Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

sexta-feira, 27 de abril de 2012

DA SÉRIE: POR QUE SERRA ESTÁ NERVOSO?

*Vitória ruralista: o código de um grupo contra toda a sociedade (leia mais aqui) **Espanha afogada em desemprego: país tem recorde de 5,6 milhões de desocupados e o governo anuncia mais impostos para cumprir arrocho fiscal** Três pesquisas dão vitória a Hollande em 6 de maio, com 55% dos votos

 Algumas hipóteses pinçadas das páginas dos jornais esta semana: I) a  política social do ciclo Lula reduziu à metade a mortalidade infantil no país na década passada, informa o Censo de 2010 do IBGE. No Nordeste a taxa caiu 58,6%  entre 2000 e 2010. II) o governo Dilma acionou os bancos estatais e emparedou a banca privada entre a concorrência e a execração pública: os juros estão em queda  sem que a  inflação escape ao controle. III) No primeiro trimestre, as cartas consultas para financiar  investimentos industriais  junto ao BNDES cresceram 37% em comparação com janeiro/março de 2011 . IV) Um governo de coalizão entre bicheiro e tucanos foi flagrado em Goiás pela operação 'Monte Carlo', da PF. Carlinhos Cachoeira, em escuta da PF: "nós pusemos ele" (Perillo, fiel aliado de Serra no PSDB)" lá" (no Palácio das Esmeraldas). V) Sob a administração Kassab aumentou em 6% o número de moradores de rua em SP: de 13.66, em 2009, para 14.458, em 2011.VI) Faltam professores em 32% da rede estadual de ensino em SP, administrado há  17 anos pelo PSDB. VII) Serra, 70 anos, em tom jovial: 'Modéstia à parte, sempre fomos muito inovadores'. Por exemplo: ao assumir o governo do Estado em 2006, o tucano ' inovou'  nos serviços de desassoreamento do rio Tietê, interrompendo-os  por quatro anos seguidos. A 'inovação'  pôs a perder R$ 1,7 bi em gastos realizados com a limpeza do rio durante os quatro anos anteriores. Hoje a meta do Estado é recuperar a vazão do Tietê existente antes de Serra assumir o governo, período em que 3 milhões de m³ de detritos se acumularam no leito do rio. O espírito inovador agravou a frequência e a gravidade das inundações na capital, cuja prefeitura Serra agora vai disputar. Em setembro de 2009, por exemplo, mesmo fora da temporada de chuvas, uma tempestade naufragou São Paulo. Desde então, a cada verão o rio transborda. No ano passado, ao final de fevereiro, o Tietê já havia transbordado três vezes, o que levou o governo Alckmin a tomar a decisão de voltar a investir em obras de desassoreamento para recuperar uma  vazão de 1.048 m³ por segundo. A mesma capacidade de sete anos atrás, quando Serra 'inovou'.

Operação Pinheirinho: Faturando com a desgraça das 1.600 famílias despejadas

por Conceição Lemes

Assim como Eldorado dos Carajás (PA) terá seu nome definitivamente associado ao maior massacre do Brasil rural – o Massacre de Carajás –, São José dos Campos (SP) será sempre lembrado pelo maior massacre do Brasil urbano – a desocupação do Pinheirinho.
No último domingo, 22 de abril, fez três meses que, por ordem da juíza Márcia Loureiro, do governador Geraldo Alckmin e do prefeito Eduardo Cury, 1.600 famílias (cerca de 8 mil pessoas) foram expulsas cruel e violentamente de suas casas com a roupa do corpo.
Uma barbárie perpetrada pela tropa de choque de 2 mil policiais (Guarda Civil Metropolitana e PM), debaixo do nariz do representante do Tribunal de Justiça de São Paulo. Trabalhadores espancados, um baleado nas costas, dois óbitos de alguma forma relacionados à reintegração de posse, pais barbarizados (tiveram armas apontadas para a cabeça) na frente dos filhos, animais mortos a tiros. Tudo o que tinham – de moradia, móveis, geladeiras, computadores, TV a brinquedos, livros, fotos, filmes, documentos – foi destruído.  Gente (a maioria) que ficou sem passado, vive um presente miserável (há pessoas morando na rua) e não sabe qual será o futuro.
“Além de danos físicos, psíquicos e patrimoniais aos ex-moradores, a operação Pinheirinho já custou aos cofres municipais R$ 10,3 milhões e há indícios de irregularidades”, denuncia o vereador do PT Wagner Balieiro. “Suspeita-se que se aproveitaram da desgraça das famílias despejadas para gastos irregulares. ”
“ALGUMA MÃE DINAH AJUDOU PREFEITURA A ‘PREVER’ NÚMERO DE REFEIÇÕES”
Levantamento feito por vereadores do PT de São José dos Campos, com base em dados oficiais, revela desmandos. Chamam a atenção, por exemplo, os R$2,2 milhões gastos com 300 mil marmitex e 150 mil cafés.

