que isso.

Esse processo vai tirar a fumaça que tem e ficará evidente que esse é um problema policial de dois funcionários que se locupletaram com muito dinheiro, mas que, em relação à Petrobras, não é muito dinheiro.


PHA: ​Por ​que interessa​ria​ a empreiteira subornar o Paulo Roberto ou o Barusco​ -​​ e eles colocarem dinheiro lá fora com o Yousseff​ – ​se existe essa regra toda e não ​há​ como ultrapassar esse limite de lucro fixado dentro da Petrobras?
Porque tem muita coisa que vem da escala, não vem da margem, vem do tamanho da Petrobras. E vem da especialização.

Nem toda empresa faz sondas, plataformas… Não se acha em prateleiras.

Então, a maior parte das aquisições da Petrobras é feita sob encomenda. Tem poucos produtores desses ativos sob encomendas.

A disputa entre eles para ver quem vai fornecer é muito grande.

Em geral, como todos os empreiteiros, eles têm um capital de giro pequeno.

A medida que eles têm um capital de giro pequeno, eles vão fazendo o que chama de pedalada, que é uma obra financiando a outra. Eles precisam está continuamente fazendo obras



PHA: Pode-se imaginar que o produto do Paulo Roberto era ajudar mais a empreiteira A e menos a empreiteira B e,​ portanto​,​ permitir o ganho na escala. Então​,​ ele é um operador de cartel?

Eu não posso dizer se é um cartel, mas ele era o operador dessa relação das empresas com a Petrobras.

E a Petrobras não tinha como saber disso. Não tinha como nós da diretoria sabermos disso.



PHA: Como é o processo de licitação, é uma licitação pública, todo mundo pode se inscrever ou tem uma regra pré-determinada?
As compras da Petrobras são regidas pelo decreto 2745, de 1998 do governo Fernando Henrique Cardoso, que foi assinado no mesmo momento em que foi aberto o mercado brasileiro de petróleo.

Na medida que se abriu o mercado de petróleo, você ia ter empresa que não estão concorrendo com condições competitivas muito melhores do que uma empresa do Estado Brasileiro que tinha limitações da lei 8666, que fixa as licitações do setor público.

Então, a Petrobras tem um regime diferenciado de compras.



PHA: É da época do FHC e no tempo que o Advogado ​G​eral da União era o Ministro Gilmar Mendes…
Esse decreto, dessa época, o TCU acha inconstitucional. O STF ainda não julgou se é ​con​stitucional ou não. Mas já julgou várias liminares da Petrobras em relação ao TCU dando ganho de causa à Petrobras e obrigando-a a aplicar o decreto do FHC.


PHA: E o que diz esse decreto?
Esse decreto permite à Petrobras fazer uma licitação em um processo chamado Carta Convite, em que você chama os concorrentes independente dos limites dessas concorrentes.

No caso do petróleo, como as licitações são muito altas, se permite que se chame algumas empresas que são especiais, capazes de fornecer aqueles produtos customizados que a Petrobras precisa, com necessidades de segurança e de entrega.

Por isso, você tem um cadastro prévio dessas empresas. Um cadastro que é continuo, com empresas habilitadas, avaliadas.



PHA: Não é uma concorrência, é uma licitação.
Uma licitação com carta convite e ganha aquele que oferece a melhor condição, que pode ser preço ou, às vezes, melhor técnica.


PHA: ​C​omo o senhor avalia que isso po​ssa​ ter acontecido desde o governo FHC mesmo com a chegada do Partido dos Trabalhadores ao poder?

É um fenômeno localizado. Nós temos uma empresa com 240 mil contratos no ano, três mil gerentes tomando decisão, 750 projetos e com um investimento que chegou a ter US$ 45 bilhões ao ano, o que é extraordinário. Em 2002, eram US$ 5 bilhões.

Então, o volume do investimento dá margem para que alguns ganhem um volume de dinheiro muito grande com comportamento corrupto.

