O chão mole de Aécio se liquefaz: tucano sofre erosão de votos para Marina, vê o dinheiro grosso flertar com a substituta de Campos e já sente o cheiro da traição nas fileiras do PSDB.
Lições pedagógicas que vem da França: economia francesa patina no arrocho neoliberal e governo afunda na crise; Hollande demite primeiro ministro e promove nova reforma em seu ministério
Econeoliberalismo junta conservacionismo e conservadorismo; preservação da natureza e congelamento da economia; juro alto e atividade econômica baixa: o rentismo vibra.
Venda de papelão de embalagem, indicador que antecipa a atividade na economia, cresceu 11% em julho sobre junho; na comparação com julho de 2013 o avanço foi de 3%.
Dieese: com inflação em declínio, 93% dos acordos salariais fechados no 1º semestre tiveram ganho real de salário
Brasil criou 1,490 milhão de empregos com carteira assinada em 2013, 3% mais que em 2012; a renda dos assalariados cresceu 3% acima da inflação (RAIS)
Mercado de trabalho brasileiro reúne hoje cerca de 49 milhões de empregos formais: trata-se de um estorvo ou de um patrimônio do desenvolvimento a ser preservado das receitas de arrocho?
Blog Cidadania
Não deixa de ser irônico que se possa usar uma metáfora “aérea” para
descrever o enrosco em que os dois principais candidatos de oposição a
presidente da República se meteram. Um enrosco que pode lhes custar a
derrota para Dilma Rousseff.
A ironia, por óbvio, reside em que o setor aeroportuário foi, durante
anos, um dos principais cavalos-de-batalha da oposição a Lula e a
Dilma. Devido à forte inclusão social nos governos petistas, a “nova
classe média” chegou a aeroportos pensados exclusivamente para a elite e
causou superlotação que a mídia apelidou de “caos aéreo”.
A Copa do Mundo de 2014 resolveu o problema. Hoje, o país tem
aeroportos capazes de atender a uma demanda vitaminada pela distribuição
de renda da era petista, ainda que a elite e a mídia se recusem a
reconhecer os méritos da nova malha aeroportuária.
Ironicamente, porém, Aécio Neves e Marina Silva podem ser derrotados,
respectivamente, por um aeroporto e um avião. Está ficando claro ao
país que o moralismo com que esses dois atacam os governos petistas dos
últimos 12 anos não passa da mais deslavada hipocrisia.
A candidatura de Aécio Neves foi praticamente inviabilizada por um
fato que ele achou que passaria batido: ter usado dinheiro público para
construir um aeroporto dentro de fazenda de sua família que ele
frequenta o tempo todo.
Aécio tentou fazer o país de trouxa ao negar o que só cego não
enxerga: o seu escandalosamente evidente interesse pessoal na execução
da obra milionária.
Mídia e aliados de Aécio disseram que as pesquisas não registraram
prejuízo eleitoral para ele por conta desse episódio, mas a rápida
desintegração de sua candidatura que pesquisas internas dos partidos
(inclusive do PSDB) vêm revelando, comprova esse prejuízo.
Aécio pode até não ter perdido votos – a crer nas pesquisas e,
sobretudo, em suas “margens de erro” –, mas parou de ganhar. Estancou.
Por conta disso, foi o principal prejudicado pela morte de Eduardo
Campos.
O fato é que, à exceção da direita mais radical, todos estão vendo o
pretenso novo “príncipe da República” se esboroar contra o solo.
Eis que surge Marina, herdeira política da “santificação” instantânea
que a morte concede no Brasil. Contudo, passados alguns dias a
justificada gritaria dos que perderam seus imóveis com a queda do avião
de Campos começa a fazer as pessoas acordarem.
Chega a ser estupefaciente que, passados mais de dez dias, não se
tenha chegado ao dono de um avião que o político morto usava de modo tão
intenso. O jogo de empurra vai deixando claros os interesses obscuros
que financiavam Campos e que continuarão financiando Marina.
As suspeitas de ilegalidade no uso da aeronave ainda não chegaram ao
eleitorado, mas já estão sob escrutínio da Polícia Federal e da Justiça
Eleitoral. A cada dia se entende cada vez menos a origem daquele avião e
que tipo de acordos o colocaram à disposição de Campos.
Mesmo que os adversários de Marina não tenham coragem de explorar o
escândalo que vai nascendo – e, no que diz respeito ao PSDB, seus
blogueiros e colunistas amestrados já exploram o caso –, a Justiça
Eleitoral dificilmente vai se contentar com explicações vagas.
De quem é o avião que Campos usava como seu? Quem pagou? Quanto foi pago? Foi declarado à Justiça Eleitoral?
Marina, segundo já admite a mídia, pode ter a candidatura impugnada por esse caso.
Mesmo que a Justiça Eleitoral não tenha coragem de chegar a tanto, as
obscuras contas de campanha do PSB já revelam que Marina não tem as
diferenças que apregoa em relação a outros políticos.
Tanto Marina quanto Aécio são daqueles políticos que quanto mais forem conhecidos, pior para eles.
No caso de Marina, até mesmo o tal “mercado” já começa a perceber que
um seu governo seria fraco por falta de base política sólida. Ela teria
que bater às portas do PSDB e do PMDB ou deste e do PT.
Estadão, Época e Reinaldo Azevedo saíram na frente na pancadaria
contra Marina. Ou seja, o PSDB saiu na frente contra Marina – até por
ela prejudicar mais os tucanos, ao menos no momento.
O PT parece menos preocupado com Marina do que com o bombardeio da mídia.
No terceiro programa de Dilma no horário eleitoral, o PT alternou a
estratégia de acusar a mídia com a estratégia que esta chama de “nós
contra eles”, ou seja, mostrar como o povão passou a desfrutar do que
antes era exclusividade da elite, como acesso a universidades, a casa
própria, a aeroportos.
Lula, no horário eleitoral, é uma bomba atômica. Deve ser um dos
políticos que menos perdeu com as manifestações de junho do ano passado,
apesar de Dilma ter sido quem mais perdeu. O chamamento à reflexão que o
ex-presidente tem feito dificilmente deixará de produzir efeitos
eleitorais.
A vantagem de Dilma é a de que ela não precisa melhorar muito as suas
intenções de voto. Se ganhar meia dúzia de pontos nas pesquisas pode
até liquidar a fatura no primeiro turno. Já Marina e Aécio precisam de
muito mais.
Ameaçados por um avião e um aeroporto, Mariana e Aécio podem ter
perdido o voo que conduziria um deles à Presidência da República. Mais
ironia do que isso, impossível.