“Para começo de conversa, a comida era muito salgada, sem tempero; como regra, arroz, lingüiça ou salsicha e feijão (não todo dia); ocasionalmente, pedaço de carne ou frango; só apareceu um pouco de fruta e verdura em fevereiro, depois muita reclamação”, conta a ativista Carmen Sampaio, que, diariamente, ia de São Paulo (onde mora) aos abrigos dos ex-moradores do Pinheirinho levar doações e solidariedade. “Depois de comer, eles tinham mal-estar, ficavam largados, cansados. No começo, achei que era por conta do sofrimento. Depois, percebi que era sempre após a refeição. Muitos tinham dor de barriga. Formava-se uma fila imensa no banheiro, pois só havia três pra uma porção de gente.”
Nao bastasse a qualidade, o número de refeições contratadas não bate com o número de abrigados.
Explico.
Entre a reintegração de posse do Pinheirinho e o fechamento do último abrigo (no início eram cinco, foram desativados progressivamente) se passaram 47 dias.
Supondo que as 1.600 famílias (em torno de 8 mil pessoas) tivessem ido para os abrigos, seriam 752 mil refeições (almoço e jantar) e 376 mil cafés durante os 47 dias.
Acontece que os moradores não foram na sua totalidade para os alojamentos. De imediato, uma parcela preferiu casa de parentes, conhecidos, amigos. Outra, logo nos primeiros dias, retornou às suas cidades de origem, pois a Prefeitura pagou a passagem. Depois, a partir do dia 31 de janeiro, começou a distribuição dos cheques de  500 reais do auxílio-moradia.
Para consumir os 300 mil marmitex e os 150 mil cafés, 3.150 pessoas teriam de ficar lá durante esses 47 dias. Mas não foi o que aconteceu. “No auge da situação, havia, no máximo, 2 mil pessoas nos abrigos”, observa Balieiro. “Essa informação foi dada pela própria Prefeitura.”
O auge populacional nos alojamentos se deu no período nos dez primeiros dias. Ou seja, de 22 de janeiro a 1 de fevereiro.  A partir daí, eles começaram a se esvaziar rapidamente não apenas por causa da distribuição do cheque de auxílio-moradia, mas também devido à pressão da Prefeitura e às condições precárias.
Supondo, de novo, que os abrigos tivessem mantido a população de 2 mil pessoas durante os 47 dias, seriam 188 mil marmitex (almoço e jantar) e 94 mil cafés.
Conclusão: mesmo que TODOS os abrigados tivessem tomado café da manhã, almoçado e jantado, “sobrariam”, por baixo, 112 mil marmitex e 56 mil cafés. Afinal, tinha gente que saía cedo para trabalhar cedo e não almoçava lá. O que “aconteceu” com eles?
“Como a compra foi de emergência por dispensa de licitação, o certo seria abater do saldo as refeições que fossem sendo consumidas”, atenta Balieiro. “Curiosamente, com ajuda de alguma Mãe Dinah da vida, a Prefeitura conseguiu a proeza de ‘prever’ o número exato. Contratou 300 mil marmitas e 150 mil cafés, gastou 300 mil marmitas e 150 mil cafés.”
Para aumentar essa salada conflitante, outra curiosidade: os abrigados receberam a famigerada pulseirinha de identificação (de plástico, azul) para que pudessem pegar refeições e outros suprimentos Consta que a Prefeitura comprou mil por R$ 5.800. Preço da unidade: R$ 5,80!!!
PREFEITURA GASTOU R$ 1473,11 POR ANIMAL; 114 MORRERAM
Desde o início de fevereiro, já se sabia que policiais mataram a tiros animais de estimação de moradores do Pinheirinho.
Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania, botou a boca no trombone: Mataram os cães das crianças diante delas e foram elogiados.
O Viomundo denunciou a dor de Pablo, 4 anos: Mataram o meu cachorro, foi a polícia.
No início de março, o relatório do elaborado pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo (Condepe-SP) confirmou a chacina: 33 denúncias de agressões e matança de animais de estimação. Infelizmente, as mortes não pararam aí.
“A Prefeitura tinha também responsabilidade em relação aos animais domésticos dos moradores do Pinheirinho”, salienta Balieiro. “Por pressão das ONGs, acabou contratando uma empresa para abrigar e cuidar dos animais que ficaram sem teto, já que seus donos ficaram sem casa.”
Essa empresa recebeu 239 animais de estimação: 212 cachorros, 22 gatos e 5 coelhos. Porém, visita ao local feita pela ONG Cão Sem Dono, em 13 de março, constatou que 114 haviam morrido em menos de um mês após serem recolhidos. Ou seja, quase 50% foram a óbito!

“Os óbitos podem ter sido por vários motivos, doenças, extermínio”, conjectura Balieiro. “De qualquer forma, só reforça a negligência da Prefeitura no cuidado dos animais de estimação.”
Em função ação da ONG Cão Sem Dono, a Prefeitura acabou informando os gastos. Para o resgate e acolhimento dos 239, a prefeitura pagou R$ 352.072,82. Ou seja, R$ 1.473,11 por animal — três vezes o valor do auxílio-moradia.
OPERAÇÃO CUSTARÁ QUASE  50% DO VALOR VENAL DO PINHEIRINHO
Só que o custo financeiro da operação Pinheirinho vai bem além dos R$ 10,3 milhões gastos pelos cofres municipais, segundo o levantamento dos vereadores do PT.
O prefeito Eduardo Cury firmou convênio com o governador Geraldo Alckmin para garantir o auxílio-moradia de 500 reais nas seguintes bases: a Prefeitura arca com 100 reais e o Estado paga 400. O convênio tem duração de 6 meses, renovável por mais 6 meses.
Considerando que 1.600 famílias estão recebendo o auxílio-moradia (dado mais recente do site da Prefeitura), o Estado vai desembolsar R$ 7,68 milhões. Isso sem contar, por exemplo, todas as despesas referentes ao deslocamento da tropa de choque e às horas extras para os policiais.
Resultado: R$ 7,68 milhões + R$10,3 milhões (já incluído o auxílio-moradia até o final de 2012 ) = R$ 17,98 milhões.

Acontece que só de IPTU a Selecta deve aos cofres municipais R$ 14,600 milhões (valores até março de 2012).  A Selecta – leia-se Naji Nahas — é a dona do terreno do Pinheirinho, cujo valor venal é R$ 85 milhões.

Portanto os gastos passíveis de contabilização de Município e Estado:
1. superam a dívida do especulador Naji Nahas com São José dos Campos;
2. representam 21% do valor venal do terreno;
3. se considerarmos apenas gastos do município, eles equivalem 17% do valor venal do Pinheirinho.
“Nós aprovamos na Câmara Municipal uma lei que garante às 1.600 famílias o recebimento de auxílio-moradia até que fiquem prontas as casas prometidas pelo governo do Estado a todos os desalojados”, expõe Balieiro. “Logo após a desocupação, Alckmin garantiu moradia para as famílias em 18 meses. Mas essa promessa não será cumprida.”
Em 27 de janeiro, o governador Geraldo Alckmin anunciou a construção de 5 mil casas em São José dos Campos. Desse total, as primeiras 1.100 moradias estariam prontas em 18 meses.

Porém, só saiu agora o edital da licitação para a escolha da empresa que vai construir essas casas. As empresas interessadas devem enviar os envelopes com as propostas até maio. De acordo com o documento, as moradias serão construídas em 3 anos (36 meses).

Isso significa que:
1. se não houver nenhum  problema na licitação (por exemplo, recurso da empresa não escolhida), as obras devem ter início depois de junho, julho.
2. a quantidade inicial de 1.100 moradias não contempla todos os ex-moradores de Pinheirinho recebendo auxílio-moradia, até porque parte delas será para pessoas vivendo em área de risco;
3. as casas provavelmente só estarão prontas no segundo semestre de 2015, se não houver atraso nas obras. Portanto, o dobro do tempo prometido pelo governador.
4. até a entrega definitiva da moradia, os ex-Pinheirinho continuarão recebendo o auxílio 500 reais,  garantido por lei municipal.
5. A Prefeitura terá de desembolsar sozinha pelo menos mais R$ 24 milhões, caso não consiga renovar o convênio com o governo do Estado para dividir as despesas. Os R$ 24 milhões referem-se ao auxílio aluguel de 2013, 2014 e primeiro semestre de 2015.
Custo estimado (por baixo) da operação Pinheirinho: 17,98 milhões + R$ 24 milhões= R$ 41,98 milhões.

