Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O pescoço do Brasil


Fim da hibernação? Dilma reúne-se com centrais sindicais e negocia pauta comum para preservar e ampliar direitos sociais; Lula articula mobilizações em resposta ao golpismo, diz colunista Teresa Cruvinel, no 24/7

  Procurador Rodrigo Janot laça o tucanato pelo bico: 'Essa sistema (na Petrobras) vem desde 1987. Passa por todos os Governos. Ainda não sei o tamanho total da caixa de Pandora' (El País).

 Senadores tucanos montam megaestrutura de análise e informação para tomar de assalto a opinião pública e construir uma hegemonia que sancione a desestabilização do governo Dilma (leia a reportagem de Antonio Lassanc.

  Datafolha inconsolável: preocupação do brasileiro com a corrupção cai de 14% para 9% de junho a dezembro. Motivo: 46% afirmam que o governo Dilma é o que mais investigou a corrupção; apenas 1% acha que FHC foi o que mais puniu os corruptos, contra 40% que atribuem essa qualidade a Dilma

 Carta Maior.


O Conversa Afiada reproduz artigo de Saul Leblon, extraído da Carta Maior:

O pescoço do Brasil


 

2014 é o melhor ano do emprego nos EUA desde 1999, festeja o Wall Sreet Journal. Por que raios, então, o negro Eric Garner vendia cigarros ilegalmente nas ruas.

por: Saul Leblon


Negros desarmados mortos por policiais brancos compõem um postal da identidade norte-americana.


São standarts, como as freeways, a CIA, a Coca-cola de uma sociedade plasmada pelo capitalismo mais exitoso do planeta.


Nela, o condutor de um carro velho recebe, por definição, o carimbo de ‘looser’ (perdedor). Pela mesma razão que um negro pobre é suspeito e passível de ação policial, até prova em contrário.


O negro Eric Garner, vendedor ambulante em Nova Iorque, asmático,  43 anos, não teve tempo, nem ar, na semana passada, para provar quem era.


Garner avisou ao policial que comprimia seu pescoço com uma chave de braço, que não estava conseguindo respirar.


Fez isso 11 vezes.


Até morrer.


Negros formam 13% da população norte-americana; representam mais de 40% da massa carcerária; algo como um milhão em um total de 2,5 milhões.


Prisões em massa e mortes, nada disso é novidade para eles nos EUA.


A novidade diante da rotina são os protestos que ela vem provocando exatamente quando a recuperação econômica faz de 2014 ‘o melhor ano em termos de criação de empregos desde 1999’, garante o Wall Sreet Journal, desta 2ª feira.


Por que raios, então, Garner vendia cigarros ilegalmente nas ruas, como suspeitou a batida policial que o levou à morte?


A resposta desnuda um traço constitutivo do ajuste capitalista conduzido pela lógica dos mercados e emite uma advertência em relação à chave de braço que alguns querem aplicar no pescoço na economia brasileira.


Seis anos após o colapso de 2008, a lucratividade dos bancos norte-americanos registra recordes sobre recordes, trimestre após o outro.


Em contrapartida, a subutilização da força de trabalho –indicador que soma emprego parcial e desistência de buscar vaga, como deve ter sido o caso de Garner – atinge assustadores 13%.


Na maior economia capitalista da terra, metade das vagas criadas no pós-crise é de tempo parcial, com salários depreciados.


Não é um aquecimento de motores.


É o padrão de uma economia desossada em suas vértebras produtivas , por obra da desregulação financeira do ciclo neoliberal iniciado nos anos 80, com Reagan.


A ideia de que um  reposicionamento  econômico dentro do capitalismo possa ser terceirizado ao mercado, como se fosse um freio de arrumação neutro, faz tanto sentido quanto dar uma chave-de pescoço em um asmático e ficar surpreso com  a sua morte.


O fato de os EUA terem um salário mínimo congelado há 15 anos, diz muito sobre a natureza dessa chave de pescoço econômica, que joga milhões de Garners para o submundo dos loosers.


A decepção de Obama ao constatar que a tão aguardada ‘recuperação’ pode acontecer associada a uma maior desigualdade e, portanto, sem revitalizar sua popularidade –como evidenciou a derrota nas eleições legislativas de novembro– ilustra a dificuldade de se atribuir ao mercado aquilo que ele não sabe fazer.


O conjunto sugere que a presidenta Dilma terá que analisar detidamente cada medida de aperto fiscal que lhe for apresentada pela nova equipe econômica.


O risco é o país perder a última linha de resistência diante de um mercado mundial que estrebucha: o dinamismo de sua demanda interna.


Os sinais de alarme desta 2ª feira justificam a prontidão.


As exportações chinesas cresceram a metade do esperado em novembro  (4,7% contra 8%); o PIB do Japão caiu mais que  previsto no 2º trimestre e a possante máquina germânica rasteja tendo registrado uma expansão de apenas 0,2% em outubro. Tudo isso explica que o barril de petróleo custe hoje 40% menos e que as cotações das commodities agrícolas exportadas pelo Brasil valham, em média, 13% abaixo do patamar de 2013.


A sabedoria dos especialistas é insuficiente para conduzir um país a salvo por esse desfiladeiro emparedado entre a queda das  cotações das commodities, de um lado, e a sinalização de alta dos juros, do outro.


Em  ciclos anteriores, sempre  que essa sobreposição se deu, como em 1810-1930 e 1980, América Latina viveu solavancos políticos fortes.


Foi o que aconteceu no caso do Brasil, com a declaração da Independência, a ascensão de Vargas e a derrubada da ditadura.


O cerco conservador agora reflete o faro da matilha para um novo ciclo de vulnerabilidade da presa.


O caminho das pedras terá que ser modulado e ordenado pela mobilização e o engajamento dos principais interessados na preservação do rumo mais equitativo seguido até aqui: os sindicatos, os movimentos sociais e os partidos do campo progressista.


Em nenhum lugar do mundo há notícia de que a democracia social tenha se  consolidado  sem um sujeito histórico correspondente.


Obama não conseguiria ser um ‘Roosevelt’ da crise atual, nem que quisesse.


Faltam-lhe as bases organizadas que o sindicalismo combativo dos anos 30/40 propiciou ao democrata que comandou os EUA entre 1933 e 1945.


O Brasil tem forças sociais estruturadas.


Suas centrais sindicais que, finalmente, se reuniram com a Presidenta Dima, nesta 2ª feira,  preservam certa capilaridade.


A inteligência progressista dispõem de propostas críveis e sensatas.


Nos últimos doze anos, o país foi dotado de sólidas políticas sociais, ademais de estruturas de Estado para ampliá-las.


