Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 17 de abril de 2015

Piada pronta: repórter DO ESTADÃO chama blogueiro de “mentiroso”


pitbulls capa
A esquerda faz muitas críticas “à mídia”, mas se esquece de que não existe uma “mídia” propriamente dita. O que existe é um exército composto – salvo honrosas exceções – de puxa-sacos dispostos a vender a alma na esperança de caírem nas boas graças dos patrões.
A mídia que tanto indigna a setores tão amplos da sociedade é produto dos ditos “profissionais da imprensa”, seja de que “nível” forem. Nesse aspecto, tanto faz um Reinaldo Azevedo ou um repórter de campo da Veja: ambos se valem das mesmas práticas.
Sempre ressalvando que tudo, nesta vida, tem exceção e com a “mídia” não é diferente.
Qual é a diferença, porém, entre Mervais, Azevedos, Cantanhêdes, et caterva, e os repórteres de política que correm exclusivamente atrás de “pautas” que possam prejudicar a esquerda, os movimentos sociais, os sindicatos e todos aqueles agentes políticos que incomodam a direita?
Seja como for, esses pensamentos me ocorrem ao chegar em casa após passar o fim da tarde de sexta-feira 17 na sede nacional do PT em São Paulo, no “centro velho” da cidade. No local ocorreria entrevista coletiva do presidente da sigla, Rui Falcão.
Este blogueiro – entre outros, assim como a “grande mídia” – recebeu aviso de pauta do PT sobre coletiva em que, entre outros fatos, seria divulgado o nome do novo tesoureiro do PT, o ex-deputado federal por Sergipe Márcio Macedo, que já foi ligado ao ex-governador Marcelo Deda, morto em 2013.
A entrevista estava agendada para as 16 horas e 30 minutos. Cheguei ao número 132 da rua Silveira Martins, que dista poucas centenas de metros das Praças da Sé e João Mendes. Estacionei o carro ao lado da sede petista e já havia umas 10, 15 pessoas à porta.
pitbulls 1
Grandes câmeras apoiadas em tripés, carros e furgões de reportagem da Globo, da Band, do SBT, do Estadão etc. tomavam a rua. No saguão do prédio do PT, mais uma dezena de repórteres aguardava que terminasse reunião da direção petista para subirem ao auditório.
Um porta-voz do PT sai ao saguão e chama os repórteres para anunciar o nome do novo tesoureiro do partido. Imediatamente, o batalhão de repórteres se põe a digitar em seus celulares, tablets, notebooks ou a fazer ligações telefônicas, repassando as informações.
Como já testemunhei em outras oportunidades, apesar de trabalharem em veículos distintos, nessas coberturas políticas esses repórteres parecem atuar todos para um único veículo – compartilham informações e opiniões, que repassam aos seus veículos.
Quem já testemunhou uma cena dessas não se surpreende quando, no dia seguinte, lê reportagens praticamente idênticas no Estadão, no Globo, na Folha, nos telejornais etc.
O trabalho é pasteurizado, mecânico.
Voltando ao ocorrido na tarde desta sexta, dos blogueiros avisados pelo PT sobre a entrevista compareceram um representante da Rede Brasil Atual, o coeditor do Diário do Centro do Mundo, Kiko Nogueira, e eu.
Cheguei antes deles e, como costumo fazer, fiquei na miúda ao lado dos grupinhos de repórteres prestando atenção no processo de fazer linguiça que são essas coberturas. Eis que percebo a presença de um repórter do Estadão com o qual tive uma discussão no ano passado.
Relato, a partir daqui, a razão da discussão que tive com esse repórter.
Em 17 de maio do ano passado, ocorreu o 4º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que contou com a presença de Lula. Na oportunidade, o ex-presidente deu uma declaração sobre crítica que a mídia fizera aos estádios de futebol que estavam sendo construídos para a Copa do Mundo, de que nenhum deles contava com estação de metrô dentro.
Lula disse, no evento, que não fazia sentido construir uma estação de metrô dentro de um estádio de futebol porque fica muito caro e essa estação só teria grande movimento em dias de jogos, e que, portanto, essa cobrança seria “babaquice”.
Minutos depois, em todos os portais de internet, e no dia seguinte, em todos os grandes jornais, manchetes dizendo que, para Lula, pedir metrô em estádio seria “babaquice”.
Folha Lula
Um grupo de blogueiros presenciou como nasceu essa manchete comum a toda a grande mídia.
Segundo esses colegas me informaram, à porta do encontro de blogueiros os repórteres dos grandes veículos, em rodinha, teriam combinado como relatariam a fala de Lula sobre metrô nos estádios. Os blogueiros que fizeram a denúncia fizeram até um vídeo do flagra.


Com base no relato dos blogueiros, fiz um post contendo a informação de que eles afirmaram ter presenciado os repórteres combinando o tom de uma manchete que, corroborando o relato, saiu praticamente idêntica em Folhas, Globos, Estadões etc.
Conheço alguns dos repórteres da mídia corporativa presentes àquele encontro de blogueiros. Um deles, do Estadão, ficou furioso com o post que escrevi. Enviou-me mensagens por SMS criticando o post e me chamando de “mentiroso”. Eu lhe disse que apenas havia reproduzido informação que colegas blogueiros me passaram, mas ele não quis saber.
Nunca mais tinha tido contato com aquele repórter. No dia em que escrevo, porém, ele estava presente diante da sede do PT. Até lhe fiz um cumprimento, que não foi correspondido. Fiquei na minha.
Alguns minutos depois, estava eu próximo a uma rodinha de repórteres de que ele participava. Quando me viu, disse em voz alta, obviamente que para que eu ouvisse, o seguinte:
— Cuidado, falem baixo porque tem um blogueiro progressista escutando.
Passaram-se mais alguns minutos e os presentes fomos chamados para o auditório – a coletiva iria começar.
Eu estava à porta conversando com o Kiko Nogueira. Quando nos preparávamos para entrar no prédio, esse repórter do Estadão, chamado Ricardo Galhardo, passa olhando para minha cara. Em uma tentativa de desanuviar o ambiente, brinquei:
— Não precisa ter medo, blogueiro progressista não morde.
O sujeito, visivelmente alterado, com os olhos injetados de raiva, chamou-me de “mentiroso”. O Kiko Nogueira, do DCM, ficou tão surpreso que soltou um “Opa!”.
Claro que eu lhe devolvi a “gentileza”, mas esse não é o ponto.
A razão pela qual o tal repórter do Estadão alertou os colegas de minha presença seria a de que eu teria inventado que os repórteres combinaram a pauta que apareceu igualzinha na primeira página de todos os grandes jornais de 18 de maio do ano passado.
Eu não vi a cena da combinação de pauta, mas o vídeo acima mostra que os repórteres ficaram constrangidos com a pergunta dos blogueiros sobre se combinaram a pauta sobre a fala de Lula.
A verdade verdadeira é que esses ditos “profissionais da imprensa”, em grande parte, confundem-se com seus patrões. Acham-se muito importantes. E agem de forma ameaçadora. Pensam que fazem parte de uma grande família midiática feliz, esquecendo-se de que, daqui a pouco, baixa um “passaralho” nas redações e eles são postos no olho da rua.
Para mostrar como essa gente “se acha”, mais uma cena da tarde desta sexta-feira 17.
Pouco antes do entrevero com o jornalista do Estadão, o assessor da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, deixava a sede do PT quando foi cercado pelos repórteres. Cheguei perto antes de alguns deles e coloquei o celular próximo do rosto de Garcia para filmar sua fala, mas não consegui.
Os repórteres exigiam que eu saísse da frente das câmeras deles, cheguei a ser empurrado. Para evitar um confronto, acabei desistindo. Até porque, de empurrão em empurrão eu já havia perdido boa parte da fala de Garcia.



