Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Mídia continua apoiando Clube Nextel

Miguel do Rosário, O Cafezinho

Um desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Tourinho Neto, declarou as escutas envolvendo Carlinhos Cachoeira ilegais porque as justificativas do juiz foram “insuficientes”. Em artigo publicado na Folha, o professor de Direito Público, Joaquim Falcão, explica o negócio:
Indício, diz o dicionário, é sinal aparente de algo que existe. O juiz achou que havia desde o início aparência de ilícitos. Seu cálculo de probabilidade parece se confirmar. Mas o desembargador acha que os indícios só se confirmaram após a escuta.
Ou seja, a Polícia Federal consegue desbaratar uma das mais sinistas máfias políticas da República, e Tourinho Neto diz que “os indícios só se confirmaram após a escuta”. Se outros desembargadores seguirem Tourinho Neto, Carlos Cachoeira, um dos maiores bandidos do Brasil, será solto e a operação Monte Carlo, que desbaratou uma das maiores máfias políticas que já atuaram na república, estará praticamente morta, com reflexos óbvios sobre a CPMI em curso.

É como se os EUA descobrissem os reais autores do 11 de setembro, baseados em escutas telefônicas, prendessem-nos, e um juiz os mandasse soltar porque os “indícios só se confirmaram após a escuta”.

E a mídia, que pressionou o STF a julgar o mensalão às pressas, em pleno período eleitoral, tem dado um apoio tácito à posição de Tourinho Neto. Ninguém manifesta contrariedade. Ao contrário, Jânio de Freitas, para minha grande decepção, vem com aquela conversinha pra boi dormir sobre “uso abusivo de escutas policiais de telefones”.

É a mídia, mais uma vez, dando uma forcinha ao Clube Nextel.

Ora, ontem publicou-se notícia de que as escutas representam um percentual mínimo nas investigações da Polícia Federal! Todas as escutas da PF são autorizadas judicialmente, e embasadas em indícios levantados por competentes investigadores.

A situação é particualrmente absurda porque o esquema desbaratado caracterizou-se justamente por fazer escutas clandestinas.

O modus operandis da organização quadrilheira baseava-se na realização de grampos ilegais, com os quais abasteciam órgãos de mídia, cumprindo dois objetivos centrais:

1) Fortalecer seus prepostos políticos, como Demóstenes Torres, que ia para tribuna brandir discursos éticos contra adversários fragilizados pelos grampos clandestinos e pelas reportagens relacionadas.

2) Chantagear funcionários públicos, forçando-lhes a entrar no esquema.

3) Descobrir segredos de Estado que facilitavam suas operações.

Já se sabe hoje como funcionava a organização Cachoeira. Ela tinha três braços: o político, liderado por Demóstenes Torres, Marconi Perillo e vários outros políticos; o financeiro, liderado pela Delta, que obtinha contratos milionários e derrubava concorrentes a partir das ações da quadrilha; o administrativo, que era comandado por Carlinhos Cachoeira, seus assessores e arapongas.

Sendo que o braço político tinha ramificações no Executivo (Marconi Perillo), no Legislativo (Demóstenes), no Judiciário (Gilmar Mendes?) e na mídia (revistas Veja, Época e jornalistas a serviço). Os nomes entre parêntes são os mais importantes, mas a quadrilha era grande. Tinha no bolso muitos deputados, delegados, funcionários federais, jornalistas, etc.

A grande pergunta que se faz agora é: cade a pressão da opinião pública para impedir que membros corruptos ou incompetentes do judiciário apliquem um profundo golpe contra a democracia brasileira? Cadê os movimentos de corrupção? Onde estão os paladinos da ética? Nenhum estrela da mídia irá se manifestar? Quer dizer que agora só bandidos podem grampear?

Não, Merval Pereira hoje faz a sua bilionésima coluna sobre o… mensalão. Dora Kramer saúda a “concorrência salutar” entre petistas e tucanos, e Fernando Rodrigues repete que a CPMI “perdeu o rumo“.

*

Na verdade, quem parece ter perdido o rumo são os jornalões, que voltaram a bater cabeça (o que é raro: em geral caminham sempre de mãozinhas dadas, com as mesmas opiniões, mesmos colunistas, mesmas fontes). Enquanto Dora Kramer elogia justamente o fato de haver concorrência política na CPMI, o que impede “acordões”, Ilimar Franco critica petistas e tucanos por terem transformado a CPI num ringue de “galos de rinha”.

