Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Supremo sepulta neolibelismo (*) nos EUA

Obama entrou para a História. O que deve facilitar a sua re-eleição

O Supremo americano aprovou por 5 a 4 o programa do SUS de Obama.

De agora em diante, todo americano tem direito a um plano de saúde e, se não quiser ter, pagará uma taxa.

Como demonstra Paul Krugman.

A decisão histórica beneficia diretamente 30 milhões de pobres americanos e todo trabalhador que corre o risco de perder emprego e, com ele, o plano de saúde da empresa.

É uma mudança que, segundo o New York Times, lembra outros presidentes Democratas, como Franklin Rossevelt e Lyndon Johnson, que criaram os mecanismos mais poderosos de proteção social.

Obama entrou para a História.

De todos os países desenvolvidos, os Estados Unidos eram o único que não tinham um SUS.
O que deve facilitar a re-eleição de Obama.

Ele se elegeu com essa promessa: dar um SUS a cada americano.

Segundo o próprio New York Times e o Huffington Post, o SUS do Obama é a mais profunda derrota das políticas neo-liberais – aqui, neolibelistas (*) – que prodominaram nos Estados Unidos desde Ronald Reagan (aqui copiadas pela dupla das sombras, o Farol e o Cerra).

O SUS do Obama mexe, pela primeira vez, na estrutura do Imposto de Renda e revê o regime de isentar os ricos, imposta por Bush, filho.

Em busca do Pirlo, no Itália e Alemanha, o ansioso blogueiro caiu na esparrelha de assistir a um trecho lamentável do jorgal da nlobo (revisor, não mexa nisso !).

O âncora William Traack (segundo a amiga navegante Severina) e notável analista de Nova York demonstraram de forma inequívoca que a vitória na Suprema Corte foi a maior derrota que Obama poderia ter sofrido: uma desgraça !

Mitt Cerra Romney vem aí, presidente da nlobo.

E que o Brasil tem um SUS desde a Constituição de 1988 – modestamente.

Cabe lembrar que o Supremo brasileiro também tem derrotado de forma categórica os defensores do neolibelismo tupiniquim e doutrinas raciais extravagantes.

O STF aprovou as cotas raciais, com impecável relatoria do Ministro Lewandowski, e o ProUni.

O neolibelimso resiste!

No PiG (**) !

Em tempo: não terásido por acaso que a ultra direitista Fox, a Globo americana, e o âncora Wolf Blitzer, o Traack da CNN, noticiaram que o Obama tinha perdido.


Paulo Henrique Amorim


(*) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.

(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Teixeira e a Globo são o Murdoch do Brasil.


Adicionar legenda
Nenhum político inglês ousava contrariar Murdoch.

Ele escolhia os primeiros ministros e decidia a política externa que melhor servia a seus interesses comerciais, ou seja, aos Estados Unidos.

Foi o que ele fez ao pressionar o primeiro ministro Tony Blair a se conformar ao papel de George Bush no Iraque.

Murdoch controlava uma paixão nacional inglesa: as revelações dos tablóides inescrupulosos.

A imprensa “séria” não tocava em Murdoch.

O  Judiciário fazia vistas grossas.

Murdoch e a Metropolitan Police, a Scotland Yard, serviam um ao outro.

Até que …

Barack Obama se recusou a dar entrevista à Fox News de Murdoch: não era uma rede de televisão, mas instrumento político do Partido Republicano.

O repórter Nick Davies do jornal inglês The Guardian entrou na sala do editor chefe, Alan Rusbridger e perguntou se ele se interessava pela informação de que o filho de Murdoch, James, tinha feito um acordo secreto para pagar um milhão de dólares e abafar provas de comportamento criminoso dentro da empresa.

(Leia na revista Época, pág. 62.)

A apuração de Nick tambem interessou o New York Times, que passara a enfrentar Murdoch diretamente no mercado americano, com a compra – e a subsequente degradação – do Wall Street Journal.

Rusbriger resume o desfecho provisório da denúncia contra o ex-todo poderoso Murdoch:

o fechamento de um jornal lucrativo, o News of the World;

o fracasso da compra de uma empresa de teve a cabo e uma espécie de CNN européia;

a desmoralização da Scotland Yard;

a classe política foi obrigada a desnudar-se diante de uma opinião pública perplexa;

e repulsa generalizada a um Al Capone que edita jornais como se contrabandeasse uísque falso do Canadá.

Além do desmantelamento da Ley de Medios inglesa, que se mostrou incapaz de coibir o generalizado e criminoso sistema de grampos e a cumplicidade da Polícia em abastecer a imprensa de esgoto de Murdoch.

