Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

segunda-feira, 24 de março de 2014

GOVERNO REBATE S&P: PAÍS TEM SOLIDEZ NA ECONOMIA

A “nota” da Standard & Poor’s: a economia “é a política, estúpido”…

Standard & Poor's rebaixa a nota de crédito do Brasil: a mesma agêencia de risco deu ao banco Lehman Brothers um triplo A em agosto de 2008; em setembro o Lehman Brothers quebrou disparando a maior crise do capitalismo desde 1929.
 Ações da Petrobras disparam na Bolsa enquanto o PSDB ataca a gestão da estatal.
Investidor estrangeiro despreza alarido ortodoxo e faz investimentos produtivos de US$ 9,2 bi no país no 1º bimestre.
BC projeta déficit externo de US$ 80 bi para 2014; investimentos estrangeiros produtivos devem somar US$ 65 bi no ano.
ingenuidade
O noticiário econômico dos últimos dias, afora o que é simples alarmismo, foi positivo.
O PIB surpreendeu os analistas, subindo mais que o esperado.
Os serviços cresceram, a indústria cresceu, a inflação manteve-se sob controle.
O governo dançou direitinho a música do capital, aumentou juros mês após mês, até o nível absurdo a que chegamos.
Mas a fome dos lobos é insaciável e o cordeiro ganhou a mordida merecida.
A tal “agência de risco” Standard & Poor’s baixou a “nota” do país.
Nem é o caso de discutir a seriedade destas agências, que não perceberam a crise de 2008 debaixo do nariz delas.
Ou de lembrar que essa nota foi dada já em pleno Governo Dilma, em novembro de 2011, sem que tenha contribuído em nada para a economia brasileira avançar.
Ou ainda que a nota, agora, é a mesma que tínhamos em pleno “boom” econômico de 2010.
A economia, agora, é a política, dir-se-ia aos estúpidos.
A mídia, amanhã, comemorará e cantará a ópera do caos.
“Eu não disse?”
E o povo brasileiro procurará a voz de seus líderes e não a encontrará, como já não encontra há alguns meses.
Ouve-se um uníssono.
E não se ouve a polêmica.
E a política, este blog escreve lá em cima, todas as horas e dias, sem polêmica, é a arma poderosa das elites.

