Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Golpistas paraguaios forjaram denúncia contra Venezuela

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Quem quiser se manter informado sobre os desdobramentos do golpe “institucional” no Paraguai não pode se restringir à grande imprensa, a menos que pretenda ser enganado. A mídia publica mentiras abertamente e não ouve todos os lados envolvidos.
Um belo exemplo está em artigo do ex-chanceler do governo Fernando Henrique Cardoso, Celso Lafer, publicado na Folha de São Paulo de quarta-feira, 4 de julho. Chega a ser desalentador ver um diplomata mentir de forma tão grosseira.
Sob o título “Ilegalidade da incorporação da Venezuela”, assim como o resto da oposição ao governo Dilma Rousseff o diplomata distorce fatos e mente de forma escancarada. Trecho do artigo reproduzido a seguir permite constatar isso com clareza.
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Trecho do artigo de Celso Lafer na Folha de São Paulo de 4 de julho de 2012
(…)
O Tratado de Assunção, que criou o Mercosul, prevê adesões, mas estabelece que sua aprovação “será objeto de decisão unânime dos Estados-partes” (artigo 20). Não vou discutir os critérios que levaram Argentina, Brasil e Uruguai a considerar, invocando o Protocolo de Ushuaia, que houve ruptura da ordem democrática no Paraguai. 
Pondero apenas que foi uma decisão tomada com celeridade semelhante à que caracterizou o impeachment do presidente Lugo e que ela não levou em conta o passo prévio previsto no artigo 4 do referido protocolo: “No caso de ruptura da ordem democrática em um Estado-parte do presente protocolo, os demais Estados-partes promoverão as consultas pertinentes entre si e com o Estado afetado”.
(…)
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Esse artigo 4º do Protocolo de Ushuaia vem sendo martelado sem parar pela mídia e pelos golpistas paraguaios. O que é quase inacreditável é que o diplomata “tucano” e o resto da imprensa golpista simplesmente fazem de conta que os artigos 5º e 6º  do mesmo Protocolo não existem.
Leia, abaixo, o que mídia, golpistas, políticos e diplomatas adeptos do golpismo estão escondendo.
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Artigo 5º do Protocolo de Ushuaia
Quando as consultas mencionadas no artigo anterior resultarem infrutíferas, os demais Estados Partes do presente Protocolo, no âmbito específico dos Acordos de Integração vigentes entre eles, considerarão a natureza e o alcance das medidas a serem aplicadas, levando em conta a gravidade da situação existente. Tais medidas compreenderão desde a suspensão do direito de participar nos diferentes órgãos dos respectivos processos de integração até a suspensão dos direitos e obrigações resultantes destes processos.
Artigo 6º do Protocolo de Ushuaia
As medidas previstas no artigo 5º precedente serão adotadas por consenso pelos Estados Partes do presente Protocolo, conforme o caso e em conformidade com os Acordos de Integração vigentes entre eles, e comunicadas ao Estado afetado, que não participará do processo decisório pertinente.
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Como se vê, as manipulações são grosseiras. Contudo, a última dessas manipulações talvez seja até mais grave. Nesta semana, os golpistas paraguaios vieram com uma história maluca de que “Hugo Chávez” e “Rafael Correa” teriam tentado promover um levante de militares paraguaios contra o processo ilegal que derrubou Fernando Lugo.
Veja, abaixo, matéria da Folha sobre as “denúncias” dos golpistas paraguaios contra a Venezuela e o Equador.
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Folha de São Paulo
4 de julho de 2012
Paraguai exibe “provas” de ação de Chávez
Assunção divulga vídeo que diz comprovar tentativa da Venezuela de insuflar golpe militar
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
DE BRASÍLIA
O novo governo paraguaio apresentou ontem vídeos que, segundo ele, comprovam que o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, se reuniu com o alto comando militar do Paraguai antes da deposição de Fernando Lugo da Presidência.
Além do ministro do governo Hugo Chávez, o embaixador equatoriano Julio Prado estaria no encontro.
“Tenho certeza de que serão entregues [cópias das gravações] aos órgãos responsáveis”, afirmou a ministra da Defesa do Paraguai, María Liz García, durante entrevista.
Ela e o presidente Federico Franco acusaram na semana passada os governos da Venezuela e do Equador de tentar promover levante dos militares paraguaios para que Lugo permanecesse no poder.
As imagens divulgadas ontem mostram que os comandantes das Forças Armadas paraguaias e o chanceler venezuelano estavam presentes no palácio do governo, em Assunção, no dia 22 de junho, momentos antes de o Congresso aprovar o impeachment, em processo que durou pouco mais de 30 horas.
(…)
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A grosseria dessa acusação é espantosa. E mais espantosa ainda é a ausência, na mídia brasileira, do vídeo usado pelos golpistas paraguaios para “comprovar” a “ingerência” de Venezuela e Equador e do vídeo usado pelo governo venezuelano para rebater essa acusação.
O vídeo original, manipulado pelos golpistas, foi apresentado na terça-feira (3.7) pela rede de televisão venezuelana TeleSUR. Mostra que o chanceler venezuelano Nicolás Maduro não se reuniu sozinho com os militares paraguaios pouco antes da queda de Lugo, como afirmam os golpistas.
A filmagem original foi feita por uma câmera de segurança e tem aproximadamente três minutos de duração. E mostra que, à diferença da acusação da chancelaria paraguaia, o chanceler venezuelano não tentou “incitar” uma sublevação militar contra a decisão do congresso paraguaio.
Chega a ser ridícula a acusação e mais ridículo ainda é a mídia brasileira dar eco a ela sem demonstrar a farsa que foi tentada pelos golpistas paraguaios após a sucessão de farsas que vêm encenando.
Ora, qualquer um que tenha acompanhado o caso sabe que os chanceleres da Unasul foram despachados às pressas para o Paraguai na véspera da sessão do congresso desse país que derrubou o então presidente Fernando Lugo.
A diferença do vídeo apresentado na terça-feira pela ministra da defesa do Paraguai, María Liz García, e emitido pela rede Telefuturo é a de que mostra apenas um segmento das imagens no qual se vê apenas o chanceler venezuelano reunido com chefes militares paraguaios.
No entanto, o vídeo completo mostra que na tal reunião estiveram presentes, também, os outros chanceleres dos países da Unasul que viajaram às pressas ao Paraguai. Inclusive com a participação do Secretário Geral do organismo, Alí Rodrigues Araque.
Todos os chanceleres dos países da Unasul já confirmaram que se reuniram com a comitiva militar para avaliar a situação política paraguaia e para saberem dela se as forças armadas tinham participação na iniciativa do congresso de depor o presidente constitucional do país.
O vídeo manipulado foi divulgado por ordem do “presidente” golpista Federico Franco, segundo informações do Assessor Especial da Presidência da República do Brasil para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.
Assista, abaixo, primeiro ao vídeo divulgado pelos golpistas paraguaios e, em seguida, o vídeo na íntegra, divulgado pela TeleSUR.


