Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 18 de junho de 2013

SATURAÇÃO E PROJETO

 *MILHARES PROTESTAM EM 11 CAPITAIS DO PAÍS**AS RUAS REQUISITAM  UMA NOVA AGENDA POLÍTICA PARA O BRASIL** LULA QUER NEGOCIAÇÃO EM SP** MANIFESTANTES OCUPAM PARTE DO CONGRESSO E TENTAM INVADIR O PALÁCIO DOS BANDEIRANTES  EM SP**NOVO PROTESTO DEVE OCORRER NESTA  4ª FEIRA, NA PRAÇA DA SÉ 
(leia as reportagens e análises nesta pág)
A resposta é mais democracia 
 (leia mais aqui)
 


A rapidez e a abrangência dos acontecimentos em marcha turvam
 a compreensão mais geral do que se passa no país. O que se viu nas últimas horas espraiou estupefação e perplexidade nas diferentes dimensões da vida política e partidária. Em 11 capitais, dezenas de milhares aderiram aos protestos. Os 20 centavos que motivaram a mobilização inicial em São Paulo, no dia 6 de junho, tornaram-se ainda mais irrisórios diante da abrangência e da intensidade do que se vê 12 dias depois. O que está em jogo é muito mais do que caraminguás. As ruas requisitam uma nova agenda política para o Brasil. Não significa desqualificar conquistas e avanços preciosos dos últimos anos. Mas a história apertou o passo. Talvez até porque a musculatura do percurso agora o permite. As instituições e canais de escuta não souberam  interpretar o vapor acumulado nessa marcha batida. Um viés economicista pretendeu resolver na base da macroeconomia  -à frio--  aquilo que pertence ao apanágio da democracia: as escolhas do futuro e o sacrifício do presente.  A liderança do processo brasileiro está em aberto. Hoje, ninguém é de ninguém. A ausência de uma plataforma capaz de dar unidade e coerência a aspirações fragmentadas e avulsas pode asfixiar o que as ruas tentam dizer. Na Espanha, a vitória eleitoral do ultra-conservadorismo, em 2011, só foi possível porque a abstenção, sobretudo jovem,  atingiu proporções epidêmicas no berço mundial dos indignados. A exemplo do que ocorreu na Espanha, nos EUA e, mais recentemente, na Itália , em algum momento os indignados brasileiros serão chamados a refletir - talvez precocemente - sobre as escolhas do poder. O poder de Estado. Os compromissos que a luta pelo poder impõe. A impossibilidade de ignorá-la; e, sobretudo, a escolha da melhor estra
tégia para pautar o seu exercício,  a cada movimento da história.(LEIA MAIS AQUI)



Uma noite daquelas

Os acontecimentos desta segunda mudaram a conjuntura. Nos próximos meses, as multidões serão, ao que tudo indica, atores centrais na cena política. Mas ainda não está claro para onde este vulcão popular direcionará suas energias. Por Gilberto Maringoni


São Paulo – A noite desta segunda-feira (17) tem tudo para entrar na História.

Talvez nos próximos dias tenhamos mais clareza do que está acontecendo no país. Não é sempre que multidões irrompem no centro da cena política com exuberância e pique.

Não se via nada parecido desde as marchas pelas Diretas Já, em 1984.

Mas se a campanha que culminou em abril daquele ano conheceu um crescendo iniciado seis meses antes, com um pequeno protesto na praça Charles Miller em São Paulo, a jornada atual teve início há menos de duas semanas.

Explosão popular
Até terça (11), as movimentações reuniam poucos milhares de jovens em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Curitiba, Maceió e Porto Alegre. A bandeira era clara: contra o aumento de tarifas. Os atos foram violentamente castigados por truculentas ações policiais.

Só depois da repressão paulistana, na quinta-feira (13), houve a expectativa de que algo maior poderia acontecer. E esta segunda feira superou todas as expectativas.

Há agora um movimento nacional, ainda sem direção clara, que colhe reverberações até em colônias de brasileiros no exterior.

O móvel imediato de luta seria o aumento das passagens de transporte público em algumas metrópoles. Mas não em todas. Em Brasília, por exemplo, palco de formidável mobilização, não é essa a pauta.

Se formos analisar a situação de forma empírica, vamos verificar que nenhum indicador objetivo conseguiu captar o descontentamento que se espalha.

Pesquisas e economia
As pesquisas de opinião que aferiram uma perda de popularidade do governo federal, há dez dias, não atestaram nada de excepcional. Apesar de expressiva, a queda de oito pontos deixa a mandatária com patamares de aceitação extremamente altos.