Dentro da sede do PT, na coletiva, só perguntas provocativas. Nada sério foi tratado. O sujeito que me insultou quis saber como o PT respondia a declaração do ministro Gilmar Mendes no sentido de que a corrupção está no “DNA” do PT.
Parece coisa de fofoqueira de bairro, não?
Enfim, só vendo esse exército de pit bulls “trabalhar” para entender por que o produto final desse “trabalho” é tão tendencioso, parcial, virulento e infiel aos fatos – o que, aliás, torna piada pronta repórter do Estadão – justo do Estadão – chamar alguém de “mentiroso”.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Empresários custeiam vaias a Dilma e pressionam funcionários a aderir





A campanha empreendida contra Dilma Rousseff está custando fortunas. Essa grana toda está sendo gasta em sofisticadas peças de áudio, vídeo e imagem, espalhadas aos milhares diária e incessantemente na internet, e na logística para o ato do próximo dia 15. As vaias que a presidente recebeu em São Paulo nesta terça-feira dão uma pista sobre quem paga.

Um leitor do Piauí, por exemplo, enviou ao Blog imagens dos kits anti Dilma que estão chegando ao seu Estado aos milhares, via correio, vindos de São Paulo – o que não chega a surpreender.





Note o leitor que panfletos, adesivos para carro, camisetas, bonés etc. chegam até os mais distantes pontos do país. Há o custo de produção dos kits, o custo do frete, o custo com distribuição local etc.

Tudo isso – e muito mais – custa dinheiro.

A orquestração via Whats Appp ou Facebook também custa dinheiro. Aliás, no FB textos, vídeos, posts e memes contra a presidente são “patrocinados”, ou seja, quem os produz paga àquela rede social para “promovê-los”.

Aquelas páginas de revoltados com a vida e com Dilma, em vez de oferecer tratamento psicológico para seus frequentadores, gasta fortunas com promoção de suas postagens.

Para quem não conhece, veja, abaixo, como se consegue milhares de curtidas no FB.



Aliás, nada contra “patrocinar” conteúdo jornalístico para que seja mais lido. Muitos fazem isso, à direita e à esquerda. A maioria dos sites jornalísticos recorre a esse investimento. O problema é quem paga por isso, porque é bastante caro.

Recentemente, uma amiga cineasta me disse que a promoção de postagem que fez no FB de seu trabalho lhe custou mais de 500 reais. Agora veja quantas postagens patrocinadas têm essas páginas de “revoltados” por dia e faça a conta de quanto gastam em um mês.

De onde vem esse dinheiro? Estamos falando de milhões de reais, para uma campanha desse tamanho. Inclusive, o ato anti Dilma do próximo dia 15 terá caravanas vindo de cidades próximas às capitais. Farto material de som ou publicitários será distribuído.

Uma outra leitora envia mensagem com informações que dão uma bela ideia de quem está pagando pela festa golpista.

Eduardo,

boa tarde.

Tenho ficado preocupada com a hostilidade contra a Dilma e o PT.

O movimento Vem Pra Rua, segundo a carta capital vem sendo financiada pelos empresários.

Alguns amigos meus disseram que seus patrões estão fazendo de tudo para convocar os funcionários para a manifestação de 15/03. O mesmo aconteceu na empresa na qual trabalho, e minha irmã disse que a mesma coisa aconteceu na empresa na qual ela trabalha.

Essa pessoa disse que a Dilma não vai continuar no poder. Os empresários estão articulados e estão coagindo os funcionários a irem às ruas contra o PT e Dilma. São e-mails do patrão com a capa da Veja circulando nos e-mails, são mensagens no celular, Whats App…

Isso vem acontecendo desde antes da eleição e foi por isso que ela [Dilma] quase perdeu, porque os patrões estão jogando tudo e coagindo os funcionários.

Coadunando-se com essa narrativa, as vaias que Dilma recebeu nesta terça-feira ao visitar o pavilhão de feiras do Anhembi, em São Paulo, aos gritos de “vaca” e “vagabuna”. Para quem não viu, o vídeo com as agressões.






O pavilhão de exposições é velho conhecido deste blogueiro. Em sua atuação comercial, participou de inúmeras feiras. Quem vaiou foram os funcionários que preparavam os estandes para a feira. Eu mesmo já participei dessas montagens.

Quem leu na internet que trabalhadores que montavam os estandes vaiaram Dilma pode pensar que são “peões” de macacão com martelos em punho que apuparam a presidente da República, mas não foi nada disso.

Como se vê no vídeo, são profissionais de vendas e seus patrões, ou seja, pessoas da classe média paulistana que votaram em Aécio Neves.

Ao contrário do que a mídia e a oposição tentam fazer crer não é quem votou em Dilma Rousseff que a está vaiando, são os que votaram no adversário dela em 26 de outubro do ano passado.

O eleitorado de Dilma, em parte, ficou descontente com medidas de ajuste fiscal ou com nomeação de ministros oriundos “do lado de lá”. Essas pessoas, irritadas, disseram ao Datafolha, ao fim de janeiro, seu descontentamento.

Conversava na segunda-feira com um blogueiro importante que está insatisfeito e ele me disse que se fosse entrevistado pelo Datafolha no mês de janeiro, avaliaria Dilma como “regular”. Conheço eleitores dela que, no janeiro fatídico em que sua popularidade despencou, no auge da irritação chegariam a classificá-la como ruim ou péssima.

Isso não significa que essas pessoas tenham mudado de opinião, que estejam dispostas a votar no PSDB ou que tivessem coragem de chamá-la de “vadia” ou “vagabunda”. Quem faz isso é quem já não gostava dela antes de se reeleger.

