Osvaldo Bertolino
O Outro Lado da Notícia
Há uma equação que não fecha: a mídia volta a dizer que o Brasil está atolado até o pescoço na lama e que precisa de uma faxina, de preferência pelas mãos da presidenta Dilma Rousseff. O resultado disso, afirmam, é que a base de apoio do governo precisa ser removida para pôr outra no lugar. Mas qual? A que ela oferece conhecemos bem. Então, podemos concluir: sua grande tarefa é vender aos brasileiros uma tremenda farsa, uma gigantesca empulhação.
Quando tentaram fazer a mesma coisa com o ex-presidentes Luis Inácio Lula da Silva, o que se viu foi a sensação de alívio que tomou conta do país quando Fernando Henrique Cardoso (FHC) se uniu a Antônio Carlos Magalhães (ACM) e Jorge Borhausen, o capo do então PFL — hoje DEM —, para o que poderia ser a “nova” base. Era a direita decrépita, com o devido perdão pela redundância. Foi reconfortante saber que eles, que mandaram tanto, já não mandavam quase nada.
Senadores
Hoje, não se sabe bem quem a mídia imagina que poderia cumprir esse papel. Os arroubos dos comentaristas, editorialistas e apresentadores se limitam à pregação moralista, encenada com um cinismo extremo. O esforço que fazem para parecer que estão falando sério chega ao patético.
Mais recentemente, apelaram para um grupo de senadores que ora se apresentam como ingênuos, ora como cínicos. Pedro Simon (PMDB-RS) puxou a fila. Depois vieram Cristovam Buarque (PDT-DF), Jorge Viana (PT-AC), Ana Amélia (PP-RS), Álvaro Dias (PSDB-PR) e Eduardo Suplicy (PT-SP). Na tribuna do Senado e nos microfones da mídia, falaram pelos cotovelos mas em nenhum momento se preocuparam com o essencial: os fatos.
Falar com base no que saiu nos telejornais da
TV Globo, nas páginas da
Folha de S. Paulo, da revista
Veja, do
O Estado de S. Paulo e de
O Globo é faltar com a mais elementar responsabilidade. Como dar crétido a um seguimento sabidamente sujo, corrupto à medula?
Realidade
Até o mais desatento brasileiro sabe que esse tropel tem como única finalidade as eleições de 2012, que balizarão a sucessão presidencial em 2014. Cada vírgula do que está sendo dito pesará nos pratos da balança eleitoral. Nesse festival circense, o que parece não é, e o que é hoje pode deixar de ser amanhã. Diante da salada de falsas questões, idéias sem nexo e fatos incompreensíveis servida diariamente no noticiário político, o que se tem, na maior parte do tempo, é desinformação.
Um mínimo de observação mostra que para dar crédito a alguma coisa é preciso aguardar a sua comprovação pela realidade. Caso contrário, corre-se o risco de tomar por essencial o que pode ser apenas transitório e levar a sério fenômenos que, no fim das contas, só acabarão sendo lembrados pelos 15 minutos de fama que tiveram na sempre desonesta cobertura das mídia. Nesse caso de mais uma cruzada moralista da direita, a primeira coisa a ser comprovada será a capacidade da presidenta, pessoal e política, de não ceder às chantagens.
É possível que Dilma Rousseff passe incólume por essa nuvem de impropérios — a mídia ainda não saiu a campo disposta a distribuir pedradas no Palácio do Planalto, embora tenha dado sinais de que pretende emparedar a presidenta logo, logo. Tudo é possível, no longo prazo. No presente, o que se pode dizer é que as acusações à base do governo não atraem muita simpatia; nem estão convencendo muita gente.
Esquema
O entendimento predominante parece que vem sendo o seguinte: se alguém deve alguma coisa, que pague à Justiça — não à mídia. O que vai ficando evidente é que mais esse ataque inescrupuloso é o tipo da coisa que tem tudo para dar em nada nessa pescaria em que procuradores de escândalos vêm jogando muito anzol e pegando pouco peixe.
É possível até que alguém monte algum esquema contra Dilma Rousseff e que, em nome da "liberdade de imprensa", os violadores da liberdade de imprensa se juntem a fim de ''vazar'' para o público ''detalhes'' sobre as falsidades e mentiras que estão sendo divulgadas. Em se tratando dessa gente que anda à base da corrupção desbragada, tudo é possível — menos a verdade.
É evidente que não podemos incorrer no mesmo erro deles, de acusar sem provas. Trata-se, com certeza, de uma das piores pragas que envenenam os atuais usos e costumes do ambiente político brasileiro. Acusações, suspeitas e indícios são divulgados pela mídia como se fossem provas de culpabilidade — e a pessoa envolvida se vê condenada antes que consiga abrir a boca para dizer uma única palavra em sua defesa. Mas há coisas que são evidentes demais. Os conluios da mídia