Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Durante entrevista a blogueiros, integrantes do MPL celebram a vitória, falam em infiltrados e expõem próximos passos

Momento em que o governador paulista Geraldo Alckmin e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, anunciavam a redução das tarifas em São Paulo. Em seguida, o mesmo anúncio foi feito no Rio (foto LCA).

por Luiz Carlos Azenha

Fomos convidados para um encontro com integrantes e apoiadores do Movimento Passe Livre (MPL), que nas últimas duas semanas protagonizaram um episódio histórico: levaram o povo de volta às ruas para reivindicar. Desde crianças a pessoas da terceira idade. Foram vítimas de repressão só comparável àquela empregada pela Polícia Militar paulista na desocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos.
No meio da conversa, a notícia: o governador Alckmin e o prefeito Haddad anunciaram a redução das tarifas conforme o reivindicado pelo movimento.
Houve celebração.
Dentre os convidados, os blogueiros Rodrigo Vianna, Altamiro Borges, Leonardo Sakamoto e este que lhes escreve, o empresário de mídia Joaquim Palhares, o ativista Sergio Amadeu e a jornalista Maria Inês Nassif.
O objetivo era, basicamente, dizer que “sim, somos de esquerda e temos uma pauta de esquerda”. Ou: “Não, não seremos manipulados pela pauta da direita”.
O professor de História Lucas Oliveira, o Legume, falou em nome do MPL. Ele e ativistas ligadas ao movimento descreveram a unidade que conseguiram forjar com integrantes de partidos de esquerda nos últimos dias — PSOL, PSTU e PCO, entre outros — além de militantes do PT e de um grande número de movimentos sociais, dentre os quais o MST, a UJS (do PCdoB) e a UNE.
Sim, sim, estavam todos extremamente preocupados com a possibilidade de infiltração e manipulação da pauta do movimento por grupos de direita, que buscavam se apropriar das manifestações para atacar o governo federal.
Negaram que os anarquistas estavam na origem da tentativa de retirar as bandeiras de partidos do movimento, dizendo que a iniciativa era de “caras-pintadas” recém-chegados.
Lembraram que era impossível controlar as multidões que se juntaram às manifestações — segundo uma pesquisa, a grande maioria saia às ruas pela primeira vez.
Confirmaram o ato desta quinta-feira, comemorativo, na avenida Paulista.
Para as próximas mobilizações, pretendem reforçar os coletivos de segurança, comunicação e primeiros socorros.
O ativista digital Sergio Amadeu exibiu um gráfico mostrando que nos últimos dias o MPL tinha perdido protagonismo nas redes sociais relativamente a grupos de direita, ou seja, os direitistas conseguiram um maior poder de mobilização digital — o que talvez explique a aflição de muitos apoiadores do movimento.
A próxima mobilização talvez tenha relação com a PEC 90, de autoria da deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que torna o transporte um direito social. Além disso, trabalhando com o vereador petista Nabil Bonduki, o MPL pode tentar aprovar o passe livre na Câmara Municipal de São Paulo.
Todos estavam certos da presença de provocadores e agentes infiltrados durante as manifestações. Alguns, provavelmente da Polícia Militar, encarregados da coleta de imagens e informações. Outros, de grupos de extrema-direita, empenhados em promover vandalismo atribuído posteriormente ao MPL.
Numa avaliação coletiva, os blogueiros presentes concordaram que o prefeito Fernando Haddad foi o grande perdedor no processo — poderia, por exemplo, ter anunciado sua disposição de reduzir as tarifas depois de ouvir opiniões do Conselho da Cidade, que praticamente endossou a pauta do MPL.
O papel desempenhado por Haddad — que foi ao Palácio dos Bandeirantes para acompanhar o anúncio, falando depois do governador Geraldo Alckmin — também causou estranheza. Como a redução das tarifas foi anunciada quase ao mesmo tempo no Rio de Janeiro, especulou-se sobre um acordo de governantes para aliviar o establishment da pressão das ruas.
A celebração foi grande, tendo em vista que o MPL tem um núcleo duro bastante reduzido de militantes, com idade média calculada no chute em 23 anos de idade. Ainda assim, conseguiu a maior vitória desta geração de jovens militantes nas lutas sociais.
Abaixo, Sergio Amadeu expõe o gráfico demonstrando a perda de protagonismo do MPL nas redes sociais, relativamente a outros grupos — alguns dos quais de direita.
Nota do MPL:
A cidade não esquecerá o que viveu nas últimas semanas. Aprendemos que só a luta dos de baixo pode derrotar os interesses impostos de cima. A intransigência dos governantes teve de ceder às ruas tomadas, às barricadas e à revolta da população.
Não foi o Movimento Passe Livre, nem nenhuma outra organização, que barrou o aumento. Foi o povo.
O povo constrói e faz a cidade funcionar a cada dia. Mas não tem direito de usufruir dela, porque o transporte custa caro. A derrubada do aumento é um passo importante para a retomada e a transformação dessa cidade pelos de baixo.
A caminhada do Movimento Passe Livre, que não começa nem termina hoje, continua rumo a um transporte público sem tarifa, onde as decisões são tomadas pelos usuários e não pelos políticos e pelos empresários. Se antes eles diziam que baixar a passagem era impossível, a revolta do povo provou que não é. Se agora eles dizem que a tarifa zero é impossível, nossa luta provará que eles estão errados.
Por uma vida sem catracas!
Movimento Passe Livre São Paulo
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Dizei-me com quem andais que vos direi quem sois