O conjunto permite à Presidenta Dilma negociar rumos e metas do desenvolvimento com a sociedade, preservando-se o mercado de massa, mesmo em  um intermezzo de reacomodação fiscal.


Há um requisito, porém: o timming das iniciativas de governo – de qualquer governo – faz enorme diferença.


Uma crise tem um tempo certo para ser derrotada, ou derrotará o governo, a produção,  o emprego e os atores que vacilarem diante dela.


Nisso, sobretudo nisso, Franklin Roosevelt revelou-se o estadista cuja habilidade ainda tem lições a oferecer aos seus contemporâneos.


Em apenas uma semana após a sua posse, em 1933, ele tomou algumas decisões que não exorcizaram todos os demônios, mas foram afrontá-los em seu próprio campo.


Os tempos são outros; as agendas precisam ser renovadas, mas nada justifica ofuscar o componente de coragem do passado para dissimular a tibieza no presente.


Muitos relativizam o alcance das medidas anti-cíclicas tomadas por Roosevelt nos 11 anos que antecederam o ingresso dos EUA na guerra de 1944, quando seu potencial produtivo, finalmente, foi acionado a plena carga.


Mas poucos se lembram de perguntar o que teria acontecido com o presidente democrata, reeleito quatro vezes (de 1933 a 1945), se a sua autoridade tivesse fraquejada no primeiro mandato, na primeira semana ou no primeiro dia de março.


É sobre isso que os chefes de Estado de hoje deveriam refletir em vez de adiarem decisões à espera de um auto-ajuste dos mercados.


A calibragem fina entre a barbárie e a emancipação de uma sociedade não está prevista nos manuais de economia.


Esse apanágio pertence à democracia.


Se não dilatar o espaço da política na condução da economia no seu segundo mandato, a presidenta Dilma corre o risco de acordar um dia com uma chave de braço atada ao pescoço do país.


E perder o que já tem.


Sem obter o que a ortodoxia lhe promete entregar.



Leia mais:

Sindicalistas destacam compromisso de Dilma com trabalhadores

sexta-feira, 12 de julho de 2013

SANTAYANA E O MÉDICO: DAR UM POUCO DE SI AO OUTRO Os dois anos de SUS e o depoimento de Jatene, um exemplo.

Tolentino: "aos pobres não cobramos nada"


Conversa Afiada reproduz artigo de Mauro Santayana no JB online:

O MÉDICO E SUA ÉTICA



por Mauro Santayana

Em 1956, conheci, na cidade do Serro, em Minas, o médico Antonio Tolentino, que era o profissional mais idoso ainda em atividade no Brasil. Ele chamava a atenção por dois motivos: coubera-lhe assistir ao parto de Juscelino, em 1902, e não alterara o valor da consulta, que equivalia,  então, a cinco cruzeiros. Entrevistei-o, então, para a Revista Alterosa, editada em Minas e já desaparecida.

Em razão da matéria, o deputado federal Vasconcelos Costa obteve, da Câmara, uma pensão vitalícia da União para o médico, que morreu logo depois. Ele tinha, na época, 94 anos – e setenta de atividade. Seus descendentes criaram um museu, em sua casa e consultório. Uma das peças é o anúncio que fez, logo no início da carreira: “aos pobres, não cobramos a consulta”.

Confesso o meu constrangimento. Estou em  idade em que dependo, e a cada dia mais, de médicos, e de bons médicos, é claro. Tenho, entre eles, bons e velhos amigos. O que me consola é que os meus amigos estão mais próximos da filosofia de vida do médico Antonio Tolentino, do que dos que saíram em passeata, em nome de seus direitos, digamos, humanos. 

Mais do que outros profissionais, os médicos lidam com o único e absoluto bem dos seres, que é a vida. Os enfermos a eles levam as suas dores e a sua esperança. É da razão comum que eles estejam onde se encontram os pacientes – e não que eles tenham que viver onde os  médicos prefiram estar. 

De todos os que trataram do assunto, a opinião que me pareceu mais justa foi a de Adib Jatene. Um dos profissionais mais respeitados do Brasil, Jatene acresce à sua autoridade o fato de ter sido, por duas vezes, Ministro da Saúde. Ele está preocupado, acima de tudo, com a qualidade do ensino médico no Brasil. Se houvesse para os médicos exames de avaliação, como o dos bacharéis em direito, exigido pela OAB para o exercício profissional, o resultado seria catastrófico. 

Jatene recomenda a formação de bons clínicos e, só a partir disso, a especialização médica. Os médicos de hoje estão dependentes, e a cada dia mais, dos instrumentos tecnológicos sofisticados de diagnóstico, e  cada vez menos de seu próprio saber. O vínculo humano entre médico e paciente – salvo onde a medicina é estatizada – é a cada dia menor. Assim, Jatene defende o sistema do médico de família. Esse sistema permite o acompanhamento dos mesmos pacientes ao longo do tempo, e a prática de medidas preventivas, o que traz mais benefícios para todos.

Entre outras distorções da visão humanística do Ocidente, provocadas pela avassaladora influência do capitalismo norte-americano, está a de certo exercício da medicina e da terapêutica. A indústria farmacêutica passou a ditar a ciência médica, a escolher as patologias em que concentrar as pesquisas e a produção de medicamentos. A orientação do capitalismo, baseada no maior lucro, é a de que se deve investir em produtos de grande procura, ou, seja, para o tratamento de doenças que atinjam o maior número de compradores. Dentro desse espírito, a medicina, em grande parte,  passou a ser especulação estatística e probabilística.

Os médicos protestam contra a contratação de profissionais estrangeiros, pelo prazo de três anos, para servir em cidades do interior, onde há carência absoluta de profissionais. Não seriam necessários, se os médicos brasileiros fossem bem distribuídos no território nacional, mesmo considerando a má preparação dos formados em escolas privadas de péssima qualidade, que funcionam em todo o país. 

Ora, o governo oferece condições excepcionais para os que queiram trabalhar no interior. O salário é elevado, de dez mil reais, mais moradia para a família, e alimentação. É muitíssimo mais elevado do que o salário oferecido aos engenheiros e outros profissionais no início de carreira. Ainda assim, não os atraem. E quando o governo acrescenta ao currículo dois anos de prática no SUS, no interior e na periferia das grandes cidades, vem a grita geral.

Formar-se em uma universidade é, ainda hoje, um privilégio de poucos. Os ricos são privilegiados pelo nascimento; os pais podem oferecer-lhe os melhores colégios e os cursos privados de excelência, mas quase sempre vão para as melhores universidades públicas,  bem preparados que se encontram para vencer a seleção dos vestibulares. Os pobres, com a ilusão do crescimento pessoal, sacrificam os pais e pagam caro a fim de obter um diploma universitário que pouco lhes serve na dura competição do mercado de trabalho.