O raciocínio de Franco, porém, traz um equívoco baseado no pressuposto de que há similaridade entre Agnelo e Perillo. Não há.

Ninguém jamais disse que Agnelo é santo, mas sim que não há nada que o ligue ao esquema Cachoeira. Muito pelo contrário. Ontem isso ficou bem claro, ao se fazer um levantamento dos fatos durante o seu depoimento. O Clube Nextel tentou derrubar Agnelo porque não conseguiu o que queria de sua administração. Pouco depois de Cachoeira e Dadá protestarem contra seus insucessos junto ao governo do Distrito Federal e externarem desejos de retalização contra Agnelo, Demóstenes Torres sobe a tribuna, pau mandado que era de Cachoeira, para pedir o impeachment do governador. E a revista Época inicia ataques sistemáticos a Agnelo.

*

Os jornalões hoje repetem ainda a estratégia de levantar suspeitas sobre a casa de Agnelo Queiroz. Ora, em primeiro lugar, o caso não tem nada a ver com o esquema Cachoeira, então não é escopo da CPI. Se quiserem façam uma CPI da Casa do Agnelo. Para um profissional bem sucedido, médico, deputado federal, ministro, diretor de agência federal e depois governador, comprar uma casa própria para si próprio, com ajuda da esposa, no valor de 400 mil reais, não é evidentemente nenhum absurdo.

O caso Perillo é totalmente diverso. Ele vendeu a casa ao principal bandido investigado pela CPI! Carlos Cachoeira, o homem central da organização criminosa que é o foco da CPI, morava na casa que o governador lhe vendeu! Ou seja, a casa de Perillo tem obviamente ligação com o esquema Cachoeira. A casa de Agnelo, não.

*
Assine a petição que pede à Justiça que não comete esse crime contra a democracia. Que não considere ilegal as escutas da Monte Carlo, o que praticamente anularia todo o inquérito e libertaria os principais bandidos.

O puro e mal disfarçado ódio da elite inglesa ao 'social'

Paris — No período entre as duas grandes guerras era comum jovens aristocratas ingleses participarem da repressão a movimentos populares e greves. Era uma forma de entretenimento, naquela época e naquele mundo tão bem descritos nos romances de Evelyn Waugh e outros: a luta de classes transformada em esporte para os rapazes queimarem calorias e ajudarem a manter a ordem.
Não surpreende que boa parte da aristocracia da ilha simpatizasse com o nazismo — inclusive, suspeitava-se, o próprio rei — quando seu principal atrativo era o de conter a expansão comunista.
Num museu da Segunda Guerra Mundial que visitamos em Cherbourg havia uma exposição de cartazes alemães dirigidos à população francesa durante a ocupação, e o apelo de todos era ao medo do bolchevismo, que o nazismo tinha vindo evitar.
Depois daquele período entre as guerras muita coisa mudou na Inglaterra, que inclusive foi pioneira em diversas medidas formadoras do welfare state, o estado de bem-estar social que floresceria na Europa a partir da metade do século passado. Mas a Inglaterra também está liderando o combate à crise da dívida com medidas de austeridade mais profundas e duras do que a de países da comunidade europeia em processo de esfarelamento.
No caso do governo conservador inglês, como observou o Paul Krugman em artigo recente, além das razões discutíveis mas defensáveis para a austeridade, existe um componente de puro e mal disfarçado ódio ao “social”, que sobrevive na elite inglesa desde os bons e divertidos anos 20 e 30. Ou, para ser mais preciso, desde sempre.
Entre todos os objetivos declarados e não declarados do sacrifício de benefícios sociais está o deliberado desmonte do welfare state e o fim da social-democracia. Quer dizer, esqueça os arrazoados econômicos e as justificativas bem sonantes. Está-se assistindo a uma revanche.
Perigo
As eleições legislativas francesas deram uma apertada maioria para os socialistas e o apoio que o Hollande precisava para começar a fazer algo diferente no governo. Mas o fato mais notável das eleições foi o bom desempenho, outra vez, da direitista Marine Le Pen que, como tem as mesmas ideias xenófobas e retrógradas do seu pai, mas é muito mais simpática e bem articulada, passa a ser a personalidade mais perigosa da política francesa.
 