Todos se lembram de como Dilma foi vaiada diversas vezes nos novos estádios de futebol e até em outras partes antes de a campanha eleitoral começar, de quem eram os xingadores e de como a mera hipótese de o PSDB voltar ao poder, pouco depois, fez com que milhões votassem na presidente apesar de estarem insatisfeitos com ela.

Para entender o fenômeno, basta pegar uma das muitas análises de rede que há por aí para verificar que a hegemonia política dos anti Dilma viscerais está longe de ser maioria. Por exemplo, a do analista Fábio Malini, via Facebook, sobre redes sociais, que é bastante interessante.



O que se depreende dessa análise é que, à diferença do que tenta fazer parecer a mídia, os anti Dilma estão longe de ser maioria e, na hora do “pega pra capar”, o centro do gráfico, que no momento está neutro, pode escolher um lado e, por seu perfil, dificilmente seria o do PSDB.

Diante do exposto, está mais do que na hora de se fazer uma investigação jornalística séria sobre os financiadores do golpismo. Esses empresários estão mesmo tão convencidos de que Dilma faz mal ao país ou existem conchavos com partidos políticos e troca de favores, por exemplo, com o governo de São Paulo?

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Como o ódio de Noblat por Toffoli virou amor


noblat toffoli

A entrega da análise das contas de campanha da presidente Dilma Rousseff para o ministro do STF e do TSE Gilmar Mendes acaba de ganhar um novo – e interessante – capítulo. O blogueiro Ricardo Noblat entregou a estratégia da Globo para legitimar o golpe que se desenha contra a presidente no Tribunal encarregado de arbitrar processos eleitorais no Brasil

Antes de comentá-lo, porém, façamos uma revisão dos fatos que desencadearam esse estarrecedor episódio no TSE, que pode terminar em golpe “branco”.

Começando pelo começo (first things first). O ministro que deveria analisar a prestação de contas da campanha da presidente da República à reeleição seria Henrique Neves, mas seu mandato venceu durante a estadia dela na Austrália para participar da reunião do G20.

Eis que o presidente do TSE, José Antonio Dias Toffoli, escolhe única e especificamente o processo da petista para analisar em meio a dezenas e o entrega, em um “sorteio” considerado esquisito, a um dos mais notórios inimigos do PT no país, ao ministro do STF Gilmar Mendes.

O PT e setores da imprensa ficam surpresos. Foi criada uma situação inaceitável para o partido por conta da mais do que conhecida indisposição de Mendes em relação ao PT.

O mais irônico em tudo isso é que o autor dessa situação foi ninguém mais, ninguém menos do que aquele que a grande mídia acusou de tudo ao ser indicado para o STF, em 2009, pelo então presidente Lula, e que, em 2012, foi colocado sob suspeição para participar do julgamento do mensalão por sua trajetória ligada ao PT.

As críticas da mídia a Toffoli, entre 2009 e 2012, deixam bem claro que ela não considera… Ou melhor, não considerava que um ministro do STF não está acima de suspeitas ao julgar políticos com os quais tem ligação ou divergência. Guarde esta informação, leitor, porque precisaremos dela mais adiante.
Manchetes (linkadas) da grande imprensa em 2009 que você lerá abaixo dão uma boa ideia do clima que cercou a indicação de Toffoli por Lula para o STF naquele ano.

Leia abaixo, por ordem cronológica, as manchetes do período supracitado.

Blog do Reinaldo Azevedo – 06/09/2009
É o currículo que diz quem é Tóffoli, não eu

O Estado de São Paulo – 18/09/2009
Indicado de Lula ao STF, Toffoli é condenado pela Justiça do AP

Consultor Jurídico – 19/09/2009
Passagem pela AGU é principal trunfo de Toffoli para o STF

Folha de São Paulo – 19/09/2009
Gilmar Mendes diz que críticas sobre Toffoli refletem prática antiga do PT – 19/09/2009

G1 – 21/09/2009
Após indicação, Toffoli altera currículo na web

UOL – 23/10/2009
Sob polêmica, Toffoli toma posse como ministro do Supremo Tribunal Federal

Estadão – 23/10/2009
Toffoli toma posse no STF com Lula e Sarney na plateia

Para resumir para o leitor, a mídia achava que o fato de Toffoli ter advogado para o PT e ter sido Advogado Geral da União no governo Lula o colocava sob suspeição para assumir uma vaga no STF, sobretudo porque dali a dois anos seria julgado o mensalão.

Apesar do esperneio da mídia, Lula indicou Toffoli e, aos poucos, o bombardeio midiático sobre ele foi parando. Contudo, em 2012 a artilharia recomeçou porque era o ano do julgamento do mensalão e a mídia queria que todos os ministros indicados por Lula participassem, menos Toffoli.

DEM e PSDB chegaram a pedir ao procurador-geral da República de então, Roberto Gurgel, que desse parecer contrário à participação de Toffoli no Julgamento. Contudo, nem a mídia nem os partidos de oposição – agora, a Dilma – consideravam que o fato de Gilmar Mendes também ter sido Advogado Geral da União do governo Fernando Henrique Cardoso também o colocava sob suspeição, até por conta de seus constantes ataques verbais e públicos ao PT.

Por conta disso, vale reproduzir uma amostra de mais uma leva de manchetes anti-Toffoli que a mídia despejou sobre o país.

Veja – 19/03/2012
Como sua mulher foi advogada de mensaleiros, o ministro Toffoli está moralmente impedido de julgar o mensalão

O Globo – 21/06/2012
Gurgel ainda examina se vai pedir que Toffoli não julgue o mensalão

Estadão – 30/07/2012
Com apoio de Lula e aval de colegas do STF, Toffoli vai julgar mensalão

A suspeição sobre Toffoli não era só da mídia. A oposição estava com os cabelos em pé, com medo de o ex-advogado-geral da União de Lula amaciar para os “mensaleiros”, mas quanto ao ex-advogado-geral da União de FHC, Gilmar Mendes, não havia problema, claro…

Nesse aspecto, discurso do oposicionista Pedro Taques (PDT-MS) da tribuna do Senado pedindo impedimento de Toffoli dá uma ideia do clima que se estabeleceu contra o ministro do STF à época.


O blogueiro de O Globo Ricardo Noblat, como sói acontecer sempre com funcionários da família Marinho, para variar também ficou contra o PT e arguiu a suspeição de Toffoli.