A história de Pasadena que a mídia não contou


Já que o assunto do momento é Pasadena, fomos pesquisar a origem da refinaria, e tentar esclarecer algumas confusões.
A nossa mídia, como de praxe, está muito mais interessada em produzir uma crise política do que em esclarecer a sociedade.
A refinaria de Pasadena foi fundada em 1920, pela Crown Central Petroleum, uma das companhias remanescentes do império Rockfeller, cujo grupo Standard Oil havia chegado a controlar 88% do refino de petróleo nos EUA.
Em 1911, a Suprema Corte americana valida uma lei anti-truste defendida pelo governo (Sherman Antitrust Act) e a Standard é dividida em 34 empresas. Uma delas, será a Standard Oil of Indiana, que depois será renomeada para Amoco, a qual, por sua vez, dará origem a Crown Central Petroleum.
Os herdeiros mais conhecidos da Crown, os Rosenberg, decidiram, no início dos anos 2000, vender os ativos da companhia, incluindo a refinaria de Pasadena.
Não foi uma venda fácil. Em 2003, um artigo no Baltimore Sun explicava porque se tratava de um negócio complexo. Construir uma nova refinaria igual àquela custaria mais de US$ 1 bilhão, estimava o autor da matéria, Jay Hancock. Nos livros contábeis da Crown, ela vinha avaliada em US$ 270 milhões, mas operadores do mercado diziam que os Rosenberg teriam sorte se conseguissem US$ 100 milhões por ela.
Ao cabo, a refinaria foi vendida para Astra Holding USA, uma subsidiária da Astra Oil, sediada na California, e que por sua vez é controlada pela belga Transcor Astra Group.
Nunca se soube o preço final da refinaria. A imprensa tem repetido que a Astra adquiriu a refinaria em 2005 por US$ 42 milhões. Mas eu ainda não consegui encontrar esse valor em lugar nenhum. É preciso verificar qual era o estado da refinaria antes da compra pela Astra, e que melhorias, exatamente, foram feitas. O que eu sei é que a refinaria vinha enfrentando, há décadas, uma dura oposição da comunidade local, por causa da poluição emitida, e que a justiça havia tomado decisões, mais ou menos na época da venda, que obrigavam a refinaria a se adaptar às novas exigências ambientais do governo.
Está claro que a Astra, logo após a compra, fez uma série de investimentos na refinaria. Aí entra a primeira grande confusão: compara-se o preço de compra pela Astra em 2005, com o preço pago pela Petrobrás, em 2006. São negócios diferentes. A Astra compra uma refinaria que há anos não era modernizada. No momento da compra, o novo presidente da refinaria, Chuck Dunlap, declara que a Astra investiria US$ 40 milhões nas instalações, preparando-as para processar outros tipo de petróleo e fabricar mais variedades de derivados. “Nós temos grandes planos”, asseverou um animado Dunlap à imprensa local.
Uma refinaria moderna é altamente tecnificada, com poucos funcionários. Seu principal ativo são os equipamentos e a tecnologia usada, mas a localização é fundamental, naturalmente. A refinaria de Pasadena, por exemplo, fica bem no coração do “Houston Ship Channel”, uma espécie de eixo no porto de Houston, aberto para o Golfo do México (onde ficam os principais poços de petróleo em operação nos EUA) e com ligações modais para todo os EUA.
Em 2006, a Petrobrás pagou US$ 360 milhões para entrar no negócio, sendo US$ 190 milhões por 50% das ações e US$ 170 milhões pelos estoques da refinaria. No balanço da Petrobrás de 2006, o valor total para a aquisição da refinaria de Pasadena, incluindo despesas tributárias, ficou estabelecido em US$ 415,8 milhões.
Isso tudo aconteceu no início de 2006.
Ao final do mesmo ano, o negócio foi abalado com a descoberta do pré-sal no Brasil.
Até então a Petrobrás tinha planos de investir na refinaria de Pasadena para adaptá-la ao refino de óleo pesado vindo do Brasil. A companhia planejava abocanhar um pedacinho do mercado de refino dos EUA, de longe o maior do mundo.
Com a descoberta do pré-sal, houve uma revolução nos planos da Petrobrás. Todo o capital da empresa teve de ser imediatamente remanejado para o desenvolvimento de exploração em águas profundas e prospecção nas áreas adjacentes às primeiras descobertas. A refinaria de Pasadena teria que esperar.
Aí veio 2008, e a crise financeira que fez evaporar os créditos no mundo inteiro. A Astra, provavelmente já aborrecida porque a Petrobrás havia deixado Pasadena de lado, e espremida pelo aperto financeiro que asfixiava empresas em todo mundo, decide sair do negócio. E obtém uma vitória judicial espetacular na Corte Americana, obrigando a Petrobrás a pagar US$ 296 milhões pelos 50% da Astra, mais US$ 170 milhões de sua parcela no estoque.
Esses estoques de petróleo e derivados, sempre é bom lembrar, não constituíram prejuízo à Petrobrás, porque foram consumidos e vendidos.
A esse montante foram acrescidos mais US$ 173 milhões, correspondente a garantias bancárias, juros, honorários e despesas processuais.
Com isso, o total a ser pago pela Petrobrás elevou-se a US$ 639 milhões. Como a Petrobrás recorreu, naturalmente, a decisão final saiu apenas em junho de 2012, após acordo extrajudicial. O total, agora acrescido de mais juros e mais custos legais, ficou em US$ 820 milhões.
A refinaria continua lá, funcionando. É um ativo da Petrobrás. A presidente da Petrobrás relatou a ministros do TCU que teria recebido propostas de venda da refinaria de US$ 200 milhões, mas rejeitou as ofertas.  O momento não é bom para vender. Neste momento deve ter um monte de gente esfregando as mãos e querendo explorar a “crise política” para comprar Pasadena a preço de banana. O valor das refinarias nos EUA voltou a subir bem rápido, na esteira da recuperação da economia americana e talvez, ao cabo, a Petrobras consiga vendê-la por um preço vantajoso ou então converte-la numa refinaria mais lucrativa. Se me permitem um palpite talvez infeliz, eu acho que a Petrobras não deveria vender a refinaria de Pasadena, porque ela pode a se tornar estratégica para o escoamento dos derivados do presal no mercado norte-americano.
A descoberta sucessiva de novos campos do pré-sal demandam cada vez mais capital da Petrobrás, a qual não pode, por isso, desviar nenhum recurso para investir na refinaria de Pasadena, cuja capacidade de refino permanece em torno de 100 a 120 mil barris por dia. Mas quando o presal começar a jorrar, daqui a poucos anos, o dinheiro deixará de ser um problema para a Petrobrás, que precisará de bons lugares para investir, e nada melhor que uma refinaria que ela já tem, no coração do maior mercado do mundo.
O problema principal da refinaria de Pasadena, portanto, foi a descoberta do pré-sal, conforme a própria Petrobrás respondeu, em fevereiro de 2013. Só que esse problema também será a solução.