Portanto, quase 50% do valor venal do Pinheirinho.  Isso sem contar a  construção das 1.100 casas (lembrem-se, só parte irá para o pessoal do Pinheirinho!) que custará cerca de R$ 101 milhões.  Portanto, esses valores somados já superam – e muito! – o que seria usado numa eventual regularização do terreno.
“Existe agora pressa da Justiça estadual, principalmente ligada à massa falida,  para fazer o leilão do terreno”,  revela ainda Balieiro. “Eles estão escondendo da sociedade que se preparam para fazer o leilão. Como o terreno está sendo trabalhado para especulação imobiliária, se fizerem o leilão, Naji Nahas vai sair com dinheiro no bolso.”

Juiz tucano aprovou as cotas por medo de ficar isolado

Antes de chegar ao ponto que intitula este post, haverá que fazer um longo preâmbulo para que o leitor possa entender a questão. Vamos a ele, pois.
Na quarta-feira (25/04), o jornalista Elio Gaspari, em sua coluna no jornal Folha de São Paulo, previu o desenlace do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) impetrada pelo DEM contra a política de cotas para negros adotada pela Universidade de Brasília.
A previsão de Gaspari: “No palpite de quem conhece a Corte, o resultado será de, pelo menos, sete votos a favor e quatro contra” as cotas na UNB.
Tratou-se de uma previsão para lá de otimista para os adversários da igualdade racial no Brasil, ainda que não parecesse, pois a chance de derrota do DEM era, previsivelmente, muito maior. E era maior por conta dos complexos fatores técnicos e políticos que envolvem a questão e que passo a explicar.
Quem o jornalista disse que “conhece a Corte” parece não conhecê-la tanto assim. Este blogueiro mesmo, às 16:14 hs., três horas antes do término do Julgamento (que ocorreu por volta das 19:30 hs.) previu, através do Twitter, que a decisão a favor das cotas poderia ser unânime. Abaixo, reprodução da mensagem que publiquei naquela rede social.
Mais uma vez, perguntaram-me sobre uma tal “bola de cristal” de cristal que eu teria por conta de previsões que fiz como aquela sobre a crise econômica de 2008, de que seria mesmo uma marolinha, o que foi dito em um momento em que todos, à esquerda e à direita, diziam que o país afundaria. Ou como a que fiz dias antes da publicação da última pesquisa Datafolha, a previsão de que a popularidade de Dilma dispararia.
Infelizmente, não tenho bola de cristal alguma. Se tivesse, trataria de descobrir o resultado de alguma loteria, eis que ando precisado… O que tenho é só um método de lidar com a lógica que só funciona quando disponho de elementos suficientes, o que dificilmente ocorre.
Certas vezes, porém, os fatos gritam para ser notados. E, nesse caso do julgamento das cotas, o fenômeno era intenso. Afinal, acolher a premissa do DEM seria uma aberração jurídica. Seria desmoralizante para qualquer juiz que preze minimamente a própria imagem. E não apenas para a sua capacidade técnica, mas do ponto de vista da imagem de pessoa pública.
Houve um tempo em que os juízes do STF não ligavam para o Direito ou para a própria imagem por não passarem de meros despachantes dos setores mais poderosos da sociedade que o presidente da República, que exercia a mesma função, guindava a postos dessa importância.
Foi uma era de trevas em que um presidente ousou manter no cargo, por oito anos, um único procurador-geral da República. Alguém cuja função era arquivar qualquer ação incômoda para o Poder Executivo, o que lhe valera o apodo de engavetador-geral da República.
Na era Lula, os despachantes da elite na cúpula do Judiciário ou do Ministério Público foram sendo substituídos por militantes do melhor Direito preocupados com a própria imagem e descompromissados com o banditismo que imperara naquelas instituições até a chegada do ex-operário ao poder, o que possibilitou que os procuradores-gerais indicados por ele aceitassem um processo contra quem os nomeou, como o do mensalão, o que jamais teria ocorrido quando o PSDB estava no poder.
Hoje, dos onze ministros da Suprema Corte de Justiça do país, oito foram nomeado por Lula ou por Dilma Rousseff. A moralização da mais alta instância do Poder Judiciário, pois, virou um fato. Com efeito, o mensalão jamais estaria para ser julgado se os governos do PT não tivessem optado pelo que havia de melhor para a Procuradoria-Geral da República ou para o STF.
Com a excelência dos ocupantes daquela Corte, seria praticamente impossível que as cotas perdessem. Até porque, entre os três juízes nomeados por antecessores de Lula, só dois já se envolveram em maracutaias: Marco Aurélio Mello, indicado por Fernando Collor de Mello (e que é primo do ex-presidente, vejam o absurdo!), e Gilmar Mendes, indicado por Fernando Henrique Cardoso. Celso de Mello, indicado por Sarney, sempre se portou direito.
Ora, a questão que aqueles juízes julgavam não poderia ter outro destino. Bastaria o menor conhecimento da situação social do país para perceber que o pleito do DEM não passava de uma tentativa de prestação de serviços a uma elite decadente, corrupta e racista.
Dados do IBGE mostram que qualquer outra decisão que não a que foi tomada, seria um absurdo. E de que os argumentos que a imprensa e essa elite esgrimem não passam de banditismo intelectual.
Vejamos, por exemplo, o que um desses impérios de comunicação corruptos que tentam atrasar ou mesmo impedir a justiça social no país diz em editorial publicado nesta sexta-feira, 27 de abril, um dia após a decisão unânime do STF em prol da igualdade racial.
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FOLHA DE SÃO PAULO
27 de abril de 2012
Editorial
Cotas raciais, um erro
Tratamento desigual para reparar injustiças deveria contemplar apenas critérios sociais objetivos – não a cor da pele, obsessão importada O Supremo Tribunal Federal declarou as políticas de cotas raciais em universidades federais compatíveis com a Constituição. A decisão será saudada como um avanço, mas nem por isso terá sido menos equivocada.
Ninguém duvida que a escravidão foi uma catástrofe social cujos efeitos perniciosos ainda se propagam mais de um século após a Abolição. Descendentes de cativos -de origem africana ou nativa, pois também houve escravização de índios – sofrem, na maioria dos casos, uma desvantagem competitiva impingida desde o nascimento.
As políticas adotadas por universidades que reservam cotas ou garantem pontuação extra a candidatos originários daquela ascendência procuram reparar essa iniquidade histórica. A decisão do STF dará ensejo à disseminação de tais medidas em outras instâncias (acesso a empregos públicos, por exemplo), o que ressalta a relevância do julgamento.