Vídeo paraguaio

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Vídeo venezuelano
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A 'FRENTE PARAGUAIA' MOSTRA OS DENTES

Bang-bang paulista: mais dois ônibus queimados nesta madrugada em SP.   leia mais 


 Bastou um golpe de Estado para catalisar a orfandade conservadora que  amargava indócil ostracismo no ambiente democrático e progressista que predomina no Brasil e na América do Sul.  Veio do sofrido Paraguai --2,5% da população detém 80% das terras -- a senha para replicar cepas e esporões remanescentes de ditaduras e negócios contrariados ao longo desse processo. O 'golpe democrático'  aconteceu numa sexta-feira (22-06).  Na 2ª feira, a adesão começou a proliferar-se.  Uma semana depois, nesta 3ª feira, o jornalão que patrocinou o golpe de 64 deixou de lado a liturgia do espaço editorial e aconselhou aos golpistas paraguaios 'mandar às favas essa união aduaneira fracassada e buscar negociações relevantes para seu país'. Leia-se, buscar o regaço largo dos EUA, implodindo uma união regional que nem a crise conseguiu arranhar --e que poderá se fortalecer se o colapso financeiro dos ricos for exorcizado pela retomada do ativismo estatal na região. A frente paraguaia mostra os dentes com objetivos explícitos: apoiar o golpe; através dele, criar um contencioso capaz deter a espiral soberana e progressista em curso no Brasil e na América Latina. Leia nesta pág. a entrevista do assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, sobre o assunto.(LEIA MAIS AQUI)


"Decisão do ingresso da Venezuela no Mercosul foi por 3x0"

Em entrevista concedida nesta terça-feira à Carta Maior, o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, analisa o momento de tensão política vivido na América do Sul após a destituição de Fernando Lugo da presidência do Paraguai, a suspensão deste país do bloco e o ingresso da Venezuela. Marco Aurélio Garcia manifestou surpresa com as críticas do chanceler uruguaio a essa última decisão. "Ele estava lá e poderia ter sido enfático nisso, ou então se dissociar. O dia que eu quiser me dissociar de uma política da presidenta Dilma, eu pego o chapéu e digo “olha, não estou de acordo, vou embora".

Brasília - Em entrevista à Carta Maior, o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, analisa o momento de tensão política vivido na América do Sul após a destituição de Fernando Lugo da presidência do Paraguai, passando ainda pelas eleições no México e pela saída de Samuel Pinheiro Guimarães do cargo de alto representante do Mercosul.

O ministro defendeu a importância da cláusula democrática em uma região que já foi tão massacrada por ditaduras, traçou paralelos entre a queda de Lugo e a derrubada de Manoel Zelaya da presidência de Honduras e apontou os esforços de isolamento das forças anti-democráticas no continente.

Garcia ainda rechaçou as críticas pela incorporação da Venezuela ao Mercosul e rebateu as declarações do chanceler uruguaio sobre uma suposta pressão brasileira. “É um processo de luta interna, mas que estão querendo que o Brasil pague essa conta”.

