Jornais americanos Washington Post e New York Times publicam
reportagens com histórias de torcedores que foram expulsos dos estádios
por protestarem contra o presidente interino, Michel Temer, durante os
Jogos Olímpicos; NYT fala em "repressão" e destaca que protestos marcam a
impopularidade do interino hoje no País, além de citar a denúncia de
que o peemedebista pediu R$ 10 milhões para o PMDB, entregue em dinheiro
vivo, conforme a delação de Marcelo Odebrecht; o Washington Post usou a
palavra "censura" para noticiar a punição contra torcedores que
protestavam contra Temer durante as competições
247 – A punição do governo interino de Michel Temer
contra manifestantes que pedem a saída do peemedebista durante os Jogos
Olímpicos já chamou a atenção da mídia internacional. Os jornais
americanos The New York Times e The Washington Post noticiaram relatos
de torcedores expulsos como "repressão" e "censura".
A reportagem do NYT,
jornal mais influente do mundo, destaca que protestos durante a Rio
2016 pedindo a saída de Temer marcam a impopularidade do presidente
interino atualmente no País, confirmando pesquisas recentes. O texto
também cita a denúncia de que o peemedebista pediu R$ 10 milhões para o
PMDB, entregue em dinheiro vivo, conforme delação do empresário Marcelo
Odebrecht.
Já o texto do Washington Post
usou a palavra "censura" – "uma palavra que tem conotações amargas em
um país que vivia sob uma ditadura militar 1964-1985", afirma o jornal -
para contar relatos de manifestantes que foram expulsos de seus
assentos e de estádios pela polícia e pela Força Nacional porque
protestavam contra Temer.
O anonimato de Michel Temer no
Maracanã, diante do mundo, simboliza perfeitamente o esvaziamento total
da sua capacidade de governar, mesmo interinamente. Pronunciando, de
forma balbuciante, duro como um boneco de madeira, ele revelou ao que
está reduzida sua presidência. Para terminar de configurar o
cenário de fim de interinidade, as pesquisas revelam que ninguém quer as
propostas do seu governo, ninguém o quer na presidência, enquanto as
denuncias de corrupção recaem diretamente sobre ele e completam o quadro
de um governo todo ele salpicado por denuncias cada vez mais frequentes
e contundentes.
O poder está entregue nas mãos do
mercado – dos banqueiros, em particular – e dos meios de comunicação.
Que gostam de governos fracos, que cedem facilmente a pressões. Mas que
precisam ter um mínimo de legitimidade, de apoio popular, de capacidade
de governar.
Michel Temer foi o que conseguiram,
para configurar o golpe que precisavam. Bem que tentaram que ele
encarnasse um projeto de reunificação nacional, de retomada do
crescimento econômico, de pacificação politica e social. Mas
fracassaram. Ele não foi capaz de nada disso.
Seu governo interino, entre medidas
duras de ajuste e aprofundamento da recessão, de compra de apoios para
tentar obter os 2/3 de votos no Senado e de repressão, fracassou. Mesmo
para quem precisa de um governo frágil, Temer passa dos limites. Ninguém
o respeita, todos o desprezam. Temer promete medidas duras, caso o
Senado ratifique o golpe. Mas sua falta de legitimidade como governo e
sua falta total de apoio popular, faz temer, mesmo aos que o apoiam, de
que seja capaz.
Ainda mais quando as acusações de
corrupção se tornam evidentes, comprometendo-o e quase obrigando a PGR a
abrir processo contra ele. Um presidente interino, que ja’ e’ ficha
suja, pode tornar-se reú, mesmo antes de eventuais delações do Eduardo
Cunha, não teria as mínimas condições de implementar medidas duras que o
grande empresariado exige e que Henrique Meirelles está plenamente
disposto a colocar em pratica.
Com um processo de deslegitimação
geral do sistema político, não se vê como um presidente sem força
alguma, com um Congresso assediado pelas acusações de corrupção, um
governo composto de corruptos, poderia responder às demandas dos que o
colocaram no governo: os banqueiros e a mídia. Por mais que escondem a
gravidade da situação do governo, pelo menos até a votação do Senado,
ninguém se ilude sobre a fragilidade do governo Temer.
Poderiam tentar a nova aventura de
empurra-lo até janeiro, faze-lo renunciar e entregar ao Congresso o
poder de eleger um presidente do pais por dois anos mais, valendo-se de
um artigo que se presta a todo tipo de manipulação antidemocrática,
inclusive essa. Instituiriam assim um parlamentarismo de fato, que não
teria maior legitimidade tampouco, vindo de um Congresso cuja imagem
diante do pais é a pior possível.
Na realidade as condições políticas
estão mais que maduras para a convocação de uma Assembleia Constituinte
que não apenas reforme o sistema politico, mas o próprio Estado, que não
se demonstrou, de forma alguma – nos seus três poderes: o executivo, o
legislativo e o judiciário – ser um instrumento capaz de enfrentar a
grave crise que, mais que uma crise de um governo, é uma crise política
do Estado brasileiro.
Em qualquer dos casos, Temer esgotou
seu tempo. Longe de reunificar o pais, se isolou e não conta com apoio
para resgatar o país da dura crise em que se encontra. Constituiu um
governo vulnerável e incompetente, desprestigiado. Sua imagem como
presidente é a de um personagem medíocre, sem nenhuma credibilidade,
vacilante, incompetente politicamente.