O adágio popular cabe como uma luva para uma situação que está não apenas destruindo a imagem do Brasil perante o mundo, mas prejudicando a economia, gerando medo, violência e incerteza entre a sociedade e, o que é pior, sem uma justificativa inteligível.
É triste ver um país em que o padrão de vida melhorou tanto ao longo da última década se deixar levar por um modismo inconsequente que está por arrasar todas as conquistas obtidas com tanto custo nesse período.
Os últimos acontecimentos durante os protestos pelo país, em questão de horas serviram para que os ideólogos da “primavera brasileira” parassem e pensassem que sem Estado e política o que sobra é o caos.
A constante criminalização da política e a militância política travestida de jornalismo fundamentaram a tese dos que querem abolir todas as instâncias democráticas em troca de uma causa que não se apresenta, oculta sob frases feitas e generalistas.
Aos poucos, porém, as pessoas vão se dando conta da verdade. Sobretudo aquelas que se encastelaram no poder e esqueceram que não se governa um país sem fazer política, e que se mancomunam até com o diabo contanto que ele concorde com elas.
Os que acusam Dilma de se aliar a partidos cheios de picaretas em prol da governabilidade ou de se encolher de medo diante de um “jornalismo” mafioso, porém, decidiram ir às ruas ao lado de psicopatas de ultradireita que se aproveitam dos protestos para tocar o terror.
Quem diz que as manifestações são pacíficas e só reagem à violência de uma polícia inegavelmente despreparada, violenta e até corrupta se calam quando fica claro que não precisa polícia nenhuma para o vandalismo eclodir.
Nos últimos dias, a polícia que deu sua contribuição ao vandalismo se recolheu e os protestos degringolaram para a violência do mesmo jeito. E, pasme-se, agora acusam as autoridades de não acionarem a mesma… Polícia!
E quanto à tese de que a própria polícia praticava o terror com infiltrados, apesar do caráter comprovadamente violento dela caiu por terra com as cenas dos últimos dias pelas ruas do país, até porque os autores dessa tese se calaram.
Os que geraram o ambiente que permitiu o caos apesar de não participarem dele, têm que assumir que jogaram centenas de milhares na rua, marcharam ao lado deles e quando desencadearam o terror, agora dizem que nada têm com isso.
Já o governo que pretende governar sem fazer política acaba de ter confirmada a sua queda de popularidade. O instituto Ibope concorda com o Datafolha e mostra que Dilma perdeu popularidade.
Quem prega que ela se mantenha na rota do mutismo e da ojeriza à política se aferra à comparação com a popularidade de outros presidentes com o mesmo tempo de mandato sem levar em conta que a trajetória da presidente é de queda.
Esta, continua dando declarações curtíssimas, não fala ao povo, não lidera o país justamente no momento em que este precisa de liderança, que está sendo usurpada não só do governo, mas da oposição e até da mídia por um grupo de jovens de classe média e alguns vovôs que tentam recuperar a juventude perdida.