Qual o significado geopolítico da destituição do Fernando Lugo?

Antes de um significado geopolítico tem um significado democrático. O processo que foi utilizado para destituí-lo está eivado de irregularidades do ponto de vista de normas civilizadas de direito. Ele teve menos de um dia para se defender. As acusações são absurdas e carecem de provas. Então, há uma grave infração daquilo que se pode chamar de estado democrático de direito. Não adianta dizer que a Constituição permite. O Código Penal diz que se você está acusado de matar uma pessoa, de roubar, etc, você pode ser processado, mas tem um ritual processual, ritual que não é para postergar o exercício da Justiça, mas para garantir que o exercício da Justiça será feito.

Na medida em que os países se associaram no Mercosul, isso passou a ser um problema do Mercosul. Quando nós criamos a chamada cláusula democrática, primeiro no Protocolo de Ushuaia I, que foi o que nós evocamos no caso, e depois o de Ushuaia II, que nós só não evocamos porque não está referendado nos Congressos, o que nós queríamos criar era um conjunto de salvaguardas que permitisse que o nosso funcionamento democrático dentro do Mercosul. O Mercosul não é só uma associação econômica, comercial, é também política. Porque nós e os outros países nos demos isso? Porque queríamos que a nossas atividades econômicas, comerciais, culturais, etc, estivessem cercada de determinados princípios políticos. Isso é particularmente importante numa região que sofreu ditaduras, prolongadas ditaduras, o Paraguai a mais de todas. Ditaduras não só prolongadas, como cruéis.

Há pessoas que dizem: “ah, vocês estão se imiscuindo na vida do Paraguai”. Não, o Paraguai é que se imiscuiu na vida do Mercosul, o Paraguai é que contrariou normas que ele mesmo tinha aceito. Por isso que eu digo, antes de ser uma questão geopolítica, é uma questão essencialmente democrática.

E do ponto de vista geopolítico?

Nós rompemos com o critério passado de ter alguns países da região dentro do nosso, entre aspas, campo. Quando, por exemplo, Itaipu foi construída para suprir um problema energético do Brasil, também era uma jogada geopolítica dos militares brasileiros, aceita pelos militares paraguaios, que era uma espécie de política de contenção com a Argentina. Com o advento da democracia e com a evolução dos quatro países esses velhos esquemas geopolíticos desapareceram. Nós, ao invés de termos uma política de contenção, ou uma política de submissão do Paraguai, de associação hierárquica, queremos ter uma política de associação solidária.

O destino da região não pode ser assumido por um país, ele tem que ser compartilhado por todos os países da região, por isso o princípio de cada país um voto, por isso os países tem capacidade de veto, por isso as decisões tem que ser consensuais, etc. O problema é que o Paraguai se retirou desse consenso. Não adianta só eles acharem que fizeram tudo numa boa, a questão é que os outros três não acham isso.

O senhor vê paralelo entre o que aconteceu com o Manuel Zelaya em Honduras e agora com o Lugo no Paraguai?

Tem paralelo. Os dois presidentes estavam indo para o fim do mandato. Para que retirá-los? Para que, uma vez que não havia argumentos consistentes? A retirada do Zelaya foi mais violenta, ele foi retirado de pijama, posto num avião e enviado para a Costa Rica.

No Paraguai a decisão foi tomada pelo Congresso, em Honduras pela Corte Suprema com o emprego direto das Forças Armadas. Se o Lugo tivesse dito que não aceitava a decisão, talvez eles procurassem utilizar as Forças Armadas, mas de qualquer maneira tem uma atipicidade em relação aos processos de destituição presidenciais anteriores.

O senhor vê uma contra-ofensiva de direita para recuperar o território perdido no continente nos últimos anos?

Eu diria que há um deslocamento da direita no território, mas das forças anti-democráticas de uma maneira geral. Nós conseguimos constituir a Unasul, para citar um exemplo. No Mercosul os governos tinham afinidade política maior, ainda que nós tenhamos convivido, no governo Lula, com governos que não podiam ser caracterizados de esquerda, vamos citar o caso do Batlle no Uruguai e do Nicanor no Paraguai. O convívio era muito bom e conseguimos avançar porque nós nunca ficamos cobrando certidão de ideologia de ninguém. Esse mesmo critério foi levado para a Unasul. É claro que há a existência de governos progressistas, ainda que muito diferentes entre si, mas nós conseguimos estabelecer níveis de apoio, inclusive com governos que poderiam ser caracterizados como de direita e centro-direita, Colômbia no período do Uribe. Conseguimos que a Colômbia estivesse na Unasul e inclusive compartilhasse uma coisa importante naquele momento que foi o acordo com o Conselho de Defesa Sulamericana. Por quê? Porque os países avaliaram que a integração era uma coisa importante e que as cláusulas democráticas, que valem tanto para a Unasul como a para o Mercosul, ainda que com formulação distintas, seriam respeitadas.