São políticas corretivas que podem fazer sentido em países onde não houve miscigenação e as etnias se mantêm segregadas, preservando sua identidade aparente. Não é o caso do Brasil, cuja característica nacional foi a miscigenação maciça, seguramente a maior do planeta. Aqui é duvidosa, quando não impraticável, qualquer tentativa de estabelecer padrões de “pureza” racial.
Não se trata de negar a violência do processo demográfico ou o dissimulado racismo à brasileira que dele resultou, mas de ter em mente que a ampla gradação nas tonalidades de pele manteve esse sentimento destrutivo atrofiado, incapaz de se articular de forma ideológica ou política. Com a mentalidade das cotas raciais, importa-se dos Estados Unidos uma obsessão racial que nunca foi nossa.
No Brasil, a disparidade étnica se dissolve numa disparidade maior, que é social -uma sobreposta à outra. A serem adotadas políticas compensatórias, o que parece legítimo, deveriam pautar-se por um critério objetivo -alunos de escolas públicas, por exemplo- em vez de depender do arbítrio de tribunais raciais cuja instalação tem algo de sinistro.
A Constituição estipula que todos são iguais perante a lei. É um princípio abstrato; inúmeras exceções são admitidas se forem válidos os critérios para abri-las. A ninguém ocorreria impugnar, em nome daquele preceito constitucional, a dispensa de pagar Imposto de Renda para os que detêm poucos recursos.
O cerne da questão, portanto, consiste em definir se há justiça em tratar desigualmente as pessoas por causa do tom da pele ou se seria mais justo, no empenho de corrigir a mesma injustiça, tratá-las desigualmente em decorrência do conjunto de condições sociais que  limitaram suas possibilidades de vida.
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O editorial diz que a desigualdade “racial” brasileira não seria um “critério social objetivo”, mas uma “obsessão importada” porque, no Brasil, houve miscigenação enquanto que nos Estados Unidos, onde surgiu a política afirmativa das cotas “raciais”, não houve.
E daí? A miscigenação por acaso impede o racismo? O IBGE mostra que não. Segundo estudos da instituição, a proporção de estudantes de 18 a 25 anos de idade frequentando curso superior é de 19,4% da população para os brancos e 6,8% para os negros e pardos. E a proporção de pessoas de 25 anos ou mais de idade que concluíram curso superior é de 13,4% para brancos e de míseros 4% para negros e pardos.
A pesquisa completa do IBGE pode ser conferida aqui.
Sim, houve mistura racial no Brasil, mas tanto os negros “puros” quanto os mestiços sofrem tanto ou mais no Brasil quanto nos Estados Unidos. Isso sem falar dos índios, que a política de cotas também contempla tanto quanto aos negros e pardos, bem como os brancos pobres, que, apesar de existirem, são em percentual infinitamente menor.
Qualquer análise séria da questão revela que cotas por critério meramente econômico, as ditas cotas sociais – que já existem não só nas políticas afirmativas do governo federal quanto, exclusivamente, em governos mais conservadores como o de São Paulo, na USP e na Unicamp –, são insuficientes.
Se fossem adotadas unicamente, se o critério da pobreza prevalecesse sobre o critério racial para conceder vagas em universidades, o negro continuaria sendo prejudicado, pois os brancos, nos estudos do IBGE, sempre estão em melhor condição que os negros, inclusive entre os pobres.
No Brasil, os 2% mais pobres são compostos por negros e mestiços de brancos com negros, em situação ainda pior do que a dos índios, que também sofrem muito. Se entre os que ganham abaixo de determinado valor fosse usado o critério do mérito, por exemplo, os brancos continuariam chegando à frente de afrodescendentes e índios, o que perpetuaria o problema.
Os juízes mais preocupados com as próprias imagens, portanto, não cometeriam essa vilania de negar aos mais prejudicados a oportunidade de saírem da senzala cultural a que foram confinados durante a escravidão e após a libertação dos escravos.
Os únicos juízes capazes de dar uma banana para o Direito em prol de seus patronos políticos seriam Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes, que chegaram a pôr criminosos ricos em liberdade (Salvatore Cacciolla e Daniel Dantas, respectivamente). Mello, porém, de vários anos para cá passou a se portar melhor e tem marcado sua atuação por decisões libertárias e humanistas.
Só havia um juiz que pendia claramente pela desigualdade racial: Gilmar Mendes. Isso fica muito claro, aliás, em seu voto no julgamento da ADPF 186, a das cotas.
Outra matéria da Folha de São Paulo mostra sua tendência e permite, pela lógica, supor que votou contra o DEM, partido com quem andou tendo relações pra lá de esquisitas, por medo de ser o único entre os dez juízes a votar a favor do racismo.
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FOLHA DE SÃO PAULO
27 de abril de 2012
Cotidiano
Gilmar Mendes faz ressalvas a cotas raciais
Apesar de favorável à política de reserva de vagas, ministro chama a atenção para eventuais distorções de sistema da UnB
Depois de dois dias de julgamento da ação proposta pelo DEM, sessão foi encerrada sob sonoros aplausos
DE BRASÍLIA
O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes votou a favor das cotas, mas foi o único a fazer críticas ao sistema adotado pela UnB.
Mendes afirmou que o critério racial não é o melhor para definir quem deve ser beneficiado pela reserva de vagas e que um modelo incluindo a renda seria mais apropriado.
Ele citou “distorções e perversões” que poderiam ser geradas pela atual política. Entre elas, a possibilidade de um aluno negro e rico, que sempre estudou em escola particular, entrar na universidade por cotas, enquanto um pobre, porém branco, não.
(…)
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Ora, a opinião de Mendes é incompatível com seu voto. Se julga que a política de cotas da UNB contém “perversões e distorções” como a de um negro rico ter possibilidade de tomar o lugar de um branco pobre, deveria ter votado a favor da ADPF do DEM. Se votou diferente, é porque sabia que ficaria isolado e porque essa sua questão poderia ser desmontada facilmente.
Inexiste a possibilidade de um “negro rico”, talvez filho de pagodeiro ou jogador de futebol – situações em que um negro pode enriquecer, salvo exceções –, tomar a vaga de branco pobre. A política de cotas exclui estudantes de escolas particulares, ora. E alguém acha que um negro rico colocaria seu filho em escola pública?