Luís Fernando Veríssimo

Stanley Burburinho: Genealogia de Tourinho



1 - Nome do desembargador que autorizou a transferência de Cachoeira do presídio de segurança máxima no RN para a Papuda, em BSB: Tourinho Neto -http://www.jornalopcao.com.br/posts/ultimas-noticias/carlinhos-cachoeira-sera-transferido-para-brasilia

2 - Nome do desembargador que quer anular os grampos das operações Vegas e Monte Carlo: Tourinho Neto - http://www.aredacao.com.br/noticia.php?noticias=13948

3 - Nome do relator que desbloqueará os bens da Vitapan, empresa de Cachoeira: Tourinho Neto -http://www.jornaldotocantins.com.br/20120613123.128592#13jun2012/politica-128592/

4 - Desembargador acusado de querer "soltar todo o crime organizado de Goiás, DF e adjacências" - http://www.dignow.org/post/desembargador-tourinho-neto-quer-soltar-todo-o-crime-organizado-de-goidf-e-adjacias-4206743-57849.html Tourinho Neto

5 - Desembargador que, antes de tomar posse, já estava na mira Eliana Calmon e de conselheiros do CNJ - http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/judiciario/chegada-vigiada/ Tourinho Neto

6 - De qual Tribunal Regional Federal é o desembargador Tourinho Neto? Ele é do TRF-1 do DF.

Álvaro Dias, José Agripino, Onix abrem seus sigilos ou são da bancada do Cachoeira?


Em 9 de novembro de 2011, o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), o senadorÁlvaro Dias (PSDB-PR), o senador José Agripino Maia (DEM-RN), o deputado Onix Lorenzoni (DEM-RS) e outros foram até a Câmara Distrital, realizar um dos serviços sujos desejados pela turma do bicheiro Carlinhos Cachoeira: pedir o impeachment do governador Agnelo Queiroz (PT-DF).

O episódio ficou registrado nesta foto exibida durante a CPI:

Onix Lorenzoni, Demóstenes Torres, José Agripino Maia, Alvaro Dias
na Câmara Distrital para pedir o impeachment de Agnelo Queiroz,
conforme interessava ao bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Agora, todos estes parlamentes precisam abrir seus sigilos bancários, fiscais e telefônicos para provarem que não eram da bancada do bicheiro Cachoeira, como era Demóstenes Torres.

Leia também:
Onix, Francischini, Sampaio e Sávio substituem Demóstenes na defesa de Cachoeira. Abrem seus sigilos?

Miro detona CPI antes de Civita depor


Como se sabe, os filhos do Roberto Marinho – eles não têm nome próprio – chegaram para o (vice) Michel Temer e disseram assim: quando você ouvir falar em Veja, pense em imprensa; quando ouvir falar em imprensa, pense em Globo.

Na sessão da CPI desta quinta-feira, o deputado Miro Teixeira, que mantém históricas relações com a Globo, denunciou a existência de uma “tropa do cheque” – cinco parlamentares que se encontraram com o dono da Delta em Paris.

A manchete do Globo na primeira página desta sexta-feira completa a coreografia e denuncia, furiosa, a “tropa do cheque” do Miro.

Dois dos supostos (diria a Folha (*)) “tropeiros” , segundo o Estadão, na pág. A4, são membros da CPI – o senador Ciro Nogueira, do PP do Piauí, e Mauricio Quintella Lessa, do PR de Alagoas.

Na mesma sessão, a CPI se recusou a convocar, por agora, o dono da Delta, Fernando Cavendish, e Luiz Antonio Pagot, ex-diretor do DNIT.

É uma pena.

Cavendish poderia contar nos mínimos detalhes como foi que negociou com Paulo Preto – segundo demonstrou a Conceição Lemes no Viomundo – milionárias empreitagens no governo do Padim Pade Cerra.

Pagot poderia dar os mínimos detalhes da acusação que fez à revista IstoÉ: que o Padim Pade Cerra ficava com a parte do Leão (60%) do rachuncho das obras do Robanel dos Tunganos.

Que pena !

(Para se blindar na campanha derrotada a prefeito, Cerra dirá que vai processar o Pagot. Como processou o Amaury da Privataria e este ansioso blogueiro. No caso deste ansioso blogueiro, toda vez que recorre, apanha. Já perdeu três. Clique aqui para ir à aba “Não Me Calarão”.)

