Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

TV Globo esconde sujeira no ninho tucano


Por Altamiro Borges

O Portal R7 foi o primeiro a retomar as denúncias de corrupção envolvendo as multinacionais Alstom e Siemens e os governos de São Paulo e do Distrito Federal. Na sequência, a TV Record, pertencente ao mesmo grupo, amplificou o escândalo no seu principal telejornal. Outros veículos também repercutiram o caso. Já a TV Globo até agora não abriu o bico – será de tucano? Será que as denúncias não são importantes ou a famiglia Marinho continua com a sua linha editorial de esconder as sujeiras demotucanas?

Segundo o Portal R7, o caso é dos mais escabrosos – justificando a cobertura jornalística de qualquer veículo minimamente ético e imparcial. A reportagem encontrou agora uma testemunha-chave, que detalhou as maracutaias das multinacionais para vencer licitações das obras do Metrô paulistano, da Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos (CPTM) e do Metrô de Brasília, ainda no governo do demo José Roberto Arruda. Ele garante que tudo foi feito irregularmente, mediante pagamento de propinas.

Reuniões em casas noturnas de São Paulo

A testemunha F, conforme relato do R7, acompanhou de perto as negociatas e denuncia que houve superfaturamento de 30% no contrato com a Siemens, em São Paulo. A multinacional alemã repassava a grana à empresa MGE Transportes, responsável pela manutenção de dez trens. O repasse destinava-se exclusivamente ao pagamento de propina. Na realidade, não havia a prestação dos serviços previstos, que constavam apenas como fachada para viabilizar contabilmente os pagamentos, acusa a fonte.

Já no que se refere ao contrato da linha 5 do Metrô de São Paulo, a testemunha afirma que a Alstom influenciou “decisivamente” o edital de licitação para obter vantagens sobre os concorrentes e garantir o controle sobre o processo. “As reuniões para tratar de assuntos que não poderiam constar em atas eram feitas em casas noturnas como o Bahamas”, denuncia. Nos documentos sob investigação, ele aponta os nomes de diretores de áreas comerciais, de engenharia e de obras que comandariam as operações.

Bilhões para subornar “autoridades”

“Um desses diretores ficou encarregado de guardar a sete chaves o documento que estabelecia as regras do jogo. Isto é, o documento que estabelecia o objeto de fornecimento e os preços a serem praticados por cada empresa na licitação. A Alstom, naturalmente, ficou com a maior e a melhor parte do contrato. A Procint e a Constech devolviam parte da comissão para a diretoria da Alstom”, afirma a testemunha ao Portal R7.

Todas as denúncias já foram encaminhadas, com farta documentação, ao Ministério Público de São Paulo. O caso das propinas pagas pelas duas multinacionais também está sendo investigado na Europa. Alstom e Siemens são acusadas de subornar políticos da Europa, África, Ásia e América do Sul. Somente a Siemens desembolsou US$ 2 bilhões em corrupção na fase recente, conforme denúncia de um tribunal de Munique. Reinhard Siekaczek, ex-diretor da empresa, garante que esquema envolveu o Brasil.

Demos e tucanos com insônia

No caso da Alstom, a Justiça da Suíça calcula que ao menos US$ 430 milhões foram utilizados no suborno de políticos, inclusive do Brasil – aonde é acusada de pagar US$ 6,8 milhões em propina para receber um contrato de US$ 45 milhões do Metrô de São Paulo. A forte suspeita de que a maior parte desta grana foi utilizada nas campanhas eleitorais de candidatos do PSDB e do DEM – o que tem deixado os demos e os tucanos com insônia.

Jobim nega preferência de Dilma por caças americanos para a FAB



Nelson Jobim

Marcia Carmo
De Buenos Aires para a BBC Brasil
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, negou nesta segunda-feira em Buenos Aires que a presidente Dilma Rousseff tenha sinalizado preferência pelos caças FA-18, da empresa americana Boeing, no processo de seleção para compra para a Força Aérea Brasileira (FAB).
O rumor surgiu na imprensa após reunião da presidente com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, em Brasília, na semana passada.
“Ela (Dilma) não tomou decisão nenhuma. Isso foi a imprensa que inventou. Vou discutir isso com ela na terça-feira (15 de fevereiro) “, disse Jobim. Segundo o ministro, seria a empresa americana que estaria informando sobre a possível preferência da presidente.
“Isso é a Boeing que está dizendo. Por interesses óbvios”, afirmou.
A discussão sobre a compra destes aviões começou no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Três modelos de caça disputam a preferência do governo brasileiro para estar entre as aeronaves de combate da Força Aérea. O objetivo desse processo de renovação é a compra imediata de 36 jatos. Nos próximos anos, o país deve aumentar as compras para chegar até 120 unidades.
Os modelos que continuam no páreo são: o Rafale, produzido pela francesa Dassault; o sueco Gripen NG, cuja fabricante é a Saab; e finalmente o FA-18 Hornet, da Boeing.
Jobim descartou as especulações de que estaria “desprestigiado” por Dilma e disse que a relação entre eles é “ótima”.
“Se eu tivesse desprestigiado, não estaria aqui (em reuniões em Buenos Aires)”. Para o ministro, as informações são “coisa de lobistas”.
Tecnologia
O ministro voltou a afirmar que a decisão do Brasil sobre a compra dos aviões está ligada à transferência de tecnologia.
“E (essa negociação) dificulta em relação à Boeing por causa da legislação americana”, disse.
Jobim afirmou que a mesma regra valerá para a compra de equipamentos para a Marinha.
“Tudo se vincula à disposição do país de transferir tecnologia. A regra básica é a capacitação nacional e a transferência de tecnologia. Não compramos equipamentos. Nós adquirimos pacotes tecnológicos que vêm com equipamentos.”
Rio de Janeiro
Sobre a prisão no Rio de Janeiro de policiais acusados de envolvimento com traficantes de drogas na chamada Operação Guilhotina, Jobim declarou que eles devem “ir para a cadeia”.
“Tem que prender mesmo, tem que botar na cadeia. Isso mostra que estas operações viabilizam também a identificação dos problemas internos das policiais. É importante que os inquéritos sejam feitos com rigor e principalmente sejam públicos. Transparentes exatamente para que, como dizemos no Rio Grande (do Sul, Estado de origem do Ministro), nós temos que ‘exemplar’ (risos)”, disse Jobim.
O ministro afirmou, porém, que o apoio das Forças Armadas nas operações de combate ao crime organizado no Rio é uma exceção e espera que o modelo, que envolve as UPPs (Unidade de Policia Pacificadora), não seja exportado para outros Estados.
Na visita a Buenos Aires, o ministro se reuniu com o colega argentino, Arturo Puricelli, e com o ministro de Planejamento, Julio de Vido, com quem discutiu a possibilidade de maior freqüência de vôos entre o Brasil e a Argentina.
Com Puricelli, afirmou Jobim, foram revisados projetos em andamento como a fabricação conjunta de um veículo militar.

