O direito de greve é garantido pela Constituição Federal do Brasil através do seu artigo 9º. É um direito de todo e qualquer trabalhador. Greve, aliás, é uma garantia constitucional do servidor público civil e deve ser exercida em sua plenitude, sem punições ou restrições.
Com efeito, é preciso ser muito obtuso ou muito rico para se opor ao direito de greve. Quem pensa assim não se recorda de que as garantias jurídicas de natureza social, tais como aposentadoria, auxílio-doença, licenças, férias, limitação da jornada de trabalho etc., além de direitos políticos como o voto e a representação democrática das instituições públicas, advieram da organização e da reivindicação dos movimentos operários.
Nesse contexto, declarações públicas do prefeito de São Paulo, João Doria, atacando esse direito constitucional inscrito no artigo 9º da Carta Magna constituem uma bofetada no rosto não só dos munícipes desavisados que elegeram esse indivíduo, mas, também, dos homens e mulheres que lutaram para que os trabalhadores de todas as partes tivessem condições dignas de trabalho.
Dória começa seu discurso imoral, antirrepublicano, antidemocrático, insultante aos trabalhadores com uma frase abjeta:
— Só quem não quer trabalhar é que vai fazer greve…
Como é que é? Que conversa é essa? Quem vai fazer greve na próxima sexta-feira quer, sim, trabalhar, mas quer condições dignas de trabalho. E uma infinidade de setores irá fazer greve porque o governo federal, do qual o partido de Doria, o PSDB, é cúmplice, está destruindo todas as conquistas dos trabalhadores brasileiros ao longo do século XX.
A recém-aprovada “reforma trabalhista” simplesmente acabou com a Consolidação das Leis do Trabalho ao aprovar a prevalência do “negociado sobre o legislado”, já que os patrões poderão eliminar direitos consolidados a décadas simplesmente ameaçando os trabalhadores de demissão ou de não contratação caso não aceitem abrir mão desses direitos.
Se isso não é motivo para fazer greve, não se sabe que motivo seria suficiente para uma greve .
Outra barbaridade de Dória:
— Quem deseja se manifestar, faz isso fora do expediente, faz isso no sábado, faz isso no domingo, faz isso de noite, faz isso na hora do almoço, não faz durante o trabalho.
Talvez essa seja a declaração mais grave. Na prática, Doria elimina qualquer possibilidade de exercício do que reza o artigo 9º da Constituição Federal, porque se você não “se manifestar” DURANTE o horário de trabalho, não haverá greve.
Mais uma cretinice proferida pelo prefeito de São Paulo foi ele dizer que a greve geral que ocorrerá nesta sexta-feira “não é justa”.
Por que a greve geral não é justa? Quem deu a Doria o direito de decidir, como prefeito, o que é ou não justo? Quem decide o que é ou não é justo é a lei, é a Justiça e, acima de ambas, a Constituição, que garante o direito de fazer greve.
Ora, uma mudança na lei que permite ao empregador pressionar o empregado para abrir mão de direitos conquistados há décadas não é motivo justo para uma greve? Que canalhice é essa?
Doria conclui o seu vídeo dizendo:
— O Brasil não é do mundo sindical, o Brasil é dos brasileiros. Acelera!
Alguém tem que informar ao senhor João Doria que ele é prefeito de São Paulo, não ditador do Brasil. Portanto, ele não tem direito de tirar a cidadania dos sindicalistas e sindicalizados – ao se referir ao “mundo sindical”, ele se referiu a ambos.
Para fechar esse vídeo infame, Doria fez o seu sinal característico de acelera. Esse sinal é um ato falho, pois simula o sinal de retroceder nos aparelhos eletrônicos
É revoltante que, na véspera do 1º de maio, um sujeito que não conhece a luta dos trabalhadores por direitos e por condições dignas de trabalho venha afrontá-los com esse discurso desinformado, reacionário, antidemocrático e constitucional.
A humanidade lutou muito para conseguir direitos trabalhistas e o direito de greve. Não bastando PMDB e PSDB tirarem os direitos trabalhistas do povo, agora querem tirar o direito de reclamar e de reagir contra más condições de trabalho.
Assista, abaixo, a resposta deste Blog ao prefeito tucano de São Paulo e à sua brutal ignorância e falta de espírito democrático.