Na última terça-feira, assistindo aos telejornais, constato que “um grupo pequeno” tocou o terror pelo país afora, sobretudo no centro de São Paulo. Em um desses telejornais, assisto a 30 minutos incessantes de quebradeira praticada por um “grupo pequeno”.
A avaliação dos telejornais é de que centenas de pessoas destruíram a fachada da prefeitura de São Paulo e arrombaram, depredaram e saquearam dezenas de estabelecimentos comerciais, sem falar em certa rede de televisão que estimulou ao vivo os manifestantes a invadirem a prefeitura ao dizer “culpado por tudo” o prefeito que está há cinco meses no cargo.
Os manifestantes pacíficos que marcharam ao lado de dementes de ultradireita descobrem que estavam em má companhia e, como se tivessem chegado agora e não tivessem nada com isso, querem impedi-los de barbarizar.
Você leva uma matilha de lobos ao centro de uma cidade e quando começam a devorar as pessoas diz que não tem nada com isso porque não está devorando ninguém.
Ninguém tem coragem de dizer isso e, também, que o preço das passagens não tem nada que ver com o peixe.
Várias cidades de todo país cederam aos manifestantes, reduziram o preço da passagem e as manifestações continuaram, com os bandidos que marcharam ao lado dos pacíficos quebrando tudo.
Não é um milagre que “apenas” mutilações e ferimentos entre graves, médios e leves tenham ocorrido entre policiais e manifestantes? Chega a ser inacreditável que ainda não morreu ninguém. Mas, sendo racional, não se pode acreditar que isso não irá mudar.
O que espanta e deprime é ver que ninguém diz o que é preciso porque foi montada uma rede de difamação e intimidação, um verdadeiro tribunal ideológico com pistoleiros ideológicos agindo para calar qualquer divergência.
Nesse processo, muitos que confidenciam em privado que reconhecem o verdadeiro caráter desse movimento que tanto está prejudicando o Brasil por uma causa que ninguém sabe qual é, mas publicamente se omitem, concordam com ele e até o exaltam.
Tudo por medo dos tribunais e dos justiçamentos ideológicos.
Quando as pessoas chegam a ter medo de dizer opiniões legítimas por conta de que serão tachadas de “reacionárias”, “falsos esquerdistas” etc., instalou-se um processo inquisitorial no país.
Desde o primeiro momento, este espaço acusou o risco que representava jogar nas ruas massas incontroláveis. Ao contrário do que dizem alguns pistoleiros ideológicos, aqui jamais houve mudança de rota.
O que tem sido dito é que se deixarem essas manifestações ocorrerem sem contraponto, irão gerar uma tragédia política, econômica e física para o país e que, portanto, se não se pode impedir as pessoas de exercerem o direito de irem à rua, há que ir também e tentar pregar bom senso.
Isso, claro, se não se puder instilar bom senso na sociedade, que precisa entender que um país não pode ser governado por grupos que vão às ruas, mas através daqueles que a maioria eleger pelo voto livre e consciente.
O que sempre foi dito aqui é que não se pode levar massas incontroláveis às ruas e quando saírem previsivelmente de controle ninguém se responsabilizar. E que é antiético inventar uma bandeira fictícia de redução do preço das passagens quando a motivação é outra.

