Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista
segunda-feira, 18 de julho de 2011
A falsa bandeira
Zuenir Ventura, em crônica do dia 13.07, sugere que, nos “tempos de leniência moral” em que se vive, talvez estejamos necessitados de um pouco de “udenismo”, o que, para ele, não faria mal a ninguém. Que o Zuenir me perdoe, mas, ainda que o admire e lhe reconheça a intenção, essa é uma declaração pouco feliz.
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INSACIÁVEIS
A contagem regressiva para a oficialização do calote grego apertou o passo nas últimas horas. Nesta manhã de segunda-feira, os credores precificam esse desfecho impondo spreads cada vez mais elevados à Italia e Espanha na negociação de títulos das respectivas dívidas. O movimento em direção ao abismo é autopropelido: a ante-sala do ‘default' grego acelera a fuga dos investidores em relação a economias fragilizadas, caso da italiana , portuguesa, espanhola, irlandesa . Na inútil tentativa de deter a manada, os Tesouros cedem e se enforcam numa espiral de juros insuportável. Na quinta-feira, a comissão europeia reúne-se em Bruxelas para bater o martelo sobre a melhor forma de deter esse ciclo de ferro -se é que há uma, não é a dos planos de ajuste inviáveis impostos à sociedade grega. Se o povo grego não pode pagar a conta sozinho, quem vai rachar a fatura com ele? A Alemanha pretende que os bancos privados assumam uma parte do esfarelamento de ativos financeiros da Grécia. O ortodoxo BC europeu e a associação dos bancos europeus resistem: querem que o dinheiro público metabolize integralmente o ‘beiço' grego comprando seus títulos pelo valor de face, sem qualquer prejuízo. A lógica é a de semre: lucrar na alta do ciclo especulativo e sair da festa sem pagar a conta quando começa o quebra-quebra. O Brasil conhece a natureza do fenômeno. O país já paga taxas de juros reais equivalentes à remuneração especulativa extraída da Itália e da Espanha, superior a 6%, pelos rentistas. Mas o bumbo midiático abre a semana em plena campanha por uma nova alta da Selic. A intenção é extrair um novo degrau de 0,25%, que poderá jogar o juro básico do país a 12,5%. A decisão será discutida na reunião do Copom desta quarta-feira.
(Carta Maior; 2º feira 18/07/ 2011)
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BNDES sob ataque
E lá vai o BNDES pro pelourinho novamente. Repito: acho ótimo. A última coisa que eu faria é sentir pena de uma instituição que movimenta centenas de bilhões de reais. Que apanhe como gente grande, talvez assim aprenda a se defender. Neste domingo, Globo e Folha publicaram artigos bastante críticos à instituição. Nosso amigo Paulo Henrique Amorim, do Conversa Afiada, repercutiu alegremente as duas matérias, o que também considero muito saudável.
Entretanto, não vou partilhar tão facilmente da opinião de um ultra neo-liberal como o Claudio Hadadd, o economista que a Folha entrevistou. E tenho ressalvas importantes à reportagem do Globo. Ambas são positivas por suscitar o debate em torno daquele que, como já disse em outro post, é um dos pilares mais importantes da economia brasileira, com peso relevante em toda América Latina. O BNDES é um dos maiores (talvez até o maior) bancos públicos de investimento do ocidente. A sua própria existência é contrária aos princípios neoliberais, a menos que se restringisse, como sugeriu Haddad, a financiar projetos de infra-estrutura (o que, na verdade, ele já faz, e muito bem).
Ambas as matérias, todavia, pecam pela omissão de dois números fundamentais para contextualizar a participação do BNDES na economia brasileira. O primeiro é o crescimento do número de empresas beneficiadas, sobretudo micro e pequenas, pelos financiamentos do BNDES. Este número trinca o raciocínio segundo o qual ele beneficiaria apenas o andar de cima. Ironia suprema: este aumento se dá sobretudo a partir da gestão de Luciano Coutinho, o mesmo que agora é acusado de privilegiar os tubarões.
Não vou sequer mencionar FHC porque é covardia: naqueles tempos, o pequeno não existia. Nem o Carlos Lessa, hoje verdugo da gestão de Coutinho, se notabilizou neste ponto, tão fundamental. Presidente do banco em 2003 e 2004, Lessa conseguiu elevar o número de pequenos contemplados em 2003 para 27 mil empresas (em 2002, foram 18,9 mil); no ano seguinte, porém, viu esse número cair para 20 mil.
