Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 24 de junho de 2016

Tijolaço: “Choque de confiança” de Temer só existe na mídia






Tijolaço: “Choque de confiança” de Temer só existe na mídia


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"Embora os jornais e televisões tenham tirado a chamada "Brasil em crise" de seus noticiários e vinhetas, em nome do tal "choque de confiança" que estaria ocorrendo sob Michel Temer, a realidade é teimosa e insiste em aparecer quando as pessoas vão ao supermercado", afirma o jornalista Fernando Brito, do Tijolaço; ele exemplifica com o aumento da previsão de inflação para os próximos 12 meses, de 10,3% em maio para 10,5% em junho, medida pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) 

Por Fernando Brito, do Tijolaço -

 Embora os jornais e televisões tenham tirado a chamada "Brasil em crise" de seus noticiários e vinhetas, em nome do tal "choque de confiança" que estaria ocorrendo sob Michel Temer, a realidade é teimosa e insiste em aparecer quando as pessoas vão ao supermercado.

Do Valor, agora há pouco:

"A inflação prevista pelos consumidores brasileiros para os próximos 12 meses aumentou depois de cair por três meses consecutivos, informa a Fundação Getulio Vargas (FGV). A expectativa subiu de 10,3% em maio para 10,5% em junho.

"Essa leve alta, dentro da margem de erro estatístico, de 0,2 ponto, pode ser efeito da taxa de 0,78% do IPCA de maio (taxa em 12 meses de 9,32%) e do aumento anormal nos preços dos alimentos in natura. Outro ponto que merece destaque é o aumento de 0,7 ponto nas previsões de inflação dos consumidores no Rio de Janeiro, que pode estar refletindo uma expectativa de aumento de preços em virtude dos Jogos Olímpicos que acontecerão na cidade.

Independentemente das causas, tal resultado reflete a dificuldade do Banco Central em adequar as expectativas dos agentes, mesmo em um período de profunda crise econômica", afirma o economista Pedro Costa Ferreira, da FGV­Ibre, em nota.
Em junho, a maior elevação (da expectativa de inflação) ocorreu na faixa de renda mais baixa com alta de 0,6 ponto, alcançando 11,3%, o nível mais alto entre as quatro faixas pesquisadas.

expectinfla

domingo, 15 de novembro de 2015

Check-up anual: o Brasil de 2014. Se você desligar a Globo … melhora!

A queda da desigualdade é constante desde que Lula chegou lá!
globo interna.jpg
IBGE divulgou na sexta-feira (13/11) a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, o check-up anual do brasileiro.

Como sempre, o PiG destacou as más noticias, como por exemplo, que a taxa de desocupação aumentou 9,3% - sao as pessoas que não trabalham nem procuraram trabalhar.

Isso é muito ruim – 627 mil pessoas.

Mas, convém descer aos detalhes: 34% são jovens de 18 a 24 anos de idade, que, em muitos casos, foram estudar !

E 30% nunca tinham trabalhado.

Portanto, não se trata de uma CRISE no mercado de emprego, como fez parecer a Globo.

A desocupaçao, ou seja, dos que procuraram emprego e não encontraram, chegou em 2014 a 6,9%, contra 6,5% em 2013.

Grave, claro, mas é a crise da e na Globo.

A questao do desemprego é conjuntural.

Melhora e piora.

É importante fazer o check-up que a PNAD faz para contrapor o desemprego a questoes de estrutura da sociedade.

Que vao lá no fundo da sociedade.

Por exemplo: não é conjuntural a queda da desigualdade de renda que o Lua e a Dilma promoveram.

E só eles !

Mas, vamos falar disso adiante.

A populaçao brasileira chegou a 203 milhoes de pessoas, com um aumento de apenas 0,9%.

O que significa que o Brasil vai precisar de imigrantes.

Que bom !

Além disso,  é bom enfatizar:

- caiu a taxa de analfabetismo (para 8,3%, provavelmente concentrado nas redaçoes do PiG);

- a escolarizacao das crianças entre 4 e 5 anos de idade cresceu para 83,7% - viva o Bolsa Familia !

- a media de estudos da populaçao passou de 7,6 para 7,7 anos;

- o numero de universitários passou de 12,6% para 13,1% entre 2013 e 2014;

E isso não é conjuntural !

Depois que vai para a escola, não há CRISE na e da Globo que tire o que a criança botou pra dentro da cabeça !

- o rendimento médio real (grana no bolso) das pessoas com mais de 15 anos é de (na media) R$ 1.774, o que é 0,8% superior ao de 2013. Ou seja, descontada a inflação, a grana no bolso do brasileiro aumentou !;

- para os mais pobres – os 10% mais pobres da populaçao – os rendimentos subiram 4% e ficaram em R$ 256;

- para os mais ricos – os 10% de renda mais alta – a renda cresceu APENAS (diria o Pit Bonner !) 0,4%, e ficou em R$ 7.154;

- é por isso que a os paneleiros de São Paulo estão nervosos. Eles não lêem o IBGE, mas sentem no aeroporto, no supermercado, nos engarrafamentos – que a renda do pobre cresce mais rapido do que a dele;

- mesmo assim – e isso é uma PÉSSIMA noticia – os mais pobres recebem na media apenas 3,6% do que recebem os mais ricos;

- ainda assim, a desigualdade de renda diminuiu no periodo trabalhista, ou seja, no Governo Lula/Dilma: o indice de GINI, “em trajetoria decrescente desde 2004”, segundo o IBGE, desde 2004 ! - passou de 0,495 em 2013, para 0,442 em 2014.