AS IMPLICAÇÕES DE UMA VITÓRIA


O Movimento Passe Livre (MPL) mantem a mobilização desta 5ª feira em SP, depois de conquistar a revogação dos 20 centavos de aumento no preço da tarifa municipal. Ademais da vitória política, a reversão do reajuste produz um alívio entre os seus dirigentes e os do PT. A cada dia, a continuidade dos protestos evidenciava o risco de descaracteriza-los como um levante contra o governo federal  e o legado de conquistas econômicas e sociais dos últimos dez anos. Acima de tudo está o fato  de que o MPL  --e círculos próximos a ele- não sabia ao certo como reverter a usurpação em marcha  de uma mobilização que desde o início se evocava a-partidária. O dispositivo midiático conservador, por exemplo, capturou as imagens dos novos cara-pintadas para rejuvenescer a sua narrativa anti-petista, em campanha antecipada para 2014. A esperança nos bastidores é de que a revogação anunciada por Alckmin e Haddad promova um arrefecimento natural das coisas, permitindo a decantação e a reestruturação dos grupos e forças que tem, na verdade, um objetivo mais ambicioso e de extrema pertinência: a tarifa zero em uma cidade mais equilibrada e equitativa. Faz falta ao planejamento democrático um movimento urbano forte, capaz de disputar a construção da cidade com a lógica especulativa do negócio imobiliário. Só assim o caos será revertido. Se for a semente disso, o batismo de fogo do MPL, com todas as suas lacunas, já terá valido a pena. Ao PT, a trégua, se houver, deve ser aproveitada para uma desassombrada avaliação das razões pelas quais as ruas e uma parcela expressiva da juventude brasileira já não se expressam mais através do partido, de sua capilaridade e do seu programa. Ao conjunto das forças progressistas, sobretudo seus partidos de esquerda, cumpre uma autocrítica aguda: o sectarismo autodestrutivo que gerou um arquipélago de entes incomunicáveis abriu um vácuo no espectro das mobilizações de massa. Nesse oco de alianças, choca o ovo da serpente que inocula na sociedade uma histérica rejeição à política, à negociação, à organização democrática do conflito social e à razão argumentativa como método de escrutinar divergências e projetos de futuro. O que se viu nesses 13 dias que abalaram o Brasil, mais uma vez, é que em política não existe vácuo. A incapacidade da esquerda de fazer alianças com seus pares e, desse modo, oferecer uma agenda crível às angústias e anseios da sociedade, pavimentou o caminho para o despontar de visões e concepções regressivas relativas à idéia de desenvolvimento, papel do Estado, da política e da democracia. Foi só um aperitivo. Mas o pouco que se viu serve de eloquente convite à autocrítica. (Leia mais aqui)  
(Carta Maior;5ª feira,20/06/2013)



As manifestações de junho e a mídia


Independentemente das razões que justificam a expressão democrática de uma insatisfação generalizada por parte de parcela importante dos brasileiros, não se pode ignorar o papel da grande mídia na construção de uma cultura política que desqualifica sistematicamente a política e os políticos. E mais importante: não se pode ignorar os riscos potenciais para o regime democrático da prevalência dessa cultura política. Por Venício A. de Lima










Apesar da proximidade cronológica, parece razoável observar que o estopim para as manifestações populares que estão ocorrendo no país foi o aumento das tarifas do transporte coletivo e a repressão violenta da polícia (vitimando, inclusive, jornalistas no exercício de sua atividade profissional) – não só à primeira passeata realizada em São Paulo, mas também à manifestação realizada antes da abertura da Copa das Confederações, em Brasília. A partir daí, um conjunto de insatisfações que vinha sendo represado explodiu.