   
Como se vê, a mídia acreditava furiosamente em que o fato de ser ministro do STF não bastava como prova inquestionável de isenção. Apesar disso, Toffoli foi duro com os “mensaleiros”. Condenou José Genoino e vários outros réus. Só poupou José Dirceu, assim como o ministro Ricardo Lewandowski, quem pagou preço até maior do que Toffoli, sendo retratado pela mídia quase que como o quadragésimo réu do julgamento.

Após esse gigantesco “preâmbulo”, voltamos ao presente. Atualmente, o antes suspeito Toffoli vem dando um tratamento duríssimo ao PT no TSE – chegou a votar contra Dilma poder dar entrevistas à imprensa no Palácio da Alvorada, onde ela reside, e entregou as contas de sua campanha a um dos seus principais inimigos políticos.

Parece que suspeição contra ministro do STF só vale se for suspeito de poder votar a favor de algum réu, pois, apesar de a ligação de Mendes com o PSDB ser igual à de Toffoli com o PT e de o ministro “tucano” agir de acordo com sua origem política, não está sendo considerado suspeito de tentar prejudicar Dilma por suas preferências ou ódios políticos.

A cereja do bolo vem agora. Um dos maiores inimigos políticos de Toffoli na imprensa durante todo o bombardeio com que ela o fustigou em 2009 e em 2012 chama-se Ricardo Noblat, blogueiro do portal de O Globo. Por conta dessa verdadeira perseguição de Noblat a Toffoli, este adquiriu profunda antipatia por aquele.

O caso (de ódio) entre os dois se intensificou em 2012 nos primeiros dias do julgamento do mensalão. Noblat, como que buscando constranger o ministro enquanto julgava o mensalão, divulgou uma história sobre ele. Abaixo, post do Blog do Noblat de 11 de agosto de 2012.

Blog do Noblat

11/08/2012

Dias Tóffoli, ministro do STF, me agride com palavrões e baixarias
Acabo de sair de uma festa em Brasília. Na chegada e na saída cumprimentei José Antônio Dias Tóffoli, ministro do Supremo Tribunal Federal.
Há pouco, quando passava pelo portão da casa para pegar meu carro e vir embora, senti-me atraído por palavrões ditos pelo ministro em voz alta, quase aos berros.
Voltei e fiquei num ponto do terraço da casa de onde dava para ouvir com clareza o que ele dizia.
Tóffoli referia-se a mim.
Reproduzo algumas coisas que ele disse (não necessariamente nessa ordem) e que guardei de memória:
- Esse rapaz é um canalha, um filho da puta.
Repetiu “filho da puta” pelo menos cinco vezes. E foi adiante:
- Ele só fala mal de mim. Quero que ele se foda. Eu me preparei muito mais do que ele para chegar a ministro do Supremo.
Acrescentou:
- Em Marília não é assim.
Foi em Marília, interior de São Paulo, que o ministro nasceu em novembro de 1967.
Por mais de cinco minutos, alternou os insultos que me dirigiu sem saber que eu o escutava:
- Filho da puta, canalha.
Depois disse:
- O Zé Dirceu escreve no blog dele. Pois outro dia, esse canalha o criticou. Não gostei de tê-lo encontrado aqui. Não gostei.
Arrematou:
- Chupa! Minha pica é doce. Ele que chupe minha pica.

Pois é, leitor… Que nível, hein!

De um, de outro ou de ambos.

Porém, como dizem, nada como um dia depois do outro e uma noite no meio. A mídia mudou em relação a Toffoli por uma razão inaudita: por ele desmenti-la.

Possivelmente, a mídia nunca gostou tanto de ter errado. Seu ex-suspeito, ao que tudo indica converteu-se em aliado e perdeu os defeitos. E Gilmar, por ser inimigo do PT em vez de amigo, não merece suspeição, que, ao ver da mídia, para ministro do STF só vale se for suspeição de ajudar petistas.

Confira, abaixo, como Noblat, em post de quarta-feira (19), mudou em relação a Toffoli e em relação a suspeição de ministros do STF em casos em que tenham relação (de amor ou ódio) com os que irão julgar.

Blog do Noblat

19/11/2014


Ricardo Noblat

Ora, ora!

Petistas de muitas estrelas estão desesperados com a escolha do ministro Gilmar Mendes para relator das contas de campanha da presidente Dilma Rousseff.
Escolha, não, que ninguém escolheu Gilmar. Ele foi sorteado.
O Ministério Público Eleitoral, se fazendo de braço armado da Advocacia Geral da União e do PT, está tentando impugnar a indicação de Gilmar.
O que alega?
O processo relativo às contas da campanha de Dilma estava nas mãos do ministro Henrique Neves, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No último dia 13, o mandato de Henrique terminou. Com bastante antecedência, o ministro Dias Tóffoli, presidente do TSE, havia encaminhado a Dilma uma lista tríplice com nomes de possíveis substitutos de Henrique.
Um dos nomes da lista foi o do próprio Henrique, que poderia ser reconduzido.
Como Dilma nada respondeu, e sem poder contar mais com Henrique, Tófolli acionou o sistema eletrônico do TSE, que sorteou o nome de Gilmar para relator das contas.
O Ministério Público Eleitoral entende que, em caso de vacância do ministro efetivo, o encaminhamento dos processos que estavam com ele deverá ser feito para o ministro substituto da mesma classe. No caso, da classe de Henrique.
Tecnicalidade. Que de nada vale. Muito menos quando o ministro sorteado para relatar um processo é titular do Supremo Tribunal Federal. Como Gilmar é.
O PT acionou sua rede de blogueiros chapa branca para disseminar nas redes sociais o fantasma de um golpe planejado por Tóffoli para que as contas da campanha de Dilma sejam rejeitadas. Assim ela não poderia ser diplomada no próximo dia 18.
Tóffoli foi advogado do PT, assessor de José Dirceu na Casa Civil da presidência da República, Advogado Geral da União do governo do PT e é ministro do STF por escolha de Lula. Por que ele conspiraria contra Dilma? Não tem cabimento.
Para liquidar de vez o assunto: a pedido de Tóffoli, antes do fim do mandato de Henrique, Gilmar telefonou para José Eduardo Cardoso, ministro da Justiça.
Lembrou que o mandato de Henrique estava por terminar. Falou sobre o processo das contas de Dilma. E sugeriu que Henrique fosse reconduzido ao cargo para poder relatá-las.
Não se sabe se Cardoso tratou do assunto com Dilma. Sabe-se que nada aconteceu.
Se as contas de Dilma estão em ordem por que o medo do PT e do Ministério Público Eleitoral de que elas sejam relatadas por Gilmar?
Como relator, Gilmar só tem o próprio voto. Que será submetido ao exame dos demais ministros do TSE.
A teoria do golpe tem a ver com o medo do PT de que haja irregularidades nas contas de Dilma. E de que Gilmar as aponte. Tenta-se constranger o ministro. É isso.