A coisa só começa a mudar mesmo com a entrada de Coutinho, em 2007. A partir daquele ano tem início uma grande transformação, com forte aumento, ano a ano, das concessões de crédito. Em 2010, já eram 417 mil micro e pequenas empresas contempladas.
O segundo número que Globo e Folha omitem é a evolução do lucro do BNDES nos últimos anos. A matéria do Globo, neste sentido, é realmente manipuladora, pois ao invés de trazer dados consolidados, inventa um prejuízo por parte do BNDESPar com base no valor das ações em poder do banco ao final da semana passada. Muito conveniente, porque a desvalorização momentânea das ações da Petrobrás mostraria um resultado negativo. Mas isso pode mudar de um dia para outro. O importante, numa matéria como esta, era informar ao leitor acerca dos valores consolidados. O BNDES vem batendo recordes de lucro, e as operações do BNDESPar tem respondido por cerca de metade desses valores. Ou seja, as ações caem e sobem ao longo do ano, mas o importante é analisar os resultados concretos e não retratos incompletos (possivelmente tendenciosos e equivocados) de momento. Seria honesto, para dizer o mínimo, que o Globo, numa matéria como essa, ao menos informasse seus leitores sobre isso, para que estes não pensassem que a instituição está dando prejuízo ao contribuinte, o que não é verdade.
É bastante irônico que os neoliberais de repente tenham se esquecido do fator "lucro". Está certo que o objetivo central do BNDES não é ter lucro, mas o fato de tê-lo não é ruim, evidentemente. Desde que o banco mostre que tem aumentado os repasses a micro e pequenas empresas e esteja financiando mais projetos de infra-estrutura, então é ótimo que haja lucro, até para que o banco possa se dar ao luxo de financiar projetos de cunho mais social que dão menos lucro. Como o BNDES é público, o lucro vem para o nosso bolso, seja reforçando o caixa do Tesouro, seja financiando projetos de cultura (o que se reflete na educação), o que o banco vem fazendo a uma escala impensável antes da era Coutinho.
Reitero pela enésima vez que é importante que a sociedade fique atenta às ações do BNDES, e mantenha um olhar crítico. Sob Coutinho, o banco tornou-se mais ousado e mais presente na economia nacional. Ganhando mais visibilidade, é natural que seja mais criticado. As ações do BNDESPar refletem, a meu ver, uma política industrial mais intervencionista por parte do governo, e isso necessariamente contraria (e beneficia) muitos interesses poderosos. Por trás da blindagem econômica que protegeu o Brasil da terrível crise financeira que atingiu o mundo em 2008 e 2009, estava o crédito do BNDES, que ajudou empresas nacionais a enfrentarem seus momentos mais difíceis. Não esqueçamos que o BNDES não dá dinheiro de graça para ninguém. Ele empresta a juro mais baixo que a taxa Selic, mas ainda assim com juros, e a empresa tem de pagar em dia. Muitos países não teriam passado pelo que passaram se tivessem um banco como esse. E acho melhor emprestar dinheiro para empresas que geram emprego do que dar trilhões a juro zero para salvar instituições financeiras incompetentes, como fizeram EUA e Europa recentemente, e o governo FHC com seu Proer (que corresponderia hoje, em valores atualizados, e cerca de R$ 50 bilhões).
Naturalmente, se o BNDES dá crédito, tem gente que lucra muito, outros que lucram menos. Consta que as empresas de mídia, que sempre tiveram acesso privilegiado ao caixa da instituição, não tiveram tantas facilidades como gostariam nos últimos anos.
Contemplemos, portanto, o quadro inteiro, levando também em consideração os números que eu lhes trouxe. Quando o BNDES apenas financiava os barões da mídia e demais amigos de Antonio Carlos Magalhães, nunca houve matérias na grande imprensa criticando a atuação do banco. Hoje ele financia 610 mil empresas e pessoas físicas no país e virou um de seus alvos preferidos.