Entidades representam contra lei que “vende” 25% da capacidade dos hospitais do SUS


Sete entidades da sociedade civil darão entrada nesta terça-feira, 15/02, às 17 horas, no Ministério Público Estadual, à rua Riachuelo, 115, com representação contra a lei complementar nº.1.131/2010, que permite direcionar 25% dos leitos e outros serviços hospitalares para os planos e seguros de saúde privados. A lei abrange  os hospitais estaduais que atualmente têm contrato de gestão com Organizações Sociais.

Assinam a representação o Instituto de Direito Sanitário Aplicado – Idisa, Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo – Cosems/SP,  Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – Idec, Sindicato dos Médicos de São Paulo – Simesp,  Fórum das ONG Aids do Estado de São Paulo, Grupo Pela Vidda-SP e Grupo de Incentivo à Vida – GIV.
As entidades pedem que o MPE questione judicialmente a lei estadual, em vigor desde o dia 27  de dezembro de 2010, pois a mesma fere os princípios da Constituição Federal,  da Lei Orgânica da Saúde (lei nº 8.080/1990) e da Constituição Estado de São Paulo
Os  26 hospitais administrados por OSs realizam por ano aproximadamente 250 mil internações e 7,8 milhões de outros procedimentos, como atendimentos de urgência, hospital dia, cirurgias ambulatoriais, hemodiálises  e exames. A Representação destaca que a nova lei estadual permitirá a venda de  até 25% desta capacidade para os planos de saúde, ou seja, subtrai do SUS mais de dois milhões de procedimentos, incluindo  62.000 internações,  hoje destinados exclusivamente aos usuários do sistema público.
A  lei complementar nº.1.131/2010 desconsidera a existência da legislação (Lei n º 9656/98) que prevê o ressarcimento ao SUS toda vez que um usuário de plano de saúde é atendido em hospital público. Além  disso, ao visar a arrecadação de recursos com a venda de serviços do SUS, a lei cria a chamada  “fila dupla”  de atendimento, pois os usuários dos planos de saúde terão assistência diferenciada e preferência na marcação e no agendamento de consultas, exames e internação.
 

Lula, Dilma e a velha mídia



O esporte preferido da mídia é fazer comparações da Dilma com o Lula. Sem coragem para reconhecer que se chocaram contra o país – que deu a Lula 87% de apoio e apenas 4%b de rejeição no final de um mandato que teve toda a velha mídia contra – essa mídia busca se recolocar, encontrar razões para não ser tão uniformemente opositora a tudo o que governo faz. O melhor atalho que encontraram é o de dizer que as coisas ruins, que criticavam, vinham do estilo do Lula, que Dilma deixaria de lado.

Juntam temas de política exterior, tratamento da imprensa, rigor nas finanças públicas, menos discurso e mais capacidade executiva, etc., etc. Como se fosse um outro governo, de outro bloco de forças, com linhas politica e econômica distinta. Quase como se a oposição tivesse ganho. Ao invés de reconhecer seus erros brutais, tratam de alegar que é a realidade que é outra.

Como se o modelo econômico e social – âmago do governo – fosse distinto. Como se a composição do governo fosse substancialmente outra, como partidos novos tivessem ingressado e outros saído do governo. Apelam para o refrão de que “o estllo é o homem” (ou a mulher), como se a crítica fundamental que faziam ao Lula fosse de estilo.

No essencial, a participação do Estado na economia está consolidada e, se diferença houver, é para estendê-la. Os ministérios econômicos e sociais são mais coerentes entre si, tendo sido trocados ministros de pastas importantes – como comunicação, saúde e desenvolvimento – para reafirmar a hegemonia do modelo de continuidade com o governo Lula.

A política externa de priorização das alianças regionais e dos processos de integração foi reiterada na primeira viagem da Dilma ao exterior, à Argentina, assim como no acento no fortalecimento dos processos latino-americanos, como a ênfase na aproximação com o novo governo colombiano e a contribuição ao novo processo de libertação de reféns comprova.

O acerto das contas publicas se faz na lógica do compromisso do governo da Dilma de estabelecimento de taxas de juros de 2% ao final do mandato, alinhadas com as taxas internacionais, golpeando frontalmente o eixo do principal problema econômica que temos: as taxas de juros reais mais altas do mundo, que atraem o capital especulativo. A negociação do salário mínimo se faz com o apoio do Lula. A intangibilidade dos investimentos do PAC já tinha sido reafirmada pelo Lula no final do ano passado.

Muda o estilo, ênfases, certamente. Mas nunca o Brasil teve um governo de tanta continuidade como este, desde que se realizam eleições minimamente democráticas. A velha mídia busca pretextos para falar mal de Lula, no elogio a Dilma, tentando além disso jogar um contra o outro. A mesma imprensa que não se cansou de dizer que ela era um poste, que não existiria sozinha na campanha sem o Lula, etc., etc., agora avança na direção oposta, buscando diferenças e antagonismos onde não existem.
Postado por Emir Sader às 05:47

LINCOLN GORDON DIGITAL


REVOLTA ÁRABE - Clique para ver a página especial

18 dias de protestos põem fim a 30 anos de ditadura.

"Queremos nos unir a vocês, às suas conversas diárias", escreve o Departamento de Estado norte americano em   sua nova conta no Twitter, @USAdarFarsi, dirigida aos iranianos. Desde domingo, mensagens do governo dos EUA em farsi, língua oficial no Irã e um dos idiomas oficiais de Afeganistão e Tadjiquistão, evocam "o papel histórico" que as redes sociais tiveram na articulação dos protestos no país, após as eleições presidenciais de 2009. Qual roto falando do esfarrapado, a nota de domingo acusava a hipocrisia das autoridades iranianas, que saúdam a revolta egípcia, ao mesmo tempo em que proíbem a realização de protestos  semelhantes no país. Em tempo: Carta Maior defende a irrestrita liberdade de expressão e manifestação de todos os povos. Aguarda, assim, o Twiter do Departamento de Estado escrito em árabe do Hijaz e em árabe Najd, conclamando a levantes populares contra  um  dos seus maiores aliados na região: a monarquia absolutista  dos 'amigos' sauditas.