Uma última observação: Noblat deveria ser homem e dizer os nomes dos integrantes dessa sua “rede de blogueiros chapa branca”, assim como este Blog diz o dele, pois aqui o debate é travado olho no olho, não por meio de insinuações levianas.

sábado, 27 de setembro de 2014

Repórteres da Globo provocam blogueiros na porta do Alvorada


Na sexta-feira (26), a presidente Dilma Rousseff deu a primeira entrevista de seu mandato a blogueiros independentes. Por conta da legislação eleitoral, porém, à diferença da entrevista que o ex-presidente Lula deu a blogueiros em 2010 logo após as eleições daquele ano, ela não pôde recebê-los no Palácio do Planalto.
A legislação eleitoral não impede que um presidente da República que disputa a reeleição dê entrevistas em sua residência, que, no caso daquela que é hoje a primeira mandatária da nação, fica no Palácio da Alvorada, residência oficial de presidentes da República, ainda que um presidente não seja obrigado a residir nesse palácio – o ex-presidente Fernando Collor, por exemplo, continuou em sua residência particular após assumir o cargo, na famosa “Casa da Dinda”.
Dilma recebeu os blogueiros Altamiro Borges (Blog do Miro), Conceição Oliveira (Blog da Maria Frô), Eduardo Guimarães (Blog da Cidadania), Conceição Lemes (Viomundo), Miguel do Rosário (Cafezinho), Paulo Moreira Leite (247), Kiko Nogueira (Diário do Centro do Mundo) e Renato Rovai (Revista Forum).
A entrevista que Dilma deu a esses blogueiros teve forte repercussão, foi noticiada por vários grandes jornais e telejornais e por todos os grandes portais de internet. Uma das exceções foi o Jornal Nacional, que ignorou o assunto apesar de equipe de reportagem da Globo ter estado no Palácio da Alvorada na mesma hora que os blogueiros.
Durante a campanha eleitoral, Dilma vem recebendo repórteres da grande imprensa diariamente no Palácio em que reside, para falar da campanha. Essa reunião costuma ocorrer na parte externa do Alvorada. Os repórteres ficam na portaria do Palácio à espera de ser convocados para ir até a presidente.
Nenhum veículo não-oficial atravessa os portões do Alvorada. Da portaria até o Palácio, os visitantes são levados por vans.
Após deixarem o Alvorada, os blogueiros supracitados foram levados pelas vans até a portaria, onde quase todos tomariam táxis até o aeroporto – à exceção de Paulo Moreira Leite, que reside em Brasília. Quando lá chegaram, encontraram-se com a equipe da TV Globo, capitaneada pelo repórter Julio Mosquéra, que reportaria no JN apenas a entrevista de Dilma aos repórteres da grande mídia, omitindo a entrevista com blogueiros que ocorrera pouco antes.
Enquanto os blogueiros esperavam táxis na portaria do Palácio, Mosquéra e a equipe de apoio da Globo (cinegrafistas, assistentes etc.) embarcavam em uma das vans do Palácio para irem à coletiva de Dilma, desta vez no mesmo salão que os blogueiros tinham acabado de deixar.
Durante o embarque da equipe global, uma integrante dessa equipe da emissora começou a gritar com intenção evidente de ser ouvida pelos blogueiros: “Vamos lá, mídia golpista! Vamos embarcar, mídia golpista!”. Nesse momento, outros membros daquela equipe acompanharam o “cântico” provocador.
Os outros blogueiros ignoraram a provocação, mas este blogueiro respondeu, no mesmo tom de voz da provocação, que os repórteres não são golpistas, que golpista é o patrão deles. A repórter da Globo que começou o coro provocador retorquiu dizendo que também era “golpista” tanto quanto seu patrão, ou seja, tanto quanto a família Marinho, dona da Globo, que recentemente reconheceu que “errou” ao participar do golpe militar de 1964, que jogou o Brasil em uma ditadura de vinte anos.

Promessas de Dilma aos blogueiros



Na entrevista, minha questão à presidente foi sobre política. Relatei que a grande mídia tem vendido – ou tem tentado vender – ao país que estaria à beira do desemprego, que a Petrobrás estaria quebrada e que, por conta dessas mentiras, pesquisas de opinião vêm mostrando que boa parte dos brasileiros acredita nelas.
Ponderei com a presidente que ela só começou a reagir neste ano eleitoral e que, por conta de ter “apanhado calada” nos últimos anos, parte considerável – ainda que minoritária – dos brasileiros acredita, por exemplo, que o desemprego vai aumentar apesar de o IBGE ter divulgado que em agosto o desemprego foi o mais baixo para esse mês em 12 anos, e que a Petrobrás estaria quebrada, apesar de a empresa valer hoje 8, 10 vezes mais do que quando o PT chegou ao poder e de ter, recentemente, atingido a marca de extração de 500 mil barris de petróleo dos campos do pré-sal.
Diante disso tudo, perguntei à presidente se ela não acha que em um eventual segundo mandato deveria dar mais atenção à política, sendo mais “proativa” no que diz respeito a embate com uma imprensa que faz oposição cerrada ao seu governo.
Dilma prometeu que em um seu eventual segundo mandato não irá mais apanhar calada, que fará o enfrentamento político quando necessário. Além disso, respondendo a pergunta do blogueiro Altamiro Borges, Dilma disse que o país já está “maduro” para passar por uma regulação econômica da grande mídia, nos moldes das legislações de países como Estados Unidos, França, Alemanha, Inglaterra e tantos outros nos quais a imprensa se submete a regras.
ÍNTEGRA DA ENTREVISTA DE DILMA A BLOGUEIROS
Ao fim da entrevista, a presidente conversou em particular com este blogueiro e prometeu que irá apurar denúnciafeita nesta página na sexta-feira, sobre planos de setores da Polícia Federal autoproclamados “antipetistas” de fazerem uma denúncia contra o PT no segundo turno da eleição presidencial a fim de “tirar o PT do poder”.

