Os quatro grandes conglomerados de mídia que monopolizam a comunicação de massa no Brasil chegam à sétima disputa com o PT pela Presidência da República. Organizações Globo, Grupo Folha, Grupo Estado e Editora Abril vêm tomando partido em todas as eleições presidenciais ocorridas desde a redemocratização de fato do país, em 1989, quando, pela primeira vez em quarto de século, os brasileiros puderam escolher seu presidente.
Das seis eleições presidenciais do pós-redemocratização (1989, 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010), os grupos de mídia supracitados sempre atuaram contra o candidato do Partido dos Trabalhadores – Lula nas cinco primeiras eleições e Dilma Rousseff na última. Contra o petista da vez, apoiaram Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin e José Serra.
Dessas seis eleições, só na primeira a direita midiática apoiou um candidato que não fosse do PSDB. Com o fiasco da eleição de Collor em 1989, porém, o oligopólio de empresas de comunicação fechou com os tucanos e não abriu mais. Contudo, mídia corporativa e PSDB, nas seis eleições em questão, usaram apenas duas estratégias eleitorais: medo e moralismo.
Em 1989, 1994, 1998 e 2002, os impérios de mídia e o anti-Lula de plantão usaram o discurso do medo – o petista transformaria o Brasil em uma espécie de Cuba gigante. Nas eleições de 2006 e 2010, apelaram para o moralismo religioso e/ou administrativo, com acusações ao petista da vez de ser “abortista” ou “corrupto”.
Em 2006, devido à eclosão do escândalo do mensalão, a questão “ética” dominou a campanha. No primeiro embate televisivo direto entre Lula e Geraldo Alckmin no segundo turno daquele ano, na TV Bandeirantes, o tucano promoveu forte agressão ao adversário, praticamente chamando-o de corrupto em rede nacional, emulando o discurso de uma avalanche de editoriais, colunas e “reportagens” sobre o mensalão que, quase 9 anos depois, ainda não terminou.
Já em 2010, a mídia tucana adotou contra Dilma – e em favor de Serra – uma mescla de acusações de corrupção e de ser “abortista”. Em sabatina da petista pela Folha de São Paulo nesta mesma época da campanha eleitoral daquele ano, o jornal resgatou declarações antigas dela favoráveis ao aborto – a aposta eleitoral decorreu do conhecido repúdio da maioria dos brasileiros a uma prática que países desenvolvidos adotaram como política de saúde pública.
Durante a eleição presidencial de 2010, o moralismo religioso e o administrativo tiveram pesos equivalentes na estratégia midiático-oposicionista, enquanto que, em 2006, o moralismo administrativo foi a única aposta antipetista.
O país chega a 2014 com uma combinação de estratégias da direita midiática contra o petista da vez. Apesar de na campanha eleitoral deste ano ser previsível que o moralismo religioso e o administrativo serão usados por Aécio Neves, Globo, Folha, Estadão e Veja, esses instrumentos não terão peso relevante desta vez – até por conta de vários escândalos de corrupção que estouraram contra o PSDB do ano passado para cá, tais como o escândalo dos trens ou, mais recente, o do “aécioporto”.
Talvez, esta seja a primeira eleição presidencial do pós-redemocratização em que não haverá “balas de prata”.
Desta vez, porém, a preponderância será de um discurso anti-PT que, tanto em 2006 quanto em 2010, não teve grandes possibilidades de vingar, apesar de ter sido tentado. A grande aposta da direita midiática em 2014 é na situação econômica do país, que esse grupo político acredita estar produzindo resultados.
De fato, a combinação dos protestos de junho do ano passado com terrorismo econômico da mídia e um desempenho de fato inferior da economia devido à crise internacional, tudo isso acabou produzindo efeito na cabeça de parte do eleitorado e, pela primeira vez no século XXI, a direita midiática disputará a Presidência em condições menos adversas.
A economia brasileira vai muito bem, obrigado. Apesar do crescimento considerado “baixo”, emprego, salário e renda das famílias continuam melhorando, ainda que em ritmo menor. Claro que há problemas em um quadro de profunda depressão mundial, mas a escolha do governo petista foi a de impedir que a população sentisse a crise e, assim, a conta mais alta vai para o topo da pirâmide social.
Com rentabilidade menor, o empresariado e o mercado financeiro se deixaram seduzir pela proposta velada de Aécio Neves e de Eduardo Campos de redistribuir os sacrifícios exigíveis durante uma situação ineditamente grave da economia mundial. Obviamente que requerem uma redistribuição ruim para a maioria e melhor para a minoria abastada.
Ainda assim, mesmo tendo números “ruins” para apresentar no que diz respeito ao crescimento e à inflação, não foi possível à mídia destruir a recandidatura de Dilma Rousseff. Muito pelo contrário, a presidente tem chance de vencer a eleição no primeiro turno, ainda que poucos acreditem que consiga – inclusive este Blog – devido à mãozinha que a mídia dá à direita 365 dias por ano, desde 1989.
Contudo, os resultados relativamente melhores colhidos até aqui pela direita midiática dependem de um fenômeno que, em cerca de duas semanas, irá terminar: o fenômeno de a mídia tucana falar sozinha contra a economia.
Mesmo com Dilma, sua equipe de governo, expoentes petistas e o próprio PT contradizendo o discurso midiático aqui e ali, os grupos que promovem protestos violentos nas ruas desde o ano passado geram discurso à direita de que o país vai mal, pois se tanta gente protesta a impressão que fica é a de que há realmente alguma coisa errada. Além disso, os protestos infernizam a vida dos cidadãos nas grandes cidades, gerando um clima favorável à oposição.
Contudo, há um fator extremamente poderoso a favor da recandidatura de Dilma: a realidade.
Na semana passada, durante a “sabatina” de Dilma pelo portal UOL, um dos entrevistadores a questionou quanto ao “problema do desemprego”. A presidente demonstrou surpresa e forte contrariedade com a proposição de uma questão literalmente maluca. O Brasil tem hoje o menor nível de desemprego de sua história, com salários crescendo apesar da crise.
Fatores sazonais interferiram na criação de postos de trabalho nos últimos meses, mas não há um só analista sério de economia que aposte em aumento real e expressivo do desemprego. Claro que com um nível tão baixo de desemprego (entre 5 e 6 por cento), não há espaço para criação de muitos postos de trabalho como vinha acontecendo nos últimos anos e, assim, a criação de vagas deve continuar, porém de forma mais modesta.
Por conta desses fatores, os números mais modestos de criação de empregos têm sido tratados como se houvesse aumento do desemprego, ao passo que o que existe é redução mais lenta do desemprego.
Como a mídia martela sem parar o terrorismo econômico em suas longas, longuíssimas reportagens desalentadoras sobre a economia, e como as ruas continuam sendo tomadas por manifestantes que garantem que o país está no fundo do poço, tudo isso torna praticamente inaudível os pedidos de reflexão do governo e do PT para o fato de que ninguém tem sentido desemprego ou queda na renda ou no salário, até porque continuam subindo, ainda que mais lentamente.
Isso tudo, porém, vai mudar a partir do horário eleitoral na TV e no rádio.
Um texto como este é considerado pela direita midiática – e até por setores da ultraesquerda – como uma legítima heresia, mas é exatamente o que você leu aqui que irá parar em rede nacional a partir do próximo dia 19 de agosto, nos programas eleitorais do PT. A análise deste Blog, portanto, é a de que este chamamento à reflexão será extremamente poderoso, pois fará a parcela mais influenciável do eleitorado voltar a pensar, o que não tem feito desde junho do ano passado.