pasadena
Refinaria de Pasadena (Fonte da foto).

O jogo pesado: tirar a Petrobras de campo

O caso Pasadena pode ser tudo menos aquilo que alardeia a sofreguidão conservadora. O alvo é: espetar na Petrobras a prova da presença do Estado na economia.

por: Saul Leblon
 
Arquivo

O caso Pasadena pode ser tudo menos aquilo que alardeia a sofreguidão conservadora.

Pode ser o resultado de um ardil inserido em um parecer técnico capcioso. Pode ser fruto de um revés de mercado impossível de ser previsto, decorrente da transição desfavorável da economia mundial; pode ser ainda  –tudo indica que seja--  a evidência ostensiva da necessidade de se repensar um critério mais democrático para o preenchimento de cargos nas diferentes instancias do aparelho de Estado.

Pode ser um mosaico de  todas essas coisas juntas.

Mas não corrobora justamente aquela que é a mensagem implícita na fuzilaria conservadora nos dias que correm.

Qual seja,  a natureza prejudicial da presença do Estado na luta pelo desenvolvimento do país.

Transformar a história de sucesso da  Petrobrás em um desastre de proporções ferroviárias é o passaporte para legitimar a agenda conservadora nas eleições de 2014.

Ou não será exatamente o martelete contra  o ‘anacronismo intervencionista do PT’  que interliga as entrevistas e análises de formuladores e bajuladores das candidaturas Aécio & Campos? (Leia neste blog ‘Quem vai mover as turbinas do Brasil?’)

Pelas características de escala e eficiência, ademais da  esmagadora taxa de êxito que lhe é creditada – uma das cinco maiores petroleiras do planeta, responsável pela descoberta das maiores reservas  de petróleo do século XXI--  a Petrobrás figura como uma costela de pirarucu engasgada na goela do mercadismo local e internacional.

Ao propiciar ao país não apenas a autossuficiência, mas a escala de descobertas que encerram o potencial de um salto tecnológico, capaz de contribuir para  o impulso industrializante de que carece o parque fabril do país, a Petrobrás reafirma a relevância insubstituível da presença estatal na ordenação da economia brasileira.

Estamos falando de uma ferramenta da luta pelo desenvolvimento. Não de um conto de fadas.

Há problemas.

A empresa tem arcado com  sacrifícios equivalentes ao seu peso no país.

Há dois anos a Petrobrás vende gasolina e diesel por um  preço 20% inferior ao que paga no mercado mundial.

Tudo indica que a cota de contribuição para mitigar as pressões inflacionárias decorrentes  de choques  externos e  intempéries climáticas tenha chegado ao limite.

Mas  não impediu que a estatal fechasse 2013 como a petroleira que mais investe no mundo: mais de US$ 40 bilhões/ano: o dobro da média mundial do setor.
Ademais, ela é campeã mundial no decisivo quesito da  prospecção de novas reservas.

Os números retrucam o jogral do ‘Brasil que não deu certo’.

O pré-sal já produz  405  mil barris/dia.

 Em quatro anos, a Petrobras estará extraindo 1 milhão de barris/dia da Bacia de Campos.

Até 2017, ela vai investir US$ 237 bilhões; 62% em exploração e produção. Em 2020, serão 2,1 milhões de barris/dia.

Praticamente dobrando  para 4 milhões de barris/dia a produção brasileira atual.

O conjunto explica o interesse dos investidores pela petroleira verde-amarela que está sentada sobre uma poupança  bruta formada de 50 bilhões de barris do pré-sal.

Mas pode ser o dobro disso;  os investidores sabem do que se trata e com quem estão falando.

