Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A HORA DA MAIS-VALIA: A FASE 2 DA CRISE


*Obama vai de Keynes: democrata descola da austeridade suicida de Merkel & Cia e envia ao Congresso proposta orçamentária que prevê mais gastos públicos, com criação de imposto sobre o sistema bancário, convocado a  ressarcir a sociedade pelos prejuízos da crise financeira. 
A Europa mergulha de cabeça na fase 2 da restauração pós-crise. Depois de recapitalizar a banca e tornar confortável a liquidez e a retomada dos lucros rentistas, seus mandatários decidiram apresentar a conta a quem de direito: os trabalhadores. As ruas rangem e rugem: cerca de meio milhão de pessoas protestaram em Atenas e Lisboa neste fim de semana contra o ataque frontal a salários e direitos (leia as reportagens nesta pág). Os sindicatos espanhóis marcaram uma greve geral a partir deste domingo, dia 19: a reforma laboral decretada pelo direitista Rajoy dá ao patronato da Espanha o direito leonino de cortar salários, demitir e esfolar, sem ônus, nem negociação. O desespero que incendeia as ruas, porém, encontra ouvidos moucos numa esquerda destituída do traço indispensável à liderança de uma época: a coragem para romper com as amarras de um passado que sufoca a sociedade. O acanhamento histórico contagia também o Brasil. (LEIA MAIS AQUI )

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O complô “Velozes e Furiosos” para ocupar o Irã

 

O governo dos EUA espera que um mundo crédulo acredite que um vendedor falido de carros no Texas seria selecionado, pelo competente braço da inteligência iraniana, que estaria à procura de alguém com cara de gângster de cartel mexicano de drogas, e lhe atribuiria a tarefa de, por US$1,5 milhão, matar o embaixador saudita em Washington – e, na mesma conversa, prometeria ao cartel mexicano acesso seguro a “toneladas de ópio”. O artigo é de Pepe Escobar.

Aquela Meca da contrarrevolução e do ódio à Primavera Árabe – também conhecida como Casa de Saud – mal pôde acreditar na própria sorte. É Natal em outubro – agora que o governo dos EUA entregou-lhe o presente perfeito: na fala excitada do Procurador Geral dos EUA, “Um complô mortal dirigido por facções do governo iraniano para assassinar um embaixador estrangeiro em solo dos EUA, com bombas.”[2]

O príncipe saudita Turki al-Faisal, ex-embaixador em Washington, ex-chefe do serviço secreto saudita, ex-amigão de Osama bin Laden, não perdeu tempo e já disse, em conferência de imprensa em Londres, que “o peso das provas, nesse caso, é imenso e mostram claramente a responsabilidade de funcionários iranianos. É inaceitável. Alguém no Irã terá de pagar o preço”.[3]

Quer dizer, o “Irã” – o país inteiro – já foi mandado para a guilhotina pelo eixo Washington/Riad, embora, para engolir a notícia, do tipo “rabo abana o cachorro”, de uma “Operação Coalizão Vermelha” (não, vocês não podem imaginar!) seja necessária a suspensão completa da sanidade e do senso racional normal.

A Operação Coalizão Vermelha está centrada num Mansour Arabsiar, 56 anos, vendedor de carros em Corpus Christi, Texas, portador de passaportes iraniano e norte-americano, e num co-conspirador, Gholam Shakuri, dito membro da força Qods do Corpo de Guardas Revolucionários Islâmicos [ing. Islamic Revolutionary Guards Corps, IRGC].

O diretor do FBI [United States Federal Bureau of Investigation], Robert Mueller, repetiu que o dito complô teria sido concebido por iranianos; em suas palavras: “parece script de Hollywood”[4]. Pois até essa propaganda de “Velozes e Furiosos” teria ido parar na lata do lixo, em qualquer conferência de imprensa que se desse ao respeito, até em Hollywood.

Mais rápido, muchachos. Matem, matem!

O governo dos EUA espera que um mundo crédulo acredite que um vendedor falido de carros no Texas seria selecionado, pelo competente braço da inteligência iraniana, que estaria à procura de alguém com cara de gângster de cartel mexicano de drogas, e lhe atribuiria a tarefa de, por US$1,5 milhão, matar o embaixador saudita em Washington – e, na mesma conversa, prometeria ao cartel mexicano acesso seguro a “toneladas de ópio”.

O que se sabe com certeza é que, na denúncia oficial [ing. Sealed Amended Complaint] contra Arabsiar e Shakuri, assinada pelo agente especial do FBI Robert Woloszyn, não há absolutamente qualquer referência a qualquer tipo de envolvimento do governo do Irã, de alto nível, ou de qualquer nível[5].

Mas, na narrativa do governo dos EUA, Arabsiar foi tolo o bastante para acreditar no que lhe disse um agente infiltrado da agência antidrogas dos EUA [ing. Drug Enforcement Agency, DEA], que se fazia passar por membro do Zetas, cartel mexicanos de tráfico de drogas. Arabsiar disse a esse agente e seus companheiros que seria sobrinho de um alto funcionário iraniano – e que atuava em nome dos mais altos escalões.

Querem portanto que acreditemos que um general iraniano manda um seu parente rei dos otários, que vende carros no Texas, contratar um cartel de drogas para um complô político – como se a inteligência dos EUA não tivesse como rastrear o pagamento pelo assassinato, até o tal parente, sobretudo depois do caso dos 100 mil dólares enviados para os EUA, ao que se diz, vindos do Irã, para um sujeito já condenado por fraudes com cheques.

Mesmo sem considerar qualquer viés ideológico, qualquer pessoa que conheça o extremo profissionalismo do IRGC e da força Qods logo descartará como absoluto lixo toda essa história – sobretudo se apresentada como parte de uma complexa operação internacional que envolveria o Irã e seu inimigo mortal, os EUA, além do México e da Arábia Saudita. Mas Arabsiar “confessou” tudo – depois de 12 dias de interrogatório ininterrupto (alguém aí pensou em “simulação de afogamento”?).

E há também a questão do alvo escolhido. Segundo o Departamento de Justiça, o complô não visava os EUA. Assim sendo, atacar um embaixador da Casa de Saud – “precioso aliado” – em solo norte-americano só se explica pelo desejo doentio de sangue, típico dos iranianos doidos, suicidários, dedicados a arrastar os EUA a um ataque, nuclear ou de outro tipo.