Mau jornalismo e mal escrito


Blog Cidadania - Eduardo Guimarães
Decidi transportar para o blog algumas notas que postei no Twitter, complementando-as, porque desnudam o fato de que os leões-de-chácara da imprensa golpista se acham verdadeiros pensadores, mas não passam de profissionais medíocres que conseguiram empregos bem-remunerados porque se dispuseram a vender a alma aos patrões.
Quero mostrar como esses tais “colunistas” que passaram décadas escrevendo toneladas de laudas sobre a suposta “ignorância” de Lula não têm nem o mínimo que se requer de um jornalista, que é saber escrever. Para tanto, há que fazer uma introdução ao assunto.
Não costumo corrigir o português de ninguém porque o nosso idioma é extremamente complexo e, assim, encerra armadilhas que podem pegar qualquer um. Mas tais armadilhas não podem pegar quem escreve em órgãos de imprensa. Até porque, jornalistas profissionais têm como revisar o que escrevem, antes de publicar.
E mais: o jornalista profissional tem obrigação de saber escrever. Não é como este blogueiro, que não é jornalista e faz um trabalho jornalístico apenas como serviço de cidadania voluntário. Ainda assim, cuido dos meus textos dentro do que minha formação e capacidade permitem. E, segundo dizem, com algum sucesso.
Tomemos como exemplo Merval Pereira, colunista de O Globo que, ao lado do colunista e blogueiro da Veja Reinaldo Azevedo – que gosta de apontar erros no que escrevem pessoas que não são jornalistas, apesar de ele também cometer alguns –, está entre os que mais criticaram e continuam criticando a falta de instrução formal de Lula.
Artigo de Pereira em O Globo, que li hoje, dá vontade de chorar, de tão mal escrito. A mediocridade já começa no primeiro parágrafo do texto:
Na galeria de retratos de presidentes no Palácio do Planalto, a foto de Dilma Rousseff é a única colorida, contrastando com as demais, todas de homens em preto e branco”.
É uma ambigüidade só. A galeria é de “retratos de presidentes no Palácio do Planalto” ou é uma galeria do Palácio que contém retratos de presidentes? Ora, os retratos podem não ter sido tirados ali, onde está a galeria. E é uma foto só de homens em preto e branco ou é uma foto em preto e branco só de homens? Poderia ser uma foto de homens vestidos de preto e branco…
Nem tratarei da pontuação mambembe. Pulo outros exemplos da má qualidade do texto para ir direto ao exemplo principal. Analisem o trecho abaixo.
A maioria desses gastos aconteceram antes de a crise de 2008 estourar
Como é que é, senhor colunista que chama Lula de analfabeto? “A maioria aconteceram”?!!
O que não entendo mesmo nem é que alguém que vive debochando da cultura alheia tenha texto tão ruim. Minha dúvida é sobre como alguém que vive de escrever pode ganhar dezenas de milhares de reais cometendo erros tão primários e volumosos em um único artigo.
Cometo erros como qualquer jornalista – mesmo sem ser jornalista e sem ter obrigação de não errar –, mas são erros menores e episódicos. Ontem mesmo escrevi o verbo grassar com cedilha, ao que uma zelosa leitura me alertou. Apesar disso, foi apenas um descuido ao usar um substantivo como se fosse verbo.
Corrijo os outros quando vejo que precisam de alerta, pois escrever publicamente com certo nível de erros pode servir para alguém ridicularizar aquela pessoa, sobretudo em um blog político. Mas faço isso de forma privada. E quando os erros são muitos e mais graves, edito o comentário para o leitor não passar por constrangimento. Já corrigi erros até de críticos, aqui.
E olhem que nem critiquei a postura jornalística desse homem, apesar de que suas críticas exclusivas só ao governo federal e ao PT mostram que é partidarizado quando deveria ser equilibrado.
Não gosto de fazer este tipo de crítica, até porque também erro – só que dificilmente erro tão feio. Não me lembro de ter criticado o português de alguém antes, em quase seis anos como blogueiro. Mas com gente como Merval Pereira ou Reinaldo Azevedo, que adora criticar o português de quem não tem obrigação de escrever direito, faço com gosto.
Como se vê, o Partido da Imprensa Golpista (PIG), além de mentir, mente em mau português.
—–
PS: o leitor Marco Aurélio informa que os retratos de ex-presidentes na galeria do Planalto são sempre em preto e branco, e que a foto do presidente que está exercendo o cargo é sempre colorida

Dilma x Lula: pseudojornalismo para idiotas autênticos



Na site da revista IstoÉ, a prova de que a grande imprensa se dedica hoje a um filão cadente da opinião pública, mas que ainda tem carne nos ossos para uns sujeitos que se crêem muito espertos explorarem. Um dos editores da revista tratou de escrever uma das peças mais inacreditáveis que já li.

O nome do jornalista é Leonardo Attuch. Para quem não se lembra, há alguns anos entrevistou a ex-secretária do publicitário Marcos Valério, envolvido nos mensalões petista e tucano.

A secretária que esse jornalista entrevistou foi Fernanda Karina Somaggio, de quem conseguiu arrancar algumas acusações contra o PT que jamais foram provadas. Depois de aparecer até no Jornal Nacional, a oportunista pediu 2 milhões de reais à Playboy para posar nua. A revista, obviamente (vide foto acima), recusou a oferta.

Mas, desta vez, em vez de fazer a felicidade de oportunistas, Attuch resolveu fazer seus leitores de idiotas completos com um textinho sem pé nem cabeça em que inverte tudo o que se sabe sobre o processo que redundou na eleição de Dilma Rousseff.

Sob o título “Ciúme precoce”, juntou-se a esse exército de colunistas de grandes meios de comunicação que acham que podem vender à sociedade a idéia ridícula de que Lula estaria triste porque Dilma estaria agradando mais do que o padrinho político.

Algumas passagens do texto serão mais do que suficientes. Irei reproduzindo e comentando cada um desses trechos que selecionei e que, com um pedido de desculpas pela insalubridade intelectual, terei que fazer o paciente leitor encarar.

Attuch — Terá ele [Lula] percebido que o governo Dilma poderá ser melhor do que o seu? Ou que a opinião pública aprecia mais o estilo discreto da presidente do que a verborragia lulista?
De onde Attuch tirou essa informação?, perguntará o leitor. De alguma pesquisa de opinião? Não, não tirou. Não existe qualquer base para sua afirmação de que Dilma esteja agradando mais ou menos do que Lula. Tirou de sua cachola? Tampouco. Tirou, isso sim, das páginas impressas ou virtuais de Globos, Folhas, Vejas e Estadões. Só isso. E apresentou como fato.