Esse comportamento corrupto não pode ser generalizado, não são todos os processos da Petrobras que estão contaminados com isso.



PHA: Qual era a diretoria do Paulo Roberto?

A de Abastecimento, que cuida do refino, da compra e venda de petróleo.


PHA: Portanto, não tem nada a ver com as outras diretorias?
A de Abastecimento cuida da compra e venda de derivados. A Petrobras tem uma diretoria de RP que é de exploração e produção de petróleo e gás, tem uma de Gás e Energia, que é de onde veio a graça Foster, que usa o gás e produz energia, tem uma de Engenharia, uma de Serviços, uma de Recursos Humanos, de Responsabilidade Social, tem uma financeira e tinha uma Internacional que a graça assumiu.


PHA: O Paulo Roberto tinha um âmbito localizado?
Ele tratava do refino, da petroquímica e da compra e venda de produtos e derivados.


PHA: E o Barusco?
Ele era gerente da Engenharia, que é uma diretoria que presta serviços às outras diretorias, que tem efeito interno. Ela acompanha a construção e tem um papel de engenheiro geral prestando serviços às outras diretorias que são diretorias fins de negócios.


PHA: Até junho, a Price deve assinar ou não o balanço da Petrobras. Será possível registrar o valor da corrupção?
Eu acho quase impossível antes de comprovar o que foi a corrupção, que é um problema da polícia, da justiça, não é um problema da contabilidade.

Você tem que fazer anualmente uma avaliação no valor dos ativos ao valor de recuperação. Isso não tem nada ver com corrupção.

Quando se identifica que houve corrupção, há as penalidades que a empresa sofre, há a responsabilidade individualizada de cada um e se for evidente, tem que se lançar resultado depois de comprovado definitivamente o processo de corrupção.

Não há a possibilidade de se fazer previsões para corrupção. Você tem que provar que teve corrupção para lançar.






 Leia a entrevista na íntegra:


PHA: Não havia um controle possível para controlar a corrupção?
Os controles após a lei Sarbanes-Oxley​, que foram aplicados na Petrobras em 2006 – uma lei americana para aumentar os controles das empresas internacionais e das empresas com ações negociadas em bolsas, que é o caso da Petrobras – esses controles exigem em que todo ano se faça um processo de certificação, em que se faz ​em​ testes das informações que estão no seu balanço e se essas informações representam a realidade.

Isso envolve milhares de processos e centenas de testes. E o certificador atesta que os valores estão de acordo com a realidade da empresa.

Isso foi certificado em 2006, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2011 pela KPMG.

Em 2012, 2013 foram certificados também pela Price & Waterhouse.

Só em 2014 que a Price está gerando dúvidas por causa das confissões de Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, um diretor da Petrobras e outro gerente de uma empresa com mais de 3000 gerentes com cerca de 100 de primeira linha.

Após as denuncias de Paulo Roberto, a Petrobras contrata dois escritórios, um brasileiro e outro norte-americano especializados na investigação desse tipo de fraude.

Tem dezenas de técnicos da Petrobras trabalhando em comissões internas para avaliar essa questão.

Os setores financeiros da companhia estão se debruçando inteiramente e não chegam a uma conclusão.

E centenas de policiais investigando o assunto e apesar disso você não tem uma visão clara do que aconteceu.

Como é que um procedimento normal de uma empresa que chegou a ter 240 mil contratos por ano você descobre um comportamento que é de fora da empresa? É praticamente impossível se encontrar isso.



PHA: Nesse caso especifico, de dois funcionários, um diretor e um gerente de alto nível, como se aprova uma concorrência, como se faz um processo de compra de um copo, um clips na Petrobras?
É preciso distinguir o que é despesa de custeio do investimento.

A Petrobras hoje, o plano de investimento dela deve ter mais de 750 projetos.

E tem projetos de vários tipos: os que estão na fase embrionárias de ideias ou fase um, a segunda fase é o projeto conceitual, na fase três é o chamado projeto básico, a fase quatro é a de contratação, que é quando se tem já uma ideia mais definida do que é que se vai contratar.