Prima de Cachoeira:PHUDEO. Aécio terá problemas

Prima de Cachoeira: Aécio terá problemas Foto: Edição/247

Nomeação da parente do contraventor nega um dos discursos do senador mineiro e do PSDB: o do choque de gestão, com contratações baseadas exclusivamente no mérito. Ou, como diz blogueiro e especialista em pesquisas de opinião José Roberto de Toledo: “Basta uma sequência de telefonemas entre poderosos e o emprego se materializa”


Minas 247 - O senador mineiro Aécio Neves (PSDB) foi rápido na resposta à notícia de que indicou uma prima de Carlos Cachoeira para um cargo em Minas Gerais. Não se esquivou para as câmeras de TV e deu a explicação: atendia a um pedido do senador Demóstenes Torres (ex-DEM) numa época em que “todos” acreditavam que Demóstenes não tinha ligações tão estreitas com um contraventor. “Fui traído”, afirmou.
Mas o estrago já está feito e pode trazer problemas para o candidato a candidato presidencial pelos tucanos. É mais do que exagerado, é incorreto atribuir ligações de Aécio com Cachoeira apenas por esse fato. Em si, ele não indica a criação do canal Aécio/bicheiro que algumas pessoas da oposição ao PSDB, principalmente em Minas Gerais, querem atribuir.
Mas o fato não se esgota aí. Com as pretensões que o ex-governador mineiro tem, não pegou bem. Nos últimos anos, Aécio e as outras lideranças tucanas buscam um discurso para o partido. Na ausência até agora, apegam-se a fatos já velhos para o eleitor (o Plano Real), muito vagos (responsabilidade fiscal, por exemplo) ou a temas ligados à ética e moral. Aécio, por exemplo, ficou oito anos no governo mineiro propagandeando seu choque de gestão e a meritocracia como critério para nomeações no serviço público. Era um ataque ao que ele e colegas de PSDB chamam de “aparelhamento da máquina pública pelo PT”.
O blogueiro José Roberto de Toledo, do Estadão, bom especialista em pesquisas de opinião, foi categórico na crítica ao episódio Aécio/prima de Cachoeira: “Para ser nomeado para um cargo público de chefia no governo de Minas Gerais não é preciso nem currículo. Basta uma sequência de telefonemas entre poderosos e seus cupinxas e o emprego se materializa com rapidez de corar burocrata.” E completa, demolidor: “Se todo brasileiro desfrutasse de tanta presteza e gentileza do poder público o Brasil não seria o Brasil.”
O episódio pode trazer problemas para o senador mineiro em proporção parecida à recusa em fazer o teste do bafômetro, há um ano, no Rio. O jornalista Paulo Henrique Amorim, fiel a seu estilo gozador, chegou a cunhar o termo “bafômetrogate”. Agora, o estrago também não é pequeno, já que contradiz o discurso da meritocracia tão defendido por Aécio e o PSDB.
Leia abaixo o texto de Toledo em seu blog no Estadão:
Quatro “grampos” de separação
A cada novo “grampo” vazado da Operação Monte Carlo se aprende um pouco mais sobre o funcionamento da República. Sabe-se, por exemplo, que o senador Demóstenes Torres (ex-DEM) era um ágil despachante dos interesses do empresário preso Carlinhos Cachoeira: pedia favores, cobrava contrapartidas, intercedia junto a agentes públicos. Tudo em nome do amigo com quem manteve mais de 300 conversas telefônicas em curto período de tempo.
Aprende-se também que para ser nomeado para um cargo público de chefia no governo de Minas Gerais (e em Goiás, em Brasília etc) não é preciso nem currículo. Basta uma sequência de telefonemas entre poderosos e seus cupinxas e o emprego se materializa com rapidez de corar burocrata.
Mônica Vieira liga para o primo Carlinhos Cachoeira, que liga para o amigo Demóstenes Torres, que liga para o colega de Senado Aécio Neves, que obtém o aval do governador Antonio Anastasia para o secretário de Governo de Minas Gerais ligar para Mônica comunicando sua nomeação. O ciclo se fecha com 4 graus de separação, ou melhor, de conhecimento. Na contabilidade do repórter Fausto Macedo, bastaram 12 dias e 7 telefonemas.
Se todo brasileiro desfrutasse de tanta presteza e gentileza do poder público o Brasil não seria o Brasil.
Mônica disse à reportagem do Estado que foi nomeada para ser chefe regional da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas por sua “competência”, por seus 25 anos de carreira. Pode ser, mas quem apadrinhou sua nomeação não sabia disso.
Aécio perdera o currículo de Mônica. Foi o que Demóstenes relatou a Cachoeira, em telefonema na noite de 20 de maio do ano passado. Aos repórteres, o senador tucano disse desconhecer a origem do pedido de nomeação. Mesmo sabendo muito pouco ou quase nada, passou-o à frente. Talvez retribuísse algo, ou quisesse ficar com crédito junto a Demóstenes, contra quem até então “não recaía questionamento”, nas escolhidas palavras de Aécio.
Patrocinador da nomeação de Mônica, Cachoeira não enfatiza as qualidades profissionais da prima ao despachar com o amigo Demóstenes. O apelo é pessoal: “É importantíssimo pra mim. Você consegue por ela lá com o Aécio (…). Pô, a mãe dela morreu. É irmã da minha mãe”. Só se preocupam com o salário, que não pode ser menos do que R$ 10 mil -“se não estou perdida”, na expressão de Mônica. E quem não estaria? Uns 190 milhões de brasileiros.
Em outro “grampo”, descobre-se que Demóstenes -mais uma vez no papel de despachante de Cachoeira- deixou “intranquilo” Maguito Vilela (PMDB), um ex-governador de Goiás que agora é prefeito de Aparecida de Goiânia. A intranquilidade seria fruto de conversa do senador com o político goiano. Demóstenes relata ter dito que Cachoeira estava “uma onça” com Maguito, por causa da falta de celeridade no cumprimento de um acordo entre ambos.
Não fica claro o porquê de Demóstenes ser o intermediário da cobrança, de ser ele a dizer que seu representado estava uma fera, em lugar de o próprio Cachoeira arreganhar os dentes para Maguito. Pelo jeito, cada um com seu papel.
Entre um despacho e outro com Cachoeira, Demóstenes encontrava tempo para cobrar honestidade de seus pares, em entrevistas a meios de comunicação e em discursos na tribuna do Senado. Antes dos “grampos”, só essa parte de sua vida pública era de conhecimento público.
Com a CPI que se instala nesta quarta-feira, mais “grampos” devem ser desengavetados. Mais lições sobre o funcionamento da República serão oferecidas aos interessados. Mais bastidores da vida pública aparecerão.
O maior bem que a CPI pode fazer à sociedade é liberar todos os “grampos”. Os vazamentos pontuais implicam uns mas  podem omitir outros. O controle do fluxo de informações em escândalo dessa magnitude é o que todos os partidos buscam, para defenderem-se e atingirem os adversários. Só a liberação geral e irrestrita das gravações minimiza o uso político e eleitoral da CPI. A alternativa deixa o público a quatro ou mais “grampos” de separação

Cachoeira diz que elegeu governador tucano



Saiu no Globo:

Em gravação, Carlinhos Cachoeira diz que elegeu Perillo


BRASÍLIA – Conversas gravadas pela Polícia Federal mostram que o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, cobrou do ex-presidente do Detran de Goiás Edivaldo Cardoso a fatura pelo apoio à eleição do governador Marconi Perillo (PSDB). No diálogo, o bicheiro e o ex-auxiliar do governador discutem a partilha da verba publicitária do Detran, segundo Edivaldo, no valor total de R$ 1,6 milhão. Cachoeira lembra da participação que teve na campanha de Perillo e exige a maior fatia do bolo.