A primeira reação da grande mídia, bem como das autoridades públicas, foi de condenação pura e simples das manifestações que, segundo eles, deveriam ser reprimidas com ainda maior rigor. No entanto, à medida que o fenômeno se alastrou, autoridades e mídia alteraram a avaliação inicial.

A grande mídia, então, passa a cobrir os acontecimentos como se fosse apenas uma observadora neutra, que nada tem a ver com os fatos que desencadearam – para o bem ou para o mal – todo o processo.

Centralidade da mídia
Nas sociedades contemporâneas, apesar da velocidade das mudanças tecnológicas, sobretudo no campo das comunicações, a centralidade da mídia é tamanha que nada ocorre sem seu envolvimento direto e/ou indireto. Qual teria sido esse envolvimento no desencadeamento das atuais manifestações?

Um primeiro aspecto chama a atenção. Pelo que se sabe as manifestações têm sido convocadas por meio de redes sociais. Isto é, através de um sistema de comunicação independente do controle da grande mídia.

Na verdade, a se confirmar que a maioria dos participantes é de jovens (em Brasília, um dos “convocadores” da “Marcha do Vinagre” tem apenas 17 anos), trata-se de um segmento da população que se informa prioritariamente pelas redes sociais na internet e não pela grande mídia – jornais, revistas, radio, televisão.

Apesar disso, um aspecto aparentemente contraditório, mas fundamental – revelado inclusive em cartazes dispersos nas manifestações – é que os manifestantes se consideram “sem voz pública”, isto é, sem espaço para expressar e ter a voz ouvida.

Desnecessário lembrar que a grande mídia ainda exerce, na prática, o controle do acesso ao debate público, vale dizer, das vozes que se expressam e são ouvidas. Além disso, a cultura política que vem sendo construída e consolidada no Brasil, pelo menos desde que a televisão se transformou em “mídia de massa” hegemônica, tem sido de desqualificação permanente da política e dos políticos. E é no contexto dessa cultura política que as novas gerações estão sendo formadas – mesmo não se utilizando diretamente da velha mídia.

Emerge, então, uma questão delicada.

A mídia e o system blame
Independentemente das inúmeras e verdadeiras razões que justificam a expressão democrática de uma insatisfação generalizada por parte de parcela importante da população brasileira, não se pode ignorar o papel da grande mídia na construção dessa cultura política que desqualifica sistematicamente a política e os políticos. E mais importante: não se pode ignorar os riscos potenciais para o regime democrático da prevalência dessa cultura política.

Recorri inúmeras vezes, ao longo dos anos, a uma arguta observação da professora Maria do Carmo Campello de Souza (já falecida) ao tempo da transição para a democracia, ainda no final da década de 1980.

Em capítulo com o título "A Nova República brasileira: sob a espada de Dâmocles", publicado em livro organizado por Alfred Stepan Democratizando o Brasil (Paz e Terra, 1988), ela discute, dentre outras, a questão da credibilidade da democracia. Nas rupturas democráticas, afirma ela, as crises econômicas têm menor peso causal do que a presença ou ausência do system blame (literalmente, "culpar o sistema"), isto é, a avaliação negativa do sistema democrático responsabilizando-o pela situação.

Citando especificamente os exemplos da Alemanha e da Áustria na década de 1930, lembra Campello de Souza que "o processo de avaliação negativa do sistema democrático estava tão disseminado que, quando alguns setores vieram em defesa do regime democrático, eles já se encontravam reduzidos a uma minoria para serem capazes de impedir a ruptura".