Essas quatro fases são fundamentais para ver como o processo decisório da Petrobras não é uma decisão individual. Não há decisões individuais na Petrobras. São todas coletivas.

A responsabilidade dos diretores é de até US$ 25 milhões, mas eles não tomam decisões individuais, eles fazem isso junto com comitês de gerentes.


PHA: Nessa fase quatro, na hora de comprar o equipamento e contratar uma empreiteira, como é feita a escolha? Ao escolher, não havia como controlar?

A Petrobras tem um cadastro das empresas fornecedoras, que é muito rígido em que são analisadas as condições técnicas da empresa, a experiência dela… Você faz uma avaliação do que ela tem em contrato com a Petrobras de três em três meses, um relatório chamado BAT (Boletim de Avaliação de Desempenho) e dá uma nota ao fornecedor.

Quando você vai fazer uma licitação, você escolhe do cadastro da Petrobras os fornecedores pré-qualificados que podem entrar na concorrência.

Feita a concorrência, se chama os fornecedores para fazer aquele projeto.

Ao mesmo tempo, a Petrobras faz uma avaliação interna dela de quanto custa aquele projeto.

Então, ela tem uma avaliação própria dos custo e recebe as ofertas. Compara o proposto com a avaliação dela e se for compatível com as regras internacionalmente aceitas, se chama a empresa para negociar quanto é a margem de ganho que ela vai ter, o chamado BDI.

Essa margem de ganho também tem limites e, geralmente, você negocia para baixo essa margem.

O Paulo Roberto e o Pedro Barusco disseram que fizeram tudo isso. O que eles dizem é que seguiram as regras, baixaram os preços, baixaram os BDIs. Então, dentro da Petrobras estava tudo dentro dos conformes.



PHA: Como se dá a ilegalidade?
O processo ocorre fora da Petrobras.

O que eles dizem: o fornecedor da Petrobras ( o empreiteiro) na relação dele com o seu fornecedor (o fornecedor do empreiteiro, que não é o da Petrobras) junto com um doleiro faz uma negociação e coloca dinheiro em uma conta A,B ou C sem envolver a Petrobras.

Então, é impossível no sistema da Petrobras se perceber isso.

Só se vai perceber com uma ação da polícia, que foi o que aconteceu. A Polícia Federal saiu de uma investigação de um doleiro, por razões que nada tinham com a Petrobras, chega o Paulo Roberto, ele faz uma delação premiada e as investigações se aprofundam.

Era impossível a Petrobras investigar isso.



PHA: O Paulo Roberto fala que a operação com ele moveu algo em torno de US$ 2 bi.
Onde está isso? O que está comprovado é muito menos do que isso.

Esse processo vai tirar a fumaça que tem e ficará evidente que esse é um problema policial de dois funcionários que se locupletaram com muito dinheiro, mas que, em relação à Petrobras, não é muito dinheiro.


PHA: ​Por ​que interessa​ria​ a empreiteira subornar o Paulo Roberto ou o Barusco​ -​​ e eles colocarem dinheiro lá fora com o Yousseff​ – ​se existe essa regra toda e não ​há​ como ultrapassar esse limite de lucro fixado dentro da Petrobras?
Porque tem muita coisa que vem da escala, não vem da margem, vem do tamanho da Petrobras. E vem da especialização.

Nem toda empresa faz sondas, plataformas… Não se acha em prateleiras.

Então, a maior parte das aquisições da Petrobras é feita sob encomenda. Tem poucos produtores desses ativos sob encomendas.

A disputa entre eles para ver quem vai fornecer é muito grande.

Em geral, como todos os empreiteiros, eles têm um capital de giro pequeno.

A medida que eles têm um capital de giro pequeno, eles vão fazendo o que chama de pedalada, que é uma obra financiando a outra. Eles precisam está continuamente fazendo obras



PHA: Pode-se imaginar que o produto do Paulo Roberto era ajudar mais a empreiteira A e menos a empreiteira B e,​ portanto​,​ permitir o ganho na escala. Então​,​ ele é um operador de cartel?