Attuch — Com menos de 45 dias de governo, Lula já tenta se apropriar do provável êxito de sua sucessora. E talvez só agora ele tenha percebido que não elegeu um poste, mas alguém com estilo e com idéias próprias.
Sobre Lula tentar se apropriar do que ainda não existe – e que espero que venha a existir, porque votei em Dilma –, não vale nem comentar. Mas sobre ele achar que a candidata que indicara era um poste, aí não tem jeito: há que rir. A mídia passou dois anos dizendo que ela era um poste e que não se elegeria e Lula passou todo esse tempo dizendo o contrário. E agora é ele quem a achava “um poste”.

Attuch — O ciúme precoce [de Lula] é até compreensível. Depois de oito anos usufruindo o fausto poder, não é nada simples se acostumar com o anonimato e com a vida de cidadão comum.
Deixemos a parte mais idiota de lado e concentremo-nos na mais inacreditável: Lula no anonimato? Quando foi que isso aconteceu? Quem acredita em que acontecerá? Como poderia ter mergulhado no anonimato se os Attuchs da imprensa golpista não esquecem dele um só dia mesmo depois que deixou o poder?

Attuch — O fato é que Dilma tem agradado por razões que vão muito além do fato de ter a caneta presidencial. Sua política externa é bem mais equilibrada do que a de Lula, a gestão fiscal é responsável – note-se o corte de R$ 50 bilhões em despesas.
Uau! Em quarenta dias ele já pode fazer decretos sobre a “política externa” de Dilma. Com base em que? Em duas ou três declarações dela sobre o assunto. Nossa, que mudança, não!? E corte de despesas, quando Lula fazia era “rendição ao neoliberalismo”.

Attuch — A reabertura da discussão sobre a compra dos caças para a Aeronáutica, com foco na transferência de tecnologia para a aviação civil, sinaliza uma postura mais pragmática do que ideológica.
Vejam bem: Lula poderia ter tomado a decisão, mas adiou e deixou para Dilma justamente porque achava que o assunto precisaria ser melhor estudado. E a exigência de transferência de tecnologia foi sempre o cerne da questão. Mas o Attuch atocha essa imbecilidade em seu leitorado idiota.

Marcos Dantas: “A mídia reage como fera acuada”


Professor de Comunicação da UFRJ, Marcos Dantas é um respeitado teórico da comunicação e tem uma rica trajetória ativista. Nesta entrevista exclusiva ao Vermelho, ele nos fala da luta pela democratização das comunicações no Brasil de hoje.


Por Wevergton Brito e Marcos Pereira

Filho de um veterano comunista, o militar da Aeronáutica Sebastião Dantas, já falecido, Marcos Dantas desde cedo se interessou por política. Iniciou sua militância no PCB, indo pouco depois para a Dissidência da Guanabara (DI-GB) que mais tarde seria rebatizada de MR-8.


Começa a trabalhar como jornalista em 1970, sem ter sequer, devido às circunstâncias militantes da época, concluído um curso superior, como gosta de frisar. Passou por alguns dos mais importantes jornais do Brasil, dentre estes o Jornal do Comércio, onde trabalhou com Aloysio Biondi, e O Globo.

Dantas orgulha-se, particularmente, de ter escrito, com ajuda do então presidente do Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro, o hoje deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ) e do engenheiro e sindicalista Paulo Eduardo Gomes, hoje vereador em Niterói (RJ) pelo PSOL, o artigo que estabelecia o monopólio da Telebrás sobre as telecomunicações, depois revogado no governo FHC. “Tenho ódio eterno de FHC”, diz ele. “Imagina o orgulho que você pode sentir, ao abrir o livrinho da Constituição e poder dizer, 'este artigo fui eu que escrevi'”.

Em 2001, defende tese de doutoramento na Engenharia de Produção da COPPE-UFRJ, intitulada Os significados do trabalho. Toda sua investigação acadêmica sempre buscou relacionar os referenciais marxistas às transformações do capitalismo contemporâneo. Nesse entretempo, associando os compromissos políticos com as inevitáveis necessidades da sobrevivência, pôde participar de alguns momentos legislativos marcantes. Representando a Cobra (empresa de informática), esteve ativamente presente nos trabalhos da Constituinte de 1988, ajudando, junto com outros técnicos e professores, a redigir o capítulo sobre Ciência, Tecnologia e Comunicação.

Hoje Marcos Dantas é uma das principais referências do campo popular na luta pela democratização das comunicações, tendo representado a sociedade civil não-empresarial na 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), como delegado do Estado do Rio. Clique aqui para conhecer um pouco mais sobre a trajetória de Marcos Dantas.

Vermelho - A mídia hoje está mais agressiva em defesa dos seus interesses?Marcos Dantas: A mídia hegemônica está quantitativamente mais agressiva. É que a estrutura corporativa que temos hoje, no Brasil, consolidou-se por volta dos anos 1970, na esteira de importantes transformações pelas quais passava a sociedade brasileira àquela época. A sociedade está passando por novas e grandes mudanças políticas, econômicas, tecnológicas, culturais, que não podem ser atendidas por aquela estrutura. Ela não está sabendo acompanhar as mudanças. Então reage parecendo fera acuada. Mas, ao longo da história, ela sempre atuou como bloco. No período pré-64, por exemplo, toda a chamada “grande imprensa” (O Globo, Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, etc.) apoiou o golpe. A única vez que a imprensa rachou foi na revolução de 1930, mas isso aconteceu porque a elite estava dividida e a imprensa expressou esse momento. Fora isso, a imprensa sempre atuou em bloco.

Vermelho - Muito se fala do poder de mobilização das novas ferramentas de comunicação. Alguns chegam a dizer que o que está acontecendo no Egito é a “revolução do twitter”. Como você vê esta questão?MD: No Manifesto Comunista de 1848, Marx e Engels escreveram que o telégrafo, então recém-inventado, seria um grande instrumento nas mãos do proletariado. Ou seja, cada vez que surge um meio novo e mais rápido de comunicações, surgem também essas esperanças revolucionárias. Evidentemente, Marx não era inocente. O que ele quis dizer é que quem inventou a telegrafia foi o capital, mas no momento em que essa tecnologia fica disponível, também as comunicações contra-hegemônicas podem ficar mais rápidas e mais baratas. O sujeito não precisava mais ir a pé ou a cavalo, de uma cidade para outra, para convocar os camaradas à luta. Tinha o telégrafo, tinha a ferrovia. Mas na mesma hora, claro, também tem a polícia esperando o militante na estação ferroviária. O meio continua nas mãos do capital! No caso do telégrafo, o que a burguesia fez? Adotou, em todos os principais países, leis que davam poder de censura ao funcionário dos correios, na ponta. Ele podia censurar uma mensagem se desconfiasse de alguma frase...