Quero chamar a atenção para o fato de que a exclusão do Paraguai não se deu somente pelo Mercosul, se deu por unanimidade pela Unasul e aí tem governos que não podem ser caracterizados como governos muito afins do ponto de vista político-ideológico. Então, esses são os problemas que estão sobre a mesa hoje.

Há no horizonte alguma possibilidade de novas sanções a serem tomadas com o Paraguai?

Acho que essas sanções são suficientes. Nós fizemos uma clara opção para não impor sanções de natureza econômica porque elas penalizam basicamente as populações. Os governantes sempre encontram um jeito de resolver os seus problemas. E esses governos são transitórios. O governo atual no Paraguai vai durar mais um ano e um mês, em abril do ano que vem o Paraguai terá a oportunidade de refazer o sistema político. Nós não queremos dizer quem é que tem que ser presidente do Paraguai, nem que força tem que ser hegemônica. Nós temos que ver simplesmente se o processo vai ser equilibrado, democrático. Nós já convivemos com governos do Paraguai que não tinham uma proximidade tão grande conosco.

A possibilidade da volta de Lugo ao poder está descartada?

O Lugo é uma referência na política paraguaia, agora isso é problema dos paraguaios, eles é que vão ter que definir.

A entrada da Venezuela foi criticada, com base inclusive na posição do chanceler uruguaio, sobre uma suposta pressão do Brasil para essa entrada. De outro lado, acusaram o Brasil de criticar um autoritarismo no Paraguai enquanto admite um regime “autoritário” no Mercosul. Como o governo recebe essas críticas?

Em primeiro lugar é bom ter claro que o ingresso da Venezuela no Mercosul foi aprovado pelo Congresso brasileiro, pelo argentino e pelo uruguaio. Acho que o uruguaio foi o primeiro a aprovar, pelo menos primeiro que o Brasil foi. Portanto, não me venham dizer hoje que é indesejável a presença deles. Uma pessoa pode achar, um partido pode achar, tudo bem, agora, os canais que decidem isso nos três países aprovaram.

Segundo, o Paraguai está suspenso das esferas políticas do Mercosul, portanto ele não é mais voto. Antes éramos quatro votos, agora somos três e os três se puseram de acordo em torno disso. Quarto, acho insultante em relação ao presidente Mujica dizer que ele foi na conversa da presidenta do Brasil ou da Argentina. O presidente Mujica é um homem de extraordinária sensibilidade e experiência política, viveu as circunstâncias mais difíceis, tem um currículo impecável, então, acreditar que ele seria leniente no que diz respeito a uma decisão de natureza tão importante quanto essa é insultuoso a ele. Eu tive oportunidade de conversar com ele e o encontrei muito tranqüilo. E ele disse “essa decisão nós tomamos, eu assumo plenamente a responsabilidade disso”.

Então, nos surpreendeu muito a posição adotada pelo chanceler Almagro, que estava lá e poderia ter sido enfático nisso, ou então se dissociar. O dia que eu quiser me dissociar de uma política da presidenta Dilma, eu pego o chapéu e digo “olha, não estou de acordo, vou embora”. Agora o que nós estamos assistindo é um processo de luta interna, mas que estão querendo que o Brasil pague essa conta, vamos ter claro isso.

A presidenta Dilma antes de ir para reunião disse que tinha duas preocupações: em primeiro que a operação fosse juridicamente adequada, por isso levou o advogado geral da União para ir lá e atestar. Pareceres da Advocacia Geral da União são vinculantes. O segundo comentário que ela fez foi o seguinte: no entanto, mesmo sendo juridicamente correto, se houver qualquer objeção política seja da Argentina ou do Uruguai, nós estamos fora, essa é uma decisão que tem que ser tomada de 3 a 0, não por 2 a 1. E foi tomada por 3 a 0.

Sobre o México, como o governo tem visto o questionamento quanto ao resultado eleitoral?

Nós não temos instrumentos mais aprofundados. Trabalhamos com as informações que vem da embaixada brasileira, que nos informa que o processo foi, a grosso modo, correto, que houve uma diferença relativamente importante de votos, 38% a 31%, e que, portanto, o presidente eleito é o Peña Nieto. Nós não temos condições de avaliar no momento atual as denúncias que o Andrés Manuel López Obrador fez, até porque nós não conhecemos o teor dessas denúncias. Não é uma questão de estar de acordo. Eu posso não estar de acordo com muitas coisas, mas não necessariamente eu tenho razão. Evidentemente nós vamos ficar atentos, mas no momento atual se nos aparece uma situação na qual o eleito é o Peña Nieto, assim, a presidenta telefonou para ele para cumprimentá-lo. Caberá agora a Obrador fundamentar as suas denúncias. Não é como na eleição anterior, há seis anos, quando ele perdeu por 0,7%, agora foi por 7.

Mas a nossa preocupação é que a mudança que está ocorrendo no México possa trazê-lo de novo para a América Latina. O México em outras épocas teve um papel muito importante, foi durante muito tempo o único país da América Latina que mantinha relações com Cuba. Foi um país importante no processo de pacificação e democratização da América Central, no caso da Nicarágua, El Salvador e Guatemala, três países onde nós tivemos movimentos revolucionários muito grandes, importantes, massivos, que aspiravam ao socialismo, mas não chegaram lá, mas chegaram na democracia.