Há duas semanas, ao captar US$ 8,5 bi no mercado internacional, a Petrobrás  obteve oferta de recursos em volume  quase três vezes superior a sua demanda.

O marco regulador do pré-sal --aprovado com a oposição de quem agora agita a bandeira da defesa da estatal–- instituiu o regime de partilha e internalizou o comando de todo o processo tecnológico, logístico, industrial, comercial e financeiro da exploração dessa riqueza.

Todos os contratados assinados nesse âmbito passam a incluir cláusula obrigatória de conteúdo nacional nas compras, da ordem de 50%/60% , pelo menos.

Esse é o ponto de mutação da riqueza do fundo do mar em prosperidade na terra.

Toda uma cadeia de equipamentos, máquinas, logística, tecnologia e serviços diretamente ligados, e também externos, ao ciclo do petróleo será  alavancada nos próximos anos.

O conjunto pode fazer do Brasil um grande exportador industrial inserido em cadeias globais de suprimento e inovação  –justamente o que falta ao fôlego do seu desenvolvimento no século XXI.

É o oposto do projeto subjacente ao torniquete de manipulação e  engessamento que se forma em torno da empresa nesse momento.

Para agenda neoliberal não faz diferença  que o Brasil deixe de contar com uma alavanca industrializante com as características reunidas pela Petrobrás.

Pode ser até bom.

O peso de um gigante estatal na economia atrapalha a ‘ordem natural das coisas’ inerente à dinâmica dos livres mercados, desabafa a lógica conservadora.

A verdade é que se fosse depender da ‘ordem natural das coisas’ o Brasil seria até hoje um enorme cafezal, sem problemas de congestionamento ou superlotação nos aeroportos, para felicidade de nove entre dez colunistas isentos.

Toda a industrialização pesada brasileira, por exemplo  –que distingue o país como uma das poucas economias em desenvolvimento dotada de capacidade de se auto-abastecer de máquinas e equipamentos— não teria sido feita.

Ela representou uma típica descontinuidade na ‘ordem natural das coisas’.

A escala e a centralização de capital necessárias a esse salto estrutural da economia não se condensam espontaneamente em um país pobre.

Num  mercado mundial já dominado por grandes corporações monopolistas nessa área e em outras, esse passo, ou melhor, essa ruptura, seria inconcebível sem forte intervenção estatal no processo.

Do mesmo modo, sem um banco de desenvolvimento como o BNDES, demonizado pelo conservadorismo, a indústria e a economia como um todo ficariam comprometidos pela ausência de um sistema financeiro de longo prazo, compatível com projetos de maior fôlego.

Do ponto de vista conservador, o financiamento indutor do Estado, a exemplo do protecionismo tarifário à indústria nascente  –implícito nas exigências de conteúdo nacional no pré-sal--  apenas semeiam distorções de preços e ineficiência no conjunto da economia.

É melhor baixar as tarifas drasticamente; deixar aos mercados a decisão sobre  quem subsistirá e quem perecerá para ceder  lugar às importações.

O corolário dessa visão foi o ciclo de governos do PSDB,  quando se privatizou, desregulou e se reduziu barreiras à entrada e saída de capitais.

A Petrobrás resistiu.

Em 1997, até um novo batismo fora providenciado para lubrificar a operação de fatiamento e venda dos seus ativos aos pedaços.

Não seu.

Dez anos depois, em 2007, essa resistência ganharia um fortificante ainda mais indigesto aos estômagos conservadores, com a descoberta e regulação soberana das reservas do pré –sal.

Num certo sentido, a arquitetura de exploração do pré-sal avança um novo degrau na história da industrialização brasileira.

Mais que isso,  esboça um modelo.

Se a empresa privada nacional  não tem escala, nem capacidade tecnológica para suprir as demandas do desenvolvimento, uma estatal pode –como o faz a Petrobras -  instituir prazos e definir garantias de compra que de certa forma  tutelem  a iniciativa privada deficiente.

Dando-lhe encomendas para  se credenciar ao novo ciclo de expansão do país –e até mesmo operar em escala global, inserindo-se nas grandes cadeias da indústria  petroleira.

A outra  alternativa seria bombear  a receita petroleira  diretamente para fora do país, vendendo o óleo bruto.

E renunciar assim aos múltiplos de bilhões de dólares de royalties que vão irrigar o fundo do pré-sal e com ele a educação pública das futuras gerações de crianças e jovens do Brasil.

