por Luiz Carlos Azenha
Existe um submundo nas campanhas eleitorais, pouco investigado pela mídia. Fica na confluência do trabalho de arapongas do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), dos “agentes informais” da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), dos delegados ou ex-delegados de polícia com os pesquisadores contratados por campanhas para levantar a sujeira de adversários.
Esses dados podem nem mesmo ser usados durante a campanha, mas podem aflorar se forem convenientes para o assassinato de reputações ou oferecerem alguma perspectiva de causar impacto eleitoral.
Em 2008, por exemplo, tivemos uma tentativa preliminar de desqualificar a então ministra Dilma Rousseff com o dossiê dos gastos de cartão corporativo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso:
Dossiê da Casa Civil contra FHC foi decisão de governo, anunciou na época o Estadão, sugerindo na manchete uma conspiração governamental.
Tivemos outros “dossiês” desde então, como a carta apócrifa com supostas acusações ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, um caso único em que a própria vítima (ou suposta vítima) desqualificou o “dossiê”:
“Vítima” de “dossiê” da Folha reclama que a Folha inventou dossiê, eu escrevi na época.
Mais além, tivemos a reportagem da revista Veja com o sindicalista Wagner Cinchetto, tentando atribuir ao PT — e não a José Serra — a operação Lunus, que afastou Roseana Sarney da corrida eleitoral em 2002.
Hoje, aliás, Cinchetto estrela a página A8 do Estadão: É uma tentativa de desqualificar Serra na mão grande, diz ele.
Leandro Fortes, que acompanhou de perto o caso Lunus, rebateu essa “teoria” sobre o caso Lunus aqui.
Nunca é demais lembrar o discurso do próprio José Sarney, no Senado, denunciando o caso Lunus como uma operação que beneficiava José Serra. O discurso está aqui.
No caso da violação do sigilo de contribuintes por funcionários da Receita Federal, em Mauá, há várias possibilidades:
1. Que, de fato, possa ter partido de gente ligada a campanhas eleitorais;
2. Que possa ter sido crime comum, de gente disposta a promover achaques e extorsões;
3. Que tenha sido um serviço de contrainteligência, ou seja, “plantar” um problema para explorar no momento certo.
Ou seja, é prematuro chegar a uma conclusão a partir de fragmentos de informação, especialmente quando esses fragmentos podem ser descontextualizados para uso eleitoral.
É muito importante lembrar do grampo sem áudio, que derrubou Paulo Lacerda da ABIN e que nunca se materializou. Nem precisa mais aparecer o áudio: o objetivo político daquela denúncia de Veja foi atingido.
Agora, com José Serra em queda e o reduto eleitoral tucano em São Paulo ameaçado pela candidatura de Aloízio Mercadante, o uso de um ou mais dossiês faz sentido político, já que os eleitores mais suscetíveis a esse tipo de denúncia são os de classe média, para os quais o sigilo de dados financeiros conta.
José Eduardo Dutra, o presidente do PT, foi hábil ao lembrar que houve outras ocasiões em que dossiês foram usados pela oposição com a mídia se preocupando apenas em repercutir o conteúdo, sem denunciar o uso de dossiês.
Ou seja, tudo depende da conveniência política.
Seja como for, parece que chegou o momento Ali Kamel da campanha: serão algumas capas da revista Veja, sempre trazendo “bombas”, devidamente repercutidas no Jornal Nacional, com as manchetes produzidas pelos jornais enfeitando a propaganda eleitoral de José Serra.
Qual o impacto de um mês disso no resultado da eleição? A ver.
Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista
sábado, 28 de agosto de 2010
Globo repete no JN manipulação de 1989 no debate Lula x Collor e o esconde-esconde das Diretas Já O Jornal Nacional da TV Globo é obrigado pela legisl
No quadro "o dia dos candidatos", se o JN dá, por exemplo, 1 minuto para cada candidato, tem escolhido "os melhores momentos de Serra" (se é que isso é possível), e escondido os melhores momentos de Dilma.
Essa foi a mesma estratégia usada pela Globo em 1989, quando editou "os melhores momentos" do debate Lula x Collor em 1989. A Globo escolheu os melhores momentos de Collor, e os piores de Lula, não refletindo a verdade do que foi o debate.
Agora está fazendo o mesmo no JN, de forma mais dissimulada, porque é só cerca de 1 minuto por dia.
Ontem, na sexta-feira, colocou os dois candidatos falando sobre a sigilo fiscal de tucanos amigos de Serra, envolvidos em escândalos de corrupção (é claro que o JN não falou dos escândalos, e sim apresentou Serra como "vítima", e colocou Dilma respondendo sobre o mesmo assunto, e ela até se saiu bem, mas a questão é a pauta).
Por que não editar pergunta sobre o resultado das pesquisas, por exemplo? Dilma estaria respondendo satisfeita, mas que não há lugar para salto alto. E Serra com cara amarrada, dizendo não comentar pesquisas.
Uma edição honesta do telejornal poderia colocar Serra falando sobre o suposto "dossiê" que ninguém viu (a pauta de Serra), e Dilma falando das pesquisas (uma pauta razoável para Dilma).
Outra coisa inexplicável é o JN não mostrar os grandes comícios de Dilma. São comícios populares, muitos com mais de 20 mil pessoas, que é notícia em qualquer lugar do mundo. Mas o JN esconde, igual escondeu os comícios das "Diretas Já". Quem assiste ao telejornal da Globo de ontem não ficou sabendo que na noite anterior houve um grande comício em Salvador (BA). Foi o maior evento de campanha de Dilma naquela data, por isso o JN não poderia ignorar.