É interessante observar isso: a democracia foi conquistada nesses países pelas armas, depois teve um acordo, etc, e o México sempre teve um papel muito importante. Nós gostaríamos que o México pudesse ter esse papel... Há alguns analistas que estão dizendo “ah como o México se encolheu o Brasil ocupou o espaço dele”. Isso é bobagem, o Brasil não ocupou espaço nenhum, porque há um espaço é ilimitado que esses dois ou outros países podem perfeitamente ocupar. Seria muito bom, inclusive, que a gente pudesse ocupar junto com o México, e que o México pudesse desempenhar naquela região um papel que ele já desempenhou.

E eu sei porque em muitas reuniões, como as do Foro de São Paulo e outras instâncias internacionais, nós assistimos concretamente manifestações quase de gratidão da parte até de setores revolucionários em relação ao México, ao que ele foi no passado. Por outro lado, ele está com graves problemas internos e nós temos a expectativa e a esperança que esses problemas possam ser resolvidos pelo próximo governo. Um país que perde 50 mil pessoas por obra do crime organizado é um país que está sofrendo muito. E é uma grande economia, um grande espaço territorial, uma grande população e sobretudo uma grande política, um país com uma tradição política que nós no Brasil não temos. Um país inclusive que foi refundado no começo do século XX por um movimento revolucionário de grande importância. As pessoas ficam muitas vezes pensando na revolução soviética, na revolução chinesa e as vezes esquecem que houve uma grande revolução no México.

O senhor pode comentar sobre a saída de Samuel Pinheiro Guimarães do cargo de alto representante do Mercosul?

Não é uma saída, que eu saiba, que expresse divergências políticas, por não estar de acordo com a política do Mercosul, com a política externa brasileira, muito pelo contrário.

Mas ele reclamou falta de apoio.

Ele reclamou, mas não acredito que tenha sido falta de apoio político, mas falta de apoio institucional. Eu não sei se essas demandas de apoio institucional chegaram aos ouvidos de todos os presidentes de forma adequada. O Samuel é uma pessoa de grande valor, de grande qualidade, de grande tradição, nós todos lamentamos a saída dele. Eu pessoalmente lamento muito. Agora não posso esconder que acho que ele escolheu um momento inadequado. Momento em que o Mercosul está vivendo uma grande tensão. Acho que esses não são momentos para você sair, a menos que tivesse uma posição contrária às orientações que o Mercosul tomou, o que não é o caso, eu sei que ele deve estar absolutamente de acordo com as posições que o Mercosul tomou. Acho que simplesmente ele não se sentiu beneficiado de tudo aquilo que ele acreditava que fosse necessário.

Não foi por falta de apoio brasileiro?

Não e menos ainda por discordância política, muito pelo contrário, nós tínhamos uma afinidade enorme. Talvez não tenha havido o melhor diálogo entre o embaixador Samuel e o Ministério das Relações Exteriores, com a presidência. Mas, essa saída abrupta em meio a essa crise não me dá nem elementos para avaliar concretamente se essa foi uma solução inevitável.

Fotos: Agência Brasil


PiG concorda com Mino: mensalão não se prova


Os mervais passam e a biografia fica.

Saiu no Valor, o PiG (*) chic:

Criminalistas apostam em absolvição geral

Faltando menos de um mês para o início do julgamento do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), os advogados que defendem os 38 réus na Ação Penal nº 470 esperam dos 11 ministros da corte uma análise técnica do caso – e acreditam que, se ela ocorrer, praticamente não haverá condenações. Os argumentos que sustentam sua crença na absolvição vão desde a ausência de provas técnicas até a jurisprudência do Supremo, que, se seguida pelos ministros, favoreceria os réus. Ainda assim, o grupo – que inclui boa parte dos mais renomados criminalistas do país – não descarta um julgamento político e dá como perdidos os votos do relator Joaquim Barbosa e do presidente da corte, Carlos Ayres Britto.
Responsável pela defesa do deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), o criminalista Alberto Toron afirma que, durante uma conversa recente com o ministro Celso de Mello, decano do Supremo, ouviu dele que o julgamento será eminentemente técnico e jurídico. “O Supremo não vai deixar de seguir sua tradição e fará um julgamento justo”, diz. Seu cliente é acusado de corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro por ter assinado, em 31 de dezembro de 2003, um contrato de R$ 9 milhões com a SMP&B Comunicação, do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, que seria mais uma fonte de recursos para a compra de apoio político.

Toron compara o caso do mensalão ao processo penal em que o ex-presidente Fernando Collor de Mello, hoje senador pelo PTB-AL, foi acusado de corrupção passiva por seu suposto envolvimento no esquema montado pelo tesoureiro de sua campanha, Paulo César Farias, o PC Farias. Collor sofreu processo de impeachment em 1992 e renunciou ao cargo antes de ser afastado da Presidência da República. Em 1994, após quatro dias de julgamento, o Supremo absolveu Collor por falta de provas, mesmo diante da imensa pressão popular e da mídia pela sua condenação. “Não vejo o porquê de o Supremo julgar de forma diferente agora.”