ASSISTA À ÍNTEGRA DA ENTREVISTA DE DILMA A BLOGUEIROS

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Globo defende abertamente criminalização de blogueiros

bloggers

Entrevista de Obama para blogueiros progressistas. Matéria do Huffington Post. Clique na imagem para acessar a matéria.
Desde 2010, no mínimo, que o presidente Barack Obama, recebe “blogueiros progressistas” na Casa Branca.
Aqui no Brasil, onde nenhum blogueiro – com exceção de Jorge Bastos Moreno, do Globo – jamais falou com Dilma, a Globo, que detêm uma hegemonia da comunicação social consolidada durante o regime militar, agora defende, em editorial, uma teoria curiosa.
Segundo o jornal, Gilberto Carvalho não poderia ter recebido blogueiros e ativistas sociais num espaço público.
Na véspera, Merval Pereira também já havia atacado os blogueiros. Chega a ser honroso, para a blogosfera, que a Globo pretenda se polarizar, de maneira tão radical, com aqueles que pensam de outra forma e atuam pela internet.
Entretanto, o jornal perdeu a linha. Num arroubo tirânico, ele agiu como se ainda estivéssemos na ditadura. Para os Marinho, Carvalho não deveria ter recebido blogueiros e ativistas por causa de sua ideologia.
Esta é o espírito de liberdade da nossa mídia: uma campanha sistemática para criminalizar tudo que cheire a política e a ideologia.
É a mesma mídia que faz campanha contra os partidos dizendo que eles “não tem mais ideologia’, que virou tudo uma “geléia geral”.
Aí quando aparece a ideologia, a mesma mídia tem ataque de pânico e grita: “bandidos! bandidos!”
A imprensa corporativa não esconde mais sua estratégia suja de criminalizar a política. Está lá, com todas as letras:
Mas costumam ser tantas as transgressões à legislação eleitoral, e não apenas nesta eleição, que os transgressores parecem vencer pelo cansaço. No caso desse ilustrativo encontro, o mais importante terminou sendo as próprias características da reunião e a agenda discutida.
Talvez pela crescente preocupação com a tendência das pesquisas eleitorais, lulopetistas começam a se descuidar. Escancaram conversas sugestivas entre uma autoridade, blogueiros e jornalistas ligados ao PT, muitos dos quais atuam apoiados financeiramente por meio de anúncios de estatais. Recebem dinheiro público.
Na reunião, de um total de 20, talvez um blogueiro ali recebesse um anúncio público, e não do governo federal. Nada que se compare aos bilhões recebidos pela Globo. Ou seja, a emissora mente, manipula e criminaliza.
Repare na expressão: “jornalistas ligados ao PT”. Como é que é? Ligados? Se fossem ligado ao PSDB, ao PCdoB, ao PSB, também não poderiam frequentar o Planalto? Ou só não podem ser “ligados” ao PCC, quer dizer, ao PT?
O Globo decretou que partidos políticos são ilegais e inconstitucionais?
O Globo preferia que Carvalho mantivesse reuniões secretas, como Dilma fez com João Roberto Marinho, que, repito, este sim recebe e sempre recebeu dezenas ou mesmo centenas de bilhões de verba pública?
Olha só que curioso. Carvalho, mero secretário da presidência da república, faz uma reunião aberta, transparente, transmitida ao vivo online, com dezenas de pessoas, para explicar um decreto presidencial. Isso, para o Globo, não pode.
Agora, um dos proprietários da Globo, faz reunião absolutamente secreta com a própria presidenta da república, na sala de reunião mais importante do Palácio do Planalto, e isso é perfeitamente legal.

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Claro, os Marinho são pessoas do bem, democráticos, interessados no bem estar nacional. Jamais foram chapa-brancas. Jamais apoiaram nenhum governo. Jamais abafaram escândalos.
Blogueiros e ativistas, por sua vez, são bandidos que não poderiam jamais ser recebidos num ambiente público.
Se Carvalho quisesse encontrá-los, que o fizesse em algum covil escuro de Brasília, não é?

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Helena Chagas sai e Franklin Martins ressurge no programa Contraponto


Já contei essa história várias vezes neste Blog, mas nunca é demais repeti-la para que o leitor possa mensurar como a comunicação social do governo federal mudou (para pior) do governo Lula para o governo Dilma, apesar de este último ter tanto de bom quanto o anterior a comunicar – por certa ótica, inclusive, talvez até mais.
Em 2009, publiquei no Blog da Cidadania vídeo de uma entrevista que o então presidente Lula dera ao apresentador da TV Bandeirantes José Luiz Datena. Foi uma excelente entrevista e muitos que não tinham visto vieram a esta página fazê-lo. Contudo, a publicação exclusivamente do vídeo criou dificuldade a alguns leitores.
No post em que o vídeo da entrevista foi publicado, leitores surdos fizeram comentários explicando que, por razões óbvias, não tinham como assistir à entrevista, necessitando, pois, da transcrição dela para poderem saber como foi.
Respondi aos leitores que não tinha como fazê-lo porque era uma entrevista longa e transcrevê-la me tomaria talvez um dia inteiro de trabalho.
No dia seguinte, recebo um telefonema surpreendente em meu celular. Do outro lado da linha, alguém da Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo.
O funcionário do então ministro Franklin Martins informou-me de que o ministro lera os comentários dos surdos no meu Blog e pedira àquele que ora me ligava para me informar de que eu poderia obter a transcrição da entrevista no site da Secom, onde todas as entrevistas que os presidentes da República dão são transcritas e disponibilizadas ao público.
Eis, aí, a maior prova da diferença gritante entre a Secom de Lula e a de Dilma. O ministro da pasta não apenas lia os posts deste e de outros blogs; lia, também, os comentários.
A Secom, naquele tempo, aproximou-se dos diversos grupos que travavam na internet a guerra de informação contra a artilharia oposicionista da grande mídia. Tanto que, em novembro de 2010, pouco antes de deixar o cargo, o ex-presidente concedeu a primeira entrevista de um chefe de Estado brasileiro a blogueiros.
Detalhe: em pleno Palácio do Planalto.
A mídia foi à loucura. O jornal O Globo, por exemplo, dedicou uma página inteira para desancar a iniciativa do governo e, obviamente, este blogueiro e outros que entrevistaram o presidente.
Confira, abaixo, matéria da Folha de São Paulo sobre a entrevista de Lula a blogueiros em 24 de novembro de 2010. Em seguida, assista à pergunta deste blogueiro ao ex-presidente.
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FOLHA DE SÃO PAULO
25 de novembro de 2010
Presidente diz que mídia praticou “leviandades” e “inverdades” contra ele e diz que vai virar blogueiro