Por outro lado, o mundo tem hoje a
dimensão real tanto da insignificância de Temer, como da imensa rejeição
dos brasileiros por ele. Sua penosa aparição no Maracanã parece um fim
de linha. Nem os que o apoiam acreditam que ele possa corresponder ao
que exigem dele, nem a imensa maioria que o rejeita, o aguenta mais.
Depois de uma longa, profunda e
sofrida crise, se esgota mais um momento. Não é mais possível, o pais
não aguente, nem como interino a Temer. Menos ainda recebendo um mandato
para governar o pais por dois anos mais.
É conhecido o combo
que estabelece a linha narrativa que guia o debate político no Brasil:
manchetes de capa dos grandes jornais, doses noturnas de William Bonner e
uma capa da Veja no fim de semana. É esse tripé fundamental
que, há anos, vem pautando o noticiário e influenciando fortemente o
jogo político. Ele conta com a receptividade de uma massa consumidora de
manchetes que não se aprofunda nos assuntos e ignora a complexa relação
de poder existente entre mídia e política.
Os maiores veículos de imprensa do país – O Globo, Folha, Estadão e Veja – não esconderam sua opinião em favor do impeachment e rejeitaram a versão que defende a existência de um golpe em curso.
Em um editorial, o Estadão afirmou que o impeachment seria o melhor caminho para o país. Em outro, chamou de “matraca do golpe”* quem acreditava que o processo não seguia a Constituição.
Portanto, fica registrada na história a posição tomada pelas famílias
que comandam a comunicação do país. As mesmas que apoiaram
entusiasticamente o golpe de 64.
Ainda assim, ninguém pode acusar a imprensa brasileira de omitir
informações. Ela publica tudo. Tudo mesmo, sem ironia. Mas, como se
sabe, o diabo mora mesmo é nos detalhes, nas manchetes de capa, nos
editoriais e na opinião dos colunistas mais prestigiados pelos patrões.
Dentro desse contexto, cabe até alguns articulistas de esquerda para
conferir aquele verniz pluralista. No final das contas, a decisão sobre o
que vai brilhar na capa do jornal – ou se esconder num rodapé – sempre
estará alinhada à opinião das famílias proprietárias. Trata-se apenas de
uma questão de lógica, mas há quem prefira acreditar na pureza e
neutralidade do jornalismo.
Façamos um recorte na tentativa de compreender melhor todo esse processo. No dia 3 de março deste ano, a revista Isto É teve acesso a fragmentos da delação de Delcídio Amaral,
ex-líder do governo no Senado. Curiosamente, a publicação obteve apenas
os trechos em que Dilma e Lula eram acusados pelo delator, rendendo
manchetes que se encaixavam como uma luva na narrativa pró-impeachment
estabelecida pelos donos de mídia.
Menos de duas semanas depois, em 15 de março, foi divulgada a delação completa.
Eram 254 páginas de pura nitroglicerina, que não pouparam ninguém. Além
de Dilma e Lula, Aécio, Cunha, Temer, Jucá e outros políticos de
diferentes partidos apareciam ali como participantes de esquemas de
corrupção.
Mas um trecho bombástico, que revelaria a gênese da briga de foice
entre a presidenta e o homem que liderou a sua queda, foi completamente
marginalizado, aparecendo apenas de forma tímida no noticiário. Não
ganhou manchete de capa, não teve destaque no “Jornal Nacional”, nem fez
balançar a cabeleira esvoaçante de Arnaldo Jabor. Uma verdadeira
pedalada jornalística, calcada na Lei de Ricúpero: “o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”.
Vejamos:
Vocês vejam só que coisa interessante. Segundo Delcídio, cuja delação
tem sido tratada como verdadeabsoluta, Dilma teria estancado a
corrupção na estatal ao demitir os propineiros ligados a Cunha, o que
teria enfurecido o nobre proprietário da Jesus.com. Além disso, ela teria usado critérios técnicos na escolha da formação da nova diretoria de Furnas.
Se esse trecho da delação, que revela o primeiro ponto de conflito
entre os presidentes de dois poderes do país, não é relevante o
suficiente para ser destacado nas manchetes de capa e dissecado pelos
colunistas, o que mais poderia ser? Michel Temer levando Michelzinho pra escola? A participação do pimpolho na escolha do logo do governo do papai?
Além de Hamman, outros três nomes de Cunha ganharam posições chave:
André Moura (PSC), acusado de corrupção e tentativa de homicídio, tornou-se líder do governo na Câmara. Alexandre de Moraes, ex-advogado de Cunha, virou ministro da Justiça. Carlos Henrique Sobral, que era assessor especial de Cunha na presidência da Câmara até maio, virou chefe de gabinete
do novo ministro da Secretaria de Governo. O número de apóstolos que
Jesus.com emplacou no governo Temer impressiona, porém é
autoexplicativo.
Claro que a história da derrubada da presidenta não se resume à briga
Cunha x Dilma, mas, sem dúvidas, é relevante e contribui para a
compreensão do processo. Tirar o peso devido a essa parte da delação
ajuda a acobertar os verdadeiros interesses dos capitães do impeachment.
Olha, meus amigos, a boataria diz que Michel Temer tem pacto com
Satanás, mas cada vez mais me convenço de que ele colocou Jesus.com no
comando. E o melhor: conta com uma assessoria de imprensa divina.