Na minha avaliação, a internet é o mais extraordinário panóptico que o capital já inventou. Tudo o que você escreve ali, pode ser visto por quem queira ver. Servidores de organizações como Google, Facebook e outras podem armazenar qualquer informação a respeito de qualquer internauta. É claro que eles preferem saber dos seus gostos e hábitos para lhe vender produtos e serviços. Mas talvez o FBI ou a CIA também gostem de saber dos seus gostos e hábitos... Há poucos anos, aconteceu um escândalo mundial, pouco divulgado no Brasil, devido a um sistema inventado pelos estadunidenses, denominado “Echelon”, pelo qual as suas grandes corporações podiam acompanhar as comunicações dos concorrentes e, com base nelas, tomar as decisões mais vantajosas.

Dizem que os EUA ganharam a licitação para montar o Sivam no Brasil graças a informações sobre os concorrentes obtidas via “Echelon”. Sei lá o que pode estar acontecendo agora nessa disputa pelos caças da FAB, mas eu não me admiraria em saber que as autoridades brasileiras, nas suas conversas a respeito, usam o Outlook Express, ou Gmail, ou Internet Explorer... Se você quer realizar uma revolução para valer, a primeira coisa a fazer é não usar internet. Nem celular. Os russos acertaram a cabeça de um líder checheno com um míssil guiado pelas frequências do seu telefone celular.

No fundo, essa prometida liberdade é um grande mecanismo de controle. Ela serve principalmente para falar muita abobrinha e, claro, para induzir comportamentos de consumo, como qualquer outro meio de comunicação. Mas isto não significa menosprezar ou desqualificar a internet. Uso muito, sou mesmo pioneiro (desde 1992, com linha discada) e já estudava o conceito de “ágora informacional” antes que a internet, enquanto tal, tivesse virado um fenômeno de massa no Brasil, depois de, não por acaso, ser apresentada ao país por uma novela da Globo. Certamente, o Google é uma extraordinária ferramenta de pesquisa. A minha velha Mirador, hoje em dia, apenas serve como belo enfeite de estante.

Trocar ideias pelo Twitter é muito interessante e divertido. É como uma reunião de amigos e amigas numa mesa de bar, todo mundo falando quase ao mesmo tempo frases entrecortadas, só que eu estou na minha casa, o outro no seu escritório de trabalho, um outro pode estar na Bahia ou Santa Catarina, até no Japão (se resistir ao fuso horário...). Aprende-se muito. A partir daí, penso que devemos disputar a internet, como também devíamos ter disputado o telégrafo ou a radiodifusão. Mas não é a internet que está moldando ou vai moldar a sociedade. É a sociedade, no bojo da luta de classes, que decidirá os rumos da internet. Sem essa consciência, a internet será aquilo que o capital quer que ela seja: um meio para acelerar negócios e, se necessário, de controle social. É fundamental disputar a democracia na internet, mas o discurso apologético acrítico conduz ao idealismo e não leva a nada realmente transformador.

Vermelho - No governo Lula foram poucos os avanços na comunicação. Em relação a esta área, qual a sua expectativa em relação ao governo Dilma?MD: Eu sou moderadamente otimista. Eu acho que é uma mudança grande colocar o Paulo Bernardo no Ministério das Comunicações. Mostra que esse Ministério terá no governo Dilma, uma dimensão estratégica que infelizmente não teve no governo Lula.

A questão é: qual roteiro vai seguir?

Ainda não ouvimos uma declaração programática do ministro. Ele parece estar, aqui e ali, soltando umas ideias para sentir como repercute. Pelo que está dito, banda larga e marco regulatório serão suas principais preocupações. Sobre a política de banda larga, sabemos o que o governo Lula deixou. Sobre o marco regulatório, sabemos que o governo Lula deixou algo, mas não sabemos o quê. Mas, sobre qualquer coisa, como o ministro integra o “núcleo duro” do governo, as decisões serão de governo, isto é, serão firmes, consistentes, duradouras (ao contrário, por exemplo, das decisões sobre TV digital no governo Lula), mas ainda não dá para termos clareza sobre os rumos.

No momento, a sensação que eu tenho é que o ministro Paulo Bernardo está ouvindo a todos. Isso é muito positivo, mas isso é uma característica do PT: ele ouve as forças políticas sociais, escuta o movimento social. O movimento popular tem um canal de interlocução. Mas não podemos esquecer que as comunicações envolvem interesses poderosos, o ministro também está ouvindo e não pode deixar de ouvir essas outras forças. O empresariado chega lá com propostas muito concretas, com temas objetivos. O movimento popular costuma chegar com bandeiras. Agora é hora de propostas, e propostas factíveis. É um cabo de guerra e não dá para saber ainda quem vai levar vantagem nisso.

Vermelho - Do ponto de vista da luta pela democratização da mídia, qual o tema mais importante hoje no Governo Dilma?MD: Sem dúvida, o marco regulatório é o debate mais importante. Todo mundo sabe, acho que isso já é consenso, que há um caos normativo no Brasil hoje em dia. Precisamos de uma legislação que contemple os avanços econômicos e tecnológicos dos últimos anos mas, ao mesmo tempo, introduza princípios democráticos e públicos. Toda reforma normativa no mundo tem sido feita em detrimento dos interesses públicos, conduzida pelas forças do capital. O Brasil, por suas características econômicas e políticas, poderia inovar aí, dando algumas aulas ao mundo. Mas isto vai necessitar, inclusive, de construção teórica, não apenas jurídica. Ao contrário do governo Lula, trata-se justamente de não fazer o óbvio.

Vermelho - No que consiste, a seu ver, a principal contradição entre as teles (empresas de telecomunicação como Oi, Telefônica, Sky) e as radiodifusoras (Globo, Bandeirantes, etc.).
MD: A principal contradição é a própria mudança no padrão de acumulação nas comunicações. Há um modelo decadente, esse da radiodifusão aberta, e outro ascendente, o dos “jardins murados”. Aquele se apoia na escassez de espectro, verdade até os anos 1970. Este se apoia no espectro ilimitado, na multiplicação ad infinitum de canais audiovisuais, no cabo, na atmosfera, no satélite, graças às tecnologias digitais. Se o objetivo é o lucro e se o lucro está na produção e programação de conteúdos, a apropriação desse lucro só é possível através de um novo modelo de negócios, baseado na assinatura ou no pagamento direto por serviço (pay per view).

