Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 18 de junho de 2013

SATURAÇÃO E PROJETO

 *MILHARES PROTESTAM EM 11 CAPITAIS DO PAÍS**AS RUAS REQUISITAM  UMA NOVA AGENDA POLÍTICA PARA O BRASIL** LULA QUER NEGOCIAÇÃO EM SP** MANIFESTANTES OCUPAM PARTE DO CONGRESSO E TENTAM INVADIR O PALÁCIO DOS BANDEIRANTES  EM SP**NOVO PROTESTO DEVE OCORRER NESTA  4ª FEIRA, NA PRAÇA DA SÉ 
(leia as reportagens e análises nesta pág)
A resposta é mais democracia 
 (leia mais aqui)
 


A rapidez e a abrangência dos acontecimentos em marcha turvam
 a compreensão mais geral do que se passa no país. O que se viu nas últimas horas espraiou estupefação e perplexidade nas diferentes dimensões da vida política e partidária. Em 11 capitais, dezenas de milhares aderiram aos protestos. Os 20 centavos que motivaram a mobilização inicial em São Paulo, no dia 6 de junho, tornaram-se ainda mais irrisórios diante da abrangência e da intensidade do que se vê 12 dias depois. O que está em jogo é muito mais do que caraminguás. As ruas requisitam uma nova agenda política para o Brasil. Não significa desqualificar conquistas e avanços preciosos dos últimos anos. Mas a história apertou o passo. Talvez até porque a musculatura do percurso agora o permite. As instituições e canais de escuta não souberam  interpretar o vapor acumulado nessa marcha batida. Um viés economicista pretendeu resolver na base da macroeconomia  -à frio--  aquilo que pertence ao apanágio da democracia: as escolhas do futuro e o sacrifício do presente.  A liderança do processo brasileiro está em aberto. Hoje, ninguém é de ninguém. A ausência de uma plataforma capaz de dar unidade e coerência a aspirações fragmentadas e avulsas pode asfixiar o que as ruas tentam dizer. Na Espanha, a vitória eleitoral do ultra-conservadorismo, em 2011, só foi possível porque a abstenção, sobretudo jovem,  atingiu proporções epidêmicas no berço mundial dos indignados. A exemplo do que ocorreu na Espanha, nos EUA e, mais recentemente, na Itália , em algum momento os indignados brasileiros serão chamados a refletir - talvez precocemente - sobre as escolhas do poder. O poder de Estado. Os compromissos que a luta pelo poder impõe. A impossibilidade de ignorá-la; e, sobretudo, a escolha da melhor estra
tégia para pautar o seu exercício,  a cada movimento da história.(LEIA MAIS AQUI)



Uma noite daquelas

Os acontecimentos desta segunda mudaram a conjuntura. Nos próximos meses, as multidões serão, ao que tudo indica, atores centrais na cena política. Mas ainda não está claro para onde este vulcão popular direcionará suas energias. Por Gilberto Maringoni


São Paulo – A noite desta segunda-feira (17) tem tudo para entrar na História.

Talvez nos próximos dias tenhamos mais clareza do que está acontecendo no país. Não é sempre que multidões irrompem no centro da cena política com exuberância e pique.

Não se via nada parecido desde as marchas pelas Diretas Já, em 1984.

Mas se a campanha que culminou em abril daquele ano conheceu um crescendo iniciado seis meses antes, com um pequeno protesto na praça Charles Miller em São Paulo, a jornada atual teve início há menos de duas semanas.

Explosão popular
Até terça (11), as movimentações reuniam poucos milhares de jovens em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Curitiba, Maceió e Porto Alegre. A bandeira era clara: contra o aumento de tarifas. Os atos foram violentamente castigados por truculentas ações policiais.

Só depois da repressão paulistana, na quinta-feira (13), houve a expectativa de que algo maior poderia acontecer. E esta segunda feira superou todas as expectativas.

Há agora um movimento nacional, ainda sem direção clara, que colhe reverberações até em colônias de brasileiros no exterior.

O móvel imediato de luta seria o aumento das passagens de transporte público em algumas metrópoles. Mas não em todas. Em Brasília, por exemplo, palco de formidável mobilização, não é essa a pauta.

Se formos analisar a situação de forma empírica, vamos verificar que nenhum indicador objetivo conseguiu captar o descontentamento que se espalha.

Pesquisas e economia
As pesquisas de opinião que aferiram uma perda de popularidade do governo federal, há dez dias, não atestaram nada de excepcional. Apesar de expressiva, a queda de oito pontos deixa a mandatária com patamares de aceitação extremamente altos.

O recuo nos índices de emprego não são tão fortes a ponto de acenderem a luz amarela do governo. No campo da macroeconomia, há nuvens carregadas no horizonte, que se traduzem na tendência de um PIB medíocre ao final do ano. Mas o consumo segue em alta e não há, aparentemente, uma percepção generalizada de que estamos nas bordas de uma crise.

O que desandou foram as expectativas. Contudo, seria subjetivismo demais afirmar que centenas de milhares de pessoas foram às ruas e enfrentaram as forças de segurança por força de expectativas sombrias para o médio prazo.

Limites do Lulismo
Há um descontentamento crescente com as obras da Copa, que ganharam visibilidade com o início da Copa das Confederações. Arenas faraônicas, que logo serão elefantes brancos, como o estádio Mané Garrincha, geram desconforto. Isso se dá especialmente quando comparadas às carências em serviços públicos, como transporte, saúde, educação e assistência social (aliás, uma das mais criativas faixas vistas na manifestação de São Paulo era “Seu filho ficou doente? Leve-o para o estádio”).

É possível que insatisfação com a má qualidade dos serviços públicos tenha peso relevante na ira popular. E talvez estejamos vendo os limites do chamado lulismo.

Há uma pista numa das peças publicitárias montadas pelos marqueteiros de Fernando Haddad.

Um dos anúncios de campanha dizia mais ou menos assim: “Com Lula, você tem TV, carro, casa, geladeira e eletrodomésticos. Da porta para dentro de casa, a vida mudou. Da porta para fora, a situação ainda não mudou”.

Serviços de má qualidade
O “da porta para fora” refere-se aos serviços públicos detonados, às horas perdidas em transportes caros e de péssima qualidade, às escolas públicas carentes de materiais e de professores motivados e às debilidades da saúde pública, sem contar com um crescente clima de insegurança pública nas metrópoles.

Ou seja, o lulismo – como já analisado por André Singer – aumentou a capacidade de consumo de setores que estavam praticamente à margem do mercado, mas não ampliou significativamente o acesso a direitos básicos de cidadania.

Se for isso, a pauta é ótima para quem deseja a mudança social. Existe legitimidade para transformações mais profundas do que as realizadas nos últimos anos, como a recuperação do valor do salário mínimo, a elevação do nível de emprego e políticas sociais focadas.

Pode ser que a pressão popular abra espaço para uma real distribuição de renda.

Quadro em disputa
Mas as mobilizações estão em disputa. A pauta da direita resume-se a dizer que as movimentações têm como causa a corrupção e o governo Dilma, como aponta a inacreditável revista ‘Veja’, em capa desta semana.

Os diversos grupos “movimentistas” e anarquistas protestam contra a presença de partidos políticos nas concentrações e focam toda a energia na revogação dos aumentos ou na tarifa zero. Mas são avessos a qualquer tentativa de organização do formidável impulso cívico desatados nos últimos dias.

O Brasil melhorou em vários aspectos nos últimos dez anos, mas a natureza continua a ser devastada, o caos toma conta das cidades, a reforma agrária não anda, a grande mídia associou-se ao governo federal, o setor financeiro segue exigindo radicalização na ortodoxia econômica e a gestão Dilma toca firme sua fé privatista.

O fato é que o movimento despertou energias que nem mesmo seus organizadores imaginavam existir.