A análise da situação brasileira, há mais de duas décadas, parece mais atual do que nunca. A contribuição insidiosa da mídia para o incremento do system blame é apontada como um dos obstáculos à consolidação democrática. Vale a pena a longa citação:

A intervenção da imprensa, rádio e televisão no processo político brasileiro requer um estudo linguístico sistemático sobre o "discurso adversário" em relação à democracia, expresso pelos meios de comunicação. Parece-nos possível dizer (...) que os meios de comunicação tem tido uma participação extremamente acentuada na extensão do processo de system blame (...). Deve-se assinalar o papel exercido pelos meios de comunicação na formação da imagem pública do regime, sobretudo no que se refere à acentuação de um aspecto sempre presente na cultura política do país – a desconfiança arraigada em relação à política e aos políticos – que pode reforçar a descrença sobre a própria estrutura de representação partidária-parlamentar (pp. 586-7). (...)

O teor exclusivamente denunciatório de grande parte das informações acaba por estabelecer junto à sociedade (...) uma ligação direta e extremamente nefasta entre a desmoralização da atual conjuntura e a substância mesma dos regimes democráticos. (...) A despeito da evidente responsabilidade que cabe à imensa maioria da classe política pelo desenrolar sombrio do processo político brasileiro, os meios de comunicação a apresentam de modo homogeneizado e, em comparação com os dardos de sua crítica, poupam outros setores (...). Tem-se muitas vezes a impressão de que corrupção, cinismo e desmandos são monopólio dos políticos, dos partidos ou do Congresso (...). (pp.588-9, passim).

Avanços e riscos
As manifestações populares devem, por óbvio, ser vistas por aqueles em posição de poder como uma oportunidade de avançar, de reconsiderar prioridades e políticas públicas.

Do ponto de vista da grande mídia, é indispensável que se reflita sobre o tipo de cobertura política que vem sendo oferecida ao país. Encontrar o ponto ideal entre a fiscalização do poder público e, ao mesmo tempo, contribuir para o fortalecimento e a consolidação democrática, não deveria constituir em objetivo da grande mídia? A quem interessa a ruptura democrática?

Apesar de ser um tema delicado e difícil – ou exatamente por essa razão – é fundamental que se considere os limites entre uma cobertura sistematicamente adversária da política e dos políticos e os riscos de ruptura do próprio sistema democrático.

A ver.

*Venício A. de Lima é jornalista e sociólogo, professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado), pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (Cerbras) da UFMG e autor de Política de Comunicações: um Balanço dos Governos Lula (2003-2010), Editora Publisher Brasil, 2012, entre outros livros.

Artigo publicado originalmente na revista Teoria & Debate.


Fotos: EBC 

 

