Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O pescoço do Brasil


Fim da hibernação? Dilma reúne-se com centrais sindicais e negocia pauta comum para preservar e ampliar direitos sociais; Lula articula mobilizações em resposta ao golpismo, diz colunista Teresa Cruvinel, no 24/7

  Procurador Rodrigo Janot laça o tucanato pelo bico: 'Essa sistema (na Petrobras) vem desde 1987. Passa por todos os Governos. Ainda não sei o tamanho total da caixa de Pandora' (El País).

 Senadores tucanos montam megaestrutura de análise e informação para tomar de assalto a opinião pública e construir uma hegemonia que sancione a desestabilização do governo Dilma (leia a reportagem de Antonio Lassanc.

  Datafolha inconsolável: preocupação do brasileiro com a corrupção cai de 14% para 9% de junho a dezembro. Motivo: 46% afirmam que o governo Dilma é o que mais investigou a corrupção; apenas 1% acha que FHC foi o que mais puniu os corruptos, contra 40% que atribuem essa qualidade a Dilma

 Carta Maior.


O Conversa Afiada reproduz artigo de Saul Leblon, extraído da Carta Maior:

O pescoço do Brasil


 

2014 é o melhor ano do emprego nos EUA desde 1999, festeja o Wall Sreet Journal. Por que raios, então, o negro Eric Garner vendia cigarros ilegalmente nas ruas.

por: Saul Leblon


Negros desarmados mortos por policiais brancos compõem um postal da identidade norte-americana.


São standarts, como as freeways, a CIA, a Coca-cola de uma sociedade plasmada pelo capitalismo mais exitoso do planeta.


Nela, o condutor de um carro velho recebe, por definição, o carimbo de ‘looser’ (perdedor). Pela mesma razão que um negro pobre é suspeito e passível de ação policial, até prova em contrário.


O negro Eric Garner, vendedor ambulante em Nova Iorque, asmático,  43 anos, não teve tempo, nem ar, na semana passada, para provar quem era.


Garner avisou ao policial que comprimia seu pescoço com uma chave de braço, que não estava conseguindo respirar.


Fez isso 11 vezes.


Até morrer.


Negros formam 13% da população norte-americana; representam mais de 40% da massa carcerária; algo como um milhão em um total de 2,5 milhões.


Prisões em massa e mortes, nada disso é novidade para eles nos EUA.


A novidade diante da rotina são os protestos que ela vem provocando exatamente quando a recuperação econômica faz de 2014 ‘o melhor ano em termos de criação de empregos desde 1999’, garante o Wall Sreet Journal, desta 2ª feira.


Por que raios, então, Garner vendia cigarros ilegalmente nas ruas, como suspeitou a batida policial que o levou à morte?


A resposta desnuda um traço constitutivo do ajuste capitalista conduzido pela lógica dos mercados e emite uma advertência em relação à chave de braço que alguns querem aplicar no pescoço na economia brasileira.


Seis anos após o colapso de 2008, a lucratividade dos bancos norte-americanos registra recordes sobre recordes, trimestre após o outro.


Em contrapartida, a subutilização da força de trabalho –indicador que soma emprego parcial e desistência de buscar vaga, como deve ter sido o caso de Garner – atinge assustadores 13%.


Na maior economia capitalista da terra, metade das vagas criadas no pós-crise é de tempo parcial, com salários depreciados.


Não é um aquecimento de motores.


É o padrão de uma economia desossada em suas vértebras produtivas , por obra da desregulação financeira do ciclo neoliberal iniciado nos anos 80, com Reagan.


A ideia de que um  reposicionamento  econômico dentro do capitalismo possa ser terceirizado ao mercado, como se fosse um freio de arrumação neutro, faz tanto sentido quanto dar uma chave-de pescoço em um asmático e ficar surpreso com  a sua morte.


O fato de os EUA terem um salário mínimo congelado há 15 anos, diz muito sobre a natureza dessa chave de pescoço econômica, que joga milhões de Garners para o submundo dos loosers.


A decepção de Obama ao constatar que a tão aguardada ‘recuperação’ pode acontecer associada a uma maior desigualdade e, portanto, sem revitalizar sua popularidade –como evidenciou a derrota nas eleições legislativas de novembro– ilustra a dificuldade de se atribuir ao mercado aquilo que ele não sabe fazer.