A ideia de que um cartel mexicano de drogas investiria num complicadíssimo ataque político na capital dos EUA, esperando ganhar sacos de ópio (do Afeganistão “libertado”) também é inverossímil. Mas o quadro muda, se se pensa no que ganhariam os Mujahideen-e-Kalq – organização terrorista fundamentalista dedicada a tentar derrubar a República Islâmica. Ou no que ganharia a al-Qaeda, já espectral e fantasmagórica, se se inventasse uma guerra de três vias, que envolvesse Washington, Teerã e Riad.

Há também a opção israelense, da falsa bandeira. Além de o complô parecer brotado dos sonhos molhados do AIPAC [ing. American Israel Public Affairs Committee] entregue a Holder numa bandeja de prata, nada agradaria mais plenamente ao lobby israelense em Washington e a um sortimento variado de sionistas do que se aliar a causus belli decidido diretamente por Washington, que levasse os EUA a atacar o Irã, seja como for, e sem qualquer envolvimento direto de Israel.

Segundo o mantra oficial, os norte-americanos têm de ser sempre lembrados e relembrados de que o Irã é “ameaça existencial” ao estado judeu. Um atentado contra a vida do embaixador saudita seria perfeito, também, porque explicaria o envolvimento da Casa de Saud, no apoio logístico ao tal ataque ao Irã.

Ainda que se aceite que algum grupo bandido, dentro da força Qods, estaria envolvido numa conexão de tráfico de drogas e pudesse ter algo a ver com o complô, há também a possibilidade de que tudo tivesse sido armado como retaliação-resposta, a recente assassinado predeterminado [ing. targeted assassination] de um dos principais cientistas nucleares iranianos, assassinado no Irã. Mas isso não explica escolher um embaixador saudita, a ser morto em território norte-americano.

Cui bono? A quem o crime beneficia?
Mais uma vez: por que logo agora? O complô já é conhecido, ao que se sabe, há meses. O presidente Barack Obama foi informado em junho. O rei Abdullah foi informado em meados de setembro. Então... por que divulgar agora? O que nos leva de volta aos suspeitos de sempre.

Os neoconservadores. Facções do complexo industrial-militar. A direita, os malditos, imundos, doidos Republicanos e seus operadores na imprensa. O lobby pró-Israel. A Casa de Saud – que agora é pintada como “vítima” dos iranianos “do mal”, quando, de fato, está comandando a mais brutal contrarrevolução, que já destruiu qualquer possibilidade de alguma Primavera Árabe nos países do Golfo, inclusive a invasão e a repressão no Bahrain.

O complô aparece em boa hora, para distrair a atenção, para impedir que a Arábia Saudita seja vista como beneficiária de um multibilionário negócio de venda de armas norte-americanas.Vem em boa hora, também, para ‘limpar’ a imagem do próprio procurador geral. Holder foi envolvido há pouco tempo em outro escândalo monstruoso, quando mentiu sobre a Operação Velozes e Furiosos (não, vocês não podem imaginar!), operação fracassada, de cujo fracasso resultou que nada menos que 1.400 armas norte-americanas de grosso calibre acabaram em mãos de – adivinhem! – cartéis mexicanos do tráfico de drogas. Parece que a franquia “Velozes e Furiosos” é a arma de recreação preferida, em todos os níveis do governo dos EUA.

Washington quer “unir o mundo” contra o Irã (onde “mundo” significa: Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN) e já ameaça denunciar o Irã ao Conselho de Segurança da ONU – outra vez.

Esperemos pois ansiosamente por mais uma resolução R2P (“responsabilidade de proteger”) apresentada e aprovada na correria, que ordene que a OTAN estabeleça mais zonas aéreas de exclusão sobre o telhado de todos os príncipes da Casa de Saud em todo o planeta. Essa resolução bem pode ser interpretada como autorização à OTAN para bombardear o Irã, até a ‘mudança de regime’. Esse, sim, é script verossímil.

NOTAS
[1] Versão resumida desse artigo foi publicada ontem em Al-Jazeera, em http://english.aljazeera.net/indepth/opinion/2011/10/201110121715573693.html e, em português, em http://outroladodanoticia.com.br/inicial/23505-velozes-e-furiosos1-para-ocupar-o-ira-.html [NTs].

[2] Vê-se o anúncio oficial em http://www.youtube.com/watch?v=X0wVQG0EIbc&feature=player_embedded#! E interessante lista de comentários de internautas sobre aquela fala, em http://www.reddit.com/r/conspiracy/comments/l8v4s/world_war_iii_operation_red_coalition_alleged/ [em inglês]. Um dos comentários diz: “Nosso aliado fascista Pinochet, organizou e executou um assassinato real em Washington, D.C., e os EUA nada fizeram contra. Quem não saiba, veja em http://en.wikipedia.org/wiki/Orlando_Letelier” [NTs].

[3] 12/10/2011, matéria da Reuters, de Londres, em http://af.reuters.com/article/energyOilNews/idAFL5E7LC22520111012 (em inglês).

[4] Vê-se e ouve-se o comentário em http://www.youtube.com/watch?v=oqcI5uFyEGk (em inglês).

[5] O texto pode ser lido, na íntegra, em http://www.emptywheel.net/wp-content/uploads/2011/10/111011-Ababsiar-Amended-Complaint.pdf [em inglês].