Um médico sugeriu que a profissão se tornasse uma “carreira de estado”, como o Ministério Público e o Poder Judiciário. Não é má a idéia, mas só exeqüível com a total estatização da medicina. Estariam todos os seus colegas de acordo? Nesse caso não poderiam recusar-se a servir onde fossem necessários. 

Temos, no Brasil, o serviço civil alternativo que substitui o serviço militar obrigatório, e é prestado pelos que se negam a portar armas. Embora a objeção possa ser respeitada em tempos de paz, ela não deve ser aceita na eventualidade da guerra: a defesa da nação deve prevalecer. Mas seria justo que não só os pacifistas fossem obrigados, pela lei,depois de formados pelos esforços da sociedade como um todo, a dar um ou dois anos de seu trabalho à comunidade nacional, ali e onde sejam necessários. Nós tivemos uma boa experiência, com o Projeto Rondon, que deveria ser mais extenso e permanente como instituição no Brasil.

As manifestações recentes mostram que todos, em seus conjuntos de interesses, querem mais do Estado em seu favor. Não seria o caso de oferecerem alguma coisa de si mesmos à sociedade nacional? Dois anos dos jovens médicos trabalhando no SUS – remunerados modestamente e com os gastos pagos pelo Erário – seriam um bom começo para esse costume. E a oportunidade de aprenderem, com os desafios de cada hora, a arte e o humanismo que as más escolas de medicina lhes negaram.

segunda-feira, 11 de março de 2013

A TRANSIÇÃO ESQUECIDA NO BAÚ DA HISTÓRIA


Se existe aprendizado em política, a épica mobilização da sociedade venezuelana  nos últimos dias não deve ser tratada como simples efeméride.Muitos gostariam de restringi-la assim, nos limites de um cortejo emotivo. A impressionante vitalidade daquilo que se imaginava menos abrangente e mais frágil impõe-se à reflexão das forças e lideranças progressistas. A entrevista do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães,a Carta Maior, feita por Dario Pignotti (leia nesta pág) vai nessa direção.Ao abordar a necessidade de um aparato popular para defender os avanços e conquistas acossados, Samuel Pinheiro resvala no tema tabu da luta socialista no continente.Não qualquer continente. Aquele em que a  insurreição armada de Che Guevara fracassou, em outubro de 1967.Aquele em que a  via democrática de Allende para o socialismo foi massacrada, em setembro de 1973.Aquele em que , desde então,  o socialismo passou a figurar no discurso progressista hegemônico --o que não implica negligenciar as posições à esquerda dele--  como a margem de um rio desprovido de pontes e embarcações de acesso. Ou seja, sem projeto de transição. Chávez sacudiu esse torpor. (LEIA MAIS AQUI)
Quem é o dono do mundo?
 
‘Dilma e Cristina devem erguer muro contra golpistas’
 
 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

DILMA EM CADEIA NACIONAL: "ELES ERRARAM FEIO"





**A Krupp quer vender um elefante branco ao Brasil e pressiona o BNDES a financiar a operação. A pioneira da siderurgia alemã  não sobreviveria por dois séculos  se não  encarnasse a própria essência do capitalismo: escrúpulo não é um ingrediente da receita.


" Surpreende que, desde o mês passado, algumas pessoas, por precipitação, desinformação ou algum outro motivo, tenham feito previsões sem fundamento, quando os níveis dos reservatórios baixaram e as térmicas foram normalmente acionadas. Como era de se esperar, essas previsões fracassaram. O Brasil não deixou de produzir um único kilowatt que precisava(...). Cometeram o mesmo erro de previsão os que diziam, primeiro, que o governo não conseguiria baixar a conta de luz. Depois, passaram a dizer que a redução iria tardar. Por último, que ela seria menor do que o índice que havíamos anuciado. Hoje, além de garantir a redução, estamos ampliando seu alcance --e antecipando sua vigência. Isso significa menos despesas para cada um de vocês e para toda a economia do país (...)Todos, sem exceção, vão sair ganhando(...) Espero que, em breve, até mesmo aqueles que foram contrários à redução da tarifa venham a concordar com o que eu estou dizendo.Aliás, neste novo Brasil, aqueles que são sempre do contra estão ficando para trás, pois nosso país avança sem retrocessos, em meio a um mundo cheio de dificuldades.Hoje, podemos ver como erraram feio, no passado, os que não acreditavam que era possível crescer e distribuir renda. Os que pensavam ser impossível que dezenas de milhões de pessoas saíssem da miséria. Os que não acreditavam que o Brasil virasse um país de classe média. Estamos vendo como erraram os que diziam, meses atrás, que não iríamos conseguir baixar os juros". (Presidenta Dilma; 23-01-2013) 

O Nafta espalha a fome no México


Um anos antes de se completarem 20 anos de existência do Nafta, o tratado de livre-comércio da América do Norte, o México possui 51% de sua população de 110 milhões na pobreza, e vê ampliar sua dependência de alimentos produzidos do outro lado da fronteira, nos EUA. É uma situação diferente de outros países latino-americanos, como o Brasil, que felizmente ajudaram a barrar a Alca. O artigo é do jornalista cubano Hedelberto López Blanch




O tempo deu a razão aos presidentes latino-americanos que em 2005, na Cúpula das Américas de Mar del Plata, na Argentina, recusaram integrar a Área de Livre Comércio (Alca) promovida pelos Estados Unidos. Hoje, seus países estariam nas mesmas condições que o México.

O Conselho Nacional de Avaliação da Política de Desenvolvimento Social (Coneval), informou que de uma população próxima aos 110 milhões, 51,3% vive na pobreza, ou seja, 55 milhões de mexicanos carecem dos recursos básicos para cobrir as necessidades básicas.

Segundo Coneval, o número resulta aterrorizante ao aumentar o espiral de pobreza ano após ano sem que existam soluções. Em 2008, o número de pessoas nessas condições era de 50,6 milhões, primcipalmente em Chiapas, Veracruz, Tabasco, Baixa Califórnia, Puebla, Jalisco, Guanajuato, Oaxaca, Guerrero, Morelos, Chihuahua e no Distrito Federal.

Desde que o então presidente Carlos Salinas de Gortari aprovou em dezembro de 1992 o Tratado de Livre Comércio para a América do Norte (Nafta, na sigla em inglês), que entrou em vigor em janeiro de 1994, a fome e a pobreza se tornaram os maiores males dos aztecas, unido à enorme violência dos cartéis de drogas na luta por transportar essa mercadoria ao maior consumidor de entorpecentes no mundo: os Estados Unidos.

Uma das piores consequências do Nafta é a de ter obrigado mais de 2 milhões de camponeses, com seus familiares, a abandonar as terras que arrendavam pelos baixos preços dos produtos e o abandono governamental.