Nenhum político brasileiro ousa enfrentar a Globo.

(Com três exceções: Leonel Brizola, Garotinho e Roberto Requião.)

A Globo parece imbatível – como Murdoch.

A Globo controla uma paixão nacional: o futebol.

O Campeonato Nacional e a Seleção Nacional.

Ela ganha dinheiro com isso, como Murdoch com a vida íntima da família real, tal qual exposta nos tablóides.

A Globo derruba o técnico, escala os jogadores, decide onde jogam a seleção e os clubes, e a que horas.

Porque a Globo tem um parceiro poderosíssimo – e que pode ser a corda com que ela se enforcará.

É Ricardo Teixeira.

Como Murdoch e a Globo, nenhum político ousa enfrentar Teixeira.

A mídia “séria”, aqui chamada de PiG (*), poupa Teixeira.

O Ministro dos Esportes trata Teixeira como um Chefe de Estado.

A Justiça ignora Teixeira.

O Ministério Público foge mais do Teixeira do que do Daniel Dantas.

Uma CPI que incriminou Teixeira 11 vezes teve o efeito desastroso de aguar (um pouco) o chopp que ele servia num restaurante no Jockey Club do Rio.

Teixeira move a Globo e por ela é movido.

É o veículo flex da política nacional.

Ainda mais que vem aí a Copa.

E quem ousaria enfrentar a Gloteixeira ?

É aí que reside o perigo.

Um outro repórter inglês, Andrew Jennings, a serviço da BBC, escreveu o livro “Jogo Sujo” e, num documentário , fez a pergunta que retirou a primeira pedra da monumental arquitetura: Mr. Teixeira, did you accept the bribe ?

A Justiça da Suíça apura se Teixeira aceitou a propina e, depois, como o sogro, Havelange, teve que devolver para abafar o caso.

Se o Ministro dos Esportes, Orlando Silva,  e o do Exterior, Antônio Patriota, quisessem proteger a biografia, apresentavam o Brasil à Justiça da Suíça como interessado em acompanhar o processo e descobrir se Mr. Teixeira accepted the bribe.

O dono da Copa se dá a receber – e devolver – propinas ?

Não basta perder quatro pênaltis  ?

Murdoch despiu a Inglaterra.

É um desses escândalos que magoam a alma de uma Nação e expõem as vísceras.

O povo inglês se viu num óleo de Lucien Freud e se envergonhou do que viu.

A imprensa de Murdoch instalou a Inglaterra e os Estados Unidos num reality show.

Como o reality show da Globo e Teixeira: onde ganha o mais malandro, o esperrrto, que faz o que quer, numa boa.

E se alguém percebe fica por isso mesmo.

Quem ousaria punir ou contestar o dono do circo.

De todos os circos ?

Só que é na frente de todo mundo.

Num futebol de quinta categoria.

Numa seleção que não vai para a semifinal.

E a Globo e Teixeira ganham um monte de dinheiro.

Trinta milhões para organizar festa de uma noite só !

A Globo e Teixeira, juntos, estão acima do certo e do errado.

É uma aliança que escreve a sua própria Ética, o próprio código de conduta.

Como Murdoch.

Mas, Ricardo Teixeira e a Globo correm o risco de, eles mesmos, serem lançados numa sala fechada, envidraçada , com as luzes acesas.

E lá fora, uma Nação indignada.

Furiosa.

Quem manda  manipular a paixão de um povo ?


Paulo Henrique Amorim


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

"Dinheiro não pode comandar a formação da opinião pública"


O escândalo do News of the World - e os desdobramentos regulatórios que ele possa ensejar - ultrapassa os ares do interesse inglês. “Todos os primeiros-ministros britânicos tinham relações, no mínimo, incestuosas com Murdoch. Isto demonstra a permeabilidade do poder político e partidário à mobilização opinativa de grandes conglomerados de comunicação. Não creio que este seja um fenômeno apenas britânico”, observa o filósofo Vladimir Safatle, professor da Universidade de São Paulo, em entrevista à Carta Maior.

A Europa voltou a ser o centro do mundo pelo avesso. A crise da democracia e a da esquerda, bem como o colapso das finanças desreguladas fazem ranger o velho convés do continente. As respostas tardam; os ventos uivam. Parece uma tempestade perfeita.

Fica difícil até mesmo ao observador mais desatento não enxergar o vazio de liderança e de projeto no desfilar de figuras opacas que ditam rumos a uma nau hesitante, sendo desmentidas pelo poder do dinheiro no pregão do dia seguinte.