Declaração ao mundo
Aliás, a presidenta deu mostras de perplexidade e opção preferencial pelo óbvio com a bombástica revelação que fez ao mundo na noite de segunda-feira: "As manifestações pacíficas são legítimas e são próprias da democracia. É próprio dos jovens se manifestarem”.

Em São Paulo, Fernando Haddad comporta-se como um político de horizontes limitados. Optou por fingir-se de morto no dia das manifestações.

Geraldo Alckmin, responsável pela truculência policial, fez um lance ousado e retirou o policiamento ostensivo das ruas. Deixou a tropa de choque aquartelada e colocou a cidade quase literalmente nas mãos dos manifestantes. Tudo podia acontecer, inclusive nada. Foi o que se deu. Não há notícia de nenhuma depredação ou ato de vandalismo de monta nessa noite, em São Paulo. Nisso, agiu de forma diversa de governantes como Sergio Cabral, Agnelo Queiroz e Tarso Genro, que botaram a tropa na rua.

Os acontecimentos desta segunda mudaram a conjuntura. Nos próximos meses, as multidões serão, ao que tudo indica, atores centrais na cena política. Mas ainda não está claro para onde este vulcão popular direcionará suas energias. (De uma conversa com Artur Araújo, sem responsabilidade alguma da parte dele)


Fotos: EBC 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O FUNDAMENTAL NESTA HORA: REFORÇAR OS ESPAÇOS DEMOCRÁTICOS DE DIÁLOGO


 *A resposta é mais democracia  (leia mais aqui) 

A denominada "crise da representação" não é um conceito acadêmico abstrato. O déficit de democracia e de legitimidade das Instituições políticas colocam em xeque a capacidade dos atuais representantes em absorver e compreender as novas dinâmicas sociais e políticas que se expressam nas ruas do país. Nossa jovem democracia corre o risco de caducar precocemente, caso não tenhamos êxito em ressignificá-la e reaproximá-la dos setores sociais mais dinâmicos. Por fim, cumpre registrar que seria recomendável aos dirigentes políticos do campo progressista afastar o risco de reproduzir aqui os erros da esquerda espanhola que, inicialmente, criminalizou o 15-M e terminou falando sozinha nas últimas eleições. Também seria recomendável não outorgar, de forma alguma, às elites brasileiros uma capacidade de mobilização que ela não possui e jamais possuirá. Refutar a ideia
de que os jovens estão nas ruas em função da mídia ou de qualquer tipo de conspiração das "elites" é o primeiro passo para não cair em um erro elementar que seria bloquear qualquer possibilidade de dialogo com esses novos movimentos. Melhor acreditar que é possível extrair do atual momento elementos para a renovação da agenda da esquerda brasileira e reforçar os laços que unem os governos progressistas da AL a todas as lutas contra as diversas formas de privatização da vida. É hora de reforçarmos a nossa capacidade de  diálogo, de escuta, e ouvir a voz nada rouca das ruas - a mesma que nossos adversários sempre buscaram silenciar. Estamos diante de uma oportunidade singular para renovarmos nossos discursos e nossas práticas, projetando o próximo passo da Revolução Democrática no Brasil com base na força sempre renovadora das mobilizações da juventude. (Vinicius Wu, Secretário-geral do governo do RS; leia a íntegra nesta pág)



Sobre o que dizem as ruas



Seria recomendável aos dirigentes políticos do campo progressista afastar o risco de reproduzir aqui os erros da esquerda espanhola que, inicialmente, criminalizou o 15-M e terminou falando sozinha nas últimas eleições. Também seria recomendável não outorgar, de forma alguma, às elites brasileiras uma capacidade de mobilização que ela não possui. Refutar a ideia de que os jovens estão nas ruas em função da mídia ou de qualquer tipo de conspiração das "elites" é o primeiro passo para não cair em um erro elementar. Por Vinicius Wu.

  • A forma menos adequada de buscarmos a compreensão de um fenômeno social complexo é a simplificação. Não encontraremos uma única motivação para os recentes protestos que se espalharam pelas principais cidades do país, se o procurarmos. Temos questões mais gerais e universais ao lado de outros muitos temas locais e setoriais. Há aspectos que aproximam os manifestantes de São Paulo aos do Rio e de Porto alegre e, outros tantos, que os distanciam. 

O papel da internet e das redes sociais é central e, em geral, os políticos e formadores de opinião não o tem compreendido minimamente. Buscar algum grau de compreensão do atual fenômeno, a partir do ponto de vista de uma esquerda que se coloca diante do dificílimo desafio de governar transformando, é o objetivo desse breve artigo. 

O que se pode dizer preliminarmente é que estamos diante de uma expressão política do novo Brasil. A revolução democrática, levada a termo pelos governos Lula, redefiniu a estrutura de classes da sociedade brasileira, incluiu milhões de brasileiros à sociedade de consumo e possibilitou a emergência de novas expressões culturais e políticas. Mas o inédito processo de inclusão social e econômica ainda é imperfeito, inconcluso e contraditório. As dinâmicas políticas decorrentes do processo massivo de inclusão social em curso ainda são imprevisíveis, mas algumas pistas são visíveis e exigem da esquerda brasileira uma reflexão mais adensada.

As conquistas sociais dos últimos anos vieram acompanhadas da despolitização da política, de uma onda conservadora que constrange o Congresso Nacional e paralisa os partidos de esquerda, distanciando, ainda mais, a juventude da política tradicional. Lembremos que, recentemente, tivemos manifestações espontâneas, em todo o país, contra a indicação de Marcos Feliciano à Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional. Na oportunidade, nenhum manifestante propunha o fechamento do Congresso ou a criminalização dos políticos. E o que fez nosso Parlamento enquanto Instituição? Nada. Esperou solenemente o movimento se dispersar. Frente à onda conservadora que estimula a homofobia, o racismo e a violência sexista, o que têm feito os partidos políticos? Os ruralistas de sempre se organizam no Congresso Nacional para anular os direitos dos indígenas e o que dizem nossos parlamentares progressistas?

Os dez anos de governo de esquerda no país nos deixam um legado de grandes conquistas, entretanto, há incerteza e imprecisão quanto aos próximos passos. Demandas históricas não atendidas carecem de respostas mais amplas. Além disso, novas questões sempre se impõem num cenário de conquistas sociais e políticas. Pois, se é verdade que os governos do PT incluíram milhões e possibilitaram acesso a inúmeros serviços antes inacessíveis, também é verdade que temos, em diversas áreas, serviços de baixa qualidade e, fundamentalmente, caros. 

O transporte nas grandes cidades é um drama cotidiano para milhões de brasileiros. Temos pleno emprego em diversas regiões metropolitanas do país e, no entanto, ainda temos um oceano de precariedade e informalidade. E aqueles que ingressaram na sociedade de consumo nos últimos anos, legitimamente, querem mais: anseiam por cultura, lazer, mais e melhores serviços, educação de qualidade, saúde, segurança e transportes. São os efeitos colaterais de toda experiência exitosa de redução das desigualdades sociais e econômicas.

Evidentemente, há ainda o afastamento e o desencantamento com a política e os políticos. A denominada "crise da representação" não é um conceito acadêmico abstrato. O déficit de democracia e de legitimidade das Instituições políticas colocam em xeque a capacidade dos atuais representantes em absorver e compreender as novas dinâmicas sociais e políticas que se expressam nas ruas do país. Nossa jovem democracia corre o risco de caducar precocemente, caso não tenhamos êxito em ressignificá-la e reaproximá-la dos setores sociais mais dinâmicos.

Essas seriam algumas das questões mais gerais que aproximam os movimentos do Sul, sudeste e nordeste. Mas há ainda temas locais que incidem sobre dinâmicas especificas e mobilizam pessoas a partir de questões mais sensíveis a partir de sua vivência concreta nos territórios.