— Quem lutou e pôs o Marconi lá fomos nós — diz Cachoeira.


A conversa foi interceptada pela Polícia Federal em 2 de março do ano passado, logo no início do governo do tucano. Cachoeira descobriu que um jornal de Anápolis, de oposição ao governador, receberia uma verba mais expressiva que o jornal dele, que, segundo a Operação Monte Carlo, está em nome de um laranja do bicheiro. Contrariado, Cachoeira diz que a partilha não está correta e deve ser revisada.


“Aquele jornal foi contra o Marconi”, diz Cachoeira


Em um dos trechos, Cachoeira fala especificamente do Canal 5 de Anápolis, contratado para transmitir as sessões da Câmara Municipal e que tem como diretor Carlos Nogueira, o Butina, que ao GLOBO assegurou ser o dono da emissora. O mesmo grupo é dono do jornal “Estado de Goiás”. O contraventor vai direto ao ponto:


— O jornal “O Anápolis” vai ganhar do Detran? Aquele jornal foi contra o Marconi o tempo inteiro. O Butina falou que viu (o documento) na mão do cara (do governo) — contesta Cachoeira.


O ex-presidente do Detran nega a veracidade da informação:


— Não viu, não. Eu fechei isso ontem. Tinha televisões (e outros jornais) — disse Edivaldo, antes de complementar, dizendo que deu atenção especial ao jornal de Carlinhos.


— Eu pedi para incluir o seu (jornal) lá — disse Edivaldo.


A partir desse momento, em um diálogo de três minutos e quinze segundos, o contraventor interpela o ex-dirigente do Detran sobre a partilha de valores e compara a fatia abocanhada por concorrentes e pelos veículos ligados ao grupo.


— O nosso tem que ser muito mais. Quem lutou e pôs o Marconi lá fomos nós! — diz Cachoeira.




Ainda falta o Globo vazar informacoes sobre o Leréia – aquele alto dirigentes tucano de que ouviremos falar muito II.
E perguntar ao Ernani de Paula como é que o Demóstenes – o grande amigo das cotas e das comissões – e o Cacheoira montaram o mensalão.
Clique aqui para ler “A TV Record melou o mensalão “.

Paulo Henrique Amorim

UM CÓDIGO CONTRA A SOCIEDADE - Ruralistas dão motivos para Dilma vetar mudanças no Código Florestal

COTAS: mais uma derrota de Demóstenes Torres ** em decisão unânime, STF afirma a constitucionalidade das cotas nas universidades, questionadas pelos Demos ** URNAS X AUSTERIDADE: recessão e crise social isolam Merkel e Europa já planeja 'Cúpula do Crescimento' para depois do 2º turno francês**pesquisas indicam vitória de François Hollande dia 6 de maio com 55% dos votos **se vitorioso, socialista convocará líderes da UE para revisar o pacto de arrocho orçamentário do euro, bancado por Merkel & Sarkozy


 

Rompendo acordo com governo, ruralistas lideram aprovação do Código Florestal na Câmara, ampliando retrocessos do texto elaborado no Senado. A presidenta Dilma ainda não se manifestou, mas possui uma lista de motivos para utilizar sua prerrogativa de veto: o rompimento do acordo por parte dos ruralistas, seus compromissos de campanha de não aprovar nada que aumente o desmatamento e promova a anistia de desmatadores e a pressão internacional às vésperas da Rio+20. A reportagem é de Vinicius Mansur.

Brasília - Por 274 votos a favor, 189 contrários e 2 abstenções, a Câmara dos Deputados aprovou, nesta quarta-feira (25), o relatório do deputado Paulo Piau (PMDB-MG) que modifica o Código Florestal, impondo sérios retrocessos à legislação ambiental brasileira.

O resultado foi uma derrota para o governo federal que defendia a aprovação na íntegra do texto definido pelo Senado, no final do ano passado, ao qual considerava fruto de um acordo com os representantes do agronegócio no parlamento. Reiteradas falas do governo anunciaram que o texto dos senadores não era o ideal, mas o possível de ser alcançado pela mediação dos interesses presentes no Congresso Nacional.

A bancada ruralista na Câmara, entretanto, manteve-se fiel apenas ao seu programa e incorporou mais de vinte alterações ao texto do Senado, que já representava um retrocesso na legislação ambiental para organizações sociais diversas, como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Via Campesina, ONGs como Greenpeace, SOS Mata Atlântica e Instituto Socioambiental, entre outras.

A expectativa destas organizações é de que a presidenta Dilma Roussef vete as mudanças para proteger o Código Florestal. O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), disse na terça-feira (24) que a presidenta vetaria o texto, caso ele fosse aprovado com as alterações propostas por Piau.

De tudo que foi apresentado pelo relator, apenas uma proposta não vingou. Mas, por força do regimento interno e não da vontade de Piau ou da maioria do plenário. A proposta que retirava a necessidade de recomposição de 15 metros da mata ciliar de rios com até 10 metros de largura foi recusada por se tratar de um texto já aprovado tanto pela Câmara quanto pelo Senado nos turnos anteriores de tramitação.

A presidenta Dilma ainda não se manifestou, mas possui uma lista de motivos para utilizar sua prerrogativa de veto: o rompimento do acordo por parte dos ruralistas, seus compromissos de campanha de não aprovar nada que aumente o desmatamento e promova a anistia de desmatadores e a pressão internacional às vésperas da Rio+20.

Gozando de popularidade recorde, tendo em mãos um projeto cuja antipatia da população é comprovada por pesquisas de opinião e contando com apoio de setores expressivos da imprensa, de movimentos e organizações sociais, da ciência e da religião, a presidenta tem um amplo ambiente favorável para enfrentar a decisão de numerosos deputados e o desgaste político que dele pode ser oriundo.

Paulo Piau chegou a desafiar o governo no primeiro dia de votação. "Se vetar, nós derrubamos o veto", disse, acompanhado pelo líder do PMDB e futuro presidente da Câmara em 2013, Henrique Eduardo Alves (RN).