(Esse indice mostra que zero significa perfeita igualdade e um a completa desigualdade);

Para entender a dimensão dessa informaçao, cabe ler o Mauricio Dias em “Lula não faz parte do Clube dos Eleitos”)

Essa é a questao estrutural número um.

Diz respeito a INCLUIR, aproximar o pobre do rico, tornar a sociedade mais igual.

Como se cansa de dizer a Dilma – há diferenca entre um brasileiro e outro, mas as oportunidades (na educacao, na creche, no Bolsa, na luz eletrica, no acesso à agua) tem que ser iguais !

Não é isso, Urubologa ?

- a mulher continua a ganhar menos que o homem: o salario da mulher era de 73,5% do salario do homem e melhorou para 74,5%;

- houve um aumento de 2,9% no numero de domicilios proprios (Minha Casa Minha Vida !) entre um ano e outro: são 67 milhoes de casas proprias;

- as casas passaram a consumir mais maquina de lavar roupa (59% dos domicilios). É para a mulher poder trabalhar fora, ou porque as filhas estao na escola e não podem mais lavar a roupa para a mãe … Um horror !);

- houve um aumento de 6,7% no numero de domicílios com pelo menos um carro (são 30,4 milhoes de casas com um carro na garagem…);

(O que não tem mais é comprador de carro por classificado em jornal. Por isso, o PiG impresso foi para o saco – entre outros motivos. Foi o que disse um motorista de taxi ao ansioso blogueiro. Ele trabalhava no Jornal do Carro do Estadao ...)

- aumentou o consumo de motocicletas em 6,4% (estão em 21% dos domicilios brasileiros);

- e a melhor de todas as noticias, que ficou para o fim: o numero de brasileiros que acessam a internet aumentou 11,4% em um ano !

11% ao ano.

Uma festa !

95 milhoes de brasileiros acessaram a internet em 2014.

Pela primeira, Nunca Dantes, a proporçao de internautas é maior do que metade da populaçao: 54,4% !

A PNAD mostra também que aumentou o acesso à populaçao ao celular – que já atinge 78% dos brasileiros.

Que horror !

Não há dinheiro que pague, se livrar do Pit Bonner !

Chora, Urubologa, chora !

(Em tempo: alguns comentarios aqui não são de responsabilidade do IBGE).

Paulo Henrique Amorim

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Por que não precisamos mais do FMI