Eu não posso dizer se é um cartel, mas ele era o operador dessa relação das empresas com a Petrobras.

E a Petrobras não tinha como saber disso. Não tinha como nós da diretoria sabermos disso.



PHA: Como é o processo de licitação, é uma licitação pública, todo mundo pode se inscrever ou tem uma regra pré-determinada?
As compras da Petrobras são regidas pelo decreto 2745, de 1998 do governo Fernando Henrique Cardoso, que foi assinado no mesmo momento em que foi aberto o mercado brasileiro de petróleo.

Na medida que se abriu o mercado de petróleo, você ia ter empresa que não estão concorrendo com condições competitivas muito melhores do que uma empresa do Estado Brasileiro que tinha limitações da lei 8666, que fixa as licitações do setor público.

Então, a Petrobras tem um regime diferenciado de compras.



PHA: É da época do FHC e no tempo que o Advogado ​G​eral da União era o Ministro Gilmar Mendes…
Esse decreto, dessa época, o TCU acha inconstitucional. O STF ainda não julgou se é ​con​stitucional ou não. Mas já julgou várias liminares da Petrobras em relação ao TCU dando ganho de causa à Petrobras e obrigando-a a aplicar o decreto do FHC.


PHA: E o que diz esse decreto?
Esse decreto permite à Petrobras fazer uma licitação em um processo chamado Carta Convite, em que você chama os concorrentes independente dos limites dessas concorrentes.

No caso do petróleo, como as licitações são muito altas, se permite que se chame algumas empresas que são especiais, capazes de fornecer aqueles produtos customizados que a Petrobras precisa, com necessidades de segurança e de entrega.

Por isso, você tem um cadastro prévio dessas empresas. Um cadastro que é continuo, com empresas habilitadas, avaliadas.



PHA: Não é uma concorrência, é uma licitação.
Uma licitação com carta convite e ganha aquele que oferece a melhor condição, que pode ser preço ou, às vezes, melhor técnica.


PHA: ​C​omo o senhor avalia que isso po​ssa​ ter acontecido desde o governo FHC mesmo com a chegada do Partido dos Trabalhadores ao poder?

É um fenômeno localizado. Nós temos uma empresa com 240 mil contratos no ano, três mil gerentes tomando decisão, 750 projetos e com um investimento que chegou a ter US$ 45 bilhões ao ano, o que é extraordinário. Em 2002, eram US$ 5 bilhões.

Então, o volume do investimento dá margem para que alguns ganhem um volume de dinheiro muito grande com comportamento corrupto.

Esse comportamento corrupto não pode ser generalizado, não são todos os processos da Petrobras que estão contaminados com isso.



PHA: Qual era a diretoria do Paulo Roberto?

A de Abastecimento, que cuida do refino, da compra e venda de petróleo.


PHA: Portanto, não tem nada a ver com as outras diretorias?
A de Abastecimento cuida da compra e venda de derivados. A Petrobras tem uma diretoria de RP que é de exploração e produção de petróleo e gás, tem uma de Gás e Energia, que é de onde veio a graça Foster, que usa o gás e produz energia, tem uma de Engenharia, uma de Serviços, uma de Recursos Humanos, de Responsabilidade Social, tem uma financeira e tinha uma Internacional que a graça assumiu.


PHA: O Paulo Roberto tinha um âmbito localizado?
Ele tratava do refino, da petroquímica e da compra e venda de produtos e derivados.


PHA: E o Barusco?
Ele era gerente da Engenharia, que é uma diretoria que presta serviços às outras diretorias, que tem efeito interno. Ela acompanha a construção e tem um papel de engenheiro geral prestando serviços às outras diretorias que são diretorias fins de negócios.


PHA: Até junho, a Price deve assinar ou não o balanço da Petrobras. Será possível registrar o valor da corrupção?
Eu acho quase impossível antes de comprovar o que foi a corrupção, que é um problema da polícia, da justiça, não é um problema da contabilidade.