A Constituição permite à Dilma vetar dispositivos - artigos, incisos ou alíneas – inteiros, e não partes deles, ou o texto completo. Para tal, ela terá 48 horas, contadas a partir do recebimento do projeto aprovado na Câmara, para comunicar o presidente do Congresso Nacional, o senador José Sarney (PMDB-AP), justificando as razões do veto. A decisão presidencial poderá ser derrubada pela maioria absoluta, metade mais um, de cada Casa, ou seja, por 257 deputados e 41 senadores. E aí reside o maior perigo para o governo em caso de veto. Na Câmara, os ruralistas comprovaram que sua proposta é majoritária. Restaria saber como se comportariam os senadores neste novo cenário. A apreciação de vetos presidenciais são realizadas por meio de voto secreto.

Mudanças
Entre as novas mudanças aprovadas no Código Florestal está a retirada da obrigação de divulgar na internet os dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR), registro cartográfico dos imóveis rurais que facilita o monitoramento das produções agropecuárias e a fiscalização de desmatamentos. Assim como excluíram o artigo que exigia a adesão de produtores ao CAR em até cinco anos para o acesso ao crédito agrícola.

O Ibama não poderá bloquear a emissão de documento de controle de origem da madeira de estados não integrados a um sistema nacional de dados.
Os estados da Amazônia Legal com mais de 65% do território ocupado por unidades de conservação pública ou terras indígenas poderão diminuir a reserva legal em propriedades em até 50%.

Foi derrubada a obrigatoriedade de recompor 30 metros de mata em torno de olhos nascentes de água nas áreas de preservação permanente ocupadas por atividades rurais consolidadas até 22 de julho de 2008. Foi retirada ainda do texto a regra de recomposição de vegetação nativa em imóveis de agricultura familiar e naqueles com até quatro módulos em torno de rios com mais de 10 metros de largura.

Também foi retirada a definição de pousio, período sem uso do solo para sua recuperação, que permitia a interrupção de, no máximo, cinco anos de até 25% da área produtiva da propriedade. Com isso, áreas ilegalmente desmatadas há mais de uma década, mas hoje com florestas em recuperação serão automaticamente consideradas como produtivas e, assim, poderão ser legalmente desmatadas. Como também retirou-se o conceito de área abandonada, prejudica-se a reforma agrária, pois já não haverá terras subutilizadas por especuladores, mas apenas áreas “em descanso”.

Também foi retirado do texto a necessidade de os planos diretores dos municípios, ou suas leis de uso do solo, observarem os limites gerais de áreas de preservação permanente (APPs) em torno de rios, lagos e outras formações sujeitas a proteção em áreas urbanas e regiões metropolitanas. Também foi aprovado o destaque que não considera apicuns e salgados como APP.

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
Colômbia: da arte de vender um país  

Apesar de ser o aliado mais leal e servil aos interesses dos Estados Unidos na América do Sul, a Colômbia carece – e muito – de recursos. Agora, ele trata de atrair mais dinheiro da Espanha, que já é o terceiro maior investidor estrangeiro no país. Em um fórum de investimentos e cooperação empresarial Espanha-Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos deu uma estocada na Argentina e disse: "Se for bom para os empresários, será bom para nós. Aqui, nós não expropriamos". O artigo é de Eric Nepomuceno, direto de Bogotá.

Bogotá - Certas mulheres costumam aparecer ao cair da noite em determinadas esquinas e começar a rodar sua bolsinha oferecendo-se ao melhor pagante, sem se importar muito com aquilo a que terá de submeter-se. Certos presidentes costumam aparecer a qualquer hora do dia em determinadas reuniões e começar a rodar sua bolsinha oferecendo ao melhor pagante não o próprio corpo, mas o próprio país, sem se preocupar com a submissão que for. É o que anda fazendo Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, sem o menor vislumbre de pudor.

É evidente que qualquer país, ainda mais nos dias de hoje, precisa atrair investimentos e estabelecer leques cada vez mais amplos em suas relações comerciais com o resto do mundo. É natural que haja esforço e até mesmo disputa quando se trata de atrair capitais destinados a investimentos produtivos.

Mas como em tudo nesta vida, é preciso agir com um mínimo de dignidade, exigir um mínimo de respeito, impor limites e observar regras mínimas de convivência – mesmo quando se trata de competir por um mesmo objetivo, que neste caso especifico se resume numa só palavra: dinheiro. Ou seja, investidores de qualquer latitude.

Agora mesmo Juan Manuel Santos deu um verdadeiro espetáculo da não tão nobre arte de vender um país a qualquer preço. Dia desses foi realizado em Bogotá o fórum de investimentos e cooperação empresarial Espanha-Colômbia. Anote-se: embora realizado na capital colombiana, não foi um fórum Colômbia-Espanha, porque, também nesse caso, a ordem dos fatores alteraria o produto.

Neste raro momento da história contemporânea sul-americana em que a maioria dos países da região busca linhas de ação conjuntas, entendendo que desunidos somos presa fácil da avidez dos grandes centros econômicos, uns poucos governos – e o colombiano é exemplo cabal disso – preferem atuar por conta própria.

Em Bogotá, o presidente anfitrião lascou, de saída, uma peculiar frase de boas-vindas ao chefe de governo espanhol, o conservador Mariano Rajoy: “Aqui, nós não expropriamos”. Uma piscadela despudorada à Espanha, país submergido numa crise de proporções dramáticas, e uma alusão deselegante, provocadora e desnecessária à decisão da Argentina de re-estatizar a petroleira YPF, controlada até agora pela espanhola Repsol.

Bastante razão tem Juan Manuel Santos para procurar investimentos externos. Apesar de ser o aliado mais leal e servil aos interesses dos Estados Unidos na América do Sul, a Colômbia carece – e muito – de recursos. Agora, ele trata de atrair mais dinheiro da Espanha, que já é o terceiro maior investidor estrangeiro no país.

“Se for bom para os empresários, será bom para nós”, disse Juan Manuel Santos. Não explicou quem seria esse “nós”. Disse que só pede “responsabilidade ambiental e social”. Não explicou como se daria essa responsabilidade. Mas afirmou que a troco oferece “regras de jogo estáveis, segurança jurídica”. São expressões que aos ouvidos empresariais têm o som de Brahms ou Beethoven.

O Banco Mundial diz que, na América Latina, a Colômbia ocupa o primeiro lugar na proteção aos investidores estrangeiros. No mundo todo, ocupa o quinto lugar.

As taxas de crescimento da economia são firmes e elevadas, na média de 4% anuais ao longo dos seis últimos anos, com marca impressionante em 2011: expansão de 6% no PIB, de 43% nas exportações e de 59% no volume de investimentos estrangeiros.

Mas a Colômbia é também um dos países de maiores e mais gritantes diferenças sociais neste continente de injustiças. A dívida social do Estado diante dos cidadãos tem dimensões de escândalo.