economia capa
EDUGUIM.
Para quem acompanha a macroeconomia tupiniquim e sabe o que está acontecendo – e tudo o que já aconteceu – no Brasil, chega a ser torturante ver tanta desinformação sobre a verdadeira situação do país, que, apesar dos problemas atuais, é infinitamente melhor do que outrora.
Não é segredo para ninguém que, na melhor das hipóteses, 99% deste povo não tem quase nenhum conhecimento sobre macroeconomia, de modo que enganá-lo é extremamente fácil.
Nesse aspecto, caberia à imprensa traduzir nossa situação econômica para o povo em linguagem simples para que pudéssemos, inclusive, planejar melhor nossas vidas – nível de consumo, planos de investimentos etc. Todavia, devido ao fato de que a comunicação de massa no país é pautada por interesses políticos, a pílula econômica é dourada ou obscurecida conforme a conveniência dos grandes conglomerados midiáticos.
Eis que o Blog da Cidadania vem oferecer ao seu leitorado informações sobre a situação econômica do país valendo-se de uma linguagem acessível, apartada do economês, que, na prática, não passa de uma estratégia de enganação do homem da multidão que faz com que a maioria de nós nem tente ler o noticiário econômico.
Mas há uma coisa muito pior do que desinformação: os chutes de quem não entende nada de economia, mas, nem por isso, deixa de dizer bobagens como se soubesse o que está dizendo.
Quer um exemplo? Veja, abaixo, carta de um leitor da Folha de São Paulo na edição do jornal desta terça-feira (3/11).
economia
Uau! Onde estava o engenheiro Maurício Luz todo esse tempo, que não nos avisou dessa “saída” miraculosa? O FMI, então, é a solução, “a saída”?
Quanta abobrinha.
O que, diabos, o FMI tem que ver com o peixe? Nada. Mas o tal “engenheiro” associa a crise atual – que ninguém nega que existe – a recurso ao Fundo Monetário Internacional pelo simples fato de que, como se pode supor, não deve ser um garoto de vinte anos e, desse modo, passou a vida vendo o país recorrer ao organismo internacional ano após ano, por décadas.
Em 10 de janeiro de 2006, no último ano do primeiro governo Lula, o portal UOL trouxe uma notícia que só não foi suficientemente comemorada porque foi tratada com menoscabo pela imprensa: o Brasil acabara de quitar sua dívida com o FMI e, desse modo, não tinha mais por que submeter-se aos ditames do organismo multilateral.
Mas o que significava manter um acordo com o FMI? Reportagem do jornal Folha de São Paulo de 14 de novembro de 1998 (último ano do primeiro governo Fernando Henrique Cardoso) dá bem a dimensão do que significava ter um acordo com o Fundo – significava, na prática, que o país abdicava de poder tomar decisões soberanas sobre sua economia.
Confira:
economia 1
Quanta diferença para a situação atual do país. Note, leitor, a verdadeira operação de salvamento internacional de que o Brasil vivia precisando, periodicamente, até o ínício deste século.
O Brasil precisava manter acordos constantes com o Fundo Monetário Internacional – o que implicava em ter que prestar contas ao organismo quase todos os meses e a adotar suas receitas massacrantes para o povo – porque precisava de dinheiro emprestado.
Para quê? Simples, para pagar o famigerado “serviço da dívida”, ou seja, os juros extorsivos que nos eram cobrados pelo mercado financeiro Internacional e que ultrapassavam, ao ano, a casa dos dois dígitos, enquanto que, hoje, como o país tem avaliação de crédito de que oferece baixo risco de dar calote, não temos que pagar nem metade do que pagávamos nas operações internacionais.
Poucos sabem, mas quando um industrial brasileiro compra no exterior uma máquina financiada, a taxa de juros que paga depende da nota de crédito do país.
Como, até 2002 ou 2003, o país tinha uma situação quase falimentar, qualquer operação de crédito que qualquer empresário fizesse com o exterior, implicava em juros escorchantes. Hoje, a situação é bem outra, apesar dos nossos problemas – incomensuravelmente menores do que àquela época.
Mas por que tínhamos que fazer “acordos” com o FMI daquele tipo que o pescoço faz com a navalha e, hoje, não temos mais?
A resposta é extremamente simples: porque não tínhamos reservas cambiais e devíamos até as calças ao resto do mundo, sobretudo ao FMI, ao Banco Mundial, ao tesouro norte-americano, ao Clube de Paris etc.
E como este artigo não se destina só a iniciados, há que explicar o que são reservas cambiais. Trata-se, basicamente, da quantidade de dólares que temos “em caixa”.
Voltemos, então, ao segundo dia de 2003, primeiro dia útil do primeiro governo Lula. Veja abaixo, leitor, o quadro que ele herdou de Fernando Henrique Cardoso em termos de reservas cambiais.
reservas 2003
Confira agora, abaixo, a situação em 30 de setembro de 2015.
reservas 2015
Eis por que o Brasil não precisa mais de acordos com o FMI. Claro, temos que equilibrar o orçamento federal – hoje, estamos gastando mais do que arrecadamos. Contudo, não há país nenhum (EUA) ou organismo internacional algum nos dizendo o que fazer, quanto cortar etc.
E como o que arde para esses governos estrangeiros e organismos internacionais, quando emprestam dinheiro a alguém, não é o deles, mas o daqueles aos quais emprestam dinheiro (sob juros escorchantes), eles exigiam cortes de gastos draconianos.
Essa “sutil” diferença entre as crises de antigamente e a de hoje é que permite que, em plena “crise”, possamos ver imagens como a que o Blog reproduz abaixo – o êxodo dos paulistanos rumo ao litoral paulista no último feriado e o bem-bom de que desfrutaram.
economia 2

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Ué, mas a crise internacional não tinha acabado?

jornal nacional

O telespectador do Jornal Nacional – entre outros noticiários picaretas que embromam o país –, caso só se informe pela mídia corporativa, por certo ficou sem entender nada ao fim da edição do primeiro dia útil desta semana daquele telejornal.
Há meses que a mídia e a oposição ao governo Dilma Rousseff vêm desmentindo a presidente da República quando ela diz que as dificuldades econômicas do país se devem à crise internacional.
O blogueiro da Globo Ricardo Noblat, por exemplo, escreveu, recentemente, que “a crise internacional não existe mais”.
Também recentemente, Gustavo Franco, que pilotou o Banco Central durante o governo Fernando Henrique Cardoso, afirmou que a crise econômica do Brasil “não vem de fora” e que ela foi “autoinfligida” – ou seja, não existiria crise internacional. A crise seria só brasileira.
A Editora Abril, claro, não poderia se furtar, através da revista Exame, a espalhar a farsa de que só o Brasil estaria em crise enquanto o resto do mundo já teria se recuperado.
Mas o mentiroso mais ousado, sem dúvida, foi o economista Armínio Fraga, que teria sido nomeado ministro da Fazenda caso Aécio Neves tivesse vencido a eleição presidencial do ano passado; ele afirmou que “a crise econômica mundial acabou em 2009″.
A mentira colou. A grande maioria dos brasileiros desaprova o governo Dilma porque acreditou na mídia e na oposição quando disseram que os problemas do Brasil não são causados por crise internacional, pois esta não existiria mais.
As pessoas, então, por certo ficaram perdidas ao assistir à edição do JN de 24 de agosto de 2015.
O telejornal começou informando que a Bolsa de Nova Iorque chegou a cair mais de 6% no primeiro dia útil desta semana porque a China representa 15% da economia do planeta e seu crescimento vem despencando ano a ano.
A causa disso foi explicada pelo JN e essa explicação por certo foi o que mais deve ter espantado quem acreditou na Globo e na oposição quando disseram que não havia mais crise econômica internacional.
“Se a China cresce menos, é ruim para as multinacionais que ganham dinheiro lá. E para as empresas que exportam pros chineses. Eles são os maiores compradores de matérias-primas do mundo – e os principais clientes do Brasil”, diz o telejornal da Globo.
O JN disse, também, que “A Europa continua patinando”… Como assim, “Continua”?! A Europa já não tinha saído da crise, segundo Noblat, Gustavo Franco, Armínio Fraga etc.?!
Ao fim da matéria, o maior telejornal do país diz que o professor de economia norte-americano Sanjay Reddy opinou que os Estados Unidos não têm como baixar suas taxas de juro – que estão negativas desde 2009 – porque isso poderia “agravar ainda mais a crise nesses países”, ou seja, nos EUA, na Europa, na própria China e na América Latina.
Aí é que o público que se informa (mal) pela mídia corporativa não entendeu nada mesmo. Que crise “nesses países”? Ela não tinha acabado no mundo inteiro, menos no Brasil?
Assista, abaixo, à matéria do Jornal Nacional em questão. E espante-se também. Ou não…

