247 – No dia 4 de março, uma das séries mais populares da Netflix, House of Cards, lançará sua quarta temporada, revelando as artimanhas de Frank Underwood, um político sem escrúpulos e capaz de fazer qualquer coisas para chegar ao poder e nele se manter.
Coincidentemente, o Brasil acaba de descobrir, por meio da jornalista Mirian Dutra, que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o príncipe da sociologia, também tem seu lado Underwood.
Desde que a história veio a público, com a publicação de uma entrevista de Mirian Dutra a uma revista estrangeira (leia aqui), abriu-se um debate na mídia brasileira sobre a natureza do caso: é um assunto privado, que assim deve ser mantido, ou tema de interesse público?
A favor de FHC, deve-se destacar que ele jamais manteve uma conduta hipócrita em relação ao aborto. Na eleição presidencial de 2010, quando o então candidato José Serra, do PSDB, tentou vincular a rival Dilma Rousseff à defesa do aborto, FHC adotou uma postura mais liberal. “Acho que a discussão do aborto em todos os países vai ocorrer. É como a questão da droga, não pode ser eleitoral. É uma questão de outra natureza”, afirmou FHC, para quem esses assuntos não devem ser “politizados”.
No entanto, a segunda entrevista de Mirian Dutra (leia aqui), desta vez às jornalistas Mônica Bergamo e Natuza Nery, revelam que se trata de um escândalo eminentemente público. Eis os motivos:
1) Mirian revelou que FHC usou a empresa Brasif para lhe pagar uma mesada no exterior. A empresa, para quem não a conhece, administrava todos os free shops do País, sendo concessionária da Infraero, uma empresa do governo federal. Hoje, pertence ao grupo suíço Dufry.
2) Mirian também citou que o responsável pelo acerto foi seu cunhado, o lobista Fernando Lemos, que morreu em 2012. Lemos se tornou um dos personagens mais ricos de Brasília durante o governo FHC e dizia abertamente que gerava negócios a partir da gravidez de Mirian Dutra. A quem lhe perguntasse, ele dizia ser pago pelo ex-senador Jorge Bornhausen, do DEM.
3) A entrevista também revela uma faceta cruel da relação de FHC com a ex-amante, deixada de lado por um objetivo maior: o poder. "Quando disse que estava grávida, ele disse 'você pode ter este filho de quem você quiser, menos meu'. Eu falei: 'não acredito que estou escutando isso de uma pessoa que está há seis anos comigo'", afirmou Miriam Dutra.
4) O segredo de FHC também fez com que o ex-presidente ficasse devedor de dois dos maiores grupos de comunicação do Brasil: Globo e Abril, que esconderam o caso, mesmo sabendo que ocultavam uma mentira. Outros veículos poderiam alegar não ter como provar que o filho de Mirian Dutra era de FHC. Mas a Globo sabia. Tanto que exilou sua jornalista-problema. A Abril também sabia, pois, segundo Mirian Dutra, o jornalista Mario Sergio Conti, ex-diretor de Veja, publicou uma nota falsa para abafar o assunto. A que preço o segrego foi escondido, questiona Kiko Nogueira, editor do DCM? (leia aqui)
Se esses quatro pontos não bastassem, há ainda a revelação de que FHC pagou por dois abortos, o que deixa no ar a questão: ele teria sido eleito e reeleito se a mídia brasileira tivesse cumprido seu dever de publicar a verdade?