O conjunto sugere que a presidenta Dilma terá que analisar detidamente cada medida de aperto fiscal que lhe for apresentada pela nova equipe econômica.


O risco é o país perder a última linha de resistência diante de um mercado mundial que estrebucha: o dinamismo de sua demanda interna.


Os sinais de alarme desta 2ª feira justificam a prontidão.


As exportações chinesas cresceram a metade do esperado em novembro  (4,7% contra 8%); o PIB do Japão caiu mais que  previsto no 2º trimestre e a possante máquina germânica rasteja tendo registrado uma expansão de apenas 0,2% em outubro. Tudo isso explica que o barril de petróleo custe hoje 40% menos e que as cotações das commodities agrícolas exportadas pelo Brasil valham, em média, 13% abaixo do patamar de 2013.


A sabedoria dos especialistas é insuficiente para conduzir um país a salvo por esse desfiladeiro emparedado entre a queda das  cotações das commodities, de um lado, e a sinalização de alta dos juros, do outro.


Em  ciclos anteriores, sempre  que essa sobreposição se deu, como em 1810-1930 e 1980, América Latina viveu solavancos políticos fortes.


Foi o que aconteceu no caso do Brasil, com a declaração da Independência, a ascensão de Vargas e a derrubada da ditadura.


O cerco conservador agora reflete o faro da matilha para um novo ciclo de vulnerabilidade da presa.


O caminho das pedras terá que ser modulado e ordenado pela mobilização e o engajamento dos principais interessados na preservação do rumo mais equitativo seguido até aqui: os sindicatos, os movimentos sociais e os partidos do campo progressista.


Em nenhum lugar do mundo há notícia de que a democracia social tenha se  consolidado  sem um sujeito histórico correspondente.


Obama não conseguiria ser um ‘Roosevelt’ da crise atual, nem que quisesse.


Faltam-lhe as bases organizadas que o sindicalismo combativo dos anos 30/40 propiciou ao democrata que comandou os EUA entre 1933 e 1945.


O Brasil tem forças sociais estruturadas.


Suas centrais sindicais que, finalmente, se reuniram com a Presidenta Dima, nesta 2ª feira,  preservam certa capilaridade.


A inteligência progressista dispõem de propostas críveis e sensatas.


Nos últimos doze anos, o país foi dotado de sólidas políticas sociais, ademais de estruturas de Estado para ampliá-las.


O conjunto permite à Presidenta Dilma negociar rumos e metas do desenvolvimento com a sociedade, preservando-se o mercado de massa, mesmo em  um intermezzo de reacomodação fiscal.


Há um requisito, porém: o timming das iniciativas de governo – de qualquer governo – faz enorme diferença.


Uma crise tem um tempo certo para ser derrotada, ou derrotará o governo, a produção,  o emprego e os atores que vacilarem diante dela.


Nisso, sobretudo nisso, Franklin Roosevelt revelou-se o estadista cuja habilidade ainda tem lições a oferecer aos seus contemporâneos.


Em apenas uma semana após a sua posse, em 1933, ele tomou algumas decisões que não exorcizaram todos os demônios, mas foram afrontá-los em seu próprio campo.


Os tempos são outros; as agendas precisam ser renovadas, mas nada justifica ofuscar o componente de coragem do passado para dissimular a tibieza no presente.


Muitos relativizam o alcance das medidas anti-cíclicas tomadas por Roosevelt nos 11 anos que antecederam o ingresso dos EUA na guerra de 1944, quando seu potencial produtivo, finalmente, foi acionado a plena carga.


Mas poucos se lembram de perguntar o que teria acontecido com o presidente democrata, reeleito quatro vezes (de 1933 a 1945), se a sua autoridade tivesse fraquejada no primeiro mandato, na primeira semana ou no primeiro dia de março.


É sobre isso que os chefes de Estado de hoje deveriam refletir em vez de adiarem decisões à espera de um auto-ajuste dos mercados.


A calibragem fina entre a barbárie e a emancipação de uma sociedade não está prevista nos manuais de economia.


Esse apanágio pertence à democracia.


Se não dilatar o espaço da política na condução da economia no seu segundo mandato, a presidenta Dilma corre o risco de acordar um dia com uma chave de braço atada ao pescoço do país.


E perder o que já tem.


Sem obter o que a ortodoxia lhe promete entregar.



Leia mais:

Sindicalistas destacam compromisso de Dilma com trabalhadores

Por que apartamento de Lula é notícia e o de Barbosa não?