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Direita prefere destruir o país a aceitar justiça social

fundo do poço
 Eduguim
O biênio 2013 – 2015 ficará registrado na história como um período em que uma das maiores nações do mundo cometeu um literal suicídio. Com requintes de crueldade, tomada por um surto autodestrutivo que talvez jamais seja explicado.
Há míseros dois anos, o Brasil despontava como potência emergente – finalmente o país do futuro estava se tornando o país do presente.
A economia crescia pouco, mas crescia continuamente; a inflação estava alta por conta da forte demanda, mas estava controlada; a taxa de investimento privado vinha subindo; o desemprego caía mês a mês.
Enquanto o resto do mundo se contorcia em uma crise internacional interminável, então no quinto ano, com europeus e americanos à beira da convulsão social, o Brasil parecia uma ilha de prosperidade e estabilidade.
A nova classe média vivia um sonho dourado. Famílias viam seus filhos e netos se tornarem os primeiros universitários da linhagem, o sonho da casa própria se materializava, os salários tinham cada vez mais poder de compra.
Eis que surge, na maior metrópole do país, um movimento inexplicável. Com a renda em ascensão e o desemprego despencando, partidos de esquerda, professores universitários e estudantes desencadeiam uma guerra contra aumentos de passagens no transporte público.
As passagens de ônibus e metrô iriam subir 20 centavos. Em um momento de valorização dos salários e queda do desemprego, não era para tanto. Mas esses grupos radicalizados tinham uma proposta tentadora – para os incautos: em vez de aumentar o preço do transporte público, a endividada capital paulista deveria fornecer transporte de graça para todos.
Décadas de problemas no transporte público foram jogadas no colo do recém-empossado prefeito paulistano, Fernando Haddad.
Um prefeito que mal tomara pé da situação escabrosa da administração herdada de José Serra e Gilberto Kassab, obviamente que não tinha meios de atender à demanda surpreendente de, do nada, oferecer transporte público de graça para todos ou ao menos transferir para os cofres públicos, já combalidos, o custo dos reajustes contratuais com as empresas de ônibus.
Os grupos de ultraesquerda, porém, tinham um plano para pôr de joelhos o novo prefeito. Importaram uma tática de protestos conhecida como “bloco negro”, que se valia da destruição do patrimônio público e privado, com uso até de bombas incendiárias para parar a cidade, impedindo o trânsito nas principais vias e desesperando a população que tem que ir trabalhar e retornar para casa todos os dias.
A influência de “pensadores” de ultraesquerda sobre as mídias, sobretudo as mídias alternativas, romanceou aquele processo. Sem alguma razão lógica em um país que vinha se desenvolvendo a passos largos e distribuindo renda, aquele processo foi visto como positivo.
Eis que o governo paulista, controlado pela direita fundamentalista religiosa, opta pela violência como forma de conter os abusos contra o povo paulistano em vez de buscar diálogo. Da violência policial, brota, então, um fortalecimento do movimento radical.
Incrivelmente, os grupos radicalizados ditos “de esquerda” se voltam contra o prefeito em vez de culparem o governador, e o partido de Fernando Haddad vira a Geni das manifestações. Às dezenas de milhares, entre bandeiras de partidos como PSOL, PSTU, da Rede de Marina Silva e outros, os brados de “fora, PT!” ecoam pelos quatro cantos do país.
Agora, após a violência da ditadura tucana em São Paulo, as ruas de todo país são tomadas por centenas de milhares de congêneres dos bichos-grilos paulistas, aos brados de “Fora, PT!”. Com o Brasil vendo aquelas marés humanas bradando contra o partido que o governa, Dilma Rousseff torna-se depositária de uma revolta por vinte centavos.
Nesse momento, a extrema direita vê oportunidade que não encontrava havia mais de uma década. E sai à rua.
Todo lixo social do pais invade as ruas, agora transformadas em uma gigantesca rave em que cabiam de radicais de esquerda a neonazistas. A mídia corporativa vê a oportunidade que tanto ansiava e minimiza a insensatez que aumenta. E até a incentiva.
Eis que, em meados de junho de 2013, os autores esquerdistas daqueles protestos se dão conta de que pavimentaram as ruas para a ultradireita e se recolhem, após dobrarem os governos do Estado de São Paulo e da capital na questão dos aumentos das passagens.
Chega 2014 e a ultraesquerda tem outra ideia de jerico. Decide que a Copa do mundo era a culpada por todos os males nacionais e volta às ruas quebrando e incendiando, tentando impedir a realização do evento. O país perde a oportunidade de obter lucros altíssimos, pois o fluxo de turistas acaba sendo muito menor do que poderia.
Nas redes sociais, grupos organizados de extrema-direita e extrema-esquerda tratam de compor vídeos e memes em inglês para assustar os turistas estrangeiros, chegando a dizer que se viessem ao país correriam risco de vida devido à radicalização dos protestos contra a Copa.
Chega a eleição presidencial e Dilma Rousseff parece ter poucas chances de se reeleger. A economia já se combalia diante dos ataques pela esquerda e pela direita, que assustaram investidores e ensejaram uma progressiva paralisação da economia.
Enquanto isso, os dois candidatos de oposição mais competitivos ameaçam o país com reformas ultraliberais como privatização de bancos públicos, desvalorização do salário mínimo, independência do Banco Central.
A esquerda radical percebe que não poderia implantar o socialismo e, pior, que estava para ver surgir um regime ultraliberal que resultaria em graves retrocessos, sobretudo no que diz respeito ao processo de distribuição de renda que fizera o índice de Gini brasileiro melhorar como jamais ocorrera por aqui desde que fora criado para medir a concentração de renda das nações.
Por pouco, muito pouco, Dilma se reelege. Porém, o custo de quase dois anos de sabotagens da economia, com redução drástica de investimentos devido à insegurança gerada pela política, impõe que as políticas anticíclicas sejam abandonadas.
Não dá mais para renunciar a impostos para manter o ritmo da economia, do crescimento, dos salários e da queda do desemprego. Há que fazer um ajuste fiscal. Muito mais brando do que seria feito pelos principais candidatos a presidente derrotados por Dilma, mas, ainda assim, um ajuste duro, pois implicaria em um freio de arrumação na economia.
Sem novas sabotagens, porém, em alguns meses estaria tudo resolvido. A economia daria uma parada, mas, no segundo semestre – agora com os investidores mais confiantes devido ao equilíbrio entre receita e despesa –, o país recomeçaria a crescer, o emprego voltaria a subir, os salários a se valorizar e a desigualdade a cair.
Eis que a extrema-direita se recusa a aceitar o processo de soerguimento do país. Unindo-se à centro-direita tucano-midiática e a grupos radicais conservadores incrustados na Polícia Federal e no Ministério Público, desencadeia uma ofensiva “contra a corrupção” que paralisaria a economia ao emitir sentenças condenatórias contra grandes empresas antes do devido processo legal.
Já não é mais polêmico dizer que a política está destruindo a economia. Todos já reconhecem que a política está afundando o país.
Os grupos de ultradireita fazem a festa. Pouco lhes importa o futuro. Só a destruição da esquerda – inclusive daquela que tanto os ajudou – interessa. Saem à rua, agora sem pudor, e pedem nada mais, nada menos do que um golpe militar. A esquerda a tudo assiste impassível, em seu “mimimi” contra medidas econômicas sem as quais o país afundaria muito mais.
Esse é o resumo da ópera. A direita radical ataca por um lado, a esquerda radical ataca por outro e o país mergulha em um buraco político, econômico e institucional cujo fundo ainda não é possível vislumbrar.
Em breve, os próximos capítulos do suicídio do Brasil.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

