Com a detenção da ex-editora do News of the World, Rebekah Brooks, neste domingo --solta depois sob fiança-- oito jornalistas do grupo Murdoch passaram pela prisão de Londres.Todos são acusados de crime de corrupção e interceptação de comunicações de um amplo universo de mais de 4 mil pessoas, incluindo-se celebridades, políticos e cidadãos comuns. Neste domingo, ainda, nada menos que o chefe da Polícia Metropolitana de Londres (Scotland Yard), Paul Stephenson, renunciou ao cargo, após admitir que havia contratado o antigo sub-editor do News Of the World, Neil Wallis, como consultor da Scotland Yard. Wallis, foi preso sob suspeita de participar de esquema de suborno de policiais em troca de informações confidenciais para o tabloide de Murdoch. Outro braço-direito de Murdoch, Andy Coulson, ex-diretor do News of the World, trabalhara como homem de comunicação de David Cameron, antes que este assumisse o cargo de primeiro ministro inglês. Nos EUA, o FBI começa esta semana a investigar denúncias de espionagens realizadas por veículos do grupo Murdoch, que possui a rede Fox News, o Wall Street Jounal e a Business Week. As investigações poderão desnudar as ligações políticas e operacionais entre a extrema direita republicana e o canal Fox News, dirigido pelo ex-assessor de imprensa de Nixon e Bush (pai), Roger Ailes. Nos anos 70, Ailes foi o autor de um estudo sugestivamente intitulado: ‘ Como Colocar o Partido Republicano na Mídia'. Na presidência da Fox, Ailes notabilizou-se por demonstrar na prática ‘como colocar o Tea Party na agenda da mídia'. Esse jornalismo que se distingue por combater idéias e defender interesses destruindo reputações e alvejando biografias, tem a sua contrapartida em termos de agenda econômica. Nos EUA, atualmente, ela é representada pelo extremismo orçamentário republicano, cuja intenção é imobilizar Obama impondo-lhe um calendário de cortes em gastos sociais em plena campanha presidencial de 2012. A mídia brasileira, de um modo geral, adotou uma abordagem minimalista dos desdobramentos que o escândalo do ‘News of the World' coloca no tocante às relações entre o dinheiro, a democracia e o direito à informação. Em uma palavra, a regulação da mídia, tema incomodo que perpassa todo o escândalo Murdoch, mas silenciado entre nós. Bernardo Kuscinski , um dos pioneiros da crítica da mídia no país, em comentário sobre um artigo do historiador Timothy Ash, publicado no Estadão deste domingo, diz o seguinte : " Ash aponta para a profundidade e a gravidade do que se passa na democracia inglesa, refém de Murdoch e da grande midia; a elite britânica e todas as pessoas de perfil público viviam em estado de medo, (que Ash) compara ao medo vivido na Rússia. É a grande mídia agindo como organização criminosa.Há algo de parecido no comportamento de VEJA".
(Carta Maior; 2º feira 18/07/ 2011)
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