É nesse cenário desordenado, entupido de estereótipos políticos e carente de protagonistas verdadeiros, que o dinheiro em pessoa compareceu a uma audiência no Parlamento Britânico, na última quarta-feira.

US$ 45 bilhões personificados na figura amarfanhada, algo negligente, de Rupert Murdoch estavam ali na condição de suspeitos.

Uma folha corrida histórica incluiria explicitamente as acusações de açambarcamento do espaço da política e violação do discernimento democrático da sociedade . Porém, neste caso, o motivo da audiência era a comprovada quebra de mais de 4 mil sigilos telefônicos pelo tabloide inglês News of the World, de propriedade de Murdoch.

Delitos de proporções industriais como esse só se concebem, de qualquer forma, a partir de um poder descomunal de persuasão política que flerta com a sensação de impunidade. É o caso do poder reunido pelo dinheiro nas mãos de Murdoch que comanda uma teia midiática capaz de capturar, silenciar ou multiplicar vozes, imagens e idéias impressas com um grau de abrangência repetitiva imbatível em língua inglesa.

O senhor dinheiro deu as respostas de praxe às evidencias – grosseiras até - de um intercurso entre seus veículos, sobretudo o tabloide sensacionalista mencionado, e o poder político conservador na velha Albion. Mas não só nela. Do outro lado do Atlântico, o dinheiro materializado na Fox News ancora eleitoralmente a demência extremista da direita norte-americana reunida no Tea Party, que não existira sem a rede.

Deve-se a Fox News, ainda, a catarse de medo e ódio que pavimentou a invasão do Iraque e também a atual sedimentação republicana para voltar ao poder, em 201 2.Seu pontapé eleitoral é a tresloucada plataforma de cortes de gastos que pretende paralisar os EUA e Obama e, no mínimo, obriga-lo a depenar o orçamento social em plena campanha pela reeleição. Mais uma vez, sem o poder emissor de Murdoch seria impossível polarizar a opinião pública e a agenda mundial em torno desses temas.

Monossilábico, na audiência de quarta-feira, o senhor dinheiro tentou relativizar sua intrusão na vida política. Resmungou que não privava apenas da intimidade do Partido Conservador ora no poder. Desfrutou igual deferência junto aos antecessores de David Cameron –que teve sua comunicação de campanha e governo entregue a talentos pinçados diretamente da direção do News of the World, a exemplo do que ocorreu na cúpula da Scotland Yard.

Os antecessores trabalhistas sugeridos, Tony Blair e Gordon Brown, não desmentiram a ecumênica influência do senhor dinheiro.

Os fatos arrolados e as suspeitas justificadas reforçam assim a percepção de que o maior desafio nesta crise do capitalismo, a exemplo do que ocorreu em sua grande antecessora, de 1929, é reduzir o poder desmedido do dinheiro sobre as decisões políticas e as escolhas da sociedade.

Avulta desta feita, no entanto, uma singularidade apreciável. O próprio debate das soluções precisa ser liberado de um poder oligopolista crescente exercido pela chamada grande mídia, hoje ainda capaz de influenciar de forma despropositada o que a sociedade pode ou não escrutinar; o que os governos devem ou não decidir.
É desse ponto de vista que o escândalo do News of the World - e os desdobramentos regulatórios que ele possa ensejar - ultrapassa os ares do interesse inglês. “Todos os primeiros-ministros britânicos tinham relações, no mínimo, incestuosas com Murdoch. Isto demonstra a permeabilidade do poder político e partidário à mobilização opinativa de grandes conglomerados de comunicação. Não creio que este seja um fenômeno apenas britânico”, observa o filósofo Vladimir Safatle, professor da Universidade de São Paulo, em entrevista por email a Carta Maior.

Arguto observador da crise da democracia em nosso tempo –e ao mesmo tempo otimista quanto ao seu desfecho - Safatle entende que “uma sociedade democrática é aquela que tem acesso a um grande número de esquemas de interpretação que se digladiam na arena da formação da opinião pública”.

A pluralidade de opiniões, todavia, só subsiste protegida dos monopólios midiáticos por salvaguardas regulatórias institucionais. A quem se ilude com a dimensão autorregulatória embutida no escândalo Murdoch Safatle indaga: “ A que custo e depois de quanto tempo?”

O medo irradiado por esse poder, sugere o professor, causa estragos devastadores.