O presidente colombiano faz questão de dizer que cumpre todos os deveres de casa e não comete rebeldias como as da Argentina (onde, aliás, a pobreza extrema foi reduzida a 6% da população, menos de um terço da registrada na Colômbia). Reiterou que seu país vive aquilo que classificou de “processo espetacular de transformação econômica”. Anunciou a existência de um plano de desenvolvimento para dez anos, com ênfase em projetos de infra-estrutura.

Também disse que o país sofre enormes carências que significam, ao mesmo tempo, excelentes oportunidades para empresas estrangeiras. A troco dos recursos necessários – e que se situam na casa dos cem bilhões de dólares – seu governo jura fidelidade irrestrita aos sócios estrangeiros.

Diz, com relação ao Mercosul, que ‘essa idéia de acordos em bloco são coisas fora de moda’. Para o seu governo, a ordem é cada um por si e ninguém por todos. Para ele, bom mesmo é acatar a velha ordem estabelecida: Quem paga, manda.

A América Latina cresce e cresce, e continua sendo um dos continentes mais desiguais do planeta. Nesse quadro de grandes distâncias sociais, as da Colômbia são cada vez mais nítidas. Não é por acaso que, em seus esforços para vender o país, Juan Manuel Santos mencione de passagem a necessidade de combater essa desigualdade. De passagem e apenas roçando a superfície, sem aprofundar nada.

Ele foi ministro de Comercio Exterior no governo liberal de César Gaviria, foi ministro da Fazenda no governo conservador de Andrés Pastrana, foi ministro de Defesa no governo liberal de Álvaro Uribe. Transitar com essa leveza entre dois partidos tão radicalmente enfrentados como o Liberal e o Conservador pode ser entendido como dedicação às grandes causas nacionais, acima das diferenças partidárias. E também pode ser entendido como artimanhas de um trânsfuga sem escrúpulos.

Enfim, que fique bem claro: em seus pronunciamentos aos empresários, Juan Manuel Santos não fez uma única menção a programas de combate à desigualdade que assola seu país. Disse e redisse aos espanhóis: “Aqui, não expropriamos nada”.

Não perguntou nada nem disse nada aos milhões de colombianos expropriados de seu próprio país. Aos que tiveram e têm sua esperança expropriada.

Com justificável desalento diante do Código Florestal aprovado na Câmara,  membros do Greenpeace classificaram o agronegócio brasileiro como o maior partido do país. O desabafo é compreensível quando 274 votantes, de um total de 458, sonegaram à sociedade salvaguardas ambientais minimamente contempladas na versão do projeto aprovada no Senado. Ser um grande partido, porém, requer justamente o oposto do que caracterizou o espetáculo de ganância obtusa propiciado pelo Legislativo federal. O que se viu ali foi a ação de um poder econômico que deixado à própria sorte transforma-se em força anti-social. Deve ser objeto do mesmo enquadramento estatal preconizado contra a desregulação financeira.  O veto da Presidenta Dilma neste caso é um recurso legítimo da democracia contra a imposição de um grupo sobre toda a sociedade. (LEIA MAIS AQUI)

Cotas raciais: Supremo desmoraliza fraude do PiG


A coisa já esteve melhor para a seleção brasileira, não é Galvão ?


A histórica decisão do Supremo de legalizar o sistema de cotas raciais na Universidade de Brasília – e, portanto, em todo o país – dá uma dimensão da fraude que o PiG (*) impõe.

Os votos no Supremo refletem uma posição clara e majoritária da sociedade brasileira: ela quer as cotas.

Como disse o ministro Marco Aurelio (Collor de) Melo, democracia não combina com desigualdade, nem com discriminação.

O Supremo seguiu o irretocável voto do relator Lewandowski, que, num gesto de rara sabedoria, convocou audiências prévias, de que participaram Luiz Felipe de Alencastro, Fabio Konder Comparato e, do lado de lá, da Globo e do PFL, Demóstenes Torres, quando ainda era o Catão do PiG.

O resultado no STF reforça  esse formidável processo de inclusão social com ascensão econômica, que se tornou um exemplo do Brasil para o mundo – clique aqui para ver o que disse o Prêmio Nobel Amartya Sen, citado pela Presidenta .

Porém, não era o que se via no PiG.

Ao longo de uma década, os jenios do PiG pareciam demonstrar que a sociedade brasileira não queria nem precisava das cotas.

Primeiro, porque no Brasil não há negros, mas pardos e pardos não precisam de ajuda – virem-se.

Segundo, porque as cotas iam criar um apartheid – os beneficiados seriam cruelmente discriminados  pelos prejudicados.

É a mesma tese pós- fascista das Organizações Globo, ao criticar o Brizolão, no Rio – as crianças do Brizolão, instruídas e bem nutridas,  seriam mal vistas na favela.

Agora, quando os dados estavam irremediavelmente lançados – os paralelepípedos da rua Augusta podiam antecipar a vitoria -  colonistas (**) da Globo aderiram à corrente vencedora.

Foi o caso do colonista (**) dos múltiplos chapeus e da Urubóloga que, derrotada no campo da Economia, parece reconciliar-se com as bandeiras dos Direitos Humanos.

Quando as nuvens eram carregadas, porém, predominavam no Globo o Ali Kamel , autor de uma Antologia da Treva, um pseudo antropólogo (leia o Em tempo sobre uma carta que chegou à casa de Gilberto Freyre).

Resplandecia na Globo e no Esradão um obscuro geógrafo que se transformou no sabidão da Globo News – vai da receita de bolo a tratamento de frieiras.

No Brasil e no Butão.

Mas, sempre contra as cotas.

A posição contra cotas no PiG predominava.

Não se tem notícia de um jornalista da Globo que tenha usado seu púlpito para defendê-las.

Seja branco, negro ou pardo.

Ler os jornais brasileiros e revistas era como se vivessemos num laboratório de Eugenia Social.

E parecia que a opinião pública referendava essa distorção.

Do contrário, como explicar que os colonistas(**) do Brasil não defendessem as cotas raciais ?

Porque a imprensa fala pelo país – diria a presidente da ANJ.

O Supremo ouviu a “turba”.

Que beleza !

Quem não tem ouvidos para a “turba” é o PiG.

Sem esquecer – como diz o Mino Carta – que os jornalistas são piores que os patrões.

Em tempo: conta-se que D Madalena, em Apipucos, aproximou-se do Mestre e disse: Gilberto, essa carta está em cima da tua mesa há um tempão e você não abre … O Mestre respondeu: Madalena, não posso abrir.  É para um Gilberto Freire, com “i”.  Não sou eu. Ali Kamel é o Gilberto Freire com  “i” da Globo.


Paulo Henrique Amorim


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta  costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse  pessoal aí.