Ou  então vazar  impulsos industrializantes para encomendas no exterior , sem expandir polos tecnológicos, sem engatar cadeias de equipamentos, nem elevar  índices de nacionalização em benefício de empregos e receitas locais.

A paralisia  atual da industrialização brasileira  é um problema real que afeta todo o tecido econômico.

Asfixiada durante três décadas pelo câmbio valorizado e pela concorrência chinesa, a indústria brasileira de transformação perdeu elos importante, em diferentes cadeias de fornecimento de insumos e implementos.

A atrofia é progressiva.

O PIB cresceu em média 2,8% entre 1980 e 2010; a indústria da transformação cresceu apenas 1,6%, em média. Sua fatia nas exportações recuou de 53%, entre 2001-2005, para 47%, entre 2006-2010 .

O mais preocupante é o recheio disso.

Linhas e fábricas inteiras foram fechadas. Clientes passaram a se abastecer no exterior. Fornecedores se transformaram em importadores.

Empregos industriais foram eliminados; o padrão salarial do país foi afetado, para pior.

É possível interromper essa sangria, com juros subsidiados, incentivos, desonerações, protecionismo e ajuste do câmbio, como está sendo feito pelo governo.

Mas é muito difícil reverter buracos consolidados.

O dinamismo que se perdeu teria que ser substituído por um gigantesco esforço de inovação e redesenho fabril, a um custo que um país em desenvolvimento dificilmente poderia arcar.

Exceto se tivesse em seu horizonte a exploração centralizada e soberana, e o refino correspondente, das maiores jazidas de petróleo descobertas no século 21.

Esse trunfo avaliza a possibilidade de se colocar a  reindustrialização  como uma resposta política  do Estado brasileiro à crise mundial.

Nada disso  pode ser feito sem a  Petrobrás.

Tirá-la do campo em que se decide o futuro do Brasil: esse é o jogo pesado que está em curso no país.