Fonte:
http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/MJ14Ak02.html

Tradução: Coletivo Vila Vudu

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

AS RAZÕES DO MOVIMENTO

O movimento de protesto nos Estados Unidos teve ontem um dia diferente em Nova Iorque: piquetes de centenas de pessoas se manifestaram às portas de cinco dos maiores milionários de Manhattan, começando pela casa de Rupert Murdoch. Outras residências visitadas foram as dos banqueiros John Paulson, Jamie Dimon, David Koch, e Howard Millstein – todos eles envolvidos nos grandes escândalos de Wall Street, e socorridos por Bush. Os lemas foram os mesmos: que tratassem de devolver o que haviam retirado da economia popular.
A polícia limitou-se a conter, com barreiras, os manifestantes. Mas a mesma coisa não ocorreu em Boston. A polícia municipal atuou com extrema violência durante a madrugada de ontem, atacando, com porretes, dezenas de manifestantes e ferindo dois veteranos de guerra, um deles, de 74 anos, ex-combatente no Vietnã. O “Occupy Together” atingiu mais de 1.200 cidades norte-americanas, em preparação para as grandes concentrações nacionais no próximo sábado, dia 15.
Conforme o jornalista americano David Graeber, em incisivo artigo publicado pelo The Guardian, os jovens, e também homens maduros, vão às ruas nos Estados Unidos em busca de empregos, de boa educação, de paz, é certo, mas querem muito mais do que isso. Eles contestam um sistema que deixou de servir aos homens, para servir apenas aos banqueiros e a um capitalismo anacrônico. “Para que serve o capitalismo?”, é uma de suas perguntas. Eles contestam um sistema baseado no consumo supérfluo de uns fundado na negação das necessidades básicas de 99% da população de seu país. Descobriram que o seu futuro, os seus sonhos, o seu destino e a sua vida foram roubados pelo sistema que deixou de ser democrático.
Os neoliberais no mundo inteiro fazem de conta que esses protestos nada significam, e muitos deles continuam sem perceber o que está ocorrendo. Tem sido sempre assim na História. Na noite de 4 de agosto de 1789, quando, a Assembléia revolucionária da França aboliu os privilégios feudais da nobreza, Luis 16, que seria guilhotinado menos de três anos depois, escreveu em seu diário: hoje, nada de novo. Como bem registrou Paul Krugman, em seu artigo no New York Times, os manifestantes não são extremistas: os verdadeiros extremistas são os oligarcas, que não querem que se conheçam as fontes de sua riqueza.
Não percebem os políticos o processo revolucionário em marcha que, de uma forma ou de outra, atingirá todos os países do mundo. Ao globalizar-se, pela imposição do sistema financeiro, a economia, globalizou-se a reação dos povos ao sistema totalitário e criminoso. Seria a hora de um entendimento entre os estadistas do mundo, a fim de chamar os especuladores à razão e colocar o Estado ao serviço da justiça, retornando-o à sua natureza original. Na Europa e nos Estados Unidos o que se vê é o Estado socorrendo os banqueiros fraudulentos, e os ricos insistindo na receita neoliberal clássica, de ajustes fiscais, de redução dos serviços sociais, do arrocho salarial e da demissão sumária de imensos contingentes de trabalhadores, a fim de garantir o lucro dos especuladores.
Nos anos oitenta, os paises emergentes de hoje, entre eles o Brasil, estavam atolados em uma dívida internacional marota, gerada pela necessidade de rolar os bilhões de eurodólares, e não dispunham de recursos. Mme Thatcher disse que o Brasil teria que vender as suas terras e florestas, a fim de pagar o que devia. Hoje, trinta anos depois, a Grécia está vendendo tudo o que pode, até mesmo monumentos históricos, enquanto parcelas de seu povo começam a passar fome.
Quando os africanos morrem de fome e de epidemias, como voltaram a morrer agora, não há problema. Para os brancos, europeus ou americanos, é alguma coisa que não lhes diz respeito. A África não é outro continente: é outro mundo. Mas, neste momento, são brancos, de cabelos louros e olhos azuis, como os manifestantes de Boston – jóia da velha aristocracia da Nova Inglaterra – que vão às ruas e são espancados pela polícia. A revolução, como os próprios manifestantes denominam seu movimento pacífico, está em marcha.
Há é certo, algumas providências na Europa, como a estatização do banco belga Dexie, mas se trata de um paliativo, quando Trichet, o presidente do Banco Central Europeu recomenda injetar mais dinheiro no sistema financeiro privado. Mais astuto, o governo da China reforçou a presença estatal no sistema financeiro, aumentando a sua participação nos bancos de que é acionista majoritário.
E o mundo se move também na política. Abbas - o presidente da Autoridade Nacional Palestina, que luta pelo reconhecimento pela ONU de seu Estado nacional - em hábil iniciativa, esteve anteontem e ontem em Bogotá. Ele fez a viagem a Colômbia, sabendo que dificilmente o apoiariam: o país hospeda bases militares americanas e, ontem mesmo, um comitê do Senado, em Washington, aprovou o Tratado de Livre Comércio entre os dois países. Assim, o presidente Juan Manuel Santos limitou-se a declarações protocolares de apoio à paz no Oriente Médio, o que não impedirá a caminhada da História.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Para os EUA, talvez já seja tarde demais. O Estado de Segurança Nacional e o poder das corporações já são tão extensivos que até a Constituição dos EUA já está derrotada. Há nos EUA 2 milhões de norte-americanos encarcerados...



10 ideias para que as novas democracias árabes nascentes
consigam evitar os erros dos EUA

O Prof. Juan Cole publicou hoje em seu blog “Informed Comment”, uma carta aberta aos árabes: “10 ideias para que as novas democracias árabes nascentes consigam evitar os erros dos EUA”
(em http://www.juancole.com/2011/07/10-ways-arab-democracies-can-avoid-american-mistakes.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed:+juancole/ymbn+(Informed+Comment )
Várias daquelas ideias não são novidade no Brasil (o voto obrigatório, por exemplo, geraria melhor democracia que o voto facultativo; marcar eleições aos domingos ou tornar feriados os dias de eleições, também (“nos EUA, os ‘barões ladrões’ marcavam eleições em dias de trabalho, para que os trabalhadores não votassem”); separar estado e religião, idem; alistamento eleitoral obrigatório, idem; manter exércitos de defesa, mais que de ataque, idem. Algumas são mais fáceis de dizer, que de fazer (“não permitam que os judiciários se politizem”, “cuidem de garantir todo o poder aos sindicatos de trabalhadores” e “criem leis que impeçam os monopólios”, por exemplo).

Mas uma delas – não por acaso a primeira da lista – essa, sim, é receita garantida para democracia MUITO melhor que a dos EUA e do Brasil:

“1. As campanhas políticas contemporâneas nos EUA dependem pesadamente de tempo comprado às redes comerciais de televisão. Na Grã-Bretanha os anúncios de candidatos por televisão são controlados; na Noruega são completamente proibidos. Considerem a possibilidade de proibi-los completamente. Mas, decidam o que decidiram, proíbam, por lei, que os canais privados de televisão sejam pagos para exibir anúncios de campanhas eleitorais. Os custos dos anúncios eleitorais por televisão correspondem a 80-90% dos custos de uma campanha presidencial nos EUA. A próxima campanha eleitoral custará, a cada candidato, 1 bilhão de dólares.