Ao negociar a livre exploração de mercadorias, as empresas transnacionais e os agricultores estadunidenses (com enormes subsídios governamentais e modernas tecnologias de produção) inundaram os mercados mexicanos em detrimento de comerciantes e agricultores nacionais.

Os camponeses emigram em massa para as grandes cidades onde é muito difícil conseguir trabalho e passam a aumentar as filas dos vagos, ou os mais jovens tentam cruzar as custodiadas fronteiras norte-americanas em uma via crucis de imigrantes clandestinos.

As transnacionais de alimentos que operam dentro do país se tornaram as principais produtoras, importadoras, exportadoras e praticamente se dominaram a economia azteca.

Várias fontes de trabalho desaparecem pela compra e concentração de terras por essas companhias, e pela utilização de novas técnicas industriais na agricultura.

Pequenas fazendas foram eliminadas por enormes empórios como Tyson, Smithfield, Pilgrims Pride que se apoderaram da produção de gado ao mesmo tempo que provocam a poluição da água e da terra pelo afã de aumentar as produções sem cuidar do meio ambiente. Como afirmam os empresários, afinal, o país não é deles.

O milho, alimento básico ancestral mexicano cuja produção nacional abastecia toda a população e ficavam excedentes para a exportação, foi praticamente eliminado dos campos desde a entrada em vigor do Nafta, ao quadruplicar as importações desse grão oriundo dos Estados Unidos.

Com o aumento dos preços internacionais dos alimentos, provocado muitas vezes pelas companhias intermediárias (entre as quais se destacam Maseca /Archers, Daniel Midland e Cargill) que brincam com a fome dos pobres para se enriquecer, os preços das tortilhas de milho são quase inalcançáveis para os mexicanos.

Os números não mentem. Se antes do Nafta o país gastava 1,8 bilhões de dólares com importação de alimentos, agora investe em 24 bilhões com a alta dependência de soja, 95%; arroz, 80%; milho, 70 %; trigo, 56 % e feijão, 33 %.

Graças ao Nafta, funcionários do Departamento de Agricultura em Washington afirmam que nos próximos anos o México deverá adquirir 80% dos alimentos em outros países, principalmente nos Estados Unidos.

Sob as rédeas do Tratado de Livre Comércio, muitos analistas consideram a nação azteca uma dependência de Washington, devido às leis neoliberais que permitem às companhias estrangeiras utilizar mão de obra barata para suas produções, explorar os recursos naturais, extrair petróleo a preços preferenciais e exportar os excessos de mercadorias norte-americanas para esse país.

Enquanto esta situação ocorre no México, um recente relatório da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) afirmou que esse flagelo diminuiu na região e atualmente atinge 168 milhões de pessoas, equivalente a 30% da população, embora seja a mais baixa nas últimas três décadas.

Para a Cepal, os níveis de pobreza continuarão diminuindo, a um ritmo menor, até terminar o ano em uma taxa de 28,8%, equivalente a 167 milhões de pessoas, graças ao crescimento econômico e à moderada inflação.

Nos últimos anos, várias nações, entre as que se destacam Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina, Nicarágua e Brasil possibilitaram que os índices de pobreza se reduzissem ao realizar políticas sociais a favor dos seus habitantes e tomar medidas para que as transnacionais não roubem suas economias.

O aumento da desigualdade é outro aspecto que afeta a nação azteca já que, enquanto a metade da população não pode ter acesso às necessidades alimentares, educacionais ou de saúde, só oito magnatas nacionais possuem uma fortuna de mais de 90 bilhões de dólares que equivale a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

O tratado permitiu o enriquecimento de uma minoria nativa, e ao mesmo tempo possibilitou Washington manter um maior controle sobre a economia azteca em detrimento do seu povo.

*Tradução divulgada pela rede Telesur


quarta-feira, 18 de julho de 2012

O declínio do sonho americano

Só 4% da última geração nascida depois dos anos 1970 subiram um degrau na escala social; assim, nos Estados Unidos, esfumou-se a esperança de uma vida melhor

Vittorio Zucconi
(tradução de Moisés Sbardelotto)
do IHU
O grande rio do "sonho americano", aquela corrente forte e tumultuosa que transportou gerações de pessoas rumo à esperança de uma vida melhor, está se tornando um pântano de água estagnada. A sociedade norte-americana perdeu sua própria mobilidade formidável e começa a se assemelhar cada vez mais às cansadas sociedades do Velho Mundo, onde já é muito mais fácil deslizar para baixo, do que subir rumo ao topo.
Apenas 4% dos norte-americanos da última geração pós-anos 1970, que hoje se tornou adulta, conseguiu subir alguns degraus na escala de renda e melhorar a sua própria situação em termos absolutos, de receita e de segurança, e em termos relativos, em comparação com as outras classes do censo. O instituto de pesquisas sociais Pew, que é o mais sério e equilibrado em matéria de demografia e de sociologia, concluiu com evidente amargura que o "sonho americano está vivo e goza de ótima saúde, mas apenas em Hollywood".

Na realidade cotidiana, já é um sucesso se as famílias e os indivíduos conseguem se manter na renda média nacional, que é hoje de 49.900 dólares anuais brutos, ou 40 mil euros. Um número que poderia parecer invejável a um assalariado italiano, mas que se torna muito mais pálido se depurado, além dos impostos, dos custo do seguro de saúde privado, dos impostos locais e imobiliários calculados sobre o valor de mercado das casas, dos transportes privados, indispensáveis na transumância cotidiana dos trabalhadores pendulares sem meios públicos.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

'QUE SE JODAN!': O ESCÁRNIO NEOLIBERAL

*Cuidado, tolos na pista: a SP do bangue bangue,onde quadrilhas e policiais disputam o recorde de chacinas e execuções, tem, ademais, um déficit habitacional de 800 mil moradias**no horário de pico os ônibus trafegam a 12 kms/h; velocidade equivalente a de uma galinha**o condomínio Serra/Kassab não construiu um palmo de faixa exclusiva para ônibus nos últimos 4 anos**neste domingo, à vontade como um lagarto de fraque, Serra pedalava para a foto tola em jornais tolos, alardeava recordes tolos de ciclovias e papagaiava mais uma tolice: 'a bicicleta de bambu'. Um colosso.

