Em 06/03/2012, Aécio Neves (PSDB-MG) fez enfática defesa de Demóstenes, quando ainda havia perspectiva de abafar o escândalo Cachoeira.
Demóstenes Torres (ex-DEM/GO) não é mais senador. Ele foi expulso do Senado, cassado por 56 votos, por ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Como o voto é secreto, a gente nunca ficará sabendo quem foram os 19 senadores que votaram contra a cassação, nem os 5 senadores que se abstiveram.
O voto de Aécio Neves (PSDB-MG), por exemplo, é uma incógnita. O senador mineiro tinha uma relação de compadrio a ponto de atender pedidos de Demóstenes para nomear pessoas em Minas, apesar dele ser um senador goiano.
Um caso de aparelhamento no governo tucano mineiro foi a nomeação de uma sobrinha de Cachoeira para um cargo de chefia em Uberaba, a pedido do bicheiro, intermediada por Demóstenes junto a Aécio.
Cachoeira e sua família também tem negócios ilícitos em cidades mineiras, explorando máquinas de caça-níqueis em Uberlândia e Araxá, segundo interceptações telefônicas da Polícia Federal. E já explorou contratos de lixo com a prefeitura da segunda cidade, rompido após denúncias de superfaturamento.
Em uma interceptação telefônica da Polícia Federal, o sargento Dadá, araponga de Cachoeira, fala com uma pessoa não identificada sobre um esquema de jogos na capital mineira. O homem diz a Dadá que iria viajar a Belo Horizonte para se encontrar com uns políticos, “gente forte da área lá” para resolver uma pendência.
O bicheiro já comandou seis empresas em Minas. Algumas ganharam de presente dos tucanos a privatização da loteria estadual. Documento elaborado pela Assessoria de Planejamento e Coordenação da Loteria Mineira, em julho de 2000, revela que o contrato firmado causou um prejuízo da ordem de R$ 286 milhões durante a gestão do ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB).
Em 2003, quando Aécio já era governador, o bicheiro foi protagonista de um escândalo em Minas por operar, sem licitação, jogo da Loteria do Estado de Minas Gerais por meio da Jogobrás do Brasil Ltda.
Desde 2000, Cachoeira vem sendo investigado pelo Ministério Público Estadual (MPMG). A Promotoria de Combate ao Crime Organizado do MPMG iniciou uma devassa nos negócios dele em Minas, mas decisão do Conselho de Procuradores barrou a iniciativa (numa clara blindagem aos demotucanos), alegando que as investigações de contravenção penal são de responsabilidade do Juizado Especial Criminal.
Logo que o escândalo Cachoeira estourou, e Demóstenes fez seu primeiro discurso, Aécio fez um emocionado aparte em solidariedade a Demóstenes e reiterando sua confiança no senador goiano. Depois, com os diálogos comprometedores e a linha direta com Cachoeira, via Nextel, ganhando o noticiário nacional, o tucano mineiro recuou publicamente em seu apoio à Demóstenes, mas sempre foi discreto ao tratar do assunto. Em frente as câmeras, Aécio dá a entender condenar Demóstenes, mas não consegue dissimular o desconforto com a cassação do antigo parceiro.