Aí entram as teles: elas controlam a bilheteria de acesso aos “jardins”. Não é somente Oi ou Telefônica. As operadoras de celular estão vendendo conteúdo e somente conteúdo, elas não prestam mais um mero serviço telefônico. No entanto, são reguladas como operadoras de telecomunicações, não como provedoras de audiovisual. O problema dos radiodifusores é a ameaça de migração da audiência, da TV aberta para a TV por assinatura e internet.

O que acontece em todo o mundo mostra que essa TV aberta, generalista, que foi dominante na maior parte do século passado, está em decadência. No entanto, esse sistema, porque se apoiava num recurso escasso, era definido como serviço público, era publicamente regulado, dava ao Estado e à sociedade, nem que fosse teoricamente, um certo poder para influenciar nas elaboração de regras, inclusive regras quanto à missão cultural e educacional dos produtores e programadores. Por isso, temos os artigos da nossa Constituição.

Já os “jardins murados” são completamente controlados pelo capital financeiro. São vistos como investimento privado e externo a controles públicos. Assim, todos os princípios culturais, educacionais, éticos que devem condicionar a produção e programação de conteúdos deixam de estar subordinados a qualquer regulação pública. Isso virou um negócio exclusivamente privado. Se o movimento popular e democrático quiser intervir nessa situação tem que denunciar essa lógica e propor normas alternativas. Este é o nosso grande desafio. A cultura, a produção audiovisual e o entretenimento precisam continuar a ser regulados por critérios públicos, não importa se nos sete canais do VHF ou nos 300 canais do satélite.

Vermelho - Qual seria então, a principal bandeira?
MD: A minha proposta, considerando a atual correlação de forças, é estabelecer uma rígida separação entre quem transporta o sinal e quem produz ou programa o conteúdo. É até possível defender isso porque é algo parecido com o modelo inglês e da maior parte dos países europeus. Na Grã-Bretanha, a BBC não é “dona” da frequência de transmissão. A transmissão é feita por uma empresa operadora, contratada por licitação, de nome Crown Castle.

Essa separação, tanto no ar, quanto no cabo ou no satélite, permite que você defina regras assegurando o uso das vias também pelos produtores público-estatais e pelos demais agentes não-comerciais (sindicatos, associações comunitárias, etc.). E permite multiplicar as vias para os canais comerciais, abrindo espaço também para pequenos negócios regionais e locais. Na outra ponta, a produção e a programação poderão ser alvo de regulação própria, nelas aplicando-se os princípios da nossa Constituição. Trata-se de acabar com essa divisão “radiodifusão”/“telecomunicações”, introduzindo outra, mais adequada aos novos tempos, “conteúdo”/“continente”.

Vermelho - O Ministério das Comunicações vem dando grande destaque ao Plano Nacional de Banda Larga. Do que até agora tem sido divulgado, qual sua opinião sobre o PNBL?MD: Com todo o respeito ao César Alvarez (secretário-executivo do Ministério das Comunicações e um dos principais formuladores do PNBL) e ao Rogério Santana (presidente da Telebrás), eu tenho sido um crítico desse plano. Não somente porque 512 kbps não é verdadeiramente banda larga. É a sua própria concepção que eu critico. Vai se repetir aí o que já acontece em outros serviços, no Brasil: uma solução ruim para os pobres e outra, mais ou menos boa, para quem pode pagar. É a mesma coisa na educação, na saúde... Quem puder pagar para ter a banda larga da Oi, da Telefônica, da Net, da TIM, vai continuar pagando, quem não puder, mas tiver pelo menos 30 reais sobrando por mês, contente-se com 512 kbps.

Precisamos entender que a banda larga, por ar, cabo ou satélite será a futura infraestrutura de comunicação. O telefone de par trançado, o telefone fixo que só serve para voz ou fax, vai desaparecer daqui a pouco. Pela banda larga vai passar internet e televisão digital. Por isso, essa infraestrutura precisa ser universalizada. Isto não é o mesmo que massificar. Massificar significa estender o serviço ao máximo para quem pode pagar. Universalizar é determinar que, ao cabo de um certo período de tempo, digamos cinco anos, dez anos, com investimento público ou privado, dentro de um cronograma de médio e longo prazos, todos e todas terão direito à banda larga, conforme um determinado padrão de qualidade e por um certo preço regulado.

O governo, nos termos da lei atual, precisaria criar um serviço em regime público. A Conferência Nacional de Comunicações defendeu isso, com voto até do empresariado. Até do ponto de vista político-filosófico, trata-se de resgatar o princípio do serviço público, como eu discuti mais em cima. É isso que se espera de um governo de esquerda.

Vermelho - Como você vê o desenvolvimento futuro de uma mídia contra-hegemônica?MD: Você está falando de imprensa ou de “mídia”? Se “mídia”, isto engloba notícia, cultura, entretenimento, etc. Você quer um jornal para ser lido somente pela vanguarda, ou que tenha expressão na massa? Você quer um canal de TV que nem quem faz assiste, ou um canal para qualquer dona de casa assistir? A única vez que o nosso país contou com um poderoso jornal contra-hegemônico foi no governo Getúlio Vargas, que bancou a Última Hora. Como tinha dinheiro, a Última Hora pôde contratar os melhores profissionais da época.

Última Hora 
era um jornal igual aos outros: tinha esportes, polícia, espetáculos, coluna social, coluna de mulher “boa” (que fez a fama do Stanislaw Ponte Preta), tudo o que um jornal tem que ter para atrair o leitor comum, o leitor que não põe a política no primeiro lugar das suas preocupações, exceto em dia de eleições. Sem preconceitos. Ou com todos os preconceitos, se quiserem... (risos) Como era muito bem feito, foi um sucesso. Alcançou tiragens maiores do que os outros grandes jornais da época. Entretanto, o seu noticiário “sério”, vamos dizer assim, destoava do resto.

Na política e na economia (esta, à época, pouco importante no jornalismo), dava destaque para as notícias que interessavam ao governo e às forças que o apoiavam. Suas manchetes, títulos e lides, ou seja a técnica jornalística, eram usados para valorizar o que o restante da imprensa queria desvalorizar, para noticiar o que o restante da imprensa gostaria de esconder.

No entanto, apesar da sua enorme audiência, logo influência na formação da opinião pública, o jornal nunca foi um sucesso financeiro. Os grandes anunciantes o boicotavam. Sempre dependeu do apoio do governo e de alguns empresários que sustentavam a política de Vargas. Com o golpe de 1964, não demoraria a acabar. Talvez, hoje, com um governo de esquerda e, além disso, com os recursos que os sindicatos possuem, além de algumas alianças empresariais que podem ser feitas, talvez fosse possível edificar um jornal assim, ou melhor, um canal de TV assim, ou melhor ainda, um portal de internet assim, ou até tudo ao mesmo tempo, agora. No entanto, considerando as práticas corporativas dominantes, a mesquinharia da pequena política, o amadorismo, não vislumbro muito essa possibilidade no Brasil atual.