O Rio de Janeiro, por exemplo, se tornou uma das cidades mais caras do mundo. Há uma reorganização em grande escala do espaço urbano e há setores sociais que se sentem completamente alheios (e marginalizados) ao processo de "modernização" da cidade. Em São Paulo, temos uma polícia orientada para o uso desmedido e desproporcional da força e da violência – e isso não diz respeito somente aos dias de protestos. Também há ali um tipo de violência estrutural contra homossexuais e mulheres sem que o Poder Público organize qualquer resposta mais contundente. Poderíamos estender a lista. 

Por fim, cumpre registrar que seria recomendável aos dirigentes políticos do campo progressista afastar o risco de reproduzir aqui os erros da esquerda espanhola que, inicialmente, criminalizou o 15-M e terminou falando sozinha nas últimas eleições. Também seria recomendável não outorgar, de forma alguma, às elites brasileiras uma capacidade de mobilização que ela não possui e jamais possuirá. Refutar a ideia de que os jovens estão nas ruas em função da mídia ou de qualquer tipo de conspiração das "elites" é o primeiro passo para não cair em um erro elementar que seria bloquear qualquer possibilidade de dialogo com esses novos movimentos. 

Melhor acreditar que é possível extrair do atual momento elementos para a renovação da agenda da esquerda brasileira e reforçar os laços que unem os governos progressistas da América Latina a todas as lutas contra as diversas formas de privatização da vida. É hora de reforçarmos nossa capacidade de dialogo, de escuta, e ouvir a voz nada rouca das ruas – a mesma que nossos adversários sempre buscaram silenciar. Estamos diante de uma oportunidade singular para renovarmos nossos discursos e nossas práticas, projetando o próximo passo da Revolução Democrática no Brasil com base na força sempre renovadora das mobilizações da juventude.

(*) Secretário-geral do governo do Estado do Rio Grande do Sul

sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Rio não merece o Copa. A fúria da Quatrocentona

O Copa ficaraia melhor na Barão de Limeira, atrás do Minhocão


Este Conversa Afiada sempre disse que a elite de São Paulo é separatista.

Remember 1932, quando Frias e Mesquitas pegaram em bazucas para derrubar Vargas.

Especialmente separatista é o ” new money”, que a Folha (*) encarna.

O “new money” costuma ter mais raiva que o “old money”, de fúrias mais cristalizadas.

O Mino diz que a elite de São Paulo é a pior do Brasil.

Ou, pelo menos, pensa o ansioso blogueiro, a mais despudorada.

A Folha desta sexta-feira abre o jogo.

E publica uma elegia ao separatismo.

No exato momento em que cai a participação de São Paulo no PIB.

E os salários pagos no Rio são maiores que os de São Paulo.

A autora da elegia separatista é uma notável Quatrocentona paulistana, de sólidas raízes na Aristocracia cafeeira:

Leia na pág. C2, de Barbara Vidigal Bueno Gancia: “O Rio não merece o Copacabana Palace”.

Os turistas que o Rio recebe são de duas estrelas.

De cima é esplendoroso, de baixo, aterrorizante.

A única coisa que presta no Rio é o Fasano (porque é paulista, também quatrocentão…).

No Rio, os prédios desabam.

O único que fica de pé é o Copa (por enquanto).


Paulo Henrique Amorim


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Significado para a democracia, das manifestações populares

ATENÇÃO:
O artigo abaixo não é nenhuma Brastemp, mas, pelo menos, o pessoal da Universidade lááááá, em Port Elizabeth, láááááá na África do Sul, ESTÁ TRABALHANDO na internet, distribuindo pensamento aproveitável, né-não?!

Bert Olivier é professor de filosofia na Universidade Metropolitana Nelson Mandela, em Port Elizabeth, África do Sul

Há alguma justiça histórica em a revista TIME ter escolhido, como “Pessoa do Ano de 2011: O Que Protesta (com subtítulo: “da Primavera Árabe a Atenas, de Occupy Wall Street a Moscou”). O que o editor Richard Stengel escreve, à página 7 da edição de 26/12/2011-2/1/2012), faz eco ao que disse Albert Camus (para todos há um ponto, a partir do qual alguém se rebela e começa a resistir). Stengel escreveu:
“Em todo o mundo, houve protestos em países onde, se se somam as populações, vivem 3 bilhões de pessoas; e a palavra “protesto” apareceu com frequência jamais vista, impressa e online, mais lida em 2011 do que jamais antes em qualquer tempo da história. Haverá um ponto extremo da frustração global? Em todos os cantos, parece, as pessoas dizem “Basta!”. Em todas as reuniões e manifestações estava presente a palavra “democracia”. “Democracia” é palavra derivada de “povo”. Na democracia, o povo governa. E não há dúvidas de que, nas manifestações populares, o povo governou: não pelas urnas, mas diretamente das ruas. Os EUA somos nação que nasceu, que foi concebida, em movimentos de protesto. E os movimentos de protesto são, em vários sentidos, o código fonte da democracia – tanto quanto são prova de que as democracias podem falhar” [TIMES, 14/12/2011, em http://www.time.com/time/specials/packages/article/0,28804,2101745_2102139_2102380,00.html].
Se se lembra o que Hardt e Negri escreveram em Multidão (2005, Rio de Janeiro: Editora Record), pode-se dizer que os protestos que irromperam em 2011 já estavam em formação há algum tempo. Naquele livro, Hardt e Negri listaram e discutiram várias “demandas globais por democracia” no mundo contemporâneo.

Para aqueles autores, as queixas e reclamações que já naqueles anos estavam crescendo e começando a tornar-se visíveis, eram dirigidas às autoridades dos governos e às corporações transnacionais, na tentativa de comunicar várias demandas, todas aplicadas a pontos em que a democracia mostrava-se emperrada – o que, por estranha via, a revista TIME também destaca, mais de dez anos depois da reflexão de Negri e Hardt.

Para Negri e Hardt, em 2005, os protestos que já então se viam em todo o mundo, contra o sistema político e econômico global, podiam ser entendidos como um sinal de que “a democracia não pode ser feita nem imposta de cima para baixo”.

Hardt e Negri listaram três principais queixas e as correspondentes demandas que, para eles estariam mais diretamente relacionadas à democracia e que já em 2005 apareciam recorrentes no quadro das queixas e correspondentes demandas globais em todo o mundo: “queixas contra as formas existentes de representação; queixas contra a miséria; e queixas contra a guerra.” O que aconteceu em 2011 e continua a acontecer parece continuar muito próximo dessas queixas, posições e demandas (mais das duas primeiras).

Deve-se ter em mente também que os tropeços da democracia, para Hardt e Negri, estão inseparavelmente conectados ao que aqueles autores apresentam como conceitos e vocabulário políticos cada dia mais obsoletos, forjados no nascimento da modernidade, e que se tornaram insuficientes para manifestar ou dar forma às novas exigências democráticas no mundo pós-moderno globalizado.
Traçando um paralelo entre o significado social e político dos mais de 40 mil cahiers de doléances (listas de queixas) compilados por todo o território da França e entregues a Luis 14 pouco antes da Revolução Francesa de 1789, e as listas acumuladas de queixas repetidas por muitos – das mais locais às mais “elevadas”, dirigidas aos mais altos níveis do governo, Hardt e Negri observam, em 2005:
“Talvez se possam ver àquela mesma luz os atuais protestos contra a atual forma da globalização; e talvez se possa ler nesses protestos a figura potencial de uma nova sociedade global.”
Creio que a mais recente série de protestos – que sacudiram o mundo em 2011 e envolvem questões políticas e questões econômicas –, confirmam as observações de Hardt e Negri publicadas em 2005 e o acerto daquele insight profundo e certeiro: faz falta ainda um novo vocabulário para os conceitos das lutas políticas hoje renovadas. Esse novo vocabulário é necessário para dar conta das novas queixas e demandas, em tempos que já não falam a língua da modernidade.
O novo livro daqueles autores, Commonwealth (2009), parece antecipar ainda mais claramente e mais diretamente os grandes movimentos populares de protesto iniciados em todo o mundo em 2011 – movimentos que já evidenciam muito claramente a necessidade de um novo vocabulário político, de que Hardt e Negri falavam em 2005.