O medo dos socialistas europeus de politizar a discussão econômica, por exemplo – lá como cá um medo inculcado pelo poder midiática. Ele explica em boa parte, segundo o filósofo, o desfibramento político da esquerda europeia diante da crise e o seu esvaziamento popular. Vladimir Safatle recusa, porém o fatalismo imobilista. Para além da opacidade política e midiática do momento ele enxerga um ponto de mutação catalisado pela aspiração crescente por algo que, à falta de melhor conceituação, se denomina ‘democracia real’ . Regular o poder do dinheiro na mídia certamente constitui uma etapa obrigatória dessa travessia.

A seguir , uma síntese das observações de Vladimir Safatle à Carta Maior em três blocos temáticos”.

I. Por que Europa, ela de novo, condensa tanto a crise econômica quanto o esfarelamento da democracia parlamentar e, agora, o desnudamento de práticas midiáticas intoleráveis?

“ Porque, como dizia Freud, a razão pode falar baixo, mas ela nunca se cala. A Europa teve um tradição de esquerda que hoje fala baixo, mas ela ainda vai falar mais alto. O pior erro da esquerda europeia foi esquecer a centralidade das lutas contra a desigualdade econômica e social. Por isso ela perdeu ressonância nas classes populares e virou um ornamento ideológico de classes médias cosmopolitas.

Hoje, as classes populares votam na extrema-direita, repetindo um fenômeno de deslocamento que vimos na ascensão do fascismo e do nazismo. A esquerda europeia tem medo de ser uma esquerda popular, pois isto implica uma politização da economia que ela já não é mais capaz de fazer. É fantástico, por exemplo, perceber como a esquerda é incapaz de fornecer um modelo alternativo de atuação para a crise econômica europeia.

É sintomático que o partido responsável pela implementação do desmonte grego seja exatamente o PASOK (o partido socialista). Isto acontece não porque inexistam modelos alternativos, mas porque os ditos partidos de esquerda se comprometeram tanto com o mundo financeiro global, se deixaram tanto encantar por terem sido recebidos de braços abertos nos salões da elite europeia com seu glamour de escroque, casa na Riviera Francesa e TV ligada na Fox News que atualmente eles simplesmente não conseguem mais pensar.

São partidos que não pensam mais, agem por reação, ou seja, que morreram e ainda não perceberam o fato. Mas creio que, mais rapidamente que imaginamos , a Europa irá se lembrar de sua combativa tradição esquerdista e novos esquemas de pensamento serão colocados em circulação. Chega de imaginar que nosso futuro só pode aparecer como catástrofe”

II. Democracia e oligopólio mdiático: com vê os desdobramentos da crise do News of the World na regulação das comunicações no Brasil?

“Não é de hoje que se denuncia a maneira com que figuras como Murdoch interferem na pauta do debate da opinião pública. Através da administração e criação de escândalos os mais diversos, Murdoch conseguia colocar a classe política na posição de refém. Ao transformar seu império midiático em caixa de ressonância das posições conservadoras mais toscas, Murdoch colaborou decisivamente para o empobrecimento do debate político mundial.

Isto coloca um problema maior referente aos efeitos da oligopolização da comunicação de massa. A democracia precisa da pulverização da informação, não da concentração dos campos do entretenimento, da noticia e da comunicação nas mãos de uma só pessoa. Sua TV, por exemplo, veiculava filmes que ele mesmo produzia, citava veículos de informação que faziam parte do mesmo grupo, tratava como fonte, opiniões de seus próprios funcionários em outros países, etc.

Isso coloca um problema importante para a democracia atual. Não há democracia sem mecanismos que impeçam a propriedade cruzada e a oligopolização do mercado de mídia. Essa discussão precisa chegar ao Brasil sem que tais ações sejam imediatamente taxadas de "formas astutas de censura contra a imprensa".

Não há nada de errado com o fato de um veículo ter sua posição ideológica, seja de direita ou de esquerda. Vamos ter que conviver com o fato da direita sempre ter sua voz, uma voz forte. Errado é ele usar de artifícios comerciais para criar um sistema único no qual televisão, rádio, jornais, revistas, redes de TV a cabo, produtoras de cinema e de música são organizados como totalidade que visa martelar o mesmo conjunto limitado de opiniões para a sociedade civil.”

III. ‘ Primaveras contestatórias’ ocorrem em vários países à margem das instituições políticas e à revelia da chamada grande imprensa e muitas vezes em oposição a ela. É toda uma arquitetura que se desmancha...

“O que os dois movimentos tem em comum é a consciência da fragilidade de nossa democracia parlamentar. Todos os primeiros-ministros britânicos tinham relações, no mínimo, incestuosas com Murdoch. Isto demonstra a permeabilidade do poder político e partidário à mobilização opinativa de grandes conglomerados de comunicação. Não creio que este seja um fenômeno apenas britânico.