Vamos ter que continuar convivendo com jornais, revistas, sítios de internet feitos por nós para nós mesmos. Alguns até são bons, mas mesmo estes são mais opinativos do que informativos. O cidadão comum quer informação, mesmo que com algum tempero de opinião. Pode ser informação sobre a reunião ministerial de ontem, sobre o treino do Ronaldinho, sobre o paredão do BBB (arghh!!) ou sobre uma boa receita para o almoço de domingo, sem falar de filmes e espetáculos em cartaz. É informação que vende jornal, atrai audiência para a TV. Se quisermos construir uma mídia alternativa, temos que perder essa mania de ter opinião formada sobre tudo... (risos)

Vermelho - Para terminar, Dilma vai ou não enfrentar a mídia hegemônica?MD: Coragem ela tem. É determinada, racional. Mas, no governo, sabemos que pode não ser interessante acirrar os ânimos, muito menos agora, quando ela mal começou. Ela precisa de certa estabilidade. E precisa de apoio político. Na Argentina, Cristina Kirchner pôde fazer uma nova lei democrática, não porque vivia às turras com El Clarin, mas porque tinha povo na rua (eu disse, na rua, não no Twitter) e maioria real, não fisiológica, no Parlamento. Penso que a presidenta não colocou Paulo Bernardo no Ministério das Comunicações, à toa.

O governo terá uma política de governo, não de ministro, como era no tempo de Lula. Quero acreditar que ela, com o seu ministro, vai conduzir um reordenamento muito importante nas comunicações. O resultado vai depender de como o movimento popular vai conseguir intervir. Temos boas condições de formular propostas construtivas para ajudar o governo a enfrentar essa batalha mas, acho, que ainda falta melhor organização no nosso campo.

Respondendo a um babaca paulistano.Gleisi: mostra diferenças entre Dilma e Lula com FHC

Por que uma nova crise financeira é certa



A regulação se estabelece para assegurar que o sistema funcione adequadamente e para proteger as pessoas contra fraudes. Mas a atividade bancária é mais lucrativa quando não há regras, razão pela qual os líderes do setor e seus grupos de pressão seguem tentando impedir os esforços para introduzir reformas. E, em geral, tem conseguido. Os bancos seguem concedendo hipotecas a pessoas desempregadas com alta possibilidade de inadimplência, da mesma forma que faziam antes da crise. Obama sabe onde está o problema, mas também sabe que não será reeleito sem o apoio de Wall Street. É uma questão tempo até que haja outro crack. O artigo é de Mike Whitney.
No dia 9 de agosto de 2007, houve um episódio em um banco francês que desencadeou uma crise financeira que acabaria dissolvendo mais de 30 trilhões de dólares em capital, envolvendo o planeta na maior recessão desde os tempos da Grande Depressão. O evento em questão foi descrito em um discurso do diretor executivo da Pimco (administradora de fundos de investimento), Paul McCulley, na 19° edição da Annual Hyman Minsky Conference on the State of the U.S. and World Economies (Conferência Anual Hyman Minsky sobre o estado das economias dos EUA e do mundo). 

Eis um trecho da exposição de McCulley:

“Se tivesse que escolher um dia para assinalar o Momento Minsky, seria o 9 de agosto de 2007. E, de fato, não ocorreu aqui nos EUA. Ocorreu na França, quando o Paribas Bank (BNP) disse que não podia valorar os pacotes de ativos hipotecários tóxicos em três de seus produtos de investimento fora de balanço, e que, em função disso, os investidores, que acreditavam poder sair a qualquer momento, estavam presos. Lembro desse dia tão bem quanto do aniversário do meu filho. E este último ocorre uma vez por ano. Porque o desastre em cadeia começou neste dia. Foi um pouco mais tarde, neste mesmo mês, que cunhei o termo “Sistema Bancário paralelo” durante o simpósio anual do Federal Reserve, em Jackson Hole. Era só o segundo ano que eu assistia ao simpósio. Estava um pouco sobressaltado e basicamente me dediquei a escutar a maior parte dos três dias. Ao final, me levantei e (parafraseando) disse: o que está ocorrendo é bem simples. Temos uma fuga no Sistema Bancário Paralelo e a única dúvida é o quão rápido ela vai se retroalimentar a medida que seus ativos e suas obrigações vão regressando aos balanços do sistema bancário convencional”.

O BNP estava realizando atividades de intermediação creditícia, ou seja, trocava ativos que se constituíam com garantias de pacotes hipotecários (MBS, em sua sigla em inglês) por empréstimos de curto prazo nos mercados de derivativos. Soa tudo muito complicado, mas não é algo distinto do que fazem os bancos quando tomam os depósitos de seus clientes e os investem em ativos de longo prazo. A única diferença neste caso é que estas atividades não estavam reguladas, de modo que não havia nenhum órgão governamental encarregado de determinar a qualidade dos empréstimos ou assegurar que as distintas entidades financeiras estavam suficientemente capitalizadas para cobrir eventuais perdas. Esta falta de regulação acabou por gerar consequências catastróficas para a economia mundial.

Passou quase todo um ano desde que o calote das hipotecas subprime começasse a se propagar em massa, até que o mercado secundário (onde se trocam estes ativos “tóxicos”) colapsou. O problema era simples: ninguém sabia se essas hipotecas eram ou não seguras, de modo que era impossível fixar um preço para os ativos. Isso criou o que o professor de Yale, Gary Gorton chama um problema de e. coli (nome genérico para as bactérias que produzem enfermidades como a salmonela), ou seja, ainda que só uma pequena quantidade de carne seja contaminada, milhões de libras em hamburguers têm que ser retirados do mercado. A mesma regra se aplica aos MBS. Ninguém sabia quais delas continham os maus empréstimos. Assim, o mercado inteiro foi paralisado e trilhões de dólares em garantias começaram a perder valor.