Dos 10 blogs escolhidos para sabatina, 8 apoiam governo; petista critica Serra por agressão na eleição, e tucano revida
BRENO COSTA
DE BRASÍLIA
Na primeira entrevista já concedida a um grupo de blogueiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os entrevistadores se uniram nas críticas à grande imprensa.
Dez blogueiros autoclassificados “progressistas” participaram da entrevista, de duas horas, na manhã de ontem no Palácio do Planalto.
Um dos blogueiros, Altamiro Borges, é filiado ao PC do B. Outro, conhecido como “Sr. Cloaca” [ele não revela o nome], é assessor de imprensa de político do PT no Rio Grande do Sul, cujo nome também não revelou.
O blog Amigos do Presidente Lula, que não estava na lista divulgada pelo Planalto, também participou. O Planalto disse que o blog não entrou na lista por “erro”.
Dos 10 sites, 8 têm como linha a defesa do governo Lula e se alinharam, na eleição, à candidatura de Dilma Rousseff, reproduzindo uma série de ataques ao candidato do PSDB, José Serra. Os outros têm uma linha mais neutra.
O blogueiro Eduardo Guimarães, fundador do Movimento dos Sem Mídia, que já fez protestos em frente à Folha, citou a sigla “PIG”. Coube ao secretário de imprensa do Planalto, Nelson Breve, traduzi-la a Lula: “PIG é o que ele chama de Partido da Imprensa Golpista”.
Ao lado do ministro Franklin Martins (Comunicação Social), Lula voltou a afirmar que não lê jornais e revistas, mas que, quando sair da Presidência, vai “reler tudo”.
“Eu quero saber a quantidade de leviandades, de inverdades que foram ditas a meu respeito, quantas coisas que não foram ditas.”
Ainda sobre a relação com a imprensa, disse que “o jogo não é fácil”. “Sobretudo quando você não quer se curvar.” Afirmou que órgãos de imprensa se assustaram com sua popularidade “pois trabalharam o tempo inteiro para não acontecer isso”.
Para Lula, que prometeu virar “blogueiro e tuiteiro”, “não existe maior censura do que a ideia de que a mídia não pode ser criticada”.
O presidente voltou a defender uma regulação da mídia, mas rechaçou a ideia de censura. Ele quer entregar ao menos um esboço de marco regulatório para o setor.
Lula ainda disse que o pior momento vivido em seu governo foi o dia do acidente da TAM, em São Paulo, que deixou 199 mortos. “Nunca vi tanta leviandade”, disse, sobre a cobertura da mídia.
Afirmou que sentiu “alívio” ao descobrir que não houve falha do governo e que o acidente tinha sido provocado, essencialmente, por erro humano. “Foi uma sensação de alívio por ter descoberto a verdade.”
SERRA
Lula também retomou o episódio da agressão a Serra por militantes ligados ao PT em ato de campanha no Rio.
Ele voltou a dizer que o tucano simulou uma agressão grave, e se disse “decepcionado” com a Globo. “Foi uma cena patética, uma desfaçatez. Fiquei decepcionado [com a Globo] porque quiseram inventar uma outra história, um objeto invisível que até agora não mostraram.”
Serra, que estava ontem em Brasília, respondeu. “Como foi comprovado, foi um outro objeto atirado em mim, inclusive está filmado, e o presidente sabe disso.”
O tucano continuou: “Lula talvez já tenha começado sua campanha para 2014, dizendo mentiras inclusive”.
IRÃ E STF
Lula defendeu a relação com o presidente Mahmoud Ahmadinejad e tentou explicar a posição do iraniano sobre o holocausto. “Ele explicou que o que quis dizer, na verdade, era que morreram 70 milhões de pessoas na Segunda Guerra, e parece que só morreram judeus”, disse.
Ele afirmou que deixará a indicação do novo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) para Dilma Rousseff, no caso de o Senado não sabatinar o escolhido até o próximo dia 17, quando o Congresso entra em recesso.
Luís Inácio Adams, a advogado-geral da União, e Cesar Asfor Rocha, presidente do Superior Tribunal de Justiça, são os mais cotados.
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Assista, abaixo, a trecho da entrevista de Lula a blogueiros no penúltimo mês de seu governo.

A iniciativa do governo Lula de realizar esse encontro deveu-se em muito não só ao trabalho de contrainformação da blogosfera ao longo de seu mandato, mas ao papel que esses blogueiros desempenharam durante a campanha eleitoral de 2010, quando ajudaram a desmontar inúmeras farsas perpetradas a quatro mãos por José Serra e a grande mídia ao longo daquele ano.
A importância do fato supracitado é mostrar como era diferente a relação do governo com movimentos como o de blogueiros, relação que foi abortada com a chegada da presidente Dilma ao poder.
Muito dessa interrupção levada a cabo por Dilma se deveu à escolha da ex-auxiliar de Franklin Martins Helena Chagas, que se tornaria a nova comandante da Secom e convenceria a presidente da República de que a relação conflituosa do governo com a “imprensa” se devera a “erros de estratégia” da gestão anterior.
Que erros? Relacionar-se com blogueiros teria sido um deles. Helena e outros na Secom convenceram Dilma de que Lula e a mídia entraram numa “guerra de machos” e de que se a presidente tentasse estabelecer com Globos, Folhas, Vejas e Estadões uma relação harmoniosa, ela não enfrentaria os mesmos problemas que o antecessor.
Devo esclarecer que aprecio Helena Chagas como pessoa. Durante a gestão de Franklin Martins ela era leitora deste Blog e chegou a colocar comentários aqui. Tivemos conversas amistosas, como por exemplo quando, delegado da Confecom, encontrei-a naquele evento.
Contudo, entendo que Helena cometeu vários erros na condução da política de comunicação do governo. Todos, seguramente, tentando acertar. Mas que cometeu, cometeu.
Um desses erros – talvez o maior – foi ter convencido a presidente a se afastar da “guerra de machos” que a blogosfera e Lula travaram com a mídia ao longo do governo do ex-presidente. E a se afastar, também, da blogosfera ao mesmo tempo em que se aproximava da grande mídia.
Com efeito, um dos primeiros compromissos de Dilma, no âmbito de sua iniciativa de aproximação com a mídia, foi prestigiar a festa de 90 anos da Folha de São Paulo logo no início do primeiro ano do seu mandato.
Dali em diante, Dilma aproximou-se do resto dos veículos que fustigaram seu antecessor durante oito anos, numa guerra absolutamente aberta contra ele. Contudo, ao longo de 2013 descobriu que não há paz possível com empresas de mídia que se autodeclaram oposicionistas.
Na semana que finda, Helena Chagas foi substituída por um conhecido jornalista da Secom cujo perfil ainda não está bem claro, mas a simples mudança em cargo tão vital já permite especular um certo realismo que vai se apoderando de Dilma em relação à grande mídia.
Outro efeito positivo da mudança de comando na Secom é o anúncio do governo de que finalmente irá rebater, via ampla campanha oficial, a avalanche de mentiras e distorções dos fatos que vinha sendo despejada sobre o governo por ter trazido para o Brasil Copa do Mundo de 2014.
Nesse momento, ressurge Franklin Martins.
No primeiro, no segundo e no terceiro anos do governo Dilma, ele se fechou em Copas. Falava muito pouco, publicamente. Ao longo dos últimos meses, porém, começou a falar mais, publicou alguns artigos, deu algumas entrevistas, mas na próxima segunda-feira dará a primeira entrevista livre a blogueiros desde que deixou o poder.
A entrevista irá ao ar por Web TV – será transmitida por blogs e sites, inclusive por este blog –, no programa Contraponto, iniciativa do Sindicato dos bancários de São Paulo em parceria com este blogueiro (autor da idealização do programa) e com o Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé.
Para entrevistar Franklin Martins, Maria Inês Nassif (Carta Capital), Altamiro Borges (Barão de Itararé), Eduardo Guimarães (Blog da Cidadania) e Rodrigo Vianna (TV Record/blog Escrevinhador). O programa irá ao ar às 19 horas da próxima segunda-feira, 3 de fevereiro.
Abaixo, o banner do programa.
Você, leitor, pode enviar sua pergunta a Franklin Martins via comentário nesta página. Todas as perguntas serão analisadas e, eventualmente, este blog poderá levar alguma ao ex-ministro de Lula, com o crédito a quem a formulou. Perguntas que não forem feitas no ar serão entregues a Franklin e o interessado deverá receber resposta, provavelmente por email.
Espero você aqui na segunda-feira, às 19 horas. Até lá.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Durante entrevista a blogueiros, integrantes do MPL celebram a vitória, falam em infiltrados e expõem próximos passos