Com tudo isso, com toda essa manipulação, as intenções de voto em Dilma só aumentam, e as de Serra só caem.
Mídia eletrônica viola lei eleitoral ao apoiar acusações do PSDB
O vídeo acima, editado pelo blog Cloaca News, comprova o que a maioria do eleitorado já captou: emissoras de TV, rádios, jornais, revistas e portais de internet estão infringindo a lei eleitoral ao endossarem as acusações da campanha de José Serra contra o governo Lula de que este teria usado a Receita Federal para violar o sigilo fiscal de aliados do candidato tucano à Presidência, visando atingi-lo.
No vídeo, Willian Waack, sem perceber que o áudio do estúdio de gravação do Jornal da Globo estava aberto, mandou Dilma Rousseff calar a boca enquanto o telejornal exibia gravação em áudio e vídeo da candidata rebatendo as acusações tucanas – esse áudio aberto em telejornais ainda fará muitas vítimas.
Até aí, porém, não há infração da lei eleitoral.É óbvio que foi um descuido – a menos que a Globo tenha pirado de vez e esteja usando a estratégia de fingir vazamento de áudio para insultar a inimiga política. A violação da lei está nos comentários que vi e ouvi o âncora Waack fazer no mesmo Jornal da Globo ou a âncora Maria Lydia Flandoli fazer no da Gazeta, isto é, dar de barato que Dilma, Lula e o PT fizeram aquilo de que Serra os acusa.
É infração da lei eleitoral porque não há prova alguma, indício algum de que os petistas estejam envolvidos no vazamento. Há, apenas, a palavra dos tucanos, Serra à frente, o qual está sendo processado pelo PT por fazer acusação falsa.
Fora do período eleitoral já seria errado e passível até de reação dos acusados na Justiça, mas aí essa pratica apenas se amontoaria junto a montes de outras nas quais a mídia eletrônica fica ao lado dos tucanos contra os petistas sem que existam provas que sustentem uma tomada de posição. No período eleitoral, porém, a coisa é mais grave.
É inaceitável, fazerem isso. O eleitorado está demonstrando, pesquisa após pesquisa, que já esperava acusações como essa por parte da mídia e dos tucanos. Mas isso não elide o fato de que concessões públicas de rádio e tevê, que pertencem a petistas, tucanos, budistas, muçulmanos, corintianos e palmeirenses, entre tantos outros, não podem ser usadas em favor de um grupo político durante processos eleitorais.
E todos sabem que isso está acontecendo. O jornal O Globo, por exemplo, publicou matéria que deixa perfeitamente claro que a campanha de Serra está tentando usar o noticiário e a acusação sem provas que fez para reverter sua dramática situação eleitoral. Reproduzo, abaixo, matéria do veículo publicada em sua edição de sexta-feira.
Queda de Serra até em SP preocupa tucanos
Pesquisa do Datafolha mostra que Dilma cresceu mais e abriu vantagem de 20 pontos sobre o adversário
Gerson Camarotti, Cristiane Jungblut e Chico de Gois
O resultado da pesquisa Datafolha, divulgado ontem pela “Folha de S.Paulo” e que mostra que a petista Dilma Rousseff abriu vantagem de 20 pontos sobre o tucano José Serra, provocou um clima de desânimo na oposição. De forma reservada, a avaliação no PSDB é que, com este cenário, dificilmente haverá segundo turno.
Para tucanos, o maior pesadelo foi concretizado: Dilma ultrapassou Serra até mesmo em São Paulo, onde ele era governador até março. O sentimento generalizado no ninho tucano era de surpresa e perplexidade. E também de que, agora, só mesmo uma reviravolta na campanha poderia mudar este quadro.
A pesquisa, realizada nos dias 23 e 24, mostra Dilma com 49% das intenções de voto, contra 29% de Serra e 9% da candidata do PV, Marina Silva.
Segundo a pesquisa, a dianteira de Dilma se consolidou em todas as regiões do país e também em todas as faixas de renda, inclusive entre os que ganham mais de dez salários mínimos: entre esses eleitores, em pouco mais de 15 dias, Dilma passou de 28% para 40%, enquanto Serra caiu de 44% para 34%.
Numa última tentativa, a ordem, ainda que não consensual na campanha tucana, foi de jogar todas as fichas no episódio da violação do sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, e de outras três pessoas ligadas ao partido.
Mas há entre setores da campanha de Serra o temor de que essa agenda negativa amplie a rejeição do tucano. Outro número do Datafolha que preocupou muito o PSDB foi o da rejeição: 29% para Serra, contra 19% de Dilma.
(…)
Direi, então, o que pretendo fazer. Neste momento, ao terminar de escrever este post – às 14 horas de sábado, 28 de agosto de 2010 – enviarei consulta ao setor jurídico do Movimento dos Sem Mídia para que façamos um estudo sobre a ilegalidade contida no que acabo de escrever.
Concomitantemente, aguardarei o posicionamento do PT durante a semana. Se o jurídico do MSM disser que a ilegalidade que estou detectando existe e se o PT não tomar uma atitude contra esse escândalo, contra essa afronta à democracia, a organização que presido irá bater de novo às portas da Justiça Eleitoral exatamente como fez por conta da falsificação de pesquisas.
PS: vídeo acima será o primeiro de todos os OUTROS vídeos e áudios que juntaremos à representação como evidências do estupro da lei eleitoral pela mídia eletrônica.
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