Para Hardt e Negri em Commonwealth, a noção de que qualquer revolução tenha de ser entendida a partir das forças imanentes da própria revolução, sem que se tenha de ‘ancorar’ as revoluções em princípios transcendentes, já aparecia bem clara nos trabalhos de Adorno e Horkheimer; mas esses teóricos da teoria crítica não conseguiram romper o plano “escolástico” e não extraíram de sua reflexão a conclusão mais radical: não há revolução sem ativismo e ação militantes, propriamente, nas ruas. Para Hardt e Negri, essa teorização radicalmente orientada pela prática apareceria, sim, mas no pensamento de Mario Tronti e de Cornelius Castoriades.

O “novo vocabulário político” que dê conta dos conceitos das lutas políticas hoje renovadas só pode surgir, portanto, no exato ponto no qual se encontrem e se cruzem as teorias revolucionárias e a ação dos movimentos – exatamente o que o mundo viu na Praça Tahrir, no início de 2011.

Em 2009, Hardt e Negri escreveram em Commonwealth:
“A análise tem de mergulhar nas lutas dos humilhados e explorados, porque as lutas são a matriz de todo e qualquer relacionamento institucional e de qualquer figura da organização social (...). A reflexão e a pesquisa revolucionárias têm de seguir as novas formas dos movimentos sociais; a reflexão e a pesquisa revolucionárias têm de ser redefinidas pelas novas formas dos movimentos sociais.”
Todos temos portanto pleno direito de esperar que teóricos e pensadores da filosofia política comecem a deixar-se penetrar pelas lições que nos chegam das revoluções populares em curso em todo o mundo, em todos os pontos onde multidões protestam contra a miséria política e econômica.

Creio firmemente que se pode alcançar compreensão tanto melhor de como a democracia deve ser e deve funcionar no mundo global transformado de hoje, quanto mais sejamos capazes de ver e de analisar o modo como as pessoas estão pessoalmente e individualmente envolvidas nos movimentos de protestos que continuam a alastrar-se pelo mundo.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A esquerda mundial após 2011

A questão para a esquerda mundial é como avançar e converter o sucesso do discurso inicial em transformação política. O problema pode ser exposto de maneira muito simples. Ainda que exista, em termos econômicos, um abismo claro e crescente entre um grupo muito pequeno (o 1%) e outro muito grande (os 99%), a divisão política não segue o mesmo padrão. As forças de centro-direita ainda comandam cerca de metade da população mundial, ou pelo menos daqueles que são politicamente ativos de alguma forma. O artigo é de Immanuel Wallerstein.

(*) Publicado originalmente em português no site Outras Palavras.

Por qualquer ângulo, 2011 foi um bom ano para a esquerda mundial – seja qual for a abrangência da definição de cada um sobre ela. A razão fundamental foi a condição econômica negativa, que atinge a maior parte do mundo. O desemprego, que era alto, cresceu ainda mais. A maioria dos governos enfrentou grandes dívidas e receita reduzida. A resposta deles foi tentar impor medidas de austeridade contra suas populações, ao mesmo tempo em que tentavam proteger os bancos.

O resultado disso foi uma revolta global daquilo que o movimento Occuppy Wall Street chama de “os 99%”. Os alvos eram a excessiva polarização da riqueza, os governos corruptos e a natureza essencialmente antidemocrática desses governos – tenham eles sistemas multipartidários ou não.

O Occuppy Wall Street, a Primavera Árabe e os Indignados não alcançaram tudo o que esperavam. Mas conseguiram alterar o discurso mundial, levando-o para longe dos mantras ideológicos do neoliberalismo – para temas como desigualdade, injustiça e descolonização. Pela primeira vez pessoas comuns passaram a discutir a natureza do sistema no qual vivem. Já não o veem como natural ou inevitável…

A questão para a esquerda mundial, agora, é como avançar e converter o sucesso do discurso inicial em transformação política. O problema pode ser exposto de maneira muito simples. Ainda que exista, em termos econômicos, um abismo claro e crescente entre um grupo muito pequeno (o 1%) e outro muito grande (os 99%), a divisão política não segue o mesmo padrão. Em todo o mundo, as forças de centro-direita ainda comandam aproximadamente metade da população mundial, ou pelo menos daqueles que são politicamente ativos de alguma forma.

Portanto, para transformar o mundo, a esquerda mundial precisará de um grau de unidade política que ainda não tem. Há profundos desacordos tanto sobre a objetivos de longo prazo quanto sobre táticas a curto prazo. Não é que esses problemas não estejam sendo debatidos. Ao contrário, são discutidos acaloradamente, e pouco progresso tem sido feito para superar essas divisões.

Essas discordâncias são antigas. Isso não as torna fáceis de resolver. Existem duas grandes divisões. A primeira é em relação a eleições. Não existem duas, mas três posições a respeito. Existe um grupo que suspeita profundamente de eleições, argumentando que participar delas não é apenas politicamente ineficaz, mas reforça a legitimidade do sistema mundial existente.

Os outros acham que é crucial participar de processos eleitorais. Mas esse grupo está dividido em dois. Por um lado, existem aqueles que afirmam ser pragmáticos. Eles querem trabalhar de dentro – dentro dos maiores partidos de centro-esquerda quando existe um sistema multipartidário funcional, ou dentro do partido único quando a alternância parlamentar não é permitida.

E existem, é claro, os que condenam essa política de escolher o mal menor. Eles insistem que não existe diferença significativa entre os principais partidos e são a favor de votar em algum que esteja “genuinamente” na esquerda.

Todos estamos familiarizados com esse debate e já ouvimos os argumentos várias vezes. No entanto, está claro, pelo menos para mim, que, se não houver algum acordo entre esses três grupos em relação às táticas eleitorais, a esquerda mundial não tem muita chance de prevalecer a curto ou a longo prazo.

Acredito que exista uma forma de reconciliação. Ela consiste em fazer uma distinção entre as táticas de curto prazo e as estratégias a longo prazo. Concordo totalmente com aqueles que argumentam que obter poder estatal é irrelevante para as transformações de longo prazo do sistema mundial – e possivelmente as prejudica. Como uma estratégia de transformação, foi tentada diversas vezes e falhou.

Isso não significa que participar nas eleições seja uma perda de tempo. É preciso considerar que uma grande parte dos 99% está sofrendo no curto prazo. Esse sofrimento é sua preocupação principal. Tentam sobreviver e ajudar suas famílias e amigos a sobreviver. Se pensarmos nos governos não como agente potencial de transformação social, mas como estruturas que podem afetar o sofrimento a curto prazo, por meio de decisões políticas imediatas, então a esquerda mundial se verá obrigada a fazer o que puder para conquistar medidas capazes de minimizar a dor.

Agir para minimizar a dor exige participação eleitoral. E o debate entre os que propõem o menor mal e os que propõem apoiar partidos genuinamente de esquerda? Isso torna-se uma decisão de tática local, que varia enormemente de acordo com vários fatores: o tamanho do país, estrutura política formal, demografia, posição geopolítica, história política. Não há uma resposta padrão. E a resposta para 2012 também não irá necessariamente servir para 2014 ou 2016. Não é, pelo menos para mim, um debate de princípios. Diz respeito, muito mais, à situação tática de cada país.

O segundo debate fundamental presente na esquerda é entre o desenvolvimentismo e o que pode ser chamado de prioridade na mudança da civilização. Podemos observar esse debate em muitas partes do mundo. Ele está presente na América Latina, nos debates fervorosos entre os governos de esquerda e os movimentos indígenas – por exemplo na Bolívia, no Equador, na Venezuela. Também pode ser acompanhado na América do Norte e na Europa, nos debates entre ambientalistas/verdes e os sindicatos, que priorizam manutenção dos empregos já existentes e a expansão da oferta de emprego.