 

Funcionários públicos pediram a cabeça de Mariano Rajoy neste domingo, nas ruas de Madrid.  O premiê espanhol pertence ao Partido Popular, uma espécie de Demos no poder, vitaminado pelo neoliberalismo tucano e, como estes,  obcecado pelas 'reformas'. Herdeiro do franquismo, o PP exuda um conservadorismo político visceral e não hesita diante das tarefas cobradas pelo ajuste neoliberal.Mas vai além da frieza.Na 4ª feira da semana passada, a face catatônica do impenetrável Rajoy recitava  aos deputados do Congresso a lista de sacrifícios do mais virulento arrocho já vivido pela democracia espanhola. No  instante em que anunciava, paradoxalmente, uma redução no auxílio desemprego --'para evitar comodismo'--  uma deputada de seu partido, Andrea Fabra, não conteve o júbilo pela dupla punição e esgoelou diante  das câmeras: "Que se jodan!", enquanto os companheiros do PP aplaudiam. O vídeo de Andrea Fabra faz furor. Mas tem um antídoto tocante, na linguagem e nos valores. (LEIA MAIS AQUI)
(Carta Maior; 2ª feira/16/07/2012)
 
A Europa mantida com água ao nível do nariz
 

terça-feira, 10 de julho de 2012

Por que os Estados Unidos fracassaram

Os americanos estão muito mais para isso que para Bill Gates

Diário do Centro do Mundo
Paulo Nogueira*

Morris Berman, 67 anos, é um acadêmico americano que vale a pena conhecer.
Acabo de ler “Por Que os Estados Unidos Fracassaram”, dele. A primeira coisa que me ocorre é: tomara que alguma editora brasileira se interesse por este pequeno – 196 páginas — grande livro.

A questão do título é respondida amplamente. Você fecha o livro com uma compreensão clara sobre o que levou os americanos a um declínio tão dramático.

O argumento inicial de Berman diz tudo. Uma sociedade em que os fundamentos são a busca de status e a aquisição de objetos não pode funcionar.

Berman cita um episódio que viu na televisão. Uma mulher desabou com o rosto no chão em um hospital em Nova York. Ela ficou tal como caiu por uma hora inteira, sob indiferença geral, até que finalmente alguém se movimentou. A mulher já estava morta.

“O psicoterapeuta Douglas LaBier, de Washington, tem um nome para esse tipo de comportamento, que ele afirma ser comuníssimo nos Estados Unidos: síndrome da falta de solidariedade”, diz Berman. “Basicamente, é um termo elegante para designar quem não dá a mínima para ninguém senão para si próprio. LaBier sustenta que solidariedade é uma emoção natural, mas logo cedo perdida pelos americanos porque nossa sociedade dá foco nas coisas materiais e evita reflexão interior.”

Berman afirma que você sente no ar um “autismo hostil” nas relações entre as pessoas nos Estados Unidos. “Isso se manifesta numa espécie de ausência de alma, algo de que a capital Washington é um exemplo perfeito. Se você quer ter um amigo na cidade, como Harry Truman disse, então compre um cachorro.”


Berman
O americano médio, diz ele, acredita no “mito” da mobilidade social. Berman nota que as estatísticas mostram que a imensa maioria das pessoas nos Estados Unidos morrem na classe em que nasceram. Ainda assim, elas acham que um dia vão ser Bill Gates. Têm essa “alucinação”, em vez de achar um absurdo que alguém possa ter mais de 60 bilhões de dólares, como Bill Gates.

“Estamos assistindo ao suicídio de uma nação”, diz Berman. “Um país cujo propósito é encorajar seus cidadãos a acumular mercadorias no maior volume possível, ou exportar ‘democracia’ à base de bombas, é um navio prestes a afundar. Nossa política externa gerou o 11 de Setembro, obra de pessoas que detestavam o que os Estados Unidos estavam fazendo com os países delas. A nossa política (econômica) interna criou a crise mundial de 2008.”

A soberba americana é sublinhada por Berman em várias situações. Ele cita, por exemplo, uma declaração de George W Bush de 1988: “Nunca peço desculpas por algo que os Estados Unidos tenham feito. Não me importam os fatos.” Essa fala foi feita pouco depois que um navio de guerra americano derrubou por alegado engano um avião iraniano com 290 pessoas a bordo, 66 delas crianças. Não houve sobreviventes.

Berman evoca também a Guerra do Vietnã. “Como entender que, depois de termos matado 3 milhões de camponeses vietnamitas e torturado dezenas de milhares, o povo americano ficasse mais incomodado com os protestos antiguerra do que com aquilo que nosso exército estava fazendo? É uma ironia que, depois de tudo, os reais selvagens sejamos – nós.”

Você pode perguntar: como alguém que tem uma visão tão crítica – e tão justificada – de seu país pode viver nele?

A resposta é que Berman desistiu dos Estados Unidos. Ele vive hoje no México, que segundo ele é visceralmente diferente do paraíso do narcotráfico pintado pela mídia americana — pela qual ele não tem a menor admiração. “Mudei para o México porque acreditava que ainda encontraria lá elementos de uma cultura tradicional, e acertei”, diz ele. “Só lamento não ter feito isso há vinte anos. Há uma decência humana no México que não existe nos Estados Unidos.”

Clap, clap, clap.

Paulo Nogueira é jornalista e está vivendo em Londres. Foi editor assistente da Veja, editor da Veja São Paulo, diretor de redação da Exame, diretor superintendente de uma unidade de negócios da Editora Abril e diretor editorial da Editora Globo.


 O Esquerdopata

terça-feira, 24 de abril de 2012

Germinal, século 21

Matthieu, um trabalhador da construção civil de 31 anos que vive de contratos temporários, tenta entender porque os líderes europeus parecem estar mais concentrados em proteger as instituições financeiras do que em ajudar pessoas como ele.
A França tem uma imagem linda, afirmou em uma noite recente no estacionamento do Chateau de Vincennes. “Mas não é como nos países anglo-saxões. Lá, se você sabe fazer algo quando chega, você pode progredir. Esse é o sonho americano”, afirmou.
“Você nunca vai ouvir ninguém em nenhum lugar do mundo falando sobre o sonho francês”, acrescentou, observando uma fileira de motorhomes. “Não existem sonhos na França.”