Entretanto, não vou partilhar tão facilmente da opinião de um ultra neo-liberal como o Claudio Hadadd, o economista que a Folha entrevistou. E tenho ressalvas importantes à reportagem do Globo. Ambas são positivas por suscitar o debate em torno daquele que, como já disse em outro post, é um dos pilares mais importantes da economia brasileira, com peso relevante em toda América Latina. O BNDES é um dos maiores (talvez até o maior) bancos públicos de investimento do ocidente. A sua própria existência é contrária aos princípios neoliberais, a menos que se restringisse, como sugeriu Haddad, a financiar projetos de infra-estrutura (o que, na verdade, ele já faz, e muito bem).
Ambas as matérias, todavia, pecam pela omissão de dois números fundamentais para contextualizar a participação do BNDES na economia brasileira. O primeiro é o crescimento do número de empresas beneficiadas, sobretudo micro e pequenas, pelos financiamentos do BNDES. Este número trinca o raciocínio segundo o qual ele beneficiaria apenas o andar de cima. Ironia suprema: este aumento se dá sobretudo a partir da gestão de Luciano Coutinho, o mesmo que agora é acusado de privilegiar os tubarões.
Não vou sequer mencionar FHC porque é covardia: naqueles tempos, o pequeno não existia. Nem o Carlos Lessa, hoje verdugo da gestão de Coutinho, se notabilizou neste ponto, tão fundamental. Presidente do banco em 2003 e 2004, Lessa conseguiu elevar o número de pequenos contemplados em 2003 para 27 mil empresas (em 2002, foram 18,9 mil); no ano seguinte, porém, viu esse número cair para 20 mil.
A coisa só começa a mudar mesmo com a entrada de Coutinho, em 2007. A partir daquele ano tem início uma grande transformação, com forte aumento, ano a ano, das concessões de crédito. Em 2010, já eram 417 mil micro e pequenas empresas contempladas.
O segundo número que Globo e Folha omitem é a evolução do lucro do BNDES nos últimos anos. A matéria do Globo, neste sentido, é realmente manipuladora, pois ao invés de trazer dados consolidados, inventa um prejuízo por parte do BNDESPar com base no valor das ações em poder do banco ao final da semana passada. Muito conveniente, porque a desvalorização momentânea das ações da Petrobrás mostraria um resultado negativo. Mas isso pode mudar de um dia para outro. O importante, numa matéria como esta, era informar ao leitor acerca dos valores consolidados. O BNDES vem batendo recordes de lucro, e as operações do BNDESPar tem respondido por cerca de metade desses valores. Ou seja, as ações caem e sobem ao longo do ano, mas o importante é analisar os resultados concretos e não retratos incompletos (possivelmente tendenciosos e equivocados) de momento. Seria honesto, para dizer o mínimo, que o Globo, numa matéria como essa, ao menos informasse seus leitores sobre isso, para que estes não pensassem que a instituição está dando prejuízo ao contribuinte, o que não é verdade.
É bastante irônico que os neoliberais de repente tenham se esquecido do fator "lucro". Está certo que o objetivo central do BNDES não é ter lucro, mas o fato de tê-lo não é ruim, evidentemente. Desde que o banco mostre que tem aumentado os repasses a micro e pequenas empresas e esteja financiando mais projetos de infra-estrutura, então é ótimo que haja lucro, até para que o banco possa se dar ao luxo de financiar projetos de cunho mais social que dão menos lucro. Como o BNDES é público, o lucro vem para o nosso bolso, seja reforçando o caixa do Tesouro, seja financiando projetos de cultura (o que se reflete na educação), o que o banco vem fazendo a uma escala impensável antes da era Coutinho.
Reitero pela enésima vez que é importante que a sociedade fique atenta às ações do BNDES, e mantenha um olhar crítico. Sob Coutinho, o banco tornou-se mais ousado e mais presente na economia nacional. Ganhando mais visibilidade, é natural que seja mais criticado. As ações do BNDESPar refletem, a meu ver, uma política industrial mais intervencionista por parte do governo, e isso necessariamente contraria (e beneficia) muitos interesses poderosos. Por trás da blindagem econômica que protegeu o Brasil da terrível crise financeira que atingiu o mundo em 2008 e 2009, estava o crédito do BNDES, que ajudou empresas nacionais a enfrentarem seus momentos mais difíceis. Não esqueçamos que o BNDES não dá dinheiro de graça para ninguém. Ele empresta a juro mais baixo que a taxa Selic, mas ainda assim com juros, e a empresa tem de pagar em dia. Muitos países não teriam passado pelo que passaram se tivessem um banco como esse. E acho melhor emprestar dinheiro para empresas que geram emprego do que dar trilhões a juro zero para salvar instituições financeiras incompetentes, como fizeram EUA e Europa recentemente, e o governo FHC com seu Proer (que corresponderia hoje, em valores atualizados, e cerca de R$ 50 bilhões).