A opinião é compartilhada por vários de seus colegas. “Tenho a mais profunda convicção de que o julgamento será técnico”, diz o criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende o publicitário Duda Mendonça e seu sócio, Zilmar Fernandes Silveira. Ambos são acusados de evasão de divisas e lavagem de dinheiro por terem recebido valores devidos pelo PT por serviços prestados durante a campanha eleitoral de 2002, supostamente originados de contratos publicitários destinados ao desvio de recursos. “Nossa defesa é 100% técnica”, diz Kakay, que afirma que os valores recebidos por Duda Mendonça referem-se a créditos de campanhas anteriores do PT e que nada têm a ver com o mensalão – que ele nega que tenha existido.

O criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, que defende a ex-vice-presidente do Banco Rural, Ayanna Tenório Tôrres de Jesus, acusada de formação de quadrilha, gestão fraudulenta de instituição financeira e lavagem de dinheiro, tem a mesma opinião. “O Supremo é um tribunal técnico, há uma diversidade grande de orientações jurídicas, mas todas elas voltadas para a lei e baseadas nas provas dos autos”, diz o criminalista. “É difícil avaliar como o Supremo vai julgar”, afirma Pierpaolo Cruz Bottini, criminalista que defende o ex-deputado federal pelo PT-MG Luiz Carlos da Silva, o Professor Luizinho, acusado de lavagem de dinheiro. No entanto, ele afirma que, ao despachar com os ministros do Supremo, observou que todos eles conheciam profundamente o processo, ouviram com atenção e discutiram temas técnicos. “Não senti nenhuma politização do processo”, diz.

A crença dos criminalistas de que, se o Supremo julgar o processo do mensalão de forma técnica, boa parte dos réus será absolvida baseia-se na instrução criminal – fase do processo em que o Ministério Público Federal tem a função de corroborar as provas colhidas durante o inquérito para confirmar as alegações feitas na denúncia, em face ao contraditório, ou seja, à defesa dos réus. Segundo Pierpaolo Bottini, a maior parte do grande conjunto probatório produzido na fase de inquérito do mensalão não foi corroborada na fase de instrução criminal. “Há uma dificuldade probatória no processo”, afirma. “Para a defesa foi uma instrução criminal muito boa, toda favorável aos réus”, concorda Kakay, para quem o Ministério Público não conseguiu provar as alegações feitas na denúncia.

Os criminalistas se referem às poucas provas técnicas produzidas e à enorme quantidade de testemunhas ouvidas no processo. E são unânimes ao afirmar que nenhuma delas confirmou a existência do mensalão durante a instrução criminal. “A prova decorrente da CPI dos Correios ou do inquérito serve para o oferecimento da denúncia, mas não serve para basear a condenação”, afirma o advogado Marcelo Leonardo, que defende o empresário Marcos Valério, acusado de formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Ele diz que o Código de Processo Penal prevê que o juiz, na formação de seu conhecimento, deve se basear nas provas produzidas em juízo, e que é essa a jurisprudência do Supremo em relação a provas. “E o Ministério Público Federal, em suas alegações finais, só se refere às provas do inquérito, que não podem servir de fundamento para a condenação.” Segundo ele, não há prova produzida na fase de instrução criminal, sob o crivo do contraditório, que confirme as acusações do Ministério Público. “Foram ouvidas 600 testemunhas e não teve uma que confirmou a existência do mensalão”, afirma.

A exceção é o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ). Presidente de seu partido, ele relatou a existência de um esquema de pagamento de mesada a parlamentares da base aliada em troca de votos favoráveis aos projetos de interesse do governo de Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso em 2005. Cassado pela Câmara dos Deputados, o delator do mensalão acabou tornando-se réu no processo, e não apenas testemunha, como era sua intenção. E essa condição, para a defesa dos réus, faz toda a diferença. “Se ele fosse testemunha teria o compromisso de falar a verdade, mas como réu não tem”, diz Marcelo Leonardo. Na ação penal, Roberto Jefferson é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro – ele mesmo declarou ter recebido R$ 4 milhões de Marcos Valério a mando do PT.

“Há um colosso de depoimentos, mas as provas técnicas são muito poucas”, diz Antônio Cláudio Mariz de Oliveira. Já Alberto Toron afirma que há provas técnicas em algumas situações, mas que “as provas testemunhais são absolutamente escassas” – ou seja, não comprovam a existência do mensalão. Segundo os criminalistas ouvidos pelo Valor, além do relato de Roberto Jefferson, outras testemunhas confirmaram a existência de caixa dois de campanha eleitoral – como o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, réu no processo e acusado de formação de quadrilha e corrupção ativa -, mas não do mensalão.