O único modo pelo qual alguém pode aspirar a ser eleito é arrendando-se aos bilionários e às grandes empresas e corporações. O povo não tem poder algum para eleger seja quem for, vitimizado pelos ultra-ricos que, nos EUA, já capturaram toda a ‘mídia’, e acaba por eleger o candidato menor pior. Considerem a possibilidade de proibir anúncios pagos a redes comerciais de televisão nas campanhas eleitorais; imponham regras e sanções pesadas, porque, se a coisa ficar só na lei, os muito ricos sempre comprarão, para seu uso exclusivo, além das campanhas e candidatos, também os presidentes, deputados, senadores etc.”

E o Prof. Cole conclui:

“Se aplicarem a regra n. 1, acima, para manter o ‘big money’ longe das campanhas eleitorais, terão boa chance de combater as práticas monopolistas, Hoje, os EUA são governados por um pequeno número de semimonopólios, e o Departamento de Justiça quase nada pode fazer contra eles, porque, de fato, os monopólios elegem, pela televisão e pelos jornais, os candidatos que devem regular os monopólios....
Para os EUA, talvez já seja tarde demais. O Estado de Segurança Nacional e o poder das corporações já são tão extensivos que até a Constituição dos EUA já está derrotada. Há nos EUA 2 milhões de norte-americanos encarcerados, como num gigantesco gulag, muitos por crimes pequenos, ou pela cor da pele. Ultimamente, não fazemos outra coisa além de guerrear em terras distantes, nossos jovens mandados para morrer (e matar) longe, por ação de um ou outro interesse econômico jamais expresso com clareza. Somos revistados nos aeroportos, onde policiais nos veem nus. Nossos telefones são grampeados. A internet é censurada. Os trabalhadores dos EUA já praticamente não têm nenhum direito democrático significativo e perderam, recentemente, até o direito ao atendimento público de saúde. A luta contra os interesses da indústria da saúde privada enfureceu os bilionários, e os levou a inventar ‘movimentos’ apalhaçados como o “Tea Party”, que nada mais são que a fachada que se vê de gente como os irmãos Koch. Nunca ouviram falar dos irmãos Kock? Pois se não tomarem as medidas que sugiro, vocês logo conhecerão versões árabes daqueles dois.” Sobre os irmãos Kock, ver “Os irmãos bilionários que comandam a guerra contra Obama”, 30/8/2010, Jane Mayer, The New Yorker (em português, em http://redecastorphoto.blogspot.com/2010/09/os-irmaos-bilionarios-que-comandam.html)
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Os EUA têm de pôr fim à guerra ilegal contra a Líbia

6/7/2011, Dennis Kucinich, Guardian, UK
http://www.guardian.co.uk/profile/dennis-kucinich
Dennis Kucinich é deputado pelo Partido Democrata dos EUA,
representante do 10º distrito eleitoral de Ohio. Está no oitavo mandato.
Essa semana, apresento projeto de lei ao Congresso dos EUA, que porá fim ao envolvimento militar dos EUA na Líbia, pelas seguintes razões:

Primeiro, porque a guerra contra a Líbia é ilegal pelos termos da Constituição dos EUA e de nossa lei “War Powers Act”, porque só o Congresso dos EUA tem competência para declarar guerra e o presidente não conseguiu demonstrar que a Líbia representasse qualquer risco iminente aos EUA. O presidente ignorou inclusive a opinião de seus principais conselheiros legais no Pentágono e o Departamento de Justiça, que lhe demonstraram que a aprovação pelo Congresso era indispensável antes de os EUA bombardearem a Líbia.

Segundo, porque a guerra chegou a um impasse. Não é guerra que possa ser vencida, sem que a Líbia seja ocupada por terra por soldados da OTAN, o que configurará invasão da Líbia.

Toda a operação foi terrivelmente mal pensada desde o início. A OTAN apóia uma oposição baseada em Benghazi (cidade localizada no nordeste do país, região rica em petróleo), mas não há nenhuma prova de que aquela oposição tenha o apoio da maioria dos líbios.

O grupo de oposição Frente Nacional para a Salvação da Líbia (e que se suspeita que tenha sido apoiado pela CIA nos anos 1980), jamais teria iniciado uma guerra civil contra um governo líbio que sabia que jamais poderia derrotar, se não contasse com o apoio de massiva campanha aérea da OTAN e, agora, dado que isso não bastou, espera contar soldados da OTAN que invadam o país, por terra.

As ações levianas daquela oposição, encorajadas por interesses políticos, militares e da inteligência ocidentais, criaram a grave crise humanitária que, então, passou a ser usada como justificativa para a campanha de guerra da OTAN, contra a Líbia.

Terceiro, os EUA não têm dinheiro para sustentar aquela guerra. O custo da missão, para os EUA, deverá, em breve, superar a casa do 1 bilhão de dólares – e dentro do país enfrentamos cortes brutais nos serviços públicos devidos aos cidadãos norte-americanos.

Não surpreende que a maioria dos Republicanos, Democratas e independentes dessa Casa tenham a mesma opinião: que os EUA não podem continuar envolvidos na guerra da Líbia.

Essa guerra tem destino trágico. Invadir a Líbia seria completar o desastre. A OTAN já está fora de controle e serve-se de uma Resolução da ONU que visaria a proteger civis, como frágil pretexto para prosseguir em missão não autorizada de derrubada de um governo mediante emprego massivo de violência.

Numa palavra, o comandante da OTAN deve ser responsabilizado por inúmeras violações da lei internacional. Na tentativa injustificável de manter a guerra civil, a França, que é membro da OTAN, e o Qatar, aliado da coalizão, já admitiram que enviaram armas à Líbia – o que configura confessada violação do embargo de armas, que a ONU impôs àquele país.

No final, a principal vítima desse jogo entre nações será a legitimidade da ONU, de suas resoluções e mandados, e a lei internacional. Essa situação é insustentável. A proibição de que se forneçam armas à Líbia tem de ser aplicada, não desrespeitada pelos países membros da OTAN.

O apoio ilegal e contraproducente dos EUA a essas ações militares deve cessar imediatamente.