De um lado, a opção desenvolvimentista, apoiada por governos de esquerda ou por sindicatos, sustenta que, sem crescimento econômico, não é possível enfrentar as desigualdades econômicas do mundo de hoje – tanto as que existem dentro de cada país quanto as internacionais. Esse grupo acusa o oponente de apoiar, pelo menos objetivamente e talvez subjetivamente, os interesses das forças de direita.

Os que apoiam a opção antidesenvolvimentista dizem que o foco em crescimento econômico está errado em dois aspectos. É uma política que leva adiante as piores características do sistema capitalista. E é uma política que causa danos irreparáveis – sociais e ambientais.

Essa divisão parece ainda mais apaixonada, se é que é possível, do que a divergência sobre a participação eleitoral. A única forma de resolver isso é com compromissos, diferentes em cada caso. Para fazer com que isso seja possível, cada grupo precisa acreditar na boa fé e nas credenciais de esquerda do outro. Isso não será fácil.

Essas diferenças poderão ser superadas nos próximos cinco ou dez anos? Não tenho certeza. Mas se não forem, não acredito que a esquerda mundial possa ganhar, nos próximos 20 ou 40 anos, a batalha fundamental. Nela definir-se-á que tipo de sistema sucederá o capitalismo, quando este sistema entrar definitivamente em colapso.

Tradução: Daniela Frabasile

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Chega de militância de sofá

Na noite de ontem (terça-feira, 13 de dezembro), participei da cerimônia de entrega do 1º Prêmio CUT. No evento, mais uma vez conversei com lideranças dos movimentos sociais, do movimento sindical, com jornalistas, intelectuais, políticos etc. sobre ideia que venho defendendo desde 2007, quando propus, neste blog, que seus leitores me acompanhassem ao primeiro ato público do Movimento dos Sem Mídia.
A partir daquele ano, por sucessivas vezes tentei pôr em prática o que só agora vejo chances de conseguir. Nos últimos quatro anos, jamais existiu disposição como a que vejo agora nos movimentos organizados da sociedade civil e nos partidos para levarmos à rua, de uma vez por todas, as denúncias fartamente comprovadas de que as Organizações Globo, o Grupo Folha, o Grupo Estado e a Editoral Abril (Veja) lideram um partido político dissimulado que se vale até de atividades criminosas para impedir que este país distribua renda, direitos e oportunidades.
Esse legítimo Partido da Imprensa Golpista composto por impérios de comunicação, esse império do mal que atirou o Brasil em vinte anos de ditadura, essa máfia, enfim, elegeu parlamentares e governantes e cooptou juízes valendo-se do dinheiro público que os tais políticos que elegeu lhes doaram – e que continuam doando.
Toda essa máquina de corrupção, de difamação e de mentiras, agora muitos já sabem, foi erigida com o sangue, com o suor, com as lágrimas, mas, antes de tudo, com o dinheiro do povo brasileiro. Uma máquina que engana incautos, por um lado, e que rouba dinheiro público e distribui a quem aciona tais mecanismos.
Sempre soube, porém, que só poderia ver essa idéia se tornar palatável se conseguisse adeptos entre esses setores com os quais estive no Teatro Tuca, onde a Central Única dos Trabalhadores realizou a sua primeira premiação daqueles que entende que mais contribuíram para a Democracia e a Liberdade no ano passado, entre os quais figura o ex-presidente Lula.
Antes, ainda nesta semana, estive no Intervozes com a mesma finalidade: tratar dos preparativos para uma série de atos públicos, a partir do ano que vem, para denunciar na rua como o país está sendo espoliado por meia dúzia de famílias, pelos políticos que elegem e pelos juízes que põem no bolso
O objetivo dessa agenda de manifestações será explicar ao povão – em vez dos convertidos de sempre – como a comunicação de massas é uma máfia, no Brasil, e para propor a esse mesmo povo que apoie a Frente Parlamentar que apresentará um projeto de lei que visa conter o apetite dos mafiosos.
Não dá mais para esperar pelo governo Dilma. Não fará nada, não enviará projeto nenhum. Semana passada, a presidente repetiu aquela história de que o único controle da mídia que quer é o controle remoto das televisões. Uma barbaridade que o ministro do STF Carlos Ayres Britto também dissera pouco antes.
É uma barbaridade, o que disseram essas autoridades, porque vemos um debate público dessa importância ser literalmente censurado até por concessões públicas de rádio e tevê que continuam sendo regadas por bilhões de reais de dinheiro público ano após ano. É uma barbaridade porque o que se pede nada mais é do que um marco regulatório que existe em todos os países civilizados.
O marco regulatório das comunicações e uma agência como a FCC americana, como o Ofcom inglês ou como a CSA francesa são os objetivos desse movimento que deve eclodir no país no ano que vem simplesmente porque acabou a esperança de que militando atrás de computadores ou sentados em confortáveis sofás este país conseguirá se libertar da ditadura das famílias Marinho, Frias, Civita e Mesquita – uma ditadura que já foi de Estado e que hoje é apenas comunicacional.
Nesse aspecto, a ocultação dos grandes meios de comunicação, inclusive de concessões públicas de rádio e televisão, das denúncias escabrosas e fartamente documentadas contidas no livro A Privataria Tucana, penso que foi a gota d´água para todos os que acreditavam em outras formas de colocar a questão do marco regulatório da mídia na pauta do debate público.
Enquanto acharmos que através da internet, da militância de sofá, conseguiremos que os impérios de comunicação que o dinheiro público erigiu ajam direito, o país continuará sendo esbofeteado como em artigo publicado hoje na versão on line do jornal O Estado de São Paulo em que é dito que a mídia não repercutiu as denúncias do livro sobre a privataria tucana porque tem que lê-las primeiro, como se tal cuidado existisse quando o partido envolvido não é o PSDB.
Abaixo, reproduzo embate entre um vereador petista e outro tucano que ocorreu recentemente no plenário da Câmara Municipal de São Paulo. É perfeito para que você, leitor, entenda a dimensão do cinismo dessa gente. Em seguida já concluo este comentário.
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Há anos que jornalistas, blogueiros, intelectuais, partidos políticos e movimentos sociais vinham acreditando em alguma forma de diálogo com a direita tucano-midiática. Depois do escândalo da ocultação do livro sobre a privataria pela mídia, acho que já não acreditam mais.
Entendo perfeitamente o senso de responsabilidade de todos os que sempre apoiaram as iniciativas do MSM mas que jamais se envolveram de verdade com elas por acharem que não seria por aí que se travaria essa luta. CUT, MST, UNE, entre tantos outros, já vão chegando à conclusão de que chega de apanhar, de serem criminalizados por ordem de quatro famílias e dos interesses que elas defendem no âmbito da comunicação social.
Os crimes da mídia não têm fim, são cada vez mais ousados. E tendem a piorar.
Essas famílias midiáticas transformaram estudantes da USP em drogados, traficantes e arruaceiros por quererem que o debate sobre a Cidade Universitária ser policiada pela Polícia Militar não fosse discutido com o bode na sala, ou seja, só após a medida da reitoria ter sido adotada.
Os barões da mídia escondem denúncias gravíssimas e cheias de provas documentais de roubalheira de bilhões de dólares de patrimônio público praticada pelos arautos da moralidade do PSDB, os quais, quando questionados, fazem discursos indignados como o que você assistiu no vídeo acima.
Será que chega? Será que todos já entenderam? Podemos publicar todos os posts que quisermos, podemos escrever todos os livros que quisermos, podemos apresentar todas as provas possíveis e imagináveis – mesmo se forem um áudio ou vídeo com José Serra e FHC confessando a privataria –que não adiantará nada sem dar continuidade na rua.
E sabe por que não adiantará, leitor? Porque o Judiciário senta em cima de qualquer denúncia contra tucanos e amigos. Governantes tucanos roubam à vontade e a mídia finge que não vê enquanto transforma cada tapioca do governo petista no “maior escândalo da história”.
Comparem as cifras do mensalão com as da privataria. Não que ilegalidades não tenham sido praticadas por petistas e aliados no âmbito do financiamento de campanha via caixa 2, que obviamente envolve recursos de origem duvidosa. Mas os suspeitos estão sendo processados judicialmente e a mídia os ataca todo dia desde 2005. Está tudo sendo apurado e ocorrerão punições.
Enquanto isso, roubo de cifras astronômicas durante a privataria tucana, centenas de vezes maiores do que os valores envolvidos naquilo que a mídia tucana diz ser “o maior escândalo de corrupção da história”, é ignorado por um Judiciário acovardado diante do poder de difamação das quatro famílias midiáticas e de seus tentáculos.
Mais uma vez: a Justiça brasileira sentou em cima de processos contra Serra, sua filha e tantos outros envolvidos na maior roubalheira de dinheiro público da história brasileira porque juízes têm medo de virar alvo dos meios de comunicação controlados pelas famílias Marinho, Frias, Civita e Mesquita, os quais tratam de proteger o tucano porque ele é o despachante que querem pôr no Planalto.
E para que não reste dúvida: jamais se pediu, aqui, que os escândalos contra petistas e aliados não fossem denunciados. Nunca, jamais. É dinheiro público que pode estar envolvido. É dinheiro meu, também. Dinheiro que paguei de impostos e que tirei do tratamento da saúde de minha filha de 13 anos, portadora de Síndrome de Rett (paralisia cerebral).
O que não se pode aceitar mais é que os tucanos roubem muito mais e que, para ficarem impunes, usem mais dinheiro público para retribuir o apoio de Globo, Folha, Estadão, Veja e de seus tentáculos. Se querem montar uma máquina publicitária para combates políticos que façam com dinheiro de quem os apóia, não com o dinheiro que é de todos.
Então, chega de militância de sofá, leitor. Só indo à rua quantas vezes forem necessárias e aos milhares, às dezenas de milhares, porque os setores organizados da sociedade civil supracitados têm força e representatividade para tanto. Podem obrigar a mídia a aceitar o debate sobre o marco regulatório das comunicações. Ela poderá esconder as manifestações uma, duas, três vezes, mas não poderá esconder para sempre.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Nova York alerta: liberdade faz mal à saúde