Momento em que o governador paulista Geraldo Alckmin e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, anunciavam a redução das tarifas em São Paulo. Em seguida, o mesmo anúncio foi feito no Rio (foto LCA).

por Luiz Carlos Azenha

Fomos convidados para um encontro com integrantes e apoiadores do Movimento Passe Livre (MPL), que nas últimas duas semanas protagonizaram um episódio histórico: levaram o povo de volta às ruas para reivindicar. Desde crianças a pessoas da terceira idade. Foram vítimas de repressão só comparável àquela empregada pela Polícia Militar paulista na desocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos.
No meio da conversa, a notícia: o governador Alckmin e o prefeito Haddad anunciaram a redução das tarifas conforme o reivindicado pelo movimento.
Houve celebração.
Dentre os convidados, os blogueiros Rodrigo Vianna, Altamiro Borges, Leonardo Sakamoto e este que lhes escreve, o empresário de mídia Joaquim Palhares, o ativista Sergio Amadeu e a jornalista Maria Inês Nassif.
O objetivo era, basicamente, dizer que “sim, somos de esquerda e temos uma pauta de esquerda”. Ou: “Não, não seremos manipulados pela pauta da direita”.
O professor de História Lucas Oliveira, o Legume, falou em nome do MPL. Ele e ativistas ligadas ao movimento descreveram a unidade que conseguiram forjar com integrantes de partidos de esquerda nos últimos dias — PSOL, PSTU e PCO, entre outros — além de militantes do PT e de um grande número de movimentos sociais, dentre os quais o MST, a UJS (do PCdoB) e a UNE.
Sim, sim, estavam todos extremamente preocupados com a possibilidade de infiltração e manipulação da pauta do movimento por grupos de direita, que buscavam se apropriar das manifestações para atacar o governo federal.
Negaram que os anarquistas estavam na origem da tentativa de retirar as bandeiras de partidos do movimento, dizendo que a iniciativa era de “caras-pintadas” recém-chegados.
Lembraram que era impossível controlar as multidões que se juntaram às manifestações — segundo uma pesquisa, a grande maioria saia às ruas pela primeira vez.
Confirmaram o ato desta quinta-feira, comemorativo, na avenida Paulista.
Para as próximas mobilizações, pretendem reforçar os coletivos de segurança, comunicação e primeiros socorros.
O ativista digital Sergio Amadeu exibiu um gráfico mostrando que nos últimos dias o MPL tinha perdido protagonismo nas redes sociais relativamente a grupos de direita, ou seja, os direitistas conseguiram um maior poder de mobilização digital — o que talvez explique a aflição de muitos apoiadores do movimento.
A próxima mobilização talvez tenha relação com a PEC 90, de autoria da deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que torna o transporte um direito social. Além disso, trabalhando com o vereador petista Nabil Bonduki, o MPL pode tentar aprovar o passe livre na Câmara Municipal de São Paulo.
Todos estavam certos da presença de provocadores e agentes infiltrados durante as manifestações. Alguns, provavelmente da Polícia Militar, encarregados da coleta de imagens e informações. Outros, de grupos de extrema-direita, empenhados em promover vandalismo atribuído posteriormente ao MPL.
Numa avaliação coletiva, os blogueiros presentes concordaram que o prefeito Fernando Haddad foi o grande perdedor no processo — poderia, por exemplo, ter anunciado sua disposição de reduzir as tarifas depois de ouvir opiniões do Conselho da Cidade, que praticamente endossou a pauta do MPL.
O papel desempenhado por Haddad — que foi ao Palácio dos Bandeirantes para acompanhar o anúncio, falando depois do governador Geraldo Alckmin — também causou estranheza. Como a redução das tarifas foi anunciada quase ao mesmo tempo no Rio de Janeiro, especulou-se sobre um acordo de governantes para aliviar o establishment da pressão das ruas.
A celebração foi grande, tendo em vista que o MPL tem um núcleo duro bastante reduzido de militantes, com idade média calculada no chute em 23 anos de idade. Ainda assim, conseguiu a maior vitória desta geração de jovens militantes nas lutas sociais.
Abaixo, Sergio Amadeu expõe o gráfico demonstrando a perda de protagonismo do MPL nas redes sociais, relativamente a outros grupos — alguns dos quais de direita.
Nota do MPL:
A cidade não esquecerá o que viveu nas últimas semanas. Aprendemos que só a luta dos de baixo pode derrotar os interesses impostos de cima. A intransigência dos governantes teve de ceder às ruas tomadas, às barricadas e à revolta da população.
Não foi o Movimento Passe Livre, nem nenhuma outra organização, que barrou o aumento. Foi o povo.
O povo constrói e faz a cidade funcionar a cada dia. Mas não tem direito de usufruir dela, porque o transporte custa caro. A derrubada do aumento é um passo importante para a retomada e a transformação dessa cidade pelos de baixo.
A caminhada do Movimento Passe Livre, que não começa nem termina hoje, continua rumo a um transporte público sem tarifa, onde as decisões são tomadas pelos usuários e não pelos políticos e pelos empresários. Se antes eles diziam que baixar a passagem era impossível, a revolta do povo provou que não é. Se agora eles dizem que a tarifa zero é impossível, nossa luta provará que eles estão errados.
Por uma vida sem catracas!
Movimento Passe Livre São Paulo
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