O nome da crise

O nome da crise não é Dilma; é dominância financeira: como bloquear a república dos acionistas? Em que mesa negociar com os depósitos em paraísos fiscais?

por: Saul Leblon 

Roberto Stuckert Filho/PR



                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                Exceto em regimes escravocratas, quando o subalterno não dispunha sequer da própria vida, a distância entre ricos e pobres nunca foi tão pronunciada na trajetória da humanidade.
 
Assiste-se a  uma desconexão bruta,  física e estrutural entre os extremos. A exploração do trabalho continua a vigorar como a ponte entre os dois mundos, porém não mais explícita no confronto entre a figura do patrão e a do assalariado.
 
As margens nem mesmo se enxergam mais.
 
Onde fica a sede da entidade ubíqua chamada fuga de capitais?
 
Em que rodovia é possível erguer uma barreira contra a república dos acionistas?
 
Em que mesa negociar a pauta de reivindicações aos depósitos em paraísos fiscais?
 
O poder do capital se camuflou em circuitos inefáveis e sem rosto.
 
A um toque de botão é capaz de desencadear ordens de compra e venda que podem esfarelar o comando de um governo; reduzir uma nação a uma montanha desordenada de impossibilidades.
 
A história das nações, em certa medida, foi sequestrada pela campainha dos pregões; a abertura e o fechamento dos mercados de câmbio emitem pronunciamentos diários em cadeia mundial, como uma junta militar  dissimulada em cifrões.
 
Nunca como hoje a luta pela vida digna remeteu tão linearmente ao controle do poder de Estado.
 
