Um afoito exército está à espera de ordens nas redações. Enerva-se nas baias. Adestrado, cevado no cocho neoliberal, quer trotar seus dotes; reclama serviço. 'É preciso travar Lula!" --antes que ele destrave o país, os investimentos etc. As ventas cospem impaciência. O conservadorismo brasileiro detém os meios; mas faltam-lhe os fins, o discurso claro, convincente; a meta crível e pertinente. Clareza e votos são imiscíveis no seu caso. A transparência, ao contrário, favorece o governo a avançar na reordenação do desenvolvimento brasileiro. O que falta, então, para conquistar a confiança do capital privado, por exemplo, e os projetos acontecerem? Talvez a resposta não esteja na palavra confiança. Ou talvez aquilo que o keyenesianismo chama de confiança tenha uma tradução mais completa na palavra hegemonia. A confiança, vista desse mirante, não é um saldo cumulativo de incentivos fiscais, mas um campo conflagrado. Nele os vivos disputam o futuro com zumbis. O requisito para vencê-los é não temer o passo seguinte da história.(LEIA MAIS AQUI)
Manchetinha safada
Evidentemente, não há outra classificação para esta manchete, a principal da 1ª página do Folhão de hoje: "SP tem 661 mil pedidos médicos na fila de espera". Tudo bem, é notícia - e triste -, mas lendo-se a matéria descobre-se que se trata de uma lista só da Prefeitura da capital, de pacientes inscritos para atendimentos em órgãos de saúde municipais.
Por que a Folha de S.Paulo não dá a lista do Estado? Os corredores dos hospitais públicos e demais instituições de saúde estaduais estão cheios de pacientes e de macas com doentes à espera de vagas para tratamento e internação.
É só conferir no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, na capital (HC-FMUSP), e nos outros hospitais públicos do Estado na capital e no interior, para ver o apagão, o estado de calamidade pública a que chegou a saúde em São Paulo nestes 20 anos em que o Estado é governado pelos tucanos.
Jornal parece querer proteger o governo tucano. Será?
Parece. Mas, assim, da forma como a Folha dá a notícia abordando os pacientes à espera por atendimento nos hospitais e postos de saúde da capital, parece proteção ao governo tucano do Estado - será ?!!! - e um ensaio de que vai fazer oposição declarada ao novo prefeito paulistano, Fernando Haddad (PT).
Sem lhe dar sequer aquela trégua que os jornalões costumam dar às autoridades que chegam, para que elas digam a que vieram.
A propósito e embora os assuntos sejam tristes, um leitor deste blog conta hoje que viu na GloboNews que os responsáveis pelas ONGs integradas à Rede Nossa São Paulo vão entregar ao prefeito Haddad os resultados da pesquisa Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município (iRBEM) e cobrar-lhe o descalabro da segurança pública em São Paulo. Só que o responsável pela segurança pública paulista é o governo do Estado...
Os dois pesos e duas medidas de sempre
O mesmo leitor contou ter comprovado os dois pesos e duas medidas com que o Sistema Globo de Comunicação se porta em relação aos governos que apoia e os do PT aos quais faz oposição.
O leitor disse ter visto na Globo News que o ex-prefeito de São Luis/MA João Castelo deixou o material escolar enviado pelo Ministério da Educação apodrecer. E que outro prefeito, este de Meridiano (SP), Aristeu Baldin, mandou uma ambulância da cidade percorrer 2 mil km, levando a mudança da filha de uma funcionária municipal.
Nos dois casos, a GloboNews não informou o partido dos prefeitos. Eles são do PSDB. Já se fossem prefeitos do PT, vocês sabem...