Alguns esclarecimentos importantes sobre Pasadena

Charge_Juniao_11_09_2013_72
Agora as coisas ficaram mais claras. Os brasileiros foram enganados mais uma vez pela mídia. As notícias sobre a refinaria de Pasadena trazem informações vergonhosamente manipuladas.
O assunto foi politizado com fins eleitorais, de maneira que o PT tem a obrigação de vencer o seu medo já patológico da mídia e enfrentá-lo de cabeça erguida. Até porque está em jogo aqui muito mais do que o PT. Estão jogando contra a Petrobrás e, portanto, contra a nossa soberania econômica.
Mais que isso, estão tentando passar a perna nos brasileiros e matar vários coelhos com uma só pancada. Desgastar a presidente, tirando-lhe e votos, e de bucha forçar a Petrobrás a vender por alguns trocados uma refinaria que, para ser construída novamente, num lugar tão estratégico como o canal de Houston, custaria talvez mais de 2 bilhões de dólares. Talvez muito mais que isso.
Eu tiro esse valor de várias fontes. Em 2003, em sua coluna no Baltimore Sun, o jornalista Jay Hancock estima que construir uma refinaria igual à de Pasadena custaria mais de 1 bilhão. O New York Times, por sua vez, informa que a estimativa inicial do governo do Paquistão para construir uma refinaria de petróleo com capacidade para 40 mil barris por dia, é de 600 milhões de dólares. A construção da Abreu Lima, em Pernambuco, com capacidade de 230 mil barris por dia, está custando US$ 17 bilhões. Qual o objetivo em nos fazer acreditar que uma refinaria situada no coração do corredor petrolífero dos EUA, funcionando a pleno vapor, com capacidade para processar até 120 mil barris por dia, não vale os US$ 1 bilhão pagos pela Petrobrás? Sem contar que, neste bilhão estão incluídos estoques e milionários custos processuais. O preço efetivamente pago pela refinaria foi a metade disso.
Pasadena, aliás, vale mais que dinheiro. Como tudo que envolve segurança energética, ela também possui um valor estratégico e político.
Para adaptar-se às novas exigências ambientais, a refinaria de Pasadena passou a adotar, a partir de 2005, um sistema que reduz drasticamente a emissão de gases poluentes na atmosfera.
A implantação dessa tecnologia pela Astra foi um dos motivos que fizeram seu preço subir tanto de 2005 para 2006.
Uma coisa é comprar uma refinaria com gravíssimos problemas ambientais, trabalhistas e logísticos.
Outra coisa é comprar uma refinaria que investiu mais de US$ 100 milhões para se adaptar às rígidas exigências ambientais vigentes hoje nos Estados Unidos, e que também resolveu suas outras pendências.
A mídia repete que a Petrobrás pagou US$ 360 milhões por uma refinaria que tinha sido vendida por apenas US$ 42 milhões no ano anterior. E aí houve uma incompetência incrível por parte da comunicação da Petrobrás e do governo. O próprio Gabrielli confundiu a opinião pública ao dar a informação, até hoje não confirmada, aliás, por nenhum documento, nem mesmo por um mísero link para alguma reportagem, sem contextualizá-la adequadamente.
Fica parecendo que estamos falando de um carro que alguém compra por 42 mil reais e depois revende por 360 mil.
Refinaria não é carro.
O valor de uma refinaria é medido pelo seu posicionamento estratégico (no caso de Pasadena, ela está localizada no coração do principal “corredor” energético da maior potência do planeta), pelo maquinário usado, assim como pela existência ou não de pendências tributárias, trabalhistas e ambientais.
A Astra comprou uma refinaria cheia de problemas. Pasadena tinha vivido, a partir de meados dos anos 90, a maior greve da história da indústria petrolífera, a qual apenas foi resolvida em 2002.
A poderosa OCW, o principal sindicato de trabalhadores da indústria petrolífera dos EUA, vinha lutando há muitos anos contra a Crown Central Petroleum (nome da refinaria antes de ser comprada pela Astra, em 2005). A Crown era acusada de violar direitos humanos, racismo, poluição, falta de segurança, entre outros problemas.
Em 1999, a estatal petrolífera da Noruega informa que não iria mais trabalhar com a Crown Central Petroleum enquanto ela não respondesse às denúncias.
Todos pareciam odiar a refinaria, e com razão.
A empresa, então controlada por Henry Rosenberg, era acusada de racismo contra trabalhadores afrodescendentes, e de não tomar cuidado para evitar a poluição jogada sobre a vizinhança pobre, a maior parte composta de latino-americanos.
Para piorar, uma série de explosões vinham causando transtornos à refinaria. Só em 2001, foram três.
É preciso considerar todos esses fatores quando se analisa o negócio feito pela Astra no início de 2005.
Sob a nova direção, todos esses problemas seriam resolvidos.
Astra ainda ganharia a sorte grande, na forma de uma tragédia, ocorrida no mesmo ano. Os furacões Katrina e Rita causaram danos a inúmeras refinarias do Texas. Pasadena sofreu alguns danos, mas poucos. Entretanto, com a redução da oferta causada pela paralisação de dezenas de refinarias da região, as cotações do produto refinado disparariam, aumentando exponencialmente o faturamento daquelas que permaneceram em atividade.
E aí entra a Petrobrás na história. O ano é 2006 e o seu presidente era Sérgio Gabrielli.
A Petrobrás ainda vivia a era anterior à descoberta do pré-sal. Mas já tinha planos ambiciosos de expansão internacional.
Quer dizer, à luz dos projetos atuais da estatal, de centenas de bilhões de dólares, o plano de investimento da Petrobrás em 2006, para o período 2007 a 2011, parece até tímido. Em 2006, Gabrielli viaja à Londres, Nova York e Boston para apresentar o novo plano de investimento da empresa.
Segundo esta apresentação, a empresa pretendia investir US$ 75 bilhões no período, sendo US$ 12 bilhões fora do país
ScreenHunter_12 Mar. 23 15.38
Grande parte desses investimentos internacionais seria feito na exploração de petróleo no golfo do México. A empresa esperava aplicar, fora do Brasil, o seu know how de prospecção e exploração em águas profundas. Deu certo. De 2001 a 2005, a Petrobrás vinha anunciando várias descobertas no Golfo.
Comprar uma refinaria nos EUA era um sonho da companhia desde 1999. Com sua entrada no golfo do México, a ideia agora parecia ainda melhor. A razão é simples. A Petrobrás exploraria petróleo no golfo e usaria a refinaria de Pasadena para processar o óleo cru e vendê-lo ao consumidor norte-americano.