O Congresso dos EUA tem o dever de cortar todos os fundos que sustentam essa guerra, porque não há solução militar possível na Líbia. É indispensável iniciar negociações sérias em busca de uma solução política que ponha fim à violência e crie ambiente favorável para negociações de paz que visem a apoiar as aspirações legítimas e democráticas do povo. Uma solução política só será viável quando a oposição líbia entender que pôr e tirar governos do poder é privilégio do povo líbio, não da OTAN.
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Lula no Egito pós-Mubarak

Lula fará palestra no Egito

O ex-presidente estará no país árabe na próxima terça-feira. Ele vai participar de um fórum sobre oportunidades abertas após a queda do ditador Hosni Mubarak.
Alexandre Rocha alexandre.rocha@anba.com.br
São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai ao Egito dar uma palestra na próxima terça-feira (12). Segundo sua assessoria, ele participará de um evento chamado Jobs.Now: Employment in Post-Revolution Egypt (Empregos.Agora: Trabalho no Egito Pós Revolucionário, em tradução livre), que será realizado na Biblioteca de Alexandria.

O tema da apresentação do ex-presidente, de acordo com sua assessoria, será "Transformando a sociedade: uma visão de desenvolvimento econômico e social equilibrado (o caso do Brasil)". O fórum é organizado pela Fundação Nebny, que, segundo seu site na internet, é formada por jovens que participaram dos protestos que culminaram com a queda do ditador egípcio Hosni Mubarak, em fevereiro.

O objetivo do encontro, de acordo com o site da Biblioteca de Alexandria, é reunir personalidades das áreas política, econômica e social para discutir o futuro do Egito pós-Mubarak. O fórum na cidade mediterrânea terá duração de dois dias e vai contar também com a participação do economista norte-americano Joseph Stiglitz, ganhador do Prêmio Nobel.

Além do fórum, outros eventos vão ocorrer no Egito até o dia 18, como parte do festival Egypt Now. A programação inclui shows de música, feira de artesanato, turismo e negócios e encontro de organizações não governamentais. Além de dar destaque às oportunidades abertas com a mudança de regime, as atividades têm por objetivo incentivar o turismo, setor que sofreu com os protestos.

Depois do Egito, Lula deve ir à Tunísia, país que passa também por um momento de transição política. O ex-presidente tem tido uma agenda internacional cheia. Ele esteve na África na semana passada, na Cúpula da União Africana, na Guiné Equatorial, e em Angola. Esta semana ele visitou o Chile, onde se encontrou com o presidente Sebastián Piñera

http://www.anba.com.br/noticia_diplomacia.kmf?cod=12085051

O lado do Irã que a mídia não mostra


A “superioridade” com que o Ocidente trata as culturas islâmicas faz, muitas vezes, serem esquecidas as dificuldades que governantes que procuram modernizar aqueles países. E que sejam vistos, eles próprios, como conservadores, porque têm de aceitar um pouco para poderem mudar muito.
Claro que ninguém é favorável às restrições de direitos das mulheres – à nenhuma, em nenhuma cultura, religião ou sociedade – mas, muitas vezes, os processos são mais complexos do que parecem.
Uma matéria de hoje na Reuters, que não terá grande repercussão na mídia brasileira, mostra o contrário do que normalmente se percebe sobre o Irã.
Mostra o presidente Mahmoud Ahmadinejad sob uma tempestade de críticas do clero por se opor à separação dos sexos nas salas de aula das univesidades iranianas.
“Foi dito que, em algumas universidades, as aulas e disciplinas estão sendo segregadas, sem levar em conta as coincidências. São necessárias ações urgentes para impedir essas ações superficiais e não acadêmicas”, disse ele em seu site.
A isso, reagiu o mais importante clérigo iraniano, Ahmad Khatami: “Com que lógica o reitor de uma universidade de Teerã deveria ser repreendido por separar as classes entre homens e mulheres? Deveríamos (era)  lhe dar uma medalha.”
Se fosse o inverso,  Ahmadinejad estaria sendo apontado como um “monstro” em todos os jornais. E iria ser lembrado que a universidade foi um dos centros de manifestão do tal “mivimento verde” , de oposição a ele.
Ontem, no relatório sobre a condição feminina, a ONU lembrou que, há um século, apenas dois países davam à mulher o direito de voto.
Ainda há muito a conquistar em matéria de igualdade de direitos entre os gêneros e isso é um combate que não pode esmorecer. Nem mesmo nas críticas que se faz à desigualdade que se pratica em nome de culturas ancestrais.O Governo brasileiro, com Lula ou com Dilma, jamais deixou de protestar contra situações desumanas no Irã. O que é muito diferente de contestar a vontade eleitoral do povo iraniano, que elegeu Ahmadinejad.
Mas sempre deve se ter em vista que, se exige firmeza, esta luta também exige compreensão de que as mudanças culturais não se impõem a ferro e fogo, com uma “ocidentalização”  forçada, que, como numa Cruzada,  leve à fogueira todos que não se “convertam” a ela.
A ditadura do Xá Reza Pahlevi era “moderna”. E brutal, repressiva, excludente e entreguista. Desconsiderou os valores de seu povo e, afinal, fez com que eles ressurgissem odiando a “modernidade” até naquilo que ela tem de bom, justo e igualitário.
Quando queremos combater o preconceito cultural, o simplismo é sempre o primeiro inimigo a vencer. Porque ele leva também, por superficial, ao preconceito.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Fox News foi um projeto secreto da era Nixon, revela site dos EUA

Postado por Vinna Domingo, Julho 03, 2011

A emissora de TV americana Fox News --conhecida pela posição abertamente conservadora--, criada em 1996 pelo estrategista de mídia republicano Roger Ailes como um ponto de vista "juto e equilibrado", já havia sido prevista na década de 70 como uma forma de transmitir matérias "pró-governo", revela o Gawker, um site de notícias sobre mídia dos EUA.

Uma pesquisa encontrou o documento entitulado "Um Plano para colocar o Partido Republicano no noticiário de TV" na Biblioteca Presidencial Richard Nixon.

O memorando faz parte de uma seção com 318 páginas que detalha os esforços de Ailes, considerado um intelectual republicano, junto às administrações de Nixon e de Bush "pai", o ex-presidente George H.W. Bush.