Único interlocutor capaz de dialogar com o ectoplasma da riqueza sem rosto, o Estado, ele próprio, foi quase integralmente capturado em suas entranhas pelos mercados.
 
Sem um vigoroso aggiornamento da democracia participativa nem mesmo ele é páreo para os interditos dos mercados.
 
A bonança recente do ciclo de commodities ofereceu ao Brasil uma década trufada por excedentes que ampliaram a  margem de manobra do governo e amorteceram a percepção dessa polaridade extrema.
 
Os governos do PT souberam aproveitar o atalho para promover avanços indiscutíveis na perversão social criada pelo capitalismo brasileiro. Dobraram a aposta nessa via durante a crise deflagrada pela desordem neoliberal, em 2008.
 
Os dados são conhecidos. Embora o dever de ofício midiático se esmere em  negá-los, o fato é que todo o vapor da caldeira conservadora hoje se concentra em desmontar aquilo que seus porta-vozes desmentem ter ocorrido.
 
Dê-se a isso o nome técnico que for. O que se mira é a regressão das conquistas sociais, salariais e políticas dos últimos doze anos.
 
As palavras do ministro Marco Aurélio Garcia no encontro estadual do PT, neste sábado, sintetizam as consequências deste epílogo conturbado: ‘Tenho absoluta convicção de que encerramos um ciclo importante da nossa história", afirmou. "Vivíamos um momento de ganha-ganha. Todos podiam ganhar, os trabalhadores, os pobres, as classes médias, até os industriais e banqueiros. Havia um reordenamento da economia brasileira que permitia que todos ganhassem’.
 
‘Acabou’, advertiu o ministro para reverberar a gravidade do imperativo com uma assertiva não menos categórica: ‘As classes dominantes estão em clara ruptura conosco e, se não tomarmos cuidado, parte da nossa base social histórica também estará. O PT precisa urgentemente retornar a seus compromissos históricos’.
 
A chance dessa travessia não diz respeito apenas ao PT, no qual Marco Aurélio pontua a simbologia de todo o campo progressista.
 
Ela depende, na verdade   –como tem insistido Carta Maior— da convergência de uma frente ampla dotada de força capaz de obter o consentimento majoritário da sociedade para um projeto que ordene o passo seguinte do desenvolvimento brasileiro.
 
A falsificação dessa travessia em ligeirezas e amenidades que se satisfazem em fulanizar problemas e soluções reflete a ansiedade diante das provas cruciais.
 
Mas o gigantismo dos interesses a afrontar não pode ser subestimado pela boa intenção das soluções simplistas.
 
A muralha a vencer demanda a consciência materializada em amplo engajamento social. Não se trata de defenestrar Levy ou Cunha.
 
Trata-se de sobrepor uma hegemonia a outra, cuja dominância nunca foi tão entranhada e, ao mesmo tempo, dissimulada, fluida, ardilosa e, sempre que necessário, virulenta e golpista.
 
Um passo necessário dessa construção consiste em dar um nome ao invisível. Implica ao mesmo tempo proceder à ruptura com aquilo que na clarividente síntese de Marco Aurélio Garcia ‘acabou’.
 
O nome da crise é a riqueza que não reparte.
 
Não apenas o patrimônio acumulado.
 
Mas sobretudo as estruturas que a realimentam e a protegem com salvaguardas inoxidáveis.
 
Qualquer coisa menos que isso será insuficiente para evitar o rebote do lixo da história para o qual Marco Aurélio adverte. E o que é suficiente  excede em muito a capacidade da iniciativa unilateral de qualquer força isolada.
 
A riqueza que não reparte é ontologicamente avessa à construção de um destino compartilhado, exceto se  induzida a isso por uma força de coordenação assentada em ampla legitimidade social e democrática.
 
Por mais que dissimule o rosto da sabotagem, seu rastro planetário deixa as marcas da soberba autorreferente que se avoca igualmente apátrida e autorregulável.
 
Uma pegada sugestiva que atiça a prontidão das consciências é o consumo de luxo.
 
Ele atingirá US$ 3 trilhões  no planeta este ano.
 
Os vips brasileiros são reconhecidos em Paris ou em Miami como um dos mais lucrativos braços desse nicho nababesco.
 
Jatinhos, iates, mansões, jóias, arte, rejuvenescimento estético, turismo de experiências únicas abastecem as gôndolas globais do supermercado seleto.
 
Seu tíquete de compra anual equivale ao PIB da Alemanha, a quarta maior potência econômica do mundo, informa o jornal El País.
 
Não é que pareça excessivo, é que estamos de fato no reino do descabido. Do socialmente nefasto.
 
Apenas 85 membros desse bunker, os mais ricos entre os muito ricos, segundo a respeitada Oxfam (http://www.oxfam.org.uk/ ) têm um patrimônio de US$ 1,7 trilhão.
 
Um pecúlio equivalente ao da metade mais pobre da humanidade formada por 3,5 bilhões de homens, mulheres, jovens, idosos e crianças.
 
Para quem acha que o consumo anual de U$ 3 trilhões é over, a Oxfam avisa: se abrirmos um pouco mais o foco para abranger o famoso 1% carimbado pelos ‘occupy’, vamos nos deparar com um patrimônio de US$ 110 trilhões.
 
Quase duas vezes o PIB anual do planeta.
 