As subprime foram a faísca que acendeu o fogo, mas o mercado das subprime não era suficientemente grande para atingir todo o sistema financeiro. Isso exigir tremores no sistema bancário paralelo. Eis um trecho de um artigo de Nomi Prins que fala de quanto dinheiro está envolvido aqui:

“Entre o ano de 2002 e o início de 2008, aproximadamente 1,4 trilhões de dólares em hipotecas subprime correspondiam a emprestadores que tinham quebrado como New Century Financial. Se esses empréstimos fossem nosso único problema, no papel a solução poderia ter sido que o governo subsidiasse essas hipotecas até um custo máximo destes 1,4 trilhões de dólares. No entanto, e segundo Thomson Reuters, outros 14 trilhões de dólares em produtos financeiros complexos se criaram a partir dessas hipotecas, precisamente porque os fundos de investimento estimularam tanto sua produção quanto sua dispersão. Desde modo, quando se chegou ao máximo de desembolso público em julho de 2009, o governo tinha sido obrigado a gastar 17,5 trilhões de dólares para sustentar a pirâmide de Ponzi de Wall Street, ao invés dos iniciais 1,4 trilhões (Shadow Banking, Nomi Prins,The American Prospect)”.

O sistema bancário paralelo foi criado para que as grandes instituições financeiras que dispunham de muita liquidez tivessem algum lugar onde colocar seu dinheiro no curto prazo com a máxima rentabilidade. Por exemplo, digamos que a Intel tem “sobrando” 25 bilhões de dólares. Pode entregar o dinheiro a um intermediário financeiro como Morgan Stanley em troca de uma garantia (os MBS ou os ABS), e obter em troca um rendimento razoável por seu empréstimo. Mas se aparece algum tipo de problema e se questiona a qualidade da garantia, então os bancos (neste caso, o Morgan Stanley) se vê forçado a realizar cortes e mais cortes que podem acabar colapsando o sistema inteiro. Isso é o que aconteceu no verão de 2007. Os investidores descobriram que muitas das subprimes eram fraudulentas, de modo que bilhões de dólares foram retirados rapidamente dos mercados financeiros e o Federal Reserve teve que intervir para evitar que o sistema entrasse em colapso.

A regulação se estabelece para assegurar que o sistema funcione adequadamente e para proteger as pessoas contra fraudes. Mas a atividade bancária é mais lucrativa quando não há regras, razão pela qual os líderes do setor e seus grupos de pressão seguem tentando impedir os esforços para introduzir reformas. E, em geral, tem conseguido. A lei Dodd-Frank (de reforma do sistema financeiro) está repleta de lacunas e não resolve realmente os problemas cruciais da qualidade dos empréstimos, da disponibilidade de capital e da diminuição dos riscos. Os bancos seguem podendo conceder tranquilamente hipotecas a pessoas desempregadas com muitas possibilidades de não poder pagá-las, da mesma forma que faziam antes da crise. E seguem utilizando-as para produzir complexos instrumentos de dívida sem manter nem sequer 5% do valor original do empréstimo (esta questão segue em disputa, de fato). Além disso, as agências governamentais não poderão forçar as instituições financeiras a incrementar sua capitalização apesar de seguir existindo o perigo de que uma pequena turbulência no mercado possa quebrá-las, colocando em sério perigo o resto do sistema. Wall Street saiu ganhando de novo e agora a oportunidade para um novo impulso regulador já passou.

O presidente Barack Obama entende onde radica o problema, mas também sabe que não será reeleito sem o apoio de Wall Street. É por isso que há apenas duas semanas prometeu no Wall Street Journal que seguiria reduzindo a “gravosa” regulação que afeta a Wall Street. Sua coluna tratava de antecipar-se à publicação do informe final da Comissão de Investigação da Crise Financeira (FCIC, Financial Crisis Inquiry Commission), que possivelmente fará recomendações em defesa da regulação pública do setor. Obama torpedeou esse esforço ao ser colocar ao lado da grande finança. Agora é uma questão tempo até que haja outro crack.

Este é um trecho de um informe especial do Banco Federal de Nova York sobre o sistema bancário paralelo:

“Na véspera da crise financeira, o volume de crédito intermediado pelo sistema bancário paralelo era próximo aos 20 trilhões de dólares, ou seja, quase o dobro dos 11 trilhões que o sistema bancário tradicional intermediava. Hoje, essas mesmas cifras são de 16 trilhões e 13 trilhões, respectivamente. A debilidade dos administradores de fundos não surpreende quando só se dispõe de muito pouco capital para respaldar suas carteiras de ativos e, em troca, os investidores têm tolerância zero em relação às perdas (“Shadow Banking”, Federal Reserve Bank of New York Staff Report)”.

Assim que, quando o Lehman Brothers se desintegrou, entre 4 e 7 trilhões de dólares simplesmente viraram fumaça. Quantos milhões de empregos foram perdidos em função de uma má regulação? Quando se reduziu o PIB, a produtividade e a riqueza nacional? Quantas pessoas vivem agora dos cheques de alimentação estatais, ou dormem ao relento, ou tratam de evitar a falência de seus negócios porque algumas instituições financeiras desreguladas puderam dedicar-se à intermediação do mercado de crédito sem que o governo as supervisionasse?

Ironicamente, o Federal Reserve de Nova York nem sequer tenta negar a origem do problema: a desregulação. Eis o que dizem em seu informe: “Manejar a regulação foi a razão última da existência de muitos bancos no sistema paralelo”. O que isso quer dizer. Quer dizer que Wall Street sabe perfeitamente que é mais fácil ganhar dinheiro sem regras...as mesmas regras que protegem o público da depredação por parte de especuladores e gananciosos.

A única forma de arrumar o sistema é submeter à necessária regulação a qualquer instituição que atue como um banco. Sem exceções.

(*) Mike Whitney é um analista político independente que vive no estado de Washington e colabora regularmente com a revista norteamericana 
CounterPunch.


Tradução: Katarina Peixoto

DESCONSTRUINDO LULA: A NOVILÍNGUA DIZ QUE BOM É RUIM. O QUE INCOMOD


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18 dias de protestos põem fim a 30 anos de ditadura.

Financiamento imobiliário bate recorde em 2010; vendas no varejo tem a maior alta em nove anos. Geração de emprego bate recorde em 2010: 2,5 milhões de vagas formais. População ocupada atinge 22 milhões de pessoas em 2010, maior patamar desde 2002; total de desempregados -- 1,6 milhão de pessoas-- é o menor da série. Produção industrial cresce 10,5% em 2010 : a maior expansão desde 1986. .. Como diz o insuspeito Delfim Netto, "Não importa qual seja nossa orientação ideológica ou nossa pretensão científica sobre a melhor receita para a boa governança econômica, é impossível deixar de reconhecer que quase 90% de aprovação popular (num regime de plena liberdade de expressão, mídia alerta e, felizmente, inquisidora) tem pouca probabilidade de ser um acidente..."
(Carta Maior, 3º feira, 15/02/2011)