ScreenHunter_13 Mar. 23 15.50
Negócios com refinaria, como qualquer outro do setor de petróleo, sofrem com as variações bruscas de preço. Naquele momento, o preço dos derivados vinha subindo rapidamente, e as perspectivas eram excelentes.
É muito fácil, hoje, criticar Gabrielli e o Conselho de Administração por decisões feitas em 2006. Os anos de 2006 a 2007 foram férteis em decisões que se revelaram, no mínimo, questionáveis, ou mesmo desastrosas, nos anos seguintes. Em 2008, algumas das melhores e mais tradicionais empresas do mundo, como a General Motors e a Lehman Brothers, declaram-se à beira da falência. A primeira é praticamente estatizada pelo governo americano, em mais uma prova de que a ideologia neoliberal é um dogma apenas para economistas subdesenvolvidos. A secular Lehman, por sua vez, vai pro saco.
A utopia hegemônica pós-queda do muro de Berlim, de que um mundo regido pelas leis do mercado e pela competência da iniciativa privada traria uma longa e estável prosperidade, terminou em pesadelo. Governos do mundo desenvolvido tiveram que torrar trilhões de dólares para tampar o buraco deixado pela má-gestão temerária de até então respeitadas corporações privadas.
Em 2008, a crise financeira mundial faz o preço dos derivados de petróleo despencarem, reduzindo a lucratividade das refinarias. É neste momento que a Petrobrás, que vinha descobrindo, sucessivamente, novas reservas gigantes de petróleo em águas ultraprofundas da costa brasileira, decide suspender, por tempo indefinido, seus planos de investir na refinaria de Pasadena. Até então, a Petrobrás planejava investir quase US$ 2 bilhões em Pasadena para dobrar a sua capacidade de refino, dos então 100 ou 120 mil barris para algo próximo de 200 mil barris/dia. O projeto previa a construção de uma nova unidade processadora, dentro da refinaria, voltada para óleos pesados, como é o petróleo brasileiro até hoje extraído nas áreas do pós-sal. Desistiu disso, por enquanto. Paradoxalmente, o pré-sal trouxe um grave problema de caixa à Petrobrás. Para que a empresa possa converter aquele óleo sujo e malcheiroso, situado a milhares de metros abaixo da superfície marinha, em dinheiro para aplicarmos em educação, ela antes tem que investir dezenas ou mesmo centenas de bilhões de dólares em maquinários, plataformas, tecnologia e mão-de-obra. A empresa está numa caça alucinada por recursos, vendendo seus ativos no mundo inteiro, numa tentativa de fazer caixa e focar investimentos nas novas reservas descobertas. Está vendendo inclusive alguns ativos que possuía no Golfo do México.
No momento, a Petrobrás parece não saber o que fazer com a refinaria de Pasadena. Vender agora não valeria a pena, porque não conseguiria o preço que deseja.
Desde 2012, entretanto, o mercado de refino tem melhorado, elevando a lucratividade das refinarias. Em outubro de 2012, o New York Times publicou um artigo cujo título, traduzido livremente por mim, significa: “Refino de petróleo volta a criar fortunas”.
A descoberta de novos campos de gás e petróleo no golfo e no Texas trouxe vida nova às refinarias da região, onde também se localiza a de Pasadena, porque lhes deu competitividade sobre suas concorrentes no exterior. Ao invés de pagar altos preços por petróleo importado do oriente médio, as refinarias texanas agora podem se beneficiar de novos campos descobertos no sul do estado, que lhe fornecem matéria-prima a um custo muito menor. Segundo o New York Times, o lucro das refinarias da região cresceu 400% de 2008 a 2012.
Em julho do ano passado, o site especializado Oil Price fez uma entrevista com Fadel Gheit, diretor e analista sênior de uma respeitada empresa do setor, na qual Gheit afirma que o negócio com refinarias, que durante tanto tempo foi o patinho feio da indústria do petróleo, agora estava se tornando num lindo cisne. O título da matéria vai direto ao ponto: “O negócio com refinaria nos EUA serão a gema da indústria do petróleo”. Repare bem o que ele disse: refinarias nos EUA.
É preciso muito cuidado, portanto, para evitar que interesses obscuros utilizem o momento eleitoral para pressionar a Petrobrás a vender uma refinaria estratégica, situada no centro do cinturão petrolífero do país mais rico do mundo.