Embora os advogados acreditem em um julgamento técnico no Supremo, eles também admitem que há uma pressão para que alguns dos réus sejam condenados e não descartam “surpresas”. “O Supremo é um tribunal político pela própria natureza de sua composição, a nomeação dos ministros é uma escolha política”, afirmou um dos criminalistas que atua no processo. Nos bastidores, eles não têm esperanças em votos favoráveis aos réus vindos dos ministros Joaquim Barbosa e Ayres Britto, presidente do Supremo. “Entre nós, os votos de Britto e Joaquim damos como perdidos”, disse outro deles ao Valor.


E esse Mino, hein, amigo navegante ?
Há séculos ele diz que “o mensalão está por provar-se”.
E este ansioso blogueiro lhe segue: “a caixa dois é tão brasileira quanto goiabada com queijo”, como demonstra a recente experiência do presidente francês Sarkozy.
Por falar em presidente francês: como ele comprou uma fazenda no interior de Minas, se vivia com o salário de professor aposentado e de Presidente da República ?
Que pena o Serjão não esteja mais entre nós.
Como se verá, o mensalão não passa de uma patranha, já devidamente desmentida pela TV Record, com o depoimento do ex-prefeito de Anápolis.
Uma patranha Golpista.
Tudo isso terá efeitos muito saudáveis.
Depois do esforço concentrado, em obediência ao clamor da “opinião pública”, o Supremo logo dará legitimidade definitiva à Satiagraha e julgará o mensalão de Minas.
O Ministério Público Federal, depois da melancolica substituição do brindeiro Gurgel pela Corregedoria do MPF, finalmente oferecerá denuncia sobre a Privataria Tucana.
Ou o Supremo brasileiro impedirá a recontagem dos votos na Florida ?
Em tempo: apesar do merval clamor, o ansioso blogueiro não acredita que o Ministro Peluso queira ir para casa depois de condenar Dirceu sem provas.
Os mervais passam e a biografia fica.
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

Tucanos montaram a patranha dos aloprados

O Conversa Afiada se vê na contingência de reproduzir post que trata da presumida “intocabilidade” do Padim Pade Cerra.

Saiu no JB online:

Cachoeira & Aloprados

Jornal do Brasil
Marcelo Auler

Em um dos vídeos apreendidos na casa de Adriano Aprígio, ex-cunhado do bicheiro Carlinhos Cachoeira, o ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, comemora o envolvimento de petistas no chamado Escândalo dos Aloprados.

Em setembro de 2006, às vésperas do início da propaganda eleitoral na televisão, petistas foram presos em um hotel em São Paulo com R$ 1,7 milhão. Com o dinheiro pretendiam comprar um dossiê que supostamente envolvia o tucano José Serra – então candidato à presidência da República – com o desvio de verbas do orçamento destinadas à compra de ambulâncias. O escândalo prejudicou Lula, que concorria à reeleição e esperava ganhar no primeiro turno, o que não aconteceu.

O vídeo apreendido, já periciado pela Polícia Federal, mostra uma conversa entre o jornalista Mino Pedrosa e Dadá, o araponga que atendia à quadrilha do bicheiro. Pedrosa relata que o PSDB armou a história do dossiê e o “PT caiu nela”.
O araponga vibra e comemora: “Tem que f….. o Lula! Tem que f….. o barbudo!