Seus detentores podem queimar US$ 3 trilhões por ano sem pestanejar.
 
Embala-os a certeza de que aplicações financeiras em praças generosas – a do Brasil paga os juros reais mais elevados do globo—cuidarão de regenerar seus portfólios, mantendo-os mais lucrativos do que  qualquer destinação produtiva do dinheiro –como mostrou Thomas Pikety.
 
O elo entre essa certeza e o resto da humanidade é um fosso que só faz crescer e agora abre fendas desconcertantes mesmo nas nações mais ricas.
 
Dados recentes da insuspeita OCDE mostram que entre seus 34  países membros a parcela dos 10% mais ricos detém hoje 50% da riqueza; os 40% mais pobres ficam com apenas a 3% dela.
 
A contrapartida chocante é que em apenas quatro anos da crise mundial, de 2007 a 2011, a população que subsiste abaixo da linha de pobreza aumentou de 1% para 9,4% nesse mosaico.
 
Uma exceção à tendência regressiva planetária , diz  o relatório  divulgado na semana passada, chama-se  América Latina e Caribe.
 
A desigualdade aí, que era um elemento da natureza, deixou de sê-lo desde o final dos anos 90, quando passou a cair.
 
O Brasil, cujo piso salarial registrou um aumento real de 70% desde 2003, é a principal estrela dessa dissonância.
 
O país apostou que um esforço de distribuição de renda— conciliador em relação aos detentores da riqueza, graças ao excedente conjuntural propiciado pelo boom das commodities— permitiria desencadear um ciclo de crescimento mais rápido e sustentável.
 
Esse, o modelo que acabou, como adverte Marco Aurélio Garcia.
 
Desequilíbrios macroeconômicos reais, como o câmbio valorizado, que asfixiou a indústria pela avalanche das importações, explicam parte do colapso.
 
A resistência à desordem neoliberal, por sua vez, exauriu recursos públicos que se esgotaram antes que a crise iniciada em 2008 desse lugar a um novo ciclo de crescimento.
 
O conjunto explica em grande arte os impasses da economia e da democracia nos dias que correm.
 
Mas não explica tudo.
 
Quem vê no capitalismo apenas   um sistema econômico, e não a dominação política intrínseca à encarnação financeira atual, subestima aspectos cruciais da encruzilhada brasileira.
 
Corre o risco de subestimar, também, a contagem regressiva alertada no apelo de Marco Aurélio Garcia ao retorno às raízes históricas do PT.
 
Ademais dos percalços macroeconômicos, a verdade é que foi a incipiente   tentativa petista de deslocar o capital parasitário para a produção que acendeu o estopim do confronto em marcha.
 
A espoleta acendeu a ira de interesses que tomaram gosto pelo vício de ganhar sem agregar riqueza à nação, nem se submeter aos compromissos com o bem comum da sociedade.
 
Disso não abdicarão facilmente, como tampouco renunciarão ao fastígio do  luxo em favor da parcimônia.
 
Ao contrário do que aconteceu no caso das cadeias industriais, o Brasil atingiu o estado das artes nessa matéria.
 
A coagulação rentista de uma elite perfeitamente integrada aos circuitos da alta finança, amesquinhou a democracia brasileira, privando-a de instrumentos para dar à riqueza a sua finalidade social.
 
A regressividade inerente a esse processo está promovendo uma mutação individualista acelerada nas relações sociais, a exemplo do que se passa no resto mundo.
 
O locaute do capital na frente do investimentos –repita-se, ademais dos gargalos macroeconômicos--  é o sintoma desse esgarçamento profundo entre um pedaço da riqueza e o destino coletivo da sociedade.
 
A greve do capital contra a ‘Dilma intervencionista’ começou aí quando a taxa de juro real foi comprimida a um piso histórico de 3,3% (no segundo governo FHC ela ficou em 18,5%,por exemplo;  foi de 11,7% no segundo Lula).
 
O governo pode ter cometido tropeços nessa ousada operação de desbloquear a avenida do investimento removendo a barreira do juro alto, para induzir o fluxo à atividade produtiva.
 
Mas talvez o maior deles tenha sido subestimar a musculatura política necessária para deslocar interesses descomunais  situados do outro lado da pista.
 
Sem o discernimento engajado da sociedade para enfrentar a riqueza que não reparte, a façanha estava fadada a tropeçar na assimetria das forças em confronto.
 
A fixação da Selic, a taxa básica de juro da economia, é a ordem unida da coalizão rentista
 
É daí que o mercado parte para colonizar o cálculo econômico de todos os  demais setores, alinhando-os aos padrões de retorno da ganância sem termo.
 
Vale a pena conhecer um pouco a amplitude dessa contaminação.
 
Em entrevista ao jornal Valor, o economista francês Pierre Salama  apontou  um desdobramento dessa irradiação: a explosão dos dividendos que se transformou, ela também, em um obstáculo ao investimento produtivo.
 
Pressionados a entregar fatias crescentes do lucro aos acionistas, os ‘managers’ corporativos o fazem  em detrimento da retenção de  lucro  para investimento.
 
A observação de Salama desvela uma dimensão pouco discutida da desindustrialização brasileira.
 
Ela explicaria, em parte também, segundo ele, ‘os efeitos indiretos sobre a primarização da economia’.
 