Veja, pode-se dizer que o caso Murdoch demonstra como aqueles que jogam no lixo sua credibilidade acabam por serem punidos.

Sim, mas quanto tempo demora para que tal punição chegue? Qual preço devemos pagar durante esta espera?

Aqui, podemos colocar questões como: até que ponto a eleição de David Cameron não foi influenciada pelo apoio de Murdoch?

Até que ponto o ímpeto cego mobilizado para a guerra do Iraque seria possível sem a Fox News?

Questões desta natureza demonstram que não podemos esperar um sistema de autorregulação natural dos excessos da imprensa.

A imprensa, é isto é bastante natural, é o espaço da interpretação dos fatos. Uma sociedade democrática é aquela que tem acesso a um grande número de esquemas de interpretação que se digladiam na arena da opinião pública. Os melhores jornais mundiais procuram, inclusive, trazer esta batalha para dentro de suas páginas. Ora, um fenômeno como Murdoch representa o bloqueio desta pulverização.

Por isto, quando ele vem à tona, não são poucos aqueles que começam a se colocar questões sobre a distância entre nossa democracia e um conceito de "democracia real".

Tais reflexões nada tem a ver com o pedido de formas de "censura prévia", mas com a reflexão política sobre as consequências de um fenômeno econômico perverso, sempre presente no capitalismo: a oligopolização”.

terça-feira, 19 de julho de 2011

O poder do medo.Do Murdoch e da Globo

Como se sabe, aqui no Brasil políticos e empresários têm medo da Globo.

Com a exceção dos brizolistas Garotinho (depois deixou de ser) e do próprio Leonel Brizola.

Relembre dois vídeos inesquecíveis: o editorial que Brizola redigiu e o jornal nacional teve que ler; e quando Brizola diz na tevê que não se deve ler O Globo, porque o Globo mente.

Esse medo já foi mais agudo.

Pouco a pouco se percebe que o poder (de meter medo) da Globo não é mais o mesmo.

Uma hora dessas um ex-funcionário, um delegado de polícia, uma vítima de notícia falsa desmancham a Globo como desmanchou o homem que mais metia medo na Inglaterra e nos Estados Unidos.

Isso passa.

É o que demonstram os professores Venicio Lima e Timothy Garton Ash, neste artigo extraído do Observatório da Imprensa.

Em tempo: Ash diz que Murdoch foi mais poderoso que os últimos três primeiros ministros da Inglaterra, porque os três tinham medo do Murdoch e o Murdoch não tinha medo deles. Assim sendo, o Ali Kamel …

Em tempo 2: quem também tratou a Globo a pão e água foi o governador do Paraná Roberto Requião. A Globo e o Daniel Dantas.

News of the World, o poder do medo


Por Venício A. de Lima

De tudo que foi escrito nos últimos dias sobre a atividade criminosa do News of the World, quem parece ter levantado a questão de fundo foi Timothy Garton Ash – professor de estudos europeus da universidade de Oxford (Reino Unido) e fellow da universidade de Stanford (EUA).


Em artigo originalmente publicado no The Globe and Mail (14/7, ver aqui) e republicado na edição de domingo (17/7) do Estado de S.Paulo sob o sugestivo título de “O medo que não ousava dizer o nome”, Ash afirma:

“a debacle de Murdoch revela uma doença que vem obstruindo lentamente o coração do Estado britânico nos últimos 30 anos. (…) A causa fundamental dessa doença britânica tem sido o poder exacerbado, implacável e fora de controle da mídia; seu principal sintoma é o medo. (…) Se a medida final de poder relativo é “quem tem mais medo de quem”, então seria o caso de dizer que Murdoch foi – no sentido estrito, básico – mais poderoso que os últimos três premiês da Grã-Bretanha. Eles tinham mais medo dele do que ele deles” (íntegra aqui).


Será que o diagnóstico de Ash sobre “o poder exacerbado, implacável e fora de controle da mídia” no berço da liberdade de expressão se aplicaria a outras democracias contemporâneas?

