Comissão de Justiça do Senado aprova CPI ampla para investigar Pasadena, metrô tucano e obras de Eduardo Campos em Suape
Impacto
da seca nos preços dos alimentos eleva INPCA de março a 0,92%; jogral
rentista vai pedir mais juros para proteger sua liquidez.
BRICs
farão reunião paralela a do FMI, em Washington, para discutir o que
importa: a criação de um banco próprio de desenvolvimento e a operação
do fundo de reservas do grupo.
Programas
permitiram ascensão social dos mais pobres, mas não derrubaram os muros
da discriminação, segundo pós-graduandos da USP
Maria Inês Nassif
O Prouni é um dos programas
de maior sucesso dos governos petistas, mas a chegada de um contingente
de jovens carentes à Universidade não significou derrubar os muros que
os separam das classes mais ricas, mas crescer entre outros muros: ter
acesso a empregos mais qualificados que os de seus pais, mas de menos
qualificação em relação ao universo de empregos disponíveis para jovens
com nível universitário com origem em classes sociais mais abastadas,
como o telemarketing; e continuar vivendo na periferia, onde os muros
construídos são de fora para dentro – uma proteção aos enclaves dos
ricos – e a violência reforça o preconceito social de que o crime tem
classe e residência: é cometido pelos mais pobres em periferias, favelas
e cortiços. Esses jovens apoiaram unanimemente as manifestações de
junho passado, têm uma visão crítica – embora pouco clara – da política e
dos políticos e entendem o poder político como aquele que
obrigatoriamente se curva aos “interesses dos ricos”.
Essas são
as conclusões iniciais da pesquisa etnográfica feita por Henrique Costa
entre estudantes do Prouni nas unidades da Uninove, uma das maiores
universidades particulares do país e a que mais matricula alunos pelo
programa do governo federal, e foram apresentadas nesta segunda-feira,
dia 6, no IV Seminário Discente de Pós-Graduação em Ciência Política da
Universidade de São Paulo, evento que se estenderá até sexta-feira, dia
11/4, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).
Camila Rocha, na apresentação de seu trabalho sobre
“Petismo e Lulismo na periferia de São Paulo: ideologia, classe e voto”,
resultado de pesquisa etnográfica feita na Vila Brasilândia, consegue
detectar nos jovens pesquisados o mesmo ressentimento político com essa
divisão social tão clara que os separa dos mais abastados. Na hora do
voto, tomam uma decisão que os aproxima mais do “lulismo” do que do
“petismo”, conforme descritos pelo cientista político André Singer.
O
“petismo” do universo geográfico pesquisado por Camila esteve presente
na criação do partido, nos anos 70, estimulado pelas Comunidades
Eclesiais de Base.
Durante os anos 90, essa população perdeu as
CEBs, devido aos rumos conservadores tomados pela Igreja Católica, e
desorganizou suas vidas privadas devido ao desemprego e à precarização
do trabalho. Na década de 2000, o antigo petismo foi substituído pelo
“lulismo”, não apenas entre os jovens que não viveram o passado
“coletivo” de mobilização popular e criação de um partido de esquerda,
como entre as pessoas mais velhas, que estiveram na origem do PT.
“As
opiniões sobre a política assumem muitas vezes a forma de um desabafo
contra as desigualdades, vistas pelos mais pobres como fundamental para a
precariedade em que vivem em oposição ao privilégio dispendido aos
ricos pelo poder público”, relata Camila. O governo, de esquerda ou não,
e os políticos, são os que se curvam àqueles do outro lado dos muros.
“Influência
de classe social, entendeu? Na verdade, quem tem é quem manda. Digamos
que os governos que elegemos, que acha que vai nos beneficiar de alguma
forma, não vai. Ele vai beneficiar quem tem poder. O empresário é quem
tem poder e que manda nele. ‘É assim, é assado e vai ser desta forma”, e
vai ser dessa forma. E o que a população pode fazer em relação a isso?
Sair na rua e apanhar da polícia? É difícil, e meio revoltante, para
falar a verdade”, diz Márcia, estudante do Prouni, em entrevista
relatada no trabalho de Henrique Costa.
Na hora do voto, no
entanto, por tendência partidária ou por adesão individual ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT ainda é majoritário – e
foi o período da eleição municipal de 2012 o fotografado por Camila, em
sua dissertação. A cientista política detecta como tendência, entre os
entrevistados que são trabalhadores em ascensão social, a solidariedade
aos que ainda não conseguiram sair da pobreza. Esse vínculo não se faz
como uma adesão ideológica a um partido, o PT, mas uma identificação e
adesão pessoal a um líder, o ex-presidente Lula.
“Eu prefiro o PT
(...), por mais coisas erradas que eles fazem, eles pensam um pouquinho
nos pobres, tudo bem que quando eles pensam nos pobres, eles pensam ‘o
voto vai primeiro’, pobre tem mais filho, tem mais gente para votar.
(Mas) eu gosto do PT não é só por isso não, (...) mas é por causa da
minha cidade, lá no Nordeste, o PT fez muito lá. (...)”, diz Tatiane, em
trecho de entrevista reproduzido no trabalho de Camila. E continua: ela
acha que o PT fez isso devido à influência de Lula. “Eu acho que foi
mais pelo presidente Lula, pela condição de vida que ele teve(...) O
povo, todo mundo gostava dele. Eu gosto, eu gosto porque ele fez, ele
fez alguma coisa pelo meu povo, que não foi nem por mim, mas foi pelo
meu povo”.
O “lulismo” tem uma face progressista, na medida em
que incorpora não apenas uma adesão a uma política que beneficia
individualmente o cidadão pobre, possibilitando sua ascensão social, mas
pelo fato de ter construído um universo simbólico popular que se
contrapõe ao das elites, observa Camila. Mas a sua face conservadora, de
conciliação de interesses, bloqueia “uma polarização mais aguda” que
poderia levar a um acirramento do conflito social -- e, com isso, acaba
também desmobilizando “as classes populares em torno de um projeto que
as unifique”. Devido a essa contradição, há espaço para que “os
trabalhadores em processo de ascensão se descolem simbolicamente dessas
últimas [das classes populares] e passem a aderir a outros projetos
político-ideológicos, inclusive de direita”, observa a cientista
política. Isso explicaria, por exemplo, o desempenho eleitoral dos
candidatos Gabriel Chalita (PMDB) e Celso Russomano (PRB) na disputa
pela prefeitura de São Paulo, em 2012.