Contratado como consultor, ele ofereceu conselhos e expertise aos dois líderes, nos anos 70 e 90.

De acordo com o Gawker, os arquivos --que incluem notas escritas à mão-- mostram Ailes como um mago da propaganda republicana e um "incansável produtor de TV" que levava em consideração detalhes como a árvore de Natal da Casa Branca. Para ele, a televisão tinha um caráter decisivo na construção da narrativa política, diz o site.

"Ele frequentemente lançava ideias sobre a realização de eventos fabricados e estratégias para manipular a grande mídia para coberturas favoráveis, e usava seus contatos nas emissoras para evitar a ocorrência de narrativas ameaçadoras", afirma o Gawker.

Ailes chegou a montar a Television News Incorporated (TVN) no início da década de 70 como uma emissora abertamente republicana, que, embora tenha durado menos de cinco anos, serviu de embrião para o que anos mais tarde seria a Fox News.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A ORDEM AMERICANA ESFARELA


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 "...enquanto as revoluções européias de 1989 varreram do mapa regimes antidemocráticos hostis ao Ocidente, as revoluções árabes vitimaram, até agora, regimes pró-ocidentais antes considerados forças de moderação na região. ...Egito e Tunísia se foram. A Líbia, do recém-conquistado amigo do Ocidente, está cambaleando. O Bahrein, base da Quinta Frota americana, está em crise. O mesmo acontece com o Iêmen, um aliado importante na luta contra a Al-Qaeda. Os americanos adorariam ver seus inimigos no Irã e na Síria varridos pela onda de revolta popular. O medo é que esses regimes possam ser suficientemente cruéis para se manterem no poder. Isso deixa a Arábia Saudita como o mais crucial aliado árabe do Ocidente. Poucos em Washington sentem-se confortáveis em defender uma monarquia feudal cujo sistema educacional produziu quinze dos dezenove sequestradores do 11 de Setembro. Mas os sauditas só se tornaram mais cruciais para o Ocidente nos últimos anos, como baluarte contra o Irã e "Banco Central" do petróleo..." (Gideon Rachman;Financial Times)

(Carta Maior, 4º feira, 23/02/2011)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O que há em comum entre as ditaduras árabes e os governos paulistas do PSDB?



As semelhanças não ficam apenas no autoritarismo e na brutalidade policial, há também a corrupção generalizada, as relações promíscuas com a imprensa, o elitismo, as políticas excludentes, e a sede de perpetuação no poder.

Egito
Argélia
Bahrein
São Paulo
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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

LINCOLN GORDON DIGITAL


REVOLTA ÁRABE - Clique para ver a página especial

18 dias de protestos põem fim a 30 anos de ditadura.

"Queremos nos unir a vocês, às suas conversas diárias", escreve o Departamento de Estado norte americano em   sua nova conta no Twitter, @USAdarFarsi, dirigida aos iranianos. Desde domingo, mensagens do governo dos EUA em farsi, língua oficial no Irã e um dos idiomas oficiais de Afeganistão e Tadjiquistão, evocam "o papel histórico" que as redes sociais tiveram na articulação dos protestos no país, após as eleições presidenciais de 2009. Qual roto falando do esfarrapado, a nota de domingo acusava a hipocrisia das autoridades iranianas, que saúdam a revolta egípcia, ao mesmo tempo em que proíbem a realização de protestos  semelhantes no país. Em tempo: Carta Maior defende a irrestrita liberdade de expressão e manifestação de todos os povos. Aguarda, assim, o Twiter do Departamento de Estado escrito em árabe do Hijaz e em árabe Najd, conclamando a levantes populares contra  um  dos seus maiores aliados na região: a monarquia absolutista  dos 'amigos' sauditas.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A hipocrisia do Ocidente




Quando os árabes querem dignidade e respeito, quando gritam por seu próprio futuro que Obama assinalou em seu famoso – agora suponho que infame – discurso no Cairo, nos lhes faltamos com o respeito. Ao invés de dar as boas vindas às suas exigências democráticas, os tratamos como se fossem um desastre. Queremos que sejam como nós, desde que fiquem de lado. E assim, quando provam que querem ser como nós, mas não querem invadir a Europa, fazemos o que podemos para instalar outro general treinado nos EUA para que os governe. O artigo é de Robert Fisk.
Não há nada como uma revolução árabe para mostrar a hipocrisia de nossos amigos. Especialmente se essa revolução é marcada pela civilidade e pelo humanismo e é impulsionada por uma enérgica exigência para ter o tipo de democracia que desfrutamos na Europa e nos Estados Unidos. As indecisas tolices sussurradas por Obama e Clinton durante estas últimas duas semanas são apenas uma parte do problema. Da “estabilidade” à “tormenta perfeita” passamos ao presidencial “agora-significa-ontem” e “transição ordenada”, que se traduz assim: nada de violência enquanto o ex-general da força aérea Mubarak é levado a pastar para que o ex-general de inteligência Suleiman possa assumir a chefia do regime em nome dos EUA e de Israel.

A Fox News já disse a seus telespectadores nos EUA que a Irmandade Muçulmana – um dos grupos islâmicos mais “suaves” no Oriente Médio – está por trás dos valentes homens e mulheres que se animaram a resistir à polícia de segurança do Estado, enquanto a massa de “intelectuais” franceses silencia: as aspas são essenciais para nomes como Bernard-Henri Levy que se converteu, segundo o Le Monde, na “inteligência do silêncio”.

E todos sabemos a razão. Alain Finkelstein fala de sua “admiração” pelos democratas, mas também da necessidade de “vigilância” – e este é um ponto baixo em qualquer “filósofo” – “porque hoje todos sabemos sobretudo que não sabemos qual será o resultado”. Esta citação quase rumsfeldiana é dourada pelas próprias palavras ridículas de Lévy: “é essencial levar em conta a complexidade da situação”. Curiosamente, isso é exatamente o que os israelenses dizem quando algum ocidental insensato sugere que Israel deveria deixar de roubar terra árabe na Cisjordânia para suas colônias.