Você tem que fazer anualmente uma avaliação no valor dos ativos ao valor de recuperação. Isso não tem nada ver com corrupção.

Quando se identifica que houve corrupção, há as penalidades que a empresa sofre, há a responsabilidade individualizada de cada um e se for evidente, tem que se lançar resultado depois de comprovado definitivamente o processo de corrupção.

Não há a possibilidade de se fazer previsões para corrupção. Você tem que provar que teve corrupção para lançar.






Lava Jato: demissões, que, no Globo, viram detalhe

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Os efeitos práticos da Operação Lava Jato começam a ser sentidos na economia e na vida real da população brasileira; ontem, trabalhadores do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, que estão com os salários atrasados, fecharam a ponte Rio-Niterói, e protestaram diante da Petrobras; na cobertura do jornal 'O Globo', a ponte se tornou 'refém de um protesto', que não teria sido devidamente reprimido; tom adotado pelo Globo é previsível; irmãos Marinho defendem o fim da política de conteúdo nacional e até a quebra das empreiteiras brasileiras; em artigo publicado na revista Fórum, o jornalista Renato Rovai defende a urgência de que a Petrobras trave a batalha da comunicação em defesa dos empregos; "Optar pelo não enfrentamento e deixar a Petrobras ao bel prazer da narrativa da mídia tradicional, que bate na companhia há um ano, é abrir mão não apenas da disputa política, mas deixar que se desconstrua toda uma estratégia de Estado erguida há anos", diz ele 

Rio 247 - A população do Rio de Janeiro sentiu, ontem, os efeitos práticos da Operação Lava Jato. Funcionários que trabalham nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o Comperj, fecharam a ponte Rio-Niterói, em protesto contra os salários atrasados. O motivo: uma das empreiteiras envolvidas, a Alumini, foi atingida pela Lava Jato, perdeu o crédito na praça e entrou em recuperação judicial.
Assim como a Alumini, diversas outras empreiteiras, em especial as que tiveram executivos presos (de forma preventiva há três meses), como a OAS, entraram em grave crise financeira e estão demitindo seus funcionários. Estimativas do setor privado apontam que a Lava Jato poderá retirar um ponto percentual do PIB brasileiro em 2015, num ano já tomado por perspectivas sombrias.

Diante do quadro, a narrativa da mídia tradicional tem fechado os olhos para a crise que se avizinha – ou melhor, em alguns casos, até a estimula.

O exemplo mais emblemático é o do Grupo Globo. No fim de semana, os procuradores que conduzem a Lava Jato ao lado do juiz Sergio Moro foram tratados como heróis, em Época (leia aqui). Nesta quarta-feira, a ponte Rio-Niterói, no jornal 'O Globo', se tornou 'refém de um protesto', que, segundo o jornal, deveria ter sido duramente reprimido pela polícia. Eis a chamada de primeira página:

"Sem repressão de agendas da Polícia Rodoviária Federal, cerca de 200 funcionários do Comperj, sem salários desde dezembro, fecharam por duas horas a ponte Rio-Niterói. Milhares de pessoas ficaram presas em engarrafamentos e até ambulâncias não puderam passar na via. Para especialistas, direito de ir e vir foi ignorado."

Para o Globo, o direito dos trabalhadores ao salário, ou dos executivos presos às garantias individuais que garantem a possibilidade de se defender em liberdade, é menos relevante do que o de transitar na ponte. Por trás disso, há também uma batalha ideológica. Os irmãos Marinho, que controlam o Grupo Globo, defendem o fim da política de conteúdo nacional nas encomendas da Petrobras, a abertura do pré-sal a empresas estrangeiras, a substituição de empreiteiras nacionais por firmas internacionais e até a privatização da estatal – objetivos que podem vir a ser alcançados, a depender dos desdobramentos da Lava Jato.

Nesse contexto, é natural que o emprego e o salário do trabalhador brasileiro se transforme em apenas um detalhe. Um incômodo que atrapalha o trânsito.