O conglomerado da News Corporation

Reproduzo parte de matéria da Agence France Presse sobre o conglomerado midiático do qual o tablóide News of the World fazia parte:


O News Corp. é um império midiático e de entretenimento construído por seu fundador, Rupert Murdoch. Cobrindo uma enorme região geográfica, cotado em bolsa em Sydney e Nova York, o grupo se distingue também pela diversidade de suas atividades, que vai da TV aos jornais, do cinema à internet, e conta também com ícones da imprensa conservadora como The Times e Wall Street Journal, e tabloides sensacionalistas como News of the World e New York Post. À frente do conglomerado, Rupert Murdoch, 80 anos, seu presidente-executivo e “self made man” nascido na Austrália, mantém as rédeas de um império de US$ 60 bilhões em ativos e um volume de negócios anual de US$ 33 bilhões no exercício encerrado no fim de junho. (…) Na Inglaterra, adquiriu primeiramente o News of the World e depois o The Sun, o tabloide mais popular da atualidade, o tradicional The Times e o Sunday Times. Também possui, entre outros 175 títulos, o The Australian e o The New York Post. Nos Estados Unidos, país onde reside e do qual se tornou cidadão, sua cadeia de notícias a cabo Fox News, que durante a invasão ao Iraque bateu a pioneira CNN em audiência, jamais ocultou seu apoio ao governo do republicano George W. Bush. Além da cadeia Fox, o grupo News Corp. impôs-se na televisão a cabo na Europa (BSkyB na Grã-Bretanha ou Sky na Itália, nascida da fusão Stream/Telepiu) e também na Ásia, com sua filial Star TV. Murdoch também tem interesses no mundo editorial (HarperCollins) e no cinema, com os estúdios Twentieth Century Fox, que produziu êxitos mundiais como Guerra nas Estrelas e Titanic. (…) Em 2007, um dos maiores êxitos do grupo foi a compra da Dow Jones e do Wall Street Journal, por um total de US$ 5,6 bilhões” (íntegra aqui).


No Brasil, a prática política do grupo News Corporation tornou-se mais conhecida pela repercussão das declarações da diretora de Comunicações da Casa Branca, Annita Dunn, que afirmou em outubro de 2009:


“…a rede Fox News opera, praticamente, ou como o setor de pesquisas ou como o setor de comunicações do Partido Republicano. (…) A rede Fox está em guerra contra Barack Obama e a Casa Branca, [e] não precisamos fingir que o modo como essa organização trabalha seria o modo que dá legitimidade ao trabalho jornalístico. (…) Quando o presidente [Barack Obama] fala à Fox, já sabe que não falará à imprensa, propriamente dita. O presidente já sabe que estará como num debate com o partido da oposição” (ver, neste Observatório, “A mídia como partido político“).


Hoje conhecemos o News Corporation através dos filmes da 20th Century Fox e pelos canais Fox da televisão paga: Fox News, Fox Movie, FOX Sports, Nat Geo Wild, National Geographic, dentre outros.


De onde vem o poder?


Além de tratar-se de um conglomerado econômico, fonte natural de poder, o News Corporation se utiliza de outras armas.


Apesar de todas as mudanças tecnológicas e das enormes transformações provocadas pela internet, sobretudo com relação aos formadores de opinião tradicionais, o poder da velha mídia continua avassalador quando atinge a esfera da vida privada. Essa é a base dos chamados “escândalos políticos midiáticos” que atingem a reputação das pessoas, seu capital simbólico.


Alguém acusado e “condenado” publicamente por um crime que não cometeu dificilmente se recupera. Os efeitos são devastadores. Não há indenização que pague ou corrija os danos causados por um “julgamento” equivocado da mídia.


Esse é exatamente o terreno fértil onde o medo – vale dizer, o poder da mídia sobre o cidadão – é cultivado. É o terreno preferido do “jornalismo” praticado pelos tabloides britânicos: a vida privada de figuras públicas – políticos e celebridades – mas também de pessoas comuns que alcançaram algum tipo de notoriedade negativa – por exemplo, por terem sido vítimas de um crime hediondo.


E quando esse “jornalismo”, na ganância por mais e maiores lucros, se utiliza de recursos criminosos de invasão da privacidade, como a escuta telefônica? Desaparecem todos os limites éticos.


Foi isso o que aconteceu com o News of the World.


Para impedir o poder do medo

O caso do News of the World ainda não terminou. Não se sabe se a prática “jornalística” criminosa se limitava ao tabloide inglês ou se estendia a outros veículos do News Corporation na Inglaterra e/ou em outros países.


De qualquer maneira, há lições que podem e devem ser tiradas do episódio para que se elimine a existência de condições favoráveis ao “poder do medo”.


Nesses tempos em que o debate sobre um marco regulatório para a mídia brasileira, mais uma vez, não consegue avançar, duas lições me parecem claras.


** Primeiro: conglomerados empresariais midiáticos se sentem em condições de fazer o que quiserem. Eles se tornam tão poderosos que se desobrigam de cumprir as normas legais e éticas que anunciam defender. É, portanto, indispensável que se controle a propriedade cruzada e as condições de criação e manutenção das redes de radiodifusão, fonte principal da concentração da propriedade dos grupos midiáticos.