Nirlando Beirão

A polícia de Nova York tratou com aquele seu jeitinho delicado de recepcionar turistas e de amansar terrorristas os manifestantes do movimento Occupy Wall Street.

Podia ter pedido emprestado o know da PM de São Paulo, aquela que barbarizou no campus da USP, se já não tivesse a expertise de Guantánamo e de Abi Ghraib.

Nesta manhã de terça, 15, desceu o cassete na garotada que estava acampada desde 17 de setembro no Zuccotti Park, na ponta sul de Manhattan.

(Em Oakland, em várias outras cidades que replicaram o Occupy Wall Street, o pau também comeu, até com mais violência)

O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, alegou que a ocupação representava um perigo à saúde pública.

Quero ver o que dirão os jornalões gringos.

Quando os egípcios decidiram ocupar a Praça Tahrir, no Cairo, aí era a manifestação era legítima – um importante protesto em prol da democracia nos países árabes.

(Mubarak também poderia ter alegado que, naquele improvisado acampamento, a saúde pública estava em risco)

A Primavera Árabe foi saudada nos EUA com todos os fogos de artifício.

Quando se tratam de manifestantes que protestam em casa contra os abusos do poder da plutocracia, aí, claro, eles não passam de infectos baderneiros que insistem em desafiar a ordem pública.

Se tirassem a hipocrisia da política americana – tanto a interna quanto a externa – não sobraria nada.


Leia mais em: O Esquerdopata
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sábado, 15 de outubro de 2011

Brasileiros aderem a chamado de mobilização global dia 15

 

Chamados a participar de uma mobilização mundial contra modelo econômico-político dominante, jovens brasileiros resolveram aderir e adaptar os eixos internacionais à realidade do país. A convocatória veio da Espanha, dos movimentos que levantaram a bandeira da “democracia real já” e protestam contra os efeitos da crise econômica. Pelo menos 42 cidades brasileiras devem particiar da mobilização global neste sábado.

Chamados a participar de uma mobilização mundial, jovens brasileiros resolveram aderir e adaptar os eixos internacionais à realidade do país. A convocatória veio da Espanha, dos movimentos que levantaram a bandeira da “democracia real já” e protestam contra os efeitos da crise econômica. Os protestos também se referenciam em movimentos de outros locais como Grécia, Chile, Estados Unidos e países do Oriente Médio, que de maneiras distintas estão realizando manifestações massivas.

Segundo o site http://15october.net/es/, atividades públicas já
foram marcadas neste dia em 951 cidades de 82 países de todos os continentes. De maneira genérica, a mobilização global centra fogo no que parece coincidir em vários desses levantes: a crítica aos regimes políticos e ao modelo econômico.

“Unidos em uma só voz, faremos saber aos políticos e às elites financeiras a quem eles servem, que agora somos nós, as pessoas, quem decidiremos nosso futuro”, afirma o chamado. E completa: as pessoas não são “mercadorias nas mãos de políticos e banqueiros”, e estes, por sua vez, não os representam.

No Brasil
A partir de uma garimpagem na internet, é possível descobrir as cidades brasileiras que planejam atividades. O site http://www.cartamaior.com.br/templates/www.democraciarealbrasil.org/ aponta 41 locais com eventos divulgados no site do Facebook. O número de pessoas confirmadas, apesar da pouca precisão desta fonte de informação, passa de 11 mil.

Cada cidade está organizando de maneira independente suas mobilizações. Em São Paulo, o grupo que está se reunindo há quase um mês anunciou um acampamento no Vale do Anhangabaú. Está prevista a concentração a partir das 10 horas do sábado, seguida de uma passeata até o local de instalação das barracas. Lá, ocorrerão grupos de discussão sobre educação, meio ambiente, saúde e transporte, debates com o tema “o que é democracia real”, atividades culturais e assembleias organizativas.

O manifesto paulista, além de situar os levantes no mundo, critica a desigualdade social como “principal marca deste país, desde que ele existe como tal”. O material também afirma que o movimento é auto-organizado, autofinanciado, autônomo de empresas, Estado, governos e partidos políticos, apesar de contar com participantes de algumas organizações.

As bandeiras elencadas refletem também as manifestações ocorridas durante todo o ano. A quantidade de vezes que esses movimentos saíram às ruas demonstra algumas mudanças também no cenário nacional. Só em 2011 foram realizadas marchas contra o aumento das passagens de ônibus, do dia internacional de luta da mulher, contra a homofobia, da maconha, da liberdade, das vadias, contra Belo Monte, contra o novo Código Florestal, da consciência negra, contra corrupção, do Fora Ricardo Teixeira, entre outras. A maioria delas aconteceu em 10 cidades, sendo que se chegou a atingir 40 locais diferentes, com números de participantes acima do que não se via há algum tempo.

As ocupações também foram instrumentos mobilizadores. Em São Paulo, a ocupação da Fundação Nacional das Artes (Funarte), com o lema “é hora de perder a paciência” se destacou. Por pautas específicas e pelo investimento de 10% do PIB para educação pública, o movimento estudantil realizou ocupações de reitorias na onda das greves dos técnico-administrativos na UFPR, UEM, UFSM, UFSC, UFRB, UFAL, UFMT, UnB, UFES, UFRGS, UFAM, UFRJ, UFF, com conquistas pontuais. No sindicalismo, algumas outras categorias como trabalhadores da construção civil, do Correios e bancários também fizeram grandes greves.