Este ansioso blogueiro acha que a intervenção de “horário nobre” do Miro teve, na verdade, o efeito de poupar a galera do depoimento do Skuromatic, ou seja, do Robert(o) Civita e seu fiel escudeiro, diretor em Brasília, Policarpo Júnior.

Porque, inevitavelmente, depois deles, viriam os globais que o Leandro Fortes, na Carta Capital, localizou em malabarismos “jornalísticos” com o Carlinhos Cachoeira.

A Globo e a revista Época parecem ter tido ciúmes de fonte tão preciosa e, pelo jeito, privilégio do detrito sólido de maré baixa.

Para este ansioso blogueiro, a CPI do Robert(o) Civita já deu resultados formidáveis.

Desnudou o Gilmar Dantas (**) – quem o entrevistará sobre o Oscar do Daniel Dantas ?

Gilmar, aquele que participou de um encontro a três e foi desmentido pelos outros dois.

Aquele que foi chantageado e não chamou a Polícia para prender o chantageador.

O brindeiro Gurgel foi outro despido pela CPI – veja que o Collor conseguiu notificá-lo.

Com as vísceras à mostra, na CPI, a Veja aguarda seu momento Visão – ter mais exemplares distribuídos que a publicidade consegue remunerar.

Clique aqui para ler “Internet bomba e Veja está à beira da morte”.

A CPI expôs o que a Veja é: um detrito sólido de maré baixa.

A CPI revelou a combinação de forças que se armou para pendurar o “mensalão” no Governo Lula e levar o Dirceu à  forca.

Foi o que Dirceu disse aos jovens socialistas, no Rio, e deixou o PiG (***) tão aflito.

Foi o que o Ernani de Paula fez, quando a “TV Record melou o mensalão”.

Na CPI se vê com muita clareza quem é quem.

Quem ali dança o minueto da Globo.

E joga todas as fichas na condenação do Dirceu.

Ninguém está ali para prender o Carlinhos Cachoeira ou desmascarar o Demóstenes.

O destino deles já está traçado.

Ainda que o Desembargador Tourinho jogue tudo no lixo.

Ficará demonstrado de forma inequívoca que, no Brasil, não é que rico não vá preso: rico não pode ser, sequer, investigado.

Aquela é a CPI do mensalão.

O resto é luar de Paquetá.

De olho na CPI e suas quadrilhas de São João, o Supremo não vai condenar o Dirceu, se não há provas.

O Merval entrou para a Academia.

Não entrou para o Supremo.

E nem o Peluso – cujo voto estimula tanto os mervais – e nem o Peluso, na véspera de ir para casa, condenará alguém sem provas.

Os votos ficam gravados na memória da História.

Os mervais somem na poeira da estrada.

E o Peluso sabe disso.


Paulo Henrique Amorim


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a  Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

(**) Clique aqui para ver como eminente colonista do Globo se referiu a Ele. E aqui para ver como outra eminente colonista da GloboNews e da CBN se refere a Ele. E não é que o Noblat insiste em chamar Gilmar Mendes de Gilmar Dantas (**) ? Aí, já não é ato falho: é perseguição, mesmo. Isso dá processo…”

(***) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

O QUE FAZ UMA ESTATAL NA CRISE

*Faltam 48 horas para a eleição da crise: BCs dos países  ricos preparam 'chuva de dinheiro' nos mercados para enfrentar a turbulência prevista no day after da eleição deste domingo, na GréciaA Petrobrás elevou em US$ 12 bilhões seu programa de investimentos  para o período 2012/2016 em comparação com o planejado anteriormente (2011/2015).  No total, a empresa brasileira investirá  nesse quadriênio US$ 236,5 bilhões, a contrapelo da retração econômica mundial. Trata-se do maior plano de investimentos do mundo  ancorado em  uma única companhia, envolvendo uma massa de recursos superior a que os EUA gastaram para enviar o homem à lua. O nome disso é político contracíclica. Os mercados não gostaram e derrubaram as ações da empresa. Preferiam mais dividendos no bolso, do que recursos no futuro do país. (LEIA MAIS AQUI)

Grécia: o lado mais sinistro da crise

A bandeira da expulsão violenta de imigrantes doentes dos hospitais (além das crianças “estrangeiras” das creches), defendida pela extrema-direita grega, casou com um momento em que falta merendas nas escolas e material médico, além de pessoal, nos hospitais públicos superlotados.