** Segundo: a Press Complaints Commission (PCC), órgão independente e autorregulatório que fiscaliza o conteúdo editorial de jornais e revistas no Reino Unido, foi colocada em questão. O premiê David Cameron a classificou de ausente e ineficiente econcordou que algo precisa mudar no que diz respeito ao controle sobre as ações da mídia, ressaltando que é preciso um novo órgão e um novo sistema regulatório (ver, neste OI, “Imprensa britânica debate sistema regulatório“).


Um dos atuais membros da PCC – que deveria ter fiscalizado o “jornalismo” do News of the World – é Ian MacGregor, ele próprio, editor do The Sunday Telegraph, um dos jornais que pertencem ao grupo News Corporation (ver aqui).


Como já é sabido, a autorregulação é bem vinda mas, por óbvio, insuficiente. A regulação através de legislação própria aprovada no parlamento é indispensável.

A ver.

***

[Venício A. de Lima é professor titular da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Regulação das Comunicações – História, poder e direitos, Editora Paulus, 2011]



É porque o Murdoch não conheceu o Brizola

segunda-feira, 18 de julho de 2011

TODOS OS HOMENS DE MURDOCH: O CONTROLE DA SOCIEDADE PELA MÍDIA


Com a detenção da ex-editora do News of the World,  Rebekah Brooks, neste domingo --solta depois sob fiança--  oito jornalistas  do grupo Murdoch passaram pela prisão de Londres.Todos são acusados  de crime de corrupção e interceptação de comunicações de um amplo universo de mais  de 4 mil pessoas, incluindo-se celebridades, políticos e cidadãos comuns. Neste domingo, ainda, nada menos que o  chefe da Polícia Metropolitana de Londres (Scotland Yard), Paul Stephenson, renunciou ao cargo, após admitir que havia contratado o antigo sub-editor do News Of the World, Neil Wallis, como consultor da Scotland Yard.  Wallis, foi preso sob  suspeita de participar de esquema de suborno de policiais em troca de informações confidenciais para o  tabloide de Murdoch. Outro braço-direito  de Murdoch, Andy Coulson, ex-diretor do News of the World,  trabalhara como homem  de comunicação de David Cameron, antes que este assumisse o cargo de primeiro ministro inglês. Nos EUA, o FBI começa esta semana  a investigar denúncias de espionagens  realizadas por veículos do grupo  Murdoch,  que possui a rede Fox News, o Wall Street Jounal e a Business Week. As  investigações poderão desnudar as ligações políticas e operacionais entre a extrema direita republicana e o canal Fox News, dirigido pelo ex-assessor de imprensa de Nixon e Bush (pai), Roger Ailes. Nos anos 70, Ailes  foi o autor de um estudo sugestivamente intitulado: ‘ Como Colocar o Partido Republicano na Mídia'. Na presidência da Fox, Ailes notabilizou-se por demonstrar na prática ‘como colocar o Tea Party na agenda da mídia'.  Esse  jornalismo que se distingue por combater idéias  e defender interesses  destruindo reputações e alvejando biografias, tem a sua contrapartida em termos de agenda econômica. Nos EUA, atualmente,  ela é representada pelo  extremismo orçamentário republicano, cuja  intenção é imobilizar Obama impondo-lhe um calendário de cortes em gastos  sociais em plena campanha presidencial de 2012. A mídia brasileira, de um modo geral, adotou uma abordagem minimalista dos desdobramentos que  o escândalo  do ‘News of  the World' coloca no tocante  às relações entre o dinheiro, a democracia e o direito à  informação.  Em uma palavra, a regulação da mídia, tema incomodo que perpassa todo o escândalo Murdoch, mas silenciado entre nós. Bernardo Kuscinski , um dos pioneiros da crítica da mídia no país, em comentário sobre  um artigo do historiador Timothy Ash, publicado no Estadão deste domingo, diz o seguinte : " Ash aponta para a profundidade e a gravidade do que se passa na democracia inglesa, refém de Murdoch e da grande midia; a elite britânica e todas as pessoas de perfil público viviam em estado de medo, (que Ash)  compara ao medo vivido na Rússia. É a grande mídia agindo como organização criminosa.Há algo de parecido no comportamento de VEJA".
(Carta Maior; 2º feira 18/07/ 2011)

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A CRISE E O IMPASSE FISCAL NOS EUA:

  
A carga fiscal nos EUA depois de três décadas de domínio neoliberal é de 24% do PIB. A plutocracia nada em isenções de impostos concedidas por sucessivos mandatos republicanos. 45 milhões de norte-americanos admitem passar fome porque a sua renda não sustenta o metabolismo. A carga fiscal americana é a mais baixa entre os países ricos e costuma ser festejada pela ignorância do jornalismo nativo como evidência de correlação entre economia forte e Estado mínimo. O disparate é tão grande que na Alemanha da insuspeita dama de ferro Angela Merkel a carga é de 37% do PIB. Na Dinamarca cujo padrão de vida e urbanidade são invejados pelas elites nativas em seu eterno giro pelas alfandegas, a taxa passa de 44%. Mas elas maldizem os 34,5% do Brasil, que acusam de financiar o que classificam como ‘gastança’, tipo Bolsa Família, postinho de saúde, subsídio à habitação popular, escola pública, aposentadoria rural etc. Nesse momento de transparência das coisas, o facho de luz da crise mundial mostra o capitalismo americano colapsado pela sua hora da verdade fiscal: a receita do país hoje é 11% inferior ao que se gasta (no Brasil o déficit é de  3% e eles espumam).  A dívida pública já rompeu o limite de US$ 14 trilhões e os republicanos não aceitam elevar o teto do endividamento, sem o quê, a partir de agosto, fornecedores e rentistas aplicados nos títulos do Tesouro estão sujeitos ao calote. A ortodoxia republicanam cega e esperta ao mesmo tempo, faz braço de ferro com Obama: só dá mais corda fiscal para o Presidente se ele se comprometer a cortar US$ 4 trilhões de despesas até 2014, acuando assim sua reeleição num corner de cortes de gastos –inclusive na área de saúde, que Obama queria universalizar-- em plena campanha eleitoral. Eis o ponto a que nos leva a ideologia obscurantista do Estado mínimo. Se ela é obtusa o suficiente para colocar em risco a solvência da maior economia capitalista da terra, imagine do que não é capaz em latitudes tropicais? Esse é o teor de barbárie ideológica vendida pelo jornalismo demotucano como suflê dos deuses nas últimas décadas. É isso que está em questão nos EUA: de um lado, os mercados e a extrema direita republicana disposta a jogar o país no caos para manter o privilégio fiscal dos ricos às custas dos pobres; de outro, a tibieza de um presidente fraco, que levita sobre uma sociedade atomizada, corroída pela desindustrialização e o esfarelasmento de sindicatos e partidos, sendo assim o oposto do universo mobilizado que ancorou o New Deal nos anos 30. A salgar tudo isso, uma opinião pública de classe média adestrada em seus medos e ignorância pelo noticiário da Fox News, do magnata Rupert Murdoch, cujas credenciais dispensam apresentações. Ah, sim, Obama acha que vai vencer os blindados com disparos de Twiter.
(Carta Maior; 6º feira 15/07/ 2011)

terça-feira, 5 de julho de 2011

Fox News foi um projeto secreto da era Nixon, revela site dos EUA

Postado por Vinna Domingo, Julho 03, 2011

A emissora de TV americana Fox News --conhecida pela posição abertamente conservadora--, criada em 1996 pelo estrategista de mídia republicano Roger Ailes como um ponto de vista "juto e equilibrado", já havia sido prevista na década de 70 como uma forma de transmitir matérias "pró-governo", revela o Gawker, um site de notícias sobre mídia dos EUA.

Uma pesquisa encontrou o documento entitulado "Um Plano para colocar o Partido Republicano no noticiário de TV" na Biblioteca Presidencial Richard Nixon.

O memorando faz parte de uma seção com 318 páginas que detalha os esforços de Ailes, considerado um intelectual republicano, junto às administrações de Nixon e de Bush "pai", o ex-presidente George H.W. Bush.



Contratado como consultor, ele ofereceu conselhos e expertise aos dois líderes, nos anos 70 e 90.

De acordo com o Gawker, os arquivos --que incluem notas escritas à mão-- mostram Ailes como um mago da propaganda republicana e um "incansável produtor de TV" que levava em consideração detalhes como a árvore de Natal da Casa Branca. Para ele, a televisão tinha um caráter decisivo na construção da narrativa política, diz o site.

"Ele frequentemente lançava ideias sobre a realização de eventos fabricados e estratégias para manipular a grande mídia para coberturas favoráveis, e usava seus contatos nas emissoras para evitar a ocorrência de narrativas ameaçadoras", afirma o Gawker.

Ailes chegou a montar a Television News Incorporated (TVN) no início da década de 70 como uma emissora abertamente republicana, que, embora tenha durado menos de cinco anos, serviu de embrião para o que anos mais tarde seria a Fox News.