Mídia marcha sem rumo diante das manifestações

Jornal do Brasil

Quanto mais forte e ágil a mobilização dos manifestantes que toma o país e chega até ao exterior, maior a perplexidade e as interrogações de autoridades do governo. A falta de uma liderança clara e a existência de uma pauta difusa de reivindicações se alia às ferramentas das redes sociais para consolidar uma onda de protestos imprevisível. A única certeza é a de que a indignação é generalizada e a população se identifica cada vez mais com o que acontece nas ruas.
Mas não são apenas governo e autoridades da segurança que parecem perdidos em meio às palavras de ordem dos ativistas. A própria mídia, com sua incurável mania de rotular e definir fenômenos sociais, atira a esmo, errando muitas vezes o alvo.
Jornal do Brasil, atento às tendências, decidiu abrir um canal direto com as mídias sociais criando o espaço "Tá nas redes" e mostrando como os ativistas estão se articulando. 
A gafe mais clássica talvez tenha sido a de Arnaldo Jabor. Semana passada, em sua crônica no Jornal da Globo, o comentarista questionou o protesto, comparando-o a manifestações criminosas de São Paulo. "Não pode ser por causa de vinte centavos", decretou, afirmando ainda que a maioria dos manifestantes era de classe média. "Tudo é uma imensa ignorância política. A causa é a ausência de causas. Esses revoltosos de classe média não valem nem vinte centavos", disparou precipitadamente para, na semana seguinte, após ser massacrado nas redes sociais, voltar atrás em sua coluna na rádio CBN: 
“Outro dia eu errei, sim. Errei na avaliação do primeiro dia das manifestações contra o aumento das passagens em São Paulo. Falei na TV sobre o que me pareceu um bando de irresponsáveis fazendo provocações por causa de 20 centavos. Era muito mais que isso”, admitiu.
Mas os erros não param por aí. Numa onda de protestos que já foi batizada como "Revolta do Vinagre", "Primavera Carioca" e até "Salad Uprising" (Revolta da Salada), não é difícil perceber que aprisioná-la numa única definição é uma tarefa inútil.
Contudo, as tentativas persistem. Em seu blog no site de O Globo, o jornalista Merval Pereira resume de forma imperativa: "Mesmo que as reivindicações sejam várias e muitos cartazes exibam anseios mal explicados ou utopias inalcançáveis, há um ponto comum nessas manifestações dos últimos dias: a luta contra a corrupção."
O jornalista Reinaldo Azevedo, da Veja, não ficou atrás. Hoje, em seu blog, disparou: "Movimento Passe Livre, chamado de pacífico por certa imprensa, se nega a condenar saqueadores e diz que eles são protagonistas de uma “revolta popular”. E ainda há gente que me pede para aplaudir essa gente! Não há a menor chance de isso acontecer!", escreveu para depois ser também atacado por ativistas que lembravam as inúmeras pautas de reivindicações que estão nas ruas.
No editorial de hoje da Folha de S. Paulo, intitulado Incógnita nas ruas, o texto destaca cenas isoladas de vandalismo e a mobilização da classe média, para concluir que "...como na marcha de muitas cabeças, em São Paulo, é difícil prever onde esse caudal irá desembocar. Nem os manifestantes sabem."
Já o Valor faz conjecturas financeiras, alertando que a economia não gosta de incerteza, que os protestos assustam os investidores e que a questão social pode entrar de vez no radar do mercado. 
Bem definiu o cientista político e professor da UFRJ Paulo Baía, em entrevista à GloboNews na noite de terça-feira: "Estamos diante de uma coisa nova. Quem tentar fazer comparações e definições estará cometendo um erro.
"

Ação de Lula e Dilma baixou a passagem











É evidente que a decisão simultânea entre Estado e Prefeitura, em São Paulo e no Rio, de revogar o aumento das passagens dos transportes públicos resultou de uma coordenação – finalmente!- assumida pelo Governo Federal.
É isso o que já devia ter sido feito desde que ficou claro que o movimento pela redução do valor das passagens correspondia a uma necessidade da população, embora seus protagonistas fossem, na maioria, jovens de classe média.
É natural que os prefeitos façam um “chororô” com a perda de recursos que isso irá representar. Mas isso não imobilizará prefeitura alguma.
Primeiro porque o dinheiro não gasto nas passagens não ficará, com certeza, guardado. Será usado – e como faz falta! – nas despesas do dia a dia da população.
Segundo porque há uma maneira objetiva, direta, inquestionável de reduzir o custo operacional das empresas de ônibus, trem e metrô. É só os governadores zerarem o ICMS que cobram sobre combustíveis, pneus e outros insumos necessários ao funcionamento dos ônibus e, também, o ICMS da energia elétrica consumida pelos trens e pelo metrô.
Mesmo antes da eclosão dos movimentos o Governo Federal já havia dado a sua cota para que as passagens não subissem tanto, isentando da contribuição para o PIS/Cofins o preço dos bilhetes .
Equivale a perto de 8% do valor total.
Uma redução igual pode ser obtida se os governadores abrirem mão dos impostos estaduais, o que vou destrinchar num post, amanhã.
É justo que eles assumam, também, as suas responsabilidades, porque não adianta iludir a população atirando no colo do Governo Federal a crise provocada pelo reajuste.
Agora, atendida aquela que era a reivindicação, de fato, cara ao nosso povão. Vamos ver se os irresponsáveis e os provocadores terão ambiente para continuar agindo.
Por: Fernando Brito