Não leio nada sobre a França parecido a essa matéria do The New York Times desde que  devorei com os olhos o livro  Germinal de Émile Zola.
A ferocidade das minas de carvão é um nada diante da monstruosidade dos mercados financeiros.
O sonho americano demoliu, de fato, o sonho francês.
O liberté, fraternité, egalité foi devorado pela lógica do mercado e a França fraca e uma Inglaterra decrépita entregam a Europa à hegemonia alemã, como descreve o jornalista português Pedro Guerreiro:
A crise financeira reposicionou o poder no chamado eixo franco-alemão. E esse eixo pode agora passar a germano-francês. Pode? Pode. É isso que está escrito nas estrelas. Que a Alemanha mande na Europa pela primeira vez desde a segunda Guerra Mundial. Isso significará a transferência de riqueza dos países prósperos para os aflitos, uma política económica integrada, provavelmente mutualização da dívida: federalismo. É o que andamos a pedir, não é? É. Mas é preciso que os alemães estejam para isso. Que o ressentimento entre povos europeus o permita. E que os demais povos aceitem as regras dos alemães.
Estamos assistindo, 20 anos depois, o resultado da capitulação do pensamento de esquerda europeu à ditadura mental do neoliberalismo que o avassalou.
Os “Estados Unidos da Europa”, como o sonharam, desde o século XIX, os mais humanistas dos pensadores europeus – Victor Hugo à frente – converteram-se na União Europeia, em grande parte, pela ascensão ao poder de uma camada de dirigentes social-democratas (Soares, Mitterrand, González e os precursores Olof Palme e  Willy Brandt).
Mas a União Europeia, hoje, tornou-se um pastiche do que a sonhavam aqueles homens.
Tornou-se uma imperial ditadurado capital, aprisionando os países mais que numa moeda, numa política econômica única. E, como única, um irremovível obstáculo para soluções próprias, nacionais e, sobretudo, populares.
A receita é sempre a mesma e dificimente dela qualquer governo escapará: cortar centenas de milhares de empregos  públicos, aumentar  impostos, abaixar salários para recuperar a competitividade, reduzir aposentadorias, abolir a proteção contra demissões e – ah! – drenar dos países em desenvolvimento – via capital e via empresas – o sangue econômico que já não flui num continente exangue.
É verdade que Nicolas Sarckozy teve uma grande derrota, o primeiro presidente que, no poder, não vence o primeiro turno da reeleição.
Mas nada assegura a vitória de François Hollande, do PS, no segundo turno, ainda mais porque o resultado da extrema-direita vai intimidar o seu enfrentamento em questões como a imigração.
Sobretudo, nada assegura que seja uma vitória para mudar.
Porque não é possível mudar dentro de um contexto onde as imposições do mercado – travestidas de políticas continentais – obriga governantes a serem sempre iguais.
E nada indica que aEuropa, tão cedo, vá deixar a estagnação econômica e a crise social.
Ela é uma panela de pressão, onde as eleições funcionam como uma válvula, apenas.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A esquerda mundial após 2011

A questão para a esquerda mundial é como avançar e converter o sucesso do discurso inicial em transformação política. O problema pode ser exposto de maneira muito simples. Ainda que exista, em termos econômicos, um abismo claro e crescente entre um grupo muito pequeno (o 1%) e outro muito grande (os 99%), a divisão política não segue o mesmo padrão. As forças de centro-direita ainda comandam cerca de metade da população mundial, ou pelo menos daqueles que são politicamente ativos de alguma forma. O artigo é de Immanuel Wallerstein.

(*) Publicado originalmente em português no site Outras Palavras.

Por qualquer ângulo, 2011 foi um bom ano para a esquerda mundial – seja qual for a abrangência da definição de cada um sobre ela. A razão fundamental foi a condição econômica negativa, que atinge a maior parte do mundo. O desemprego, que era alto, cresceu ainda mais. A maioria dos governos enfrentou grandes dívidas e receita reduzida. A resposta deles foi tentar impor medidas de austeridade contra suas populações, ao mesmo tempo em que tentavam proteger os bancos.

O resultado disso foi uma revolta global daquilo que o movimento Occuppy Wall Street chama de “os 99%”. Os alvos eram a excessiva polarização da riqueza, os governos corruptos e a natureza essencialmente antidemocrática desses governos – tenham eles sistemas multipartidários ou não.

O Occuppy Wall Street, a Primavera Árabe e os Indignados não alcançaram tudo o que esperavam. Mas conseguiram alterar o discurso mundial, levando-o para longe dos mantras ideológicos do neoliberalismo – para temas como desigualdade, injustiça e descolonização. Pela primeira vez pessoas comuns passaram a discutir a natureza do sistema no qual vivem. Já não o veem como natural ou inevitável…

A questão para a esquerda mundial, agora, é como avançar e converter o sucesso do discurso inicial em transformação política. O problema pode ser exposto de maneira muito simples. Ainda que exista, em termos econômicos, um abismo claro e crescente entre um grupo muito pequeno (o 1%) e outro muito grande (os 99%), a divisão política não segue o mesmo padrão. Em todo o mundo, as forças de centro-direita ainda comandam aproximadamente metade da população mundial, ou pelo menos daqueles que são politicamente ativos de alguma forma.

Portanto, para transformar o mundo, a esquerda mundial precisará de um grau de unidade política que ainda não tem. Há profundos desacordos tanto sobre a objetivos de longo prazo quanto sobre táticas a curto prazo. Não é que esses problemas não estejam sendo debatidos. Ao contrário, são discutidos acaloradamente, e pouco progresso tem sido feito para superar essas divisões.

Essas discordâncias são antigas. Isso não as torna fáceis de resolver. Existem duas grandes divisões. A primeira é em relação a eleições. Não existem duas, mas três posições a respeito. Existe um grupo que suspeita profundamente de eleições, argumentando que participar delas não é apenas politicamente ineficaz, mas reforça a legitimidade do sistema mundial existente.

Os outros acham que é crucial participar de processos eleitorais. Mas esse grupo está dividido em dois. Por um lado, existem aqueles que afirmam ser pragmáticos. Eles querem trabalhar de dentro – dentro dos maiores partidos de centro-esquerda quando existe um sistema multipartidário funcional, ou dentro do partido único quando a alternância parlamentar não é permitida.

E existem, é claro, os que condenam essa política de escolher o mal menor. Eles insistem que não existe diferença significativa entre os principais partidos e são a favor de votar em algum que esteja “genuinamente” na esquerda.

Todos estamos familiarizados com esse debate e já ouvimos os argumentos várias vezes. No entanto, está claro, pelo menos para mim, que, se não houver algum acordo entre esses três grupos em relação às táticas eleitorais, a esquerda mundial não tem muita chance de prevalecer a curto ou a longo prazo.

Acredito que exista uma forma de reconciliação. Ela consiste em fazer uma distinção entre as táticas de curto prazo e as estratégias a longo prazo. Concordo totalmente com aqueles que argumentam que obter poder estatal é irrelevante para as transformações de longo prazo do sistema mundial – e possivelmente as prejudica. Como uma estratégia de transformação, foi tentada diversas vezes e falhou.

Isso não significa que participar nas eleições seja uma perda de tempo. É preciso considerar que uma grande parte dos 99% está sofrendo no curto prazo. Esse sofrimento é sua preocupação principal. Tentam sobreviver e ajudar suas famílias e amigos a sobreviver. Se pensarmos nos governos não como agente potencial de transformação social, mas como estruturas que podem afetar o sofrimento a curto prazo, por meio de decisões políticas imediatas, então a esquerda mundial se verá obrigada a fazer o que puder para conquistar medidas capazes de minimizar a dor.