Batalha da comunicação

Diante de um ano com perspectivas já sombrias para a economia brasileira, o que de pior poderia aconteceria seria a contaminação das expectativas empresariais por demissões em massa no setor empresarial, em especial na indústria naval e do setor de óleo e gás. Em razão disso, 247 republica artigo de Renato Rovai, da revista Fórum, que defende a batalha da comunicação em defesa dos empregos e do interesse nacional:

A Petrobras perde na comunicação. E o Brasil pode perder empregos

Por Renato Rovai

Fórum participou na noite desta segunda-feira (9) de um bate-papo informal promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé com o ex-presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. Da conversa, que teve pouco mais de duas horas, foi possível colher informações sobre a atual situação da maior empresa brasileira e também uma certeza: a Petrobras está perdendo feio a batalha da comunicação.
Não, o ex-mandatário da companhia não disse isso, mas observando seus argumentos a respeito da crise que ronda a empresa e que é alvo principal da batalha político-midiática que ameaça o governo Dilma, é fácil chegar a essa constatação. Gabrielli discorre com facilidade a respeito de boa parte da pauta repisada por parte da mídia desde o ano passado contra a Petrobras. Não nega que haja problemas, e muitos, mas reivindica que sejam reconhecidos os avanços obtidos nos últimos anos, e pede que não se confunda a instituição com os malfeitores.

Invocou a lembrança da reorientação na direção da companhia no primeiro governo Lula, quando não só houve uma mudança na tendência ao fatiamento da empresa, que rumava em um norte privatista, como também um direcionamento para que a petrolífera passasse a fazer parte integrante das políticas públicas estratégicas do governo, fomentando, por exemplo, o renascimento da indústria naval brasileira.

O renascimento se deu com a instituição da política de conteúdo nacional. Ao invés de encomendar plataformas e outros equipamentos fora do país, a empresa passou a fazer encomendas dentro do país. Política que, agora, se encontra em risco em função da ameaça aos contratos firmados que envolvem a geração de empregos como o que estabelece a construção de 29 sondas com a Sete Brasil, empresa responsável por um programa de 25,7 bilhões de dólares. Como em três dos cinco principais estaleiros e em cinco das oito operadoras de sondas as sócias são empreiteiras envolvidas na Lava Jato, a execução do programa, que teve uma proposta de financiamento adiada pelo BNDES na última sexta-feira (6), está em risco. Estima-se em 149 mil os empregos diretos e indiretos envolvidos na construção das sondas (ver mais detalhes em matéria aqui).

O fato, reforçado por Gabrielli, mas não só por ele, é que o impacto da redução dos investimentos da Petrobras sobre a economia em 2015 pode ser um aumento do desemprego e a redução do PIB brasileiro. A médio prazo, a política de conteúdo nacional fica comprometida. Combinando-se uma política de contenção fiscal e elevação de taxa de juros, o resultado certo é uma recessão durante o ano.

E um dos grandes problemas, e isso é conclusão de quem escreve, é que o governo não tem a clareza para se expressar a respeito da Petrobras e do que ela representa com a limpidez que faz o ex-presidente da companhia em um bate-papo. Ele, aliás, foi o responsável pela montagem do Fatos e Dados, blogue da Petrobras que, no passado, desmoralizou parte da mídia tradicional ao fazer o enfrentamento não só na área da comunicação, mas também o embate político para desmentir o que revistas e jornais costumavam falar sem a devida contra-argumentação. No ano passado, em entrevista a blogueiros, o ex-presidente Lula chegou a questionar: onde está o blogue da Petrobras? Até hoje a pergunta está no ar.

Optar pelo não enfrentamento e deixar a Petrobras ao bel prazer da narrativa da mídia tradicional, que bate na companhia há um ano, é abrir mão não apenas da disputa política, mas deixar que se desconstrua toda uma estratégia de Estado erguida há anos. Ainda há tempo para reagir, mas, hoje, mais um 7 a 1 se desenha.