Em conversas por aqui tenho sugerido que a crise e sua administração “austera”, destruindo direitos e sonhos, está desencavando abantesmas sinistras pela Europa: refiro-me a teses e práticas soturnas da extrema-direita que podem levar o convulsões dramáticas em vários países, como já houve no passado.

Várias pessoas recebem esse comentário com ceticismo, talvez acreditando que eu seja um caçador de pesadelos.

Mas as coisas são o que são, e só não vê quem não quer.

Na terça-feira, 12 de junho, às vésperas das decisivas eleições gregas (17 de junho, coincidindo com o segundo turno da francesa), um dos líderes do movimento/partido “Aurora Dourada”, de extrema-direita, veio em meu socorro. Ilias Panagiotaro, o líder em questão, disse que se o seu partido (que em 6 de maio obteve 21 cadeiras no parlamento grego, entre 300) vencesse as eleições no próximo domingo, imediatamente seus partidários começariam a percorrer hospitais e creches na Grécia para “jogar na rua” doentes e filhos de imigrantes, a fim de que os gregos pudessem ocupar essas vagas. A ameaça lembra coisas como a chamada “Noite dos Cristais” na Alemanha, quando os nazistas depredaram lojas de judeus e sinagogas.

Os membros do “Aurora Dourada” vem protagonizando cenas e mais cenas de violência. Na última delas (antes das declarações de Panagiotaro), o deputado Ilias Karadiaris agrediu fisicamente duas mulheres durante um debate televisionado – e na frente das câmeras. Primeiro ele jogou um copo d’água numa das debatedoras. Na seqüência a também deputada Liana Kanelli, do Partido Comunista, que estava a seu lado, tentou detê-lo, e ele deu três tapas em sua cabeça. Karadiaris foi contido pelo pessoal da emissora e fechado numa sala, enquanto a polícia era chamada. No entanto ele arrombou a porta e se evadiu, estando agora foragido.

A bandeira da expulsão violenta de imigrantes doentes dos hospitais (além das crianças “estrangeiras” das creches) casou com um momento em que falta merendas nas escolas gregas e material médico, além de pessoal, nos hospitais públicos superlotados. O dr. Reveka Papadopoulos, diretor da organização Médecins sans Frontières na Grécia, declarou recentemente que o corte da distribuição gratuita de seringas e agulhas para drogados provocou um aumento dramático do número de casos de HIV positivo em Atenas. Segundo o doutor, hoje pode-se avaliar num aumento de 1.450% nos casos em Atenas, referindo-se ao aumento de casos entre 2010 e 2011. Para a população em geral o aumento foi de 52%, o que equivale a dizer que esse número total deve ter aumentado de cerca de 8.800 casos no país para mais de 12 mil.

Dados da organização dizem que a demanda nos hospitais públicos aumentou em 24% no último ano, enquanto as verbas disponíveis caíram em mais de 40%. Além disso a polícia tem realizado blitzes sucessivas contra imigrantes, com seguidas denúncias por parte da Anistia Internacional de atitudes discriminatórias e persecutórias.

Fala-se agora – e não apenas na extrema-direita – em votar uma lei cassando o direito dos filhos de imigrantes nascidos na Grécia serem considerados cidadãos do país.

O
dr. Papadopoulos também assinalou que cresce o número de casos de malária entre a população, sobretudo no sul do país, além dos casos de tuberculose e febre do Nilo (um tipo de encefalite virótica que pode atacar o sistema nervoso central). Comentou ainda que o fim do fornecimento de agulhas e seringas aos drogados vai além da questão da falta de recursos, revelando uma “conceituação inadequada do problema”. Como exemplo dessa visão equivocada ele citou ainda a iniciativa de não propiciar tratamento médico a imigrantes ilegais, o que considerou uma “atitude esquizofrênica”.

Para completar esse quadro sinistro, grupos de direitos humanos e partidos de esquerda acusam membros da polícia de cumplicidade com o “Aurora Dourada”.

Acho que alguns de meus interlocutores terão de repensar a sua indiferença.

Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.