 Por que apartamento de Lula é notícia e o de Barbosa não?
Nogueira: a má fé com que o Globo noticiou o apartamento de Lula.
  
O Conversa Afiada reproduz artigo de Paulo Nogueira, extraído do Diário do Centro do Mundo:

A má fé obtusa com que o Globo noticiou o apartamento de Lula

Lula não é Mujica, sabemos todos.


Mas quem é? Francisco, o papa. E vamos parando por aí.


Isto posto, é absolutamente canalha o destaque dado pelo Globo à informação de que Lula tem um tríplex no Guarujá.


É o tipo de coisa que, editada desonestamente, só serve para alimentar a ignorância estridente dos analfabetos políticos de direita.


Vamos começar pelo seguinte: Lula tem condições para comprar um apartamento avaliado em 1,5 milhão de reais?


Ora, Lula é um dos palestrantes mais bem remunerados do mundo. Palestras de estrelas do circuito mundial giram em torno de 100 mil dólares.


Isso quer dizer o seguinte: com um punhado de palestras, não mais que isso, ele pode comprar um apartamento como o que o Globo, com a Veja na esteira, noticiou com alarde.


Fora isso, Lula tem seus benefícios de ex-presidente. Finalmente: 67 anos é uma idade em que pessoas bem sucedidas como ele, ou muito menos que ele, podem já ter acumulado um respeitável patrimônio legítimo.


Muito mais estranho, para ficar em imóveis e na Globo, foi a notícia de que a apresentadora Patrícia Poeta estava comprando, aos 38 anos, um apartamento 15 vezes mais caro na avenida Atlântica, no Rio.


Ainda no campo imobiliário, por que o apartamento de Lula é notícia, para o Globo, e o de Joaquim Barbosa em Miami não?


O valor é mais ou menos o mesmo, segundo se noticiou. Com o detalhe de que, para fazer a compra em Miami, Joaquim Barbosa inventou uma pessoa jurídica que lhe permitiu fugir de impostos americanos.


Este tipo de comportamento – denúncia é contra aqueles de quem não gostamos – ajuda a entender a imensa rejeição que tantos brasileiros têm pelas grandes empresas jornalísticas.


O Globo ludibria seus leitores ao não colocar a informação do apartamento sob o devido contexto.


A Veja, ao reproduzir o Globo, faz o que sempre faz: panfletagem, em vez de jornalismo. E o resto, bem, é o resto. Na Jovem Pan — que vai se tornando reduto do que há de mais reacionário na mídia — Rachel Sheherazade falou sobre o “chiquérrimo” apartamento de Lula, e conseguiu citar seu irmão de alma Rodrigo Constantino.


Constantino escreveu, segundo Sheherazade, que se Boulos, do MSTS, souber do triplex, pode ter a ideia de colocar lá várias famílias de sem teto. Bem, o tamanho do imóvel, segundo o Globo: 297 metros quadrados. A sala de Roberto Marinho, na sede da Globo, na qual estive mais de uma vez, tinha mais que isso.


Lula é uma saudade para milhões de brasileiros e para a mídia, que não se conforma com isso, uma obsessão.


A tal ponto chega tal obsessão que hoje no site da Folha Ronaldo ‘Quem?’ Caiado ficou por várias horas na primeira página.


O que ele fez para merecer a honraria?


Disse, do alto de sua clarividência, que Lula não tem “a menor chance” em 2018. O morto-vivo Caiado descobriu que para ser objeto dos holofotes basta falar mal de Lula.


Fazer previsões sobre 2018 agora, quando Dilma sequer iniciou o segundo mandato, remete a uma frase clássica de Keynes. “A longo prazo estaremos todos mortos.”


As grandes empresas de jornalismo, com sua obtusidade desonesta, provavelmente estarão mortas em prazo mais breve, para o bem da sociedade.

Em tempo: além dos apartamentos adquiridos por Patrícia Poeta e Joaquim Barbosa, o Conversa Afiada sugere outra comparação.


Por que não o PiG não fala do apartamento de FHC em Paris ?

O Farol de Alexandria, que acha “razoável” aposentadoria de R$ 22 mil, tem um apê na Av. Foch, onde o metro quadrado custa mais de 12 mil Euros.

DCM: GLOBO FOI DESONESTO AO NOTICIAR IMÓVEL DE LULA