Na verdade, a própria reação de Tel Aviv aos importantes eventos no Egito – que este pode não ser o momento adequado para a democracia no Egito (permitindo assim manter o título de “a única democracia no Oriente Médio”) – tem sido tão inverossímil quanto contraproducente. Israel estará muito mais seguro rodeado por verdadeiras democracias do que por ditadores e reis autocráticos. Para seu enorme crédito, o historiador francês Daniel Lindenberg disse a verdade esta semana. “Devemos admitir a realidade: muitos intelectuais acreditam, no fundo, que o povo árabe é congenitamente atrasado”.

Não há nada de novo nisto. Aplica-se a nossos sentimentos recônditos sobre todo o mundo muçulmano. A chanceler Angela Merkel, da Alemanha, anuncia que o multiculturalismo não funciona, e um pretendente à família real da Baviera me disse, não faz muito tempo, que há turcos demais na Alemanha porque “não querem fazer parte da sociedade alemã”. No entanto, quando a Turquia – o mais perto da mistura perfeita de islamismo e democracia que se pode encontrar hoje no Oriente Médio – pede para ingressar na União Europeia e compartilhar nossa civilização ocidental, buscamos desesperadamente qualquer remédio, não importa quão racista seja, para evitar que isso aconteça.

Em outras palavras, queremos que sejam como nós, desde que fiquem de lado, a uma distância segura. E assim, quando provam que querem ser como nós, mas não querem invadir a Europa, fazemos o que podemos para instalar outro general treinado nos EUA para que os governe. Assim como Paul Wolfowitz reagiu à negativa do Parlamento turco em permitir que as tropas dos EUA invadissem o Iraque desde o Sul da Turquia perguntando se “os generais não tem nada a dizer sobre isso”, agora somos obrigados a ouvir o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, destacar a “moderação” do exército egípcio, aparentemente não se dando conta de que o povo do Egito, que está propondo a democracia, é que deveria ser elogiado por sua moderação e não violência e não um monte de brigadeiros.

De modo que, quando os árabes querem dignidade e respeito, quando gritam por seu próprio futuro que Obama assinalou em seu famoso – agora suponho que infame – discurso no Cairo, nos lhes faltamos com o respeito. Ao invés de dar as boas vindas às suas exigências democráticas, os tratamos como se fossem um desastre.

(*) De The Independent da Inglaterra, especial para Páginal12. Tradução: Celita Doyhambéhère. Tradução para a Carta Maior: Katarina Peixoto.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Tunísia, Egito, Marrocos...Essas “ditaduras amigas”


Os nossos meios de comunicação e jornalistas não insistiram durante décadas que esses dois “países amigos”, Tunísia e Egito, eram “Estados moderados”? A horrível palavra “ditadura” não estava exclusivamente reservada no mundo árabe muçulmano (depois da destruição da “espantosa tirania” de Saddam Hussein no Iraque) ao regime iraniano? Como? Havia então outras ditaduras na região? E isso foi ocultado pelos meios de comunicação de nossa exemplar democracia? O artigo é Ignacio Ramonet.
Uma ditadura na Tunísia? No Egito, uma ditadura? Vendo os meios de comunicação se esbaldarem com a palavra “ditadura” aplicada a Tunísia de Bem Alí e ao Egito de Moubarak, os franceses devem estar se perguntando se entenderam ou leram bem. Esses mesmos meios de comunicação e esses mesmos jornalistas não insistiram durante décadas que esses dois “países amigos” eram “Estados moderados”? A horrível palavra “ditadura” não estava exclusivamente reservada no mundo árabe muçulmano (depois da destruição da “espantosa tirania” de Saddam Hussein no Iraque) ao regime iraniano? Como? Havia então outras ditaduras na região? E isso foi ocultado pelos meios de comunicação de nossa exemplar democracia? Eis aqui, em todo caso, um primeiro abrir de olhos que devemos ao rebelde povo da Tunísia. Sua prodigiosa vitória liberou os europeus da “retórica hipócrita de ocultamento” em vigor em nossas chancelarias e em nossa mídia. Obrigados a tirar a máscara, simulam descobrir o que sabíamos há algum tempo (1), a saber, que as “ditaduras amigas” não são mais do que isso: regimes de opressão. 

Sobre esse assunto, os meios de comunicação não têm feito outra coisa do que seguir a “linha oficial”: fechar os olhos ou olhar para o outro lado confirmando a ideia de que a imprensa só é livre em relação aos fracos e aos povos isolados. Por acaso Nicolás Sarkozy não teve a altivez de assegurar que na Tunísia “havia uma desesperança, um sofrimento, um sentimento de angústia que, precisamos reconhecer, não havíamos apreciado em sua justa medida”, ao se referir ao sistema mafioso do clã Ben Alí-Trabelsi?

“Não havíamos apreciado em sua justa medida...” Em 23 anos...Apesar de contar, neste país, com serviços diplomáticos mais prolíficos que os de qualquer outro país...Apesar da colaboração em todos os setores da segurança (polícia, inteligência...) (2). Apesar das estâncias regulares de altos responsáveis políticos e midiáticos que estabeleciam ali descomplexadamente seus locais de veraneio...Apesar da existência na França de dirigentes exilados da oposição tunisiana, mantidos marginalizados como pesteados pelas autoridades francesas e com acesso proibido durante décadas aos grandes meios de comunicação... Democracia ruinosa...

Na realidade, esses regimes autoritários foram (e seguem sendo) protegidos de modo complacente pelas democracias europeias, que desprezaram seus próprios valores sob o pretexto de que constituíam baluartes contra o islamismo radical (3). O mesmo argumento cínico usado pelo Ocidente durante a Guerra Fria para apoiar ditaduras militares na Europa (Espanha, Portugal, Grécia e Turquia) e na América Latina, pretendendo impedir a chegada do comunismo ao poder.

Que formidável lição das sociedades árabes revolucionárias aqueles que, na Europa, os descreviam em termos maniqueístas, ou seja, como massas dóceis submetidas a tiranos orientais corruptos ou como multidões histéricas possuídas pelo fanatismo religioso. E agora, de repente, elas surgem nas telas de nossos computadores e televisores (conferir o admirável trabalho da Al-Jazeera), preocupadas com o progresso social, não obcecadas pela questão religiosa, sedentas de liberdade, cansadas da corrupção, detestando as desigualdades e reclamando democracia para todos, sem exclusões.