Outra consequência  igualmente corrosiva destacada pelo economista: ‘Se você não tem uma melhora no nível da produtividade porque não tem uma taxa de investimento importante, a única maneira de ser mais competitivo é forçando a queda do salário direto e  indireto’, diz .
 
Como?
 
Desmontando direitos  sociais dos trabalhadores –‘o custo Brasil’, ora sob fogo cerrado.
 
Salama encerrou a entrevista como se desse uma aula de alternativas consequentes ao receituário ortodoxo agora  vendido como fatalidade.
 
É forçoso coibir a ‘financeirização’, sentenciou para indicar duas vias matriciais: a) adotar um desassombrado controle de capitais e b) prmover uma reforma tributária que faça o rentista pagar mais impostos –inclusive os acionistas, isentos num Brasil que corta recursos da educação para equilibrar o orçamento fiscal.
 
O mesmo se dá na esfera global.
 
A desregulação dos mercados financeiros delegou ao sistema bancário internacional o poder supranacional de mobilizar e transferir riquezas, manipular e sabotar moedas.
 
Tudo blindado pela cumplicidade nem sempre passiva das agências de risco e dos organismos multilaterais.
 
É dessa usina que se originam os números obscenos do consumo de luxo, as cifras estonteantes dos depósitos em paraísos fiscais –onde a clientela  brasileira detém a quarta maior riqueza depositada--  e os valores desconcertantes de capitais ociosos, num mundo carente de investimento e  empregos.
 
Uma das maiores fontes de pressão pela elevação da taxa de juro nos EUA parte dos  detentores da riqueza sedentária.
 
Desde a crise de 2008 ela se debate confinada entre o baixo retorno e a elevada liquidez (o juro norte-americano oscila entre zero e negativa desde 2008 e o Fed injetou US$ 1,5 trilhão no mercado para salvar o capitalismo dele mesmo).
 
O cavalo financeiro escoiceia a estrebaria acanhada exigindo de volta o pasto gordo e indiviso.
 
Bancos e por consequência seus acionistas veem suas margens naufragarem, afogados em depósitos sem alternativa de aplicação lucrativa.
 
No primeiro trimestre deste ano os depósitos totais no Morgan, por exemplo, subiram para US$ 1,3 trilhão nos EUA  (aumento de US$ 4,5 bilhões em relação a dezembro de 2014); os do Wells Fargo somaram US$ 1,2 trilhão; aumento de US$ 28 bilhões no mesmo período. No circuito dos bancos sombra, onde impera o vale tudo em busca de retornos graúdos, há um tsunami de US$ 75 trilhões em ativos, segundo o Financial Stability Board.
 
A pergunta é: se a roleta do cassino travou, por que o aluvião  não migra então para o investimento produtivo?
 
Pela simples e dura razão de que a superprodução de capitais é a contraface  indissociável da escassez de demanda gerada pela precarização do trabalho no bojo da financeirização de toda a economia.
 
São realidades univitelinas, e se devoram no ventre do capitalismo desregulado.
 
Desse xeque-mate intrínseco à própria dominância financeira da época a sociedade não se livrará pela lógica de mercado.
 
O PT  tentou um caminho intermediário.
 
Ao incentivar keynesianamente a demanda  -- e ensaiar  uma fugaz redução da taxa de juro em 2013--   impôs uma coordenação light, confiante na regeneração do capital rentista em alavanca produtiva.
 
Enquanto o lubrificante da alta das commodities amaciou o conflito, a tentativa foi tolerada.
 
Mas a verdade é que a resposta esperada nunca aconteceu.
 
Pelo menos não na escala necessária –nem na indústria (culpa do câmbio, em parte), nem na infraestrutura (culpa do intervencionismo da Dilma, alega-se).
 
O fato de não ter acontecido impõe uma revisão do keynesianismo que descuidou do câmbio como o padeiro descuida do fermento e da lenha no forno.
 
Mas não basta.
 
E dificilmente teria bastado sem que se tivesse providenciado –até para tornar viável a maxidesvalorização competitiva—  aquilo que continua a faltar.
 
Falta a ferramenta política dotada de discernimento claro sobre a engrenagem a  afrontar.
 
O capitalismo quanto mais dá certo, mais dá errado.
 
Seu próprio movimento de expansão espreme e estreita o alicerce social do qual, paradoxalmente, extrai sua valorização. Por isso sobra capital e o consumo de luxo explode, enquanto a sociedade carece de investimento e a demanda patina.
 
O nome da crise, portanto, não é Dilma, ou voluntarismo ‘lulopetista’, como quer o sociólogo da dependência desfrutável.
 
O nome da crise é a dominância financeira que exacerbou mecânica da riqueza que não reparte.
 
Não existe mágica: o antídoto  é a coordenação política da economia pela democracia social.
 
Isso não exime o PT da delicada travessia de autocrítica.
 
Ou como exortou Marco Aurélio Garcia: ‘é  preciso, urgentemente, retornar às raízes históricas’.
 
Acrescente-se, porém: o retorno só terá sucesso ao lado de outras forças e movimentos, sem os quais será muito improvável reunir o fôlego necessário para chegar onde é preciso. No tempo curto tempo que resta.