Agir para minimizar a dor exige participação eleitoral. E o debate entre os que propõem o menor mal e os que propõem apoiar partidos genuinamente de esquerda? Isso torna-se uma decisão de tática local, que varia enormemente de acordo com vários fatores: o tamanho do país, estrutura política formal, demografia, posição geopolítica, história política. Não há uma resposta padrão. E a resposta para 2012 também não irá necessariamente servir para 2014 ou 2016. Não é, pelo menos para mim, um debate de princípios. Diz respeito, muito mais, à situação tática de cada país.

O segundo debate fundamental presente na esquerda é entre o desenvolvimentismo e o que pode ser chamado de prioridade na mudança da civilização. Podemos observar esse debate em muitas partes do mundo. Ele está presente na América Latina, nos debates fervorosos entre os governos de esquerda e os movimentos indígenas – por exemplo na Bolívia, no Equador, na Venezuela. Também pode ser acompanhado na América do Norte e na Europa, nos debates entre ambientalistas/verdes e os sindicatos, que priorizam manutenção dos empregos já existentes e a expansão da oferta de emprego.

De um lado, a opção desenvolvimentista, apoiada por governos de esquerda ou por sindicatos, sustenta que, sem crescimento econômico, não é possível enfrentar as desigualdades econômicas do mundo de hoje – tanto as que existem dentro de cada país quanto as internacionais. Esse grupo acusa o oponente de apoiar, pelo menos objetivamente e talvez subjetivamente, os interesses das forças de direita.

Os que apoiam a opção antidesenvolvimentista dizem que o foco em crescimento econômico está errado em dois aspectos. É uma política que leva adiante as piores características do sistema capitalista. E é uma política que causa danos irreparáveis – sociais e ambientais.

Essa divisão parece ainda mais apaixonada, se é que é possível, do que a divergência sobre a participação eleitoral. A única forma de resolver isso é com compromissos, diferentes em cada caso. Para fazer com que isso seja possível, cada grupo precisa acreditar na boa fé e nas credenciais de esquerda do outro. Isso não será fácil.

Essas diferenças poderão ser superadas nos próximos cinco ou dez anos? Não tenho certeza. Mas se não forem, não acredito que a esquerda mundial possa ganhar, nos próximos 20 ou 40 anos, a batalha fundamental. Nela definir-se-á que tipo de sistema sucederá o capitalismo, quando este sistema entrar definitivamente em colapso.

Tradução: Daniela Frabasile

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

OCDE: Desigualdade de renda cai no Brasil e sobe nos países ricos

 


Novo estudo da insuspeita organização, que reúne países ricos e emergentes como o México, reconhece importância do Estado para "enfrentar" mercado e reduzir diferença de renda entre as pessoas, defende que ricos paguem mais impostos e ainda pede elevação das taxas sobre propriedade e riqueza. Apesar do avanço na última década, Brasil segue entre os campeões de desigualdade.

São Paulo – A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), clube que reúne países ricos e emergentes como México, divulgou segunda-feira (5) um compêndio sobre a evolução da desigualdade de renda no mundo. O estudo “Permanecemos divididos: por que a desigualdade segue aumentando” traz três conclusões importantes:

1) A diferença da renda recebida pelos trabalhadores da OCDE aumentou na maioria dos países do grupo para o maior nível em 30 anos;

2) Na contramão, o Brasil – que não é membro da OCDE, mas também foi analisado – registrou queda da desigualdade nos últimos anos;

3) Não fosse a ação dos Estados através de suas políticas sociais, o buraco entre ricos e pobres seria muito mais profundo.

O estudo da OCDE aponta que mesmo países reconhecidos por sua igualdade, como Alemanha, Dinamarca e Suécia, enfrentam processos de concentração econômica. Nessas nações, a média da renda dos 10% mais ricos em relação àquela dos 10% mais pobres saltou de cinco para seis vezes, dos anos oitenta para cá – ou seja, a concentração aumentou 20%.

A desigualdade subiu também em países como Itália, Japão, Coréia e Reino Unido, que atingiram uma taxa de dez para um. Na direção oposta, o México assistiu a um recuo das diferenças de renda, mas continua sendo o mais desigual da OCDE – os mexicanos mais ricos ganham 27 vezes a mais do que os mais pobres.

Já o Brasil é um caso a parte. Apesar do recuo da desigualdade desde o final da década de noventa, em torno de 8,5%, os 10% mais ricos recebem em média 50 vezes mais do que a renda dos mais pobres. Entre as nações analisadas, o país só é batido pela África do Sul, onde a herança do apartheid mantém essa relação em 61 para um.

Causas e conseqüências
De acordo com a OCDE, a principal razão para a desigualdade de renda nos países do bloco é o aumento das diferenças salariais entre os trabalhadores.

A acelerada evolução tecnológica abre mais vagas para os altamente qualificados e impulsiona a elevação do salário deles, enquanto os trabalhadores com menos anos de estudos mantêm remuneração estagnada.

"Não há nada inevitável quando se fala de desigualdade", disse o mexicano Angel Gurría, secretário-geral da OCDE, na conferência à imprensa.

"Nosso relatório indica claramente que aperfeiçoamento profissional da força de trabalho é de longe o mais poderoso instrumento para combater a alta desigualdade de renda. O investimento nas pessoas deve começar na primeira infância e ser mantido na educação formal e no trabalho", completou.

A aposta na educação pode ter um viés ideológico, mas também é pragmática. A OCDE reconhece que desde os anos noventa os países do bloco reduziram benefícios sociais pagos aos trabalhadores e apertaram as regras de elegibilidade para conter gastos públicos.

Reverter isso no atual momento da crise financeira internacional parece um caminho improvável diante das medidas já tomadas em países com Grécia, Portugal e Itália.

Mas a organização não descarta a importância estatal no combate à desigualdade. Para reforçar esse papel, defende novas políticas fiscais para que os ricos paguem mais impostos, que sejam eliminadas deduções tributárias e reavaliados as taxas sobre propriedade e riqueza.