As organizações políticas, os protagonistas e as pautas de todas essas mobilizações não estão concentradas em um único programa. O 15 de outubro é, no entanto, uma evidência que mesmo diante das incertezas dos desdobramentos da crise econômica mundial, parte da população está se organizando para buscar respostas coletivas, nas ruas.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

CABEÇAS CALVAS E GRISALHAS AO LADO DA JUVENTUDE E DAS BANDEIRAS VERMELHAS


CABEÇAS CALVAS E GRISALHAS AO LADO DA JUVENTUDE E DAS BANDEIRAS VERMELHAS
 

Bandeiras republicanas, da luta antifranquista e bandeiras da União Geral dos Trabalhadores voltaram às ruas de Madrid neste terça-feira, em passeata que uniu desde o Partido Comunista Espanhol à esquerda anticapitalista. A juventude dos indignados estava presente, mas cabeças calvas e grisalhas sugeriam um novo perfil, não apenas dos manifestantes, mas talvez da luta política.Em Madrid, assim como na Itália, onde os sindicatos paralisaram o sistema de transportes nesta terça-feira, contra o arrocho fiscal de Berlusconi, trabalhadores, centrais sindicais  e partidos de esquerda voltaram às ruas para rejeitar propostas de salvação dos mercados que arruínam  a sociedade. O protesto espanhol dirigia-se à reforma constitucional liderada pelo PSOE e pela direita do PP. O objetivo é quase um chavão no discurso conservador nos dias que correm: acalmar mercados nervosos, que escalpelam Estados endividados com a machadinha do  juro cortante para financiar a dívida pública. Zapatero e o PP de Aznar uniram-se com o propósito de incluir a meta de equilíbrio fiscal na Carta espanhola. Equilíbrio fiscal em si é saudável.  Trata-se de uma deformação disseminada pela direita equiparar o keynesianismo ao endividamento temerário do Estado, reduzido assim a um vassalo da senhoriagem rentista. Não há nada de Keynes e muito menos de esquerda nisso.Na verdade,esse foi o modelo implantado pelo ciclo neoliberal, com sua agenda de Estado mínimo, isenção fiscal para os endinheirados e endividamento máximo para financiar políticas públicas intransferíveis aos mercados. Colocou-se assim a máquina pública e o sistema fiscal a serviço dos juros, em vez de servir ao interesse  público. O que se pretende agora, na exaustão de uma engrenagem saturada no socorro aos mercados financeiros, é dobrar a aposta na vassalagem, cortando gastos sociais para acalmar credores ressabiados com o risco de um calote.É contra isso que as cabeças grisalhas comunistas voltaram às ruas de Madrid na tarde desta 3º feira, ao lado da juventude, mas resgatando as bandeiras vermelhas e o brasão da luta republicana ao lugar que lhes compete na história. A importância dessas mobilizações não deve ser exagerada. Mas os sinais são auspiciosos. Eles indicam que a travessia para uma nova esquerda converge ao único lugar onde essa tarefa poderá adquirir a velocidade requerida pela gravidade da hora: a fusão de novas e velhas bandeiras nas ruas do mundo.
 
Bandeiras republicanas, da luta antifranquista e bandeiras da União Geral dos Trabalhadores voltaram às ruas de Madrid neste terça-feira, em passeata que uniu desde o Partido Comunista Espanhol à esquerda anticapitalista. A juventude dos indignados estava presente, mas cabeças calvas e grisalhas sugeriam um novo perfil, não apenas dos manifestantes, mas talvez da luta política.Em Madrid, assim como na Itália, onde os sindicatos paralisaram o sistema de transportes nesta terça-feira, contra o arrocho fiscal de Berlusconi, trabalhadores, centrais sindicais  e partidos de esquerda voltaram às ruas para rejeitar propostas de salvação dos mercados que arruínam  a sociedade. O protesto espanhol dirigia-se à reforma constitucional liderada pelo PSOE e pela direita do PP. O objetivo é quase um chavão no discurso conservador nos dias que correm: acalmar mercados nervosos, que escalpelam Estados endividados com a machadinha do  juro cortante para financiar a dívida pública. Zapatero e o PP de Aznar uniram-se com o propósito de incluir a meta de equilíbrio fiscal na Carta espanhola. Equilíbrio fiscal em si é saudável.  Trata-se de uma deformação disseminada pela direita equiparar o keynesianismo ao endividamento temerário do Estado, reduzido assim a um vassalo da senhoriagem rentista. Não há nada de Keynes e muito menos de esquerda nisso.Na verdade,esse foi o modelo implantado pelo ciclo neoliberal, com sua agenda de Estado mínimo, isenção fiscal para os endinheirados e endividamento máximo para financiar políticas públicas intransferíveis aos mercados. Colocou-se assim a máquina pública e o sistema fiscal a serviço dos juros, em vez de servir ao interesse  público. O que se pretende agora, na exaustão de uma engrenagem saturada no socorro aos mercados financeiros, é dobrar a aposta na vassalagem, cortando gastos sociais para acalmar credores ressabiados com o risco de um calote.É contra isso que as cabeças grisalhas comunistas voltaram às ruas de Madrid na tarde desta 3º feira, ao lado da juventude, mas resgatando as bandeiras vermelhas e o brasão da luta republicana ao lugar que lhes compete na história. A importância dessas mobilizações não deve ser exagerada. Mas os sinais são auspiciosos. Eles indicam que a travessia para uma nova esquerda converge ao único lugar onde essa tarefa poderá adquirir a velocidade requerida pela gravidade da hora: a fusão de novas e velhas bandeiras nas ruas do mundo.
(Carta Maior; 3ª feira, 06/09/ 2011

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A EUTANÁSIA DO ESTADO DO BEM-ESTAR SOCIAL




A Espanha caminha desastrosamente para figurar nesta crise como um caso patético de rendição do Estado aos ditames dos mercados. O premiê José Luis Zapatero, a exemplo de outros líderes da social-democracia europeia, renega a origem política a apenas três meses da sua sucessão enfraquecendo-se ainda mais dentro do próprio partido e junto à opinião pública progressista. Zapatero lidera um acordo com a direita do Partido Popular para promover uma reforma constitucional a toque de caixa. A intenção é inscrever a ortodoxia fiscal na Carta espanhola, obrigando governantes a perseguir um déficit próximo a zero. Em plena desordem gerada pela crise das finanças desreguladas, renuncia-se à indução estatal quando mais que nunca ela se faz necessária. Além do mal-estar criado nas fileiras do PSOE, sindicatos rechaçaram a idéia, abraçada entusiasticamente pela direita do PP.  Zapatero promove a eutanásia do Estado do bem-estar social baseado num cálculo político ingênuo. Seu governo termina espremido pelo mais elevado nível de desemprego da zona do euro. A taxa média de desocupação é de de 20%, mas salta para 45% entre os jovens. O sistema bancário verga sob dívidas privadas e ativos podres de futuro insondável. A bolha imobiliária espanhola estourou deixando um encalhe de 700 mil imóveis e mais de 20 bilhões de euros em ativos imobiliários micados nas carteiras dos bancos. Outros 30 bilhões de euros em terrenos estocados sufocam a contabilidade bancária e as  caixas previdenciárias.  O conjunto repercute no risco-país e se cristaliza em custos elevados para a colocação de títulos da dívida pública junto a fundos e investidores ariscos. Para ‘acalmá-los' Zapatero se propõe a tornar o arrocho fiscal algo tão importante na Constituição quanto o direito à vida e à dignidade - algo como designar o diabo para guardar a chave do céu. Que isso parta de um líder socialista apenas confirma a profundidade da colonização mental exercida pelo neoliberalismo na esquerda europeia. Não por acaso o continente representa hoje o epicentro da crise. Dificilmente sairá dela para algo melhor, a menos que a resposta venha das ruas.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