Naturalmente, se o BNDES dá crédito, tem gente que lucra muito, outros que lucram menos. Consta que as empresas de mídia, que sempre tiveram acesso privilegiado ao caixa da instituição, não tiveram tantas facilidades como gostariam nos últimos anos.
Contemplemos, portanto, o quadro inteiro, levando também em consideração os números que eu lhes trouxe. Quando o BNDES apenas financiava os barões da mídia e demais amigos de Antonio Carlos Magalhães, nunca houve matérias na grande imprensa criticando a atuação do banco. Hoje ele financia 610 mil empresas e pessoas físicas no país e virou um de seus alvos preferidos.
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TODOS OS HOMENS DE MURDOCH: O CONTROLE DA SOCIEDADE PELA MÍDIA
Com a detenção da ex-editora do News of the World, Rebekah Brooks, neste domingo --solta depois sob fiança-- oito jornalistas do grupo Murdoch passaram pela prisão de Londres.Todos são acusados de crime de corrupção e interceptação de comunicações de um amplo universo de mais de 4 mil pessoas, incluindo-se celebridades, políticos e cidadãos comuns. Neste domingo, ainda, nada menos que o chefe da Polícia Metropolitana de Londres (Scotland Yard), Paul Stephenson, renunciou ao cargo, após admitir que havia contratado o antigo sub-editor do News Of the World, Neil Wallis, como consultor da Scotland Yard. Wallis, foi preso sob suspeita de participar de esquema de suborno de policiais em troca de informações confidenciais para o tabloide de Murdoch. Outro braço-direito de Murdoch, Andy Coulson, ex-diretor do News of the World, trabalhara como homem de comunicação de David Cameron, antes que este assumisse o cargo de primeiro ministro inglês. Nos EUA, o FBI começa esta semana a investigar denúncias de espionagens realizadas por veículos do grupo Murdoch, que possui a rede Fox News, o Wall Street Jounal e a Business Week. As investigações poderão desnudar as ligações políticas e operacionais entre a extrema direita republicana e o canal Fox News, dirigido pelo ex-assessor de imprensa de Nixon e Bush (pai), Roger Ailes. Nos anos 70, Ailes foi o autor de um estudo sugestivamente intitulado: ‘ Como Colocar o Partido Republicano na Mídia'. Na presidência da Fox, Ailes notabilizou-se por demonstrar na prática ‘como colocar o Tea Party na agenda da mídia'. Esse jornalismo que se distingue por combater idéias e defender interesses destruindo reputações e alvejando biografias, tem a sua contrapartida em termos de agenda econômica. Nos EUA, atualmente, ela é representada pelo extremismo orçamentário republicano, cuja intenção é imobilizar Obama impondo-lhe um calendário de cortes em gastos sociais em plena campanha presidencial de 2012. A mídia brasileira, de um modo geral, adotou uma abordagem minimalista dos desdobramentos que o escândalo do ‘News of the World' coloca no tocante às relações entre o dinheiro, a democracia e o direito à informação. Em uma palavra, a regulação da mídia, tema incomodo que perpassa todo o escândalo Murdoch, mas silenciado entre nós. Bernardo Kuscinski , um dos pioneiros da crítica da mídia no país, em comentário sobre um artigo do historiador Timothy Ash, publicado no Estadão deste domingo, diz o seguinte : " Ash aponta para a profundidade e a gravidade do que se passa na democracia inglesa, refém de Murdoch e da grande midia; a elite britânica e todas as pessoas de perfil público viviam em estado de medo, (que Ash) compara ao medo vivido na Rússia. É a grande mídia agindo como organização criminosa.Há algo de parecido no comportamento de VEJA".
(Carta Maior; 2º feira 18/07/ 2011)
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