‘Saberes’ dos Republicanos-EUA (que chegam, de segunda mão, ao Grupo GAFE – Globo-Abril-Folha-Estadão):Como falar de/sobre/com Occupy Wall Street

1/12/2011, Chris Moody, The Ticket (Opednews) – http://www.opednews.com/populum/linkframe.php?linkid=142167
LEGENDA: Protesters form a wall of signs at the Occupy Portland camp in downtown Portland, Oregon. (AP)

ORLANDO, Fla. – A Associação de Governadores Republicanos reuniu-se essa semana na Florida, num treinamento para dirigentes e quadros de PR (‘relações públicas’ e ‘marketeiros’ em geral) e jornalistas alinhados com o Partido Republicano) que visa a rejuvenescer e tornar ‘estratégicos’ os discursos do grupo. Na sessão plenária da 4ª-feira, contudo, uma questão dominou todos os trabalhos: “Como melhorar os discursos dos Republicanos (e do Grupo GAFE – Globo-Abril-Folha-Estadão, em São Paulo) quando falam de/sobre/com Occupy Wall Street?”

“Estou muito assustado com essa onda, dentro do Partido, contra o movimento Wall Street. Estou morto de medo” – disse Frank Luntz, estrategista e marketeiro Republicano e uma das estrelas, nos EUA, da carpintaria de discursos políticos e de campanha eleitoral, para construir e distribuir mensagens políticas ‘perfeitas’. – “A verdade é que Occupy Wall Street está conseguindo mudar o que o americano médio pensa do capitalismo. Temos de reagir imediatamente”.

Luntz deu algumas ‘dicas’ de como os Republicanos devem discutir as reivindicações dos Ocupantes, para ajudar os governadores e políticos Republicanos e os jornalistas alinhados aos Republicanos a enfrentar questões novas para eles, como “desigualdade”, “exploração” e “injusta distribuição da riqueza de todos”.

Yahoo News assistiu a essa sessão e reuniu 10 ‘dicas’ de “sempre diga” e “jamais diga” sugeridos por Luntz, em sua ‘aula’ de como os Republicanos (e o Grupo GAFE – Globo-Abril-Folha-Estadão, em São Paulo) devem falar, nas discussões de/sobre/com o Movimento Occupy Wall Street.
1. Jamais utilize a palavra “capitalismo”“Estou tentando remover totalmente a palavra “capitalismo” dos discursos do Partido (o Grupo GAFE – Globo-Abril-Folha-Estadão, em São Paulo, teve a mesma ideia!), e substituí-la por “liberdade econômica” ou “livre concorrência” ou “livre mercado” – disse Luntz. “O público aind usa a palavra “capitalismo”, mas, hoje, muitos pensam no capitalismo como coisa imoral. Se os Republicanos (e o Grupo GAFE – Globo-Abril-Folha-Estadão, em São Paulo) passarmos a ser vistos como defensores de Wall Street... teremos problemas eleitorais.”2. Jamais diga que os impostos “taxam os ricos”. Diga que os impostos “sacrificam os ricos”“Se se fala de ‘impostos sacrificam os ricos’, o público responde favoravelmente” – alertou Luntz. – Não digam que os impostos sacrificam os trabalhadores, porque o público discordará de vocês. Mas se disserem que os ricos são sacrificados, o grande público concordará com vocês.” 3. Digam sempre “trabalhadores contribuintes”“Os Republicanos jamais vencerão a disputa, se se puserem contra os “trabalhadores contribuintes”. O público não acreditará, se dissermos que defendemos “a classe média”. Para aumentar nossa vantagem, temos de dizer que defendemos “os trabalhadores contribuintes”.4. Jamais fale de “empregos”. Fale sempre de “carreiras”“Todos, nessa sala, falam de ‘empregos’ – disse Luntz. Em seguida, pediu que todos os que desejassem um “emprego” levantassem a mão. Poucos se manifestaram. Em seguida pediu que levantassem a mão os que desejassem uma “carreira”. Praticamente todos os presentes levantaram a mão. “Estão vendo? Até os desempregados, podendo escolher, preferirão “carreiras” a “empregos”.

5. Não falem de “investimentos do governo”. Digam sempre “dinheiro mal administrado”, “dinheiro mal gasto” ou “desperdício” Jamais digam “investimentos do governo”. A palavra tem de ser, sempre, “gastos”. E o problema é o “desperdício”. O público apoia que o governo invista, mas fica furioso se ouve falar de “gastos” e “desperdício”.6. Jamais diga que você fará “concessões” “Se vocês falam de fazer ‘concessões’, estão dizendo que cederão, que entregarão os pontos. Nossos eleitores não querem nos ver nessa posição. Em vez de dizer que farão ‘concessões’, digam que vocês ‘colaborarão’ para algum acordo. Significa quase a mesma coisa, Mas ‘colaboração’ sugere que você conseguirá o que quer, sem mudar de posição. ‘Fazer uma concessão’ significa que você mudou de posição e abriu mão de princípios.” 7. As duas palavras mais importantes, que se devem repetir o mais possível, em discussões de/sobre/com o Movimento Occupy, são “Entendo perfeitamente” “A fórmula é repetir sempre ‘Entendo perfeitamente...’ (que vocês estejam zangados). ‘Entendo perfeitamente” (que vocês protestem contra a desigualdade). ‘Entendo perfeitamente’ que vocês queiram consertar o sistema.”

Em seguida – ensinou o especialista – “ofereçam soluções do Partido Republicano, uma solução para cada problema”.
8. Palavra proibida: “Empreendedor”; troque-a por “criador de empregos” Fale de “lojistas”, “pequenos comerciantes” e “criadores de empregos, em vez de “empresários”, “empreendedores” e “inovadores”. 9. Não peça “sacrifícios” a ninguém“Não há um norte-americano hoje, em novembro de 2011, que não sinta que já fez todos os sacrifícios possíveis. Se você lhe pedir mais “sacrifícios”, você só o enfurecerá ainda mais. Repita sempre que: “estamos juntos nessas dificuldades. Venceremos juntos ou fracassaremos juntos.” 10. Culpe Washington (Brasília). O governo Obama (Dilma) é culpado de tuuuuuuuuuuudo!Diga ao Movimento Occupy: “Estão perdendo tempo ocupando Wall Street. Vocês deveriam estar ocupando Washington (Brasília). Ocupem a Casa Branca (o Palácio do Planalto), porque as políticas que saem ‘de lá! De lá! De láááá!’ [como guinchava o ex-Bob Jefferson, tambiqueiro ‘ético’, quando trabalhava com o Grupo GAFE – Globo-Abril-Folha-Estadão, para construir a farsa do ‘mensalão’] são a causa de todas as nossas dificuldades.BÔNUS:Nunca mais pronunciem ou escrevam a palavra “bônus”! Luntz aconselhou que sempre que os Republicanos façam pagamentos extras a seus empregados, a título de recompensa de fim de ano (ou a qualquer título), jamais pronunciem a palavra “bônus”. “Se distribuírem bônus aos seus empregados no final do ano, em tempos de graves dificuldades, só conseguirão enfurecer ainda mais o eleitorado. Digam sempre ‘recompensa por desempenho’ ou ‘prêmio por produtividade’.”