O recuo nos índices de emprego não são tão fortes a ponto de acenderem a luz amarela do governo. No campo da macroeconomia, há nuvens carregadas no horizonte, que se traduzem na tendência de um PIB medíocre ao final do ano. Mas o consumo segue em alta e não há, aparentemente, uma percepção generalizada de que estamos nas bordas de uma crise.

O que desandou foram as expectativas. Contudo, seria subjetivismo demais afirmar que centenas de milhares de pessoas foram às ruas e enfrentaram as forças de segurança por força de expectativas sombrias para o médio prazo.

Limites do Lulismo
Há um descontentamento crescente com as obras da Copa, que ganharam visibilidade com o início da Copa das Confederações. Arenas faraônicas, que logo serão elefantes brancos, como o estádio Mané Garrincha, geram desconforto. Isso se dá especialmente quando comparadas às carências em serviços públicos, como transporte, saúde, educação e assistência social (aliás, uma das mais criativas faixas vistas na manifestação de São Paulo era “Seu filho ficou doente? Leve-o para o estádio”).

É possível que insatisfação com a má qualidade dos serviços públicos tenha peso relevante na ira popular. E talvez estejamos vendo os limites do chamado lulismo.

Há uma pista numa das peças publicitárias montadas pelos marqueteiros de Fernando Haddad.

Um dos anúncios de campanha dizia mais ou menos assim: “Com Lula, você tem TV, carro, casa, geladeira e eletrodomésticos. Da porta para dentro de casa, a vida mudou. Da porta para fora, a situação ainda não mudou”.

Serviços de má qualidade
O “da porta para fora” refere-se aos serviços públicos detonados, às horas perdidas em transportes caros e de péssima qualidade, às escolas públicas carentes de materiais e de professores motivados e às debilidades da saúde pública, sem contar com um crescente clima de insegurança pública nas metrópoles.

Ou seja, o lulismo – como já analisado por André Singer – aumentou a capacidade de consumo de setores que estavam praticamente à margem do mercado, mas não ampliou significativamente o acesso a direitos básicos de cidadania.

Se for isso, a pauta é ótima para quem deseja a mudança social. Existe legitimidade para transformações mais profundas do que as realizadas nos últimos anos, como a recuperação do valor do salário mínimo, a elevação do nível de emprego e políticas sociais focadas.

Pode ser que a pressão popular abra espaço para uma real distribuição de renda.

Quadro em disputa
Mas as mobilizações estão em disputa. A pauta da direita resume-se a dizer que as movimentações têm como causa a corrupção e o governo Dilma, como aponta a inacreditável revista ‘Veja’, em capa desta semana.

Os diversos grupos “movimentistas” e anarquistas protestam contra a presença de partidos políticos nas concentrações e focam toda a energia na revogação dos aumentos ou na tarifa zero. Mas são avessos a qualquer tentativa de organização do formidável impulso cívico desatados nos últimos dias.

O Brasil melhorou em vários aspectos nos últimos dez anos, mas a natureza continua a ser devastada, o caos toma conta das cidades, a reforma agrária não anda, a grande mídia associou-se ao governo federal, o setor financeiro segue exigindo radicalização na ortodoxia econômica e a gestão Dilma toca firme sua fé privatista.

O fato é que o movimento despertou energias que nem mesmo seus organizadores imaginavam existir.

Declaração ao mundo
Aliás, a presidenta deu mostras de perplexidade e opção preferencial pelo óbvio com a bombástica revelação que fez ao mundo na noite de segunda-feira: "As manifestações pacíficas são legítimas e são próprias da democracia. É próprio dos jovens se manifestarem”.

Em São Paulo, Fernando Haddad comporta-se como um político de horizontes limitados. Optou por fingir-se de morto no dia das manifestações.

Geraldo Alckmin, responsável pela truculência policial, fez um lance ousado e retirou o policiamento ostensivo das ruas. Deixou a tropa de choque aquartelada e colocou a cidade quase literalmente nas mãos dos manifestantes. Tudo podia acontecer, inclusive nada. Foi o que se deu. Não há notícia de nenhuma depredação ou ato de vandalismo de monta nessa noite, em São Paulo. Nisso, agiu de forma diversa de governantes como Sergio Cabral, Agnelo Queiroz e Tarso Genro, que botaram a tropa na rua.

Os acontecimentos desta segunda mudaram a conjuntura. Nos próximos meses, as multidões serão, ao que tudo indica, atores centrais na cena política. Mas ainda não está claro para onde este vulcão popular direcionará suas energias. (De uma conversa com Artur Araújo, sem responsabilidade alguma da parte dele)


Fotos: EBC 

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