MENOS CRUCIFIXO, MAIS TRABALHO FIXO. 17 de setembro: ocupar Wall Street

corrupção nos mercados: operação Alquimia da PF desmantela rede de fraudes na indústria  química conectada a paraísos fiscais** prejuízos à receita pública: R$ 1 bilhão de reais **ilhas, mansões, carros de luxo, iates são confiscados**10 crianças somalis morrerão de fome hoje em acampamentos na Etiópia** é a média, diz ONU.  
Milhares de indignados tomam as ruas do centro de Madrid nesta 4º feira e ocupam a praça do Sol em protesto contra gastos públicos  para recepcionar a viagem do Papa Bento XVI, que chega nesta 5º feira à capital espanhola. 'Mais educação, menos religião', dizem cartazes empunhados pela multidão. A Praça do Sol, tradicional reduto dos 'indignados' foi interditada há mais de 15 dias como preparativo para a chegada do Papa que participa na Espanha das Jornada Mundial da Juventude. A Espanha tem o maior índice de desemprego do euro, 20%. Entre os jovens a taxa é dramaticamente superior, chega a 45%, no caso da Andaluzia, por exemplo. A crise atingiu em cheio a economia espanhola cujo crescimento mimetizou a bolha imobiliária norte-americana. O governo Zapatero mimetizou igualmente a terapia  ortodoxa de cortes de gastos para atender à pressão dos mercados. Fundos e bancos ameaçam não  financiar mais a dívida pública espanhola, exigindo juros cada vez mais elevados do governo. Zapatero antecipou para novembro as eleições a sua sucessão. Pesquisas indicam que a direita está em vantagem na corrida eleitoral. Manifestantes laicos pró-emprego e cristão pró-Papa  trocaram insultos  na Porta do SOl.


 
Um esboço de coordenação e de plataforma comum começa a ser articulado por lideranças das mobilizações de rua de países europeus. A grande novidade há muito ansiada pela esquerda mundial é a possível adesão de movimentos civis norte-americanos aos protestos que convergem para dois pontos: mais democracia,  menos poder às finanças desreguladas. Tudo ainda muito incipiente, mas é certo que o amálgama tem a força da coerência: uma coisa depende da outra e a saída para a crise depende das duas. O impulso de convergência tem uma data e uma palavra de ordem que vai ao ponto unificando os dois propósitos das ruas: "17 de setembro: ocupar Wall Street'. A ver (leia Nouriel Roubi nesta pág.
"Sem estímulo fiscal ou reestruturação global da dívida, não há saída" e http://occupywallstreet.com/ )
(Carta Maior; 4º feira, 17/08/ 2011)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Por que a oposição não fala de economia?


DEBATE ABERTO

O PSDB, o jornal O Globo e seus aliados estão indignados com a corrupção no Brasil. Querem que o povo saia às ruas. Mas o povo só costuma sair às ruas quando a economia vai mal. E, curiosamente, aqueles que querem que o povo saia às ruas, não querem falar de economia. Distração? Falta de ter o quê dizer?

Subitamente, setores da sociedade brasileira querem que o povo saia às ruas. É preciso qualificar esses “setores da sociedade brasileira”. São aqueles que foram apeados do poder político no início dos anos 2000 e que tiveram sua agenda política e econômica dilacerada pela realidade. A globalização econômica cantada em prosa e verso nos anos 1990 revelou-se um fracasso retumbante. A globalização financeira, a única que houve, afundou em uma crise dramática que drenou bilhões de dólares da economia real, conta que, agora, está sendo paga por quem costuma pagar essas lambanças: o povo trabalhador que vive da renda de seu trabalho.

Durante praticamente duas décadas, nos anos 80 e 90, a esmagadora maioria da imprensa no Brasil e no exterior repetiu os mesmos mantras: o Estado era uma instituição ineficiente e corrupta, era preciso privatizar a economia, desregulamentar, flexibilizar. A globalização levaria o mundo a um novo renascimento. Milhares de editoriais e colunas repetiram esse discurso em jornais, rádios, tvs e páginas da internet por todo o mundo. Tudo isso virou pó. Os gigantes da economia capitalista estão mergulhados em uma grave crise, a Europa, que já foi exemplo de Estado de Bem-Estar Social, corta direitos conquistados a duras penas após duas guerras mundiais. A principal experiência de integração regional, a União Europeia, anda para trás.

No Brasil, diante da total ausência de programa, de projeto, os representantes políticos e midiáticos deste modelo fracassado que levou a economia mundial para o atoleiro, voltam-se mais uma vez para o tema da corrupção. Essa é uma história velhíssima na política brasileira. Já foi usada várias vezes, contra diferentes governantes. Afinal de contas, os corruptos seguem agindo dentro e fora dos governos. Aparentemente, por uma curiosa mágica, eles são apresentados sempre como um ser que habita exclusivamente a esfera pública. Quando algum corrupto privado aparece com algemas, costuma haver uma surda indignação contra os “excessos policiais”.

No último domingo, o jornal O Globo publicou uma reportagem para questionar por que os brasileiros não saem às ruas para protestar contra a corrupção (aliás, o MST respondeu à pergunta, mas não teve sua resposta publicada). O Globo sabe a resposta. Como costuma acontecer no Brasil e no resto do mundo, o povo só sai às ruas quando a economia vai mal, quando há elevadas taxas de desemprego, quando as prateleiras dos super mercados tornam-se território hostil, quando não há perspectiva para a juventude. Não há nada disso no Brasil de hoje. Há outros problemas, sérios, mas não estes. A violência, o tráfico de drogas, as filas na saúde, a falta de uma educação de melhor qualidade. É de causar perplexidade (só aparente, na verdade) que nada disso interesse à oposição. Quem está falando sobre isso são setores mais à esquerda do atual governo.

Comparando com o que acontece no resto do mundo, a economia brasileira vai bem. Não chegamos ao paraíso, obviamente. Longe disso. Há preocupações legítimas em nosso vale de lágrimas que deveriam ser levadas a sério pelo governo federal sobre a correção e pertinência da atual política cambial e de juros, apenas para citar um exemplo. O Brasil virou mais uma vez um paraíso para o capital especulativo e a supervalorização do real incentiva um processo de desindustrialização.

Curiosamente, essa não é a principal bandeira da oposição. Por que estão centrando fogo no tema da corrupção e não na ausência de mecanismos de controle de capitais, por exemplo? Por que não há editoriais irados e enfáticos contra a política do Banco Central e as posições defendidas pelos agentes do setor financeiro? Bem, as respostas são conhecidas. Os partidos políticos não são entidades abstratas descoladas da vida social das comunidades. Alguns até acabam pervertendo seus ideais de origem e se transformam em híbridos de difícil definição. Mas outros permanecem fiéis às suas origens e repetem seus discursos e estratégias, década após década.

Nos últimos dias, lideranças nacionais do PSDB e seus braços midiáticos vêm repetindo um mesmo slogan: o Brasil vive uma das mais graves crises de corrupção de sua história. Parece ser uma tese com pouco futuro. Tomando as denúncias de corrupção como critério, o processo de privatizações no período FHC é imbatível. Há problemas econômicos reais no horizonte. É curioso que isso não interesse à oposição. Afinal, é isso que, no final das contas, faz o povo sair às ruas. Sempre foi assim: a guerra, a fome, o desemprego. Esses são os combustíveis das revoluções.

A indigência intelectual e programática da oposição brasileira não consegue fazer algo além do que abrir a geladeira, pegar o feijão congelado meio embolorado da UDN, colocá-lo no forno e oferecê-lo à população como se fosse uma feijoada irrecusável. Mas no fundo não se trata de indigência. É falta de alternativa mesmo. Falta de ter o quê dizer. Não falta matéria-prima para uma oposição no Brasil, falta cérebro e, principalmente, compromisso com um projeto de país e seu povo.

O modelo político-econômico que hoje, no Brasil, abraça a corrupção como principal bandeira esteve no poder nas últimas décadas por toda a América Latina e foi varrido do mapa político do continente, com algumas exceções. Seu ideário virou sinônimo de crise por todo o mundo. É preciso mudar de assunto mesmo. A verdade, em muitos casos, pode ser insuportável, ou, simplesmente, inconveniente.

Marco Aurélio Weissheimer é editor-chefe da Carta Maior (correio eletrônico: gamarra@hotmail.com)