No veículo do grupo Abril para o mercado financeiro, presidente do Itaú ataca outra vez a política econômica; “Nos últimos anos, o Brasil esteve completamente perdido”, disse Roberto Setubal à revista Exame; banqueiro acelera em campanha por Marina Silva, do PSB; irmã Neca Setubal cotada para ser superministra se candidata bater a presidente Dilma Rousseff; engajamento, porém, despertou irritação na maior acionista individual do Itaú, socialite Milú Vilela; ela considera que banqueiro enveredou pelo perigoso caminho da partidarização e pode, com isso, enfraquecer o banco da família; imagem da instituição sofre com memes nas redes sociais e nas ruas; jogada de alto risco
247 – O presidente do banco Itaú, Roberto Setubal, acelerou no seu engajamento à candidatura de Marina Silva, do PSB. Ele aproveitou o espaço de capa da revista Exame, porta-voz do grupo Abril para o
mercado financeiro, para bater duro, mais uma vez, na política econômica:
- Os investidores gostam de ver um país caminhar na direção certa, disse Setubal, cuja frase foi escolhida para abrir a reportagem de capa que, segundo a própria revista, ouviu 500 empresários na sua confecção.
- E, nos últimos anos, o Brasil esteve completamente perdido.
Desde o aniversário de fundação do Unibanco, no final de agosto, quando Setubal fez um discurso de franca oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff simpatia à Marina, o Itaú posicionou-se inteiramente ao lado da candidata do PSB. A irmã de Setubal e herdeira da instituição, Neca Setubal, reafirmou-se como principal assessora de Marina e candidata a ser uma superministra, a partir da pasta da Educação, num eventual governo dela.
Apesar dos cuidados que deve tomar quem está à frente de uma máquina de fazer dinheiro que administra mais de R$ 500 bilhões em ativos, Setubal vai se comportando na campanha como um militante declarado, disposto a dar pitaco em tudo, desde que em benefício do projeto da oposição:
- O funcionamento da nossa democracia não está bom, inicia ele, num dos quadros de destaque da reportagem da Exame.
- As negociações para obter o apoio de partidos pequenos geram ineficiência na administração da máquina pública porque a governabilidade depende de um número grande demais de concessões a muitos partidos, estendeu-se, reproduzindo, palavra por palavra, um dos pilares do discurso de Marina.
O problema, para Setubal, é que não está escrito nas estrelas que Marina vai, necessariamente, vencer a eleição. Na hipótese positiva, o presidente do Itaú acredita que terá no governo um aliado para um salto de crescimento do Itaú, uma vez identificado com a nova ordem econômica. Pode sonhar, ainda, com a simpatia da nova administração ao perdão da multa fiscal de R$ 18 bilhões que o Itaú sofreu pelo não recolhimento de impostos, segundo decisão do Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf). O banca está recorrendo e força política, nessas horas, nunca é ruim.
No verso dessa moeda de aposta, porém, os problemas já começam a aparecer. Entre os mais próximos, a socialite Milú Vilela, maior acionista individual do Itaú, já não esconde sua irritação pela postura de Setubal. Para os negócios, a derrota de Marina trará consequências de isolamento político para o Itaú, o que, da mesma maneira, sempre é ruim para os negócios.
O certo é que, ou com discursos longos e entusiasmados, como na festança pelos 90 anos do Unibanco, na qual fez sua profissão de fé em Marina e contra Dilma, ou por frases em publicações escolhidas, Roberto Setubal e o Itaú viraram uma grande atração dessa eleição. Uma exposição que pode custar caro se o plano perfeito do banqueiro der errado.