O amigo navegante se lembra dos aloprados, não é isso ?
E da histórica carta do Rodrigo Vianna ao Ali Kamel – http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2012/06/20/ambulancias-do-cerra-e-aloprados-do-kamel/
É a mesma turnma que montou a patranha do mensalão.
Clique aqui para ver “TV Record mela o mensalão”.
E “PiG também acha que o mensalão está por provar-se”.
Os aloprados tiveram a funçao de esconder o escândalo – esse, sim, provado – das ambulâncias super-faturadas da jestão Padim Pade Cerra, “o maior Ministro da Saúde da História desse pais”.
Cerra e seu ilustríssimo sucesor, Barjas Negri.
Foi nesse escândalo que surgiu aquele monte de dinheiro na mesa do delegado Bruno da Polícia Federal – onde andará o delegado Bruno ? – que o Ali Kamel usou para dar o Golpe e levar a eleição de 2006 para o segundo turno – clique aqui para ler “o primeiro Golpe já houve; falta o segundo”.
Ou seja, e se houver um Golpe paraguaio… a Dilma terá como se defender ?
O amigo navegante acabou de ver o que se passou na eleição do México, quando a Televisa, segundo um jornal inglês (inglês !!!), The Guardian, entregou a eleição no colo do Peña Nieto.
Lá como aqui, a Televisa não só protegeu o candidato do PRI (PSDB), como trabalha diuturnamente para denegrir os adversários.
Basta a leitura diária do PiG (*).
Não há uma única notícia objetiva.
É tudo da editoria “o Brasil é uma m…”
O Conversa Afiada se vê na contingência de reproduzir post que trata da presumida (diria a Folha (**)) “intocabilidade” do Padim Pade Cerra.
Publicado em 06/01/2012
Privataria: por que o Cerra se achava intocável?
Este ansioso blogueiro recomenda enfaticamente a leitura de “A vida quer é coragem – a trajetória de Dilma Rousseff, a primeira presidenta do Brasil”, de Ricardo Batista Amaral, editado pela Primeira Pessoa.
Breve, aqui se tratará do livro em si e da personagem.
Amaral faz uma minuciosa e objetiva reconstituição dos fatos políticos que Dilma acompanhou no primeiro plano, ou nos bastidores.
É uma narrativa é isenta, respeita a verdade factual, como gosta o Mino Carta.
Chamou a atenção o que está descrito a partir da página 161.
É o episódio dos que Lula chamou de aloprados, na eleição de 2006.
Os aloprados foram apanhados com dinheiro numa operação para desmascarar a compra de ambulâncias super-faturadas, enquanto Cerra e seu sucessor, Barjas Negri, eram ministros da Saúde.
Com a ajuda da Polícia Federal de São Paulo e especialmente do PiG (*), com a Folha (**) e a Globo à frente, Cerra transformou a tragédia das ambulâncias superfaturadas numa bênção dos céus.
O que deveria atingí-lo como um escândalo de bom tamanho derrotou Aloizio Mercadante para Governador (Cerra venceu no primeiro turno).
E permitiu que Ali Kamel levasse a eleição de Lula contra Alckmin para o segundo turno – clique aqui para ler “O Primeiro Golpe já houve, falta o Segundo (também do Kamel) “
A tecnologia cerrista já tinha sido testada – com retumbante sucesso – na eleição presidencial de 2002.
Quando Cerra fotografou cédulas de dinheiro no escritório da empresa Lunus do marido de Roseana Sarney – então a melhor candidata para derrotar Lula, segundo as pesquisas.
Cerra distribuiu à farta as fotos das notas pelo PiG (*) afora – e destruiu a candidatura de Roseana.
Sempre com a ajuda da Polícia Federal.
(O pai de Roseana, José Sarney, da tribuna do Senado, acusou Fernando Henrique de receber, no Palácio do Alvorada, um fax de um agente da Polícia Federal, da máquina do escritório da Lunus, com a informação: missão cumprida.)
Na Polícia Federal, Cerra contava, sempre, com Marcelo Lunus Itagiba.
Cerra foi para a eleição de 2010 com essa convicção.
Com a ajuda do Papa, da PF e do PiG ele era intocável.
Qualquer calhordice – segundo Ciro Gomes – seria acobertada pelo PiG (*), com a ajuda da Polícia Federal.
Uma dupla do barulho !
A partir da pág. 227, Amaral mostra outra peripércia de Cerra.
Que quase – quase, frise-se, deu certo.
Com rigor de cartógrafo, Amaral reconstitui o episódio da “quebra de sigilo” do presidente do PSDB, o notório Eduardo Jorge, aquele que tinha o hábito de ligar para o Juiz Lalau da sala ao lado do gabinete do presidente Fernando Henrique.
Uma mania, digamos assim.
No bolo do sigilo vem o “suposto” dossiê que o Amaury Ribeiro Júnior prepararia contra a família tão inocente, imaculada, do Padim José Cerra.
Cerra àquela altura já sabia que o Amaury tinha feito uma reportagem não publicada pelo Estado de Minas, que descrevia tudo o que ele queria fazer para destruir a candidatura do Aécio.
Cerra também desconfiava que Amaury preparava um livro, cujo prefácio este ansioso blog publicou repetidas vezes
Cerra reproduziu a estratégia das notas da Roseana, das notas dos aloprados: transformou o limão na limonada.
Tentou botar o Amaury em cana, fez da filha e do Eduardo Jorge vítimas da sanha petista.
Jenial !
O PiG esteve incansável, na defesa dos princípios de Democracia.
A Carta Capital e Leandro Fortes mostraram que a irmã do Daniel Dantas e a filha do Cerra, elas, sim, é que violaram o sigilo fiscal de 60 milhões de brasileiros – e, por isso, a filha do Cerra está indiciada.
Mas, o PiG não dá sequência ao que a Carta Capital denuncia.
Muito menos o jornal nacional.
E o Cerra só precisa operar o jornal nacional e a Folha.
Esses bastam.
O resto vem no bolo.
Amaral mostra como Dilma cortou o mal pela raiz.
Mandou embora todos os que pudessem eventualmente produzir um dossiê.
E, de público, preservou o trabalho jornalístico do Amaury.
Cerra achou que o jogo tinha sido jogado.
Perdeu a eleição, disse um até breve, e achou que o Amaury ia se jogar numa vala comum.
E a filha ia se safar, numa boa.
Aí, a casa caiu.
Ele soube do livro do Amaury.
Tentou se aproximar do editor, o Luiz Fernando Emediato, mas Emediato não lhe deu bola.
O Privataria Tucana já começava a ser impressa.
E o Cerra deixou de ser intocável.
A mágica foi descoberta.
E o mágico saiu a correr, pela coxia, debaixo de vaia.
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
(**) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.