Longes das caricaturas binárias, esses povos não constituem de modo algum uma espécie de “exceção árabe”, mas sim se assemelham em suas aspirações políticas ao resto das ilustradas sociedades urbanas modernas. Um terço dos tunisianos e quase um quarto dos egípcios navegam regularmente pela internet. Como afirma Moulay Hicham El Alaoui: “Os novos movimentos já não estão marcados pelos velhos antagonismos como anti-imperialismo, anticolonialismo ou antisecularismo. As manifestações na Tunísia e no Egito são, até aqui, desprovidas de todo simbolismo religioso. Constituem uma ruptura geracional que refuta a tese do excepcionalismo árabe. Além disso, esses movimentos são animados pelas novas metodologias de comunicação da internet. Eles propõem uma nova versão da sociedade civil, onde o rechaço ao autoritarismo anda de mãos dadas com o rechaço à corrupção” (4).

Especialmente graças às redes sociais digitais, as sociedades da Tunísia e do Egito se mobilizaram com grande rapidez e puderam desestabilizar o poder em tempo recorde. Ainda antes de os movimentos terem a oportunidade de “amadurecer” e favorecer a emergência de novos dirigentes entre eles. É uma das raras ocasiões onde, sem líderes, sem organizações dirigentes e sem programa, a simples dinâmica da exasperação das massas bastou para conseguir o triunfo da revolução. Trata-se de um momento frágil e, sem dúvida, as grandes potências já estão trabalhando, especialmente no Egito, para que “tudo mude sem que nada mude”, segundo o velho adágio de O Leopardo. Esses povos que conquistaram sua liberdade devem lembrar a advertência de Balzac: “Se matará a imprensa assim como se mata um povo, outorgando-lhe a liberdade” (5). Nas “democracias vigiadas” é muito mais fácil domesticar legitimamente um povo do que nas antigas ditaduras. Mas isso não justifica sua manutenção. Nem deve ofuscar o ardor de derrubar uma tirania.

A derrocada da ditadura na Tunísia foi tão veloz que os demais povos magrebinos e árabes chegaram à conclusão de que essas autocracias – as mais velhas do mundo – estavam na verdade profundamente corroídas e não eram, portanto, mais do que “tigres de papel”. Esta demonstração está ocorrendo também no Egito.

Daí esse impressionante levante dos povos árabes, que leva a pensar inevitavelmente no grande florescimento das revoluções europeias de 1848, na Jordânia, Iêmen, Argélia, Síria, Arábia Saudita, Sudão e também no Marrocos.

Neste último país, uma monarquia absoluta, na qual o resultado das “eleições” (sempre viciado) é decidido pelo soberano, que designa segundo sua vontade os chamados ministros “da soberania”, algumas dezenas de famílias próximas ao trono continuam controlando a maioria das riquezas (6). Os telegramas divulgados por Wikileaks revelaram que a corrupção chega a níveis de indecência descomunal, maiores que os encontrados na Tunísia de Ben Alí, e que as redes mafiosas teriam todas como origem o Palácio. Trata-se de um país onde a prática da tortura está generalizada e o amordaçamento da imprensa é permanente.

No entanto, como na Tunísia de Ben Alí, esta “ditadura amiga” se beneficia da grande indulgência dos meios de comunicação e da maior parte de nossos responsáveis políticos (7), os quais minimizam os sinais do começo de um “contágio” da rebelião. Quatro pessoas se imolaram, incendiando suas próprias vestes. Produziram-se manifestações de solidariedade com os rebeldes da Tunísia e do Egito em Tânger, Fez e Rabat (8). Acossadas pelo medo, as autoridades decidiram subvencionar preventivamente os artigos de primeira necessidade para evitar as “rebeliões do pão”. Importantes contingentes de tropas do Saara Ocidental teriam sido deslocados aceleradamente para Rabat e Casablanca. O rei Mohamed VI e alguns colaboradores teriam viajado a França no dia 29 de janeiro para consultar especialistas em ordem pública do Ministério do Interior francês (9).

Ainda que as autoridades desmintam as duas últimas informações, está claro que a sociedade marroquina está seguindo os acontecimentos da Tunísia e do Egito, com excitação. Preparados para unir-se ao impulso de fervor revolucionário e quebrar de uma vez por todas as travas feudais. E para cobrar todos aqueles que, na Europa, foram cúmplices durante décadas dessas “ditaduras amigas”.

NOTAS

(1) Ler, por exemplo, de Jacqueline Boucher "La société tunisienne privée de parole" e de Ignacio Ramonet "Main de fer en Tunisie", Le Monde Diplomatique, de fevereiro de 1996 e de julho de 1996, respectivamente. 

(2) Quando Mohamed Bouazizi se imolou incendiando-se em 17 de dezembro de 2010, quando a insurreição ganhava todo o país e dezenas de tunisianos rebeldes continuavam caindo sob as balas da repressão, o prefeito de Paris, Bertrand Delanoé, e a ministra de Relações Exteriores, Michèle Alliot-Marie consideravam absolutamente normal ir festejar alegremente em Tunis.

(3) Ao mesmo tempo, Washington e seus aliados europeus, sem aparentemente medir as contradições, apoiam o regime teocrático e tirânico da Arábia Saudita, principal sede do islamismo mais obscurantista e mais expansionista.

(4) http://www.medelu.org/spip.php?article711 

(5) Honoré de Balzac, Monographie de la presse parisienne, Paris, 1843. 

(6) Ler Ignacio Ramonet, "La poudrière Maroc", Mémoire des luttes, setembro 2008. http://www.medelu.org/spip.php?article111 

(7) Desde Nicolas Sarkozy até Ségolène Royal, passando por Dominique Strauss-Kahn, que possui um “ryad” em Marrakesh, os dirigentes políticos franceses não têm o menor escrúpulo em passar suas férias de inverno entre estas “ditaduras amigas”.

(8) El País, 30 de janeiro de 2011-http://www.elpais.com/../Manifestaciones/Tanger/Rabat 

(9) Ler El País, 30 de janeiro de 2011http://www.elpais.com/..Mohamed/VI/va/vacaciones y Pierre Haski, "Le discret voyage du roi du Maroc dans son château de l´Oise", Rue89, 29 de janeiro de 2011. http://www.rue89.com/..le-roi-du-maroc-en-voyage-discret...188096
http://www.elpais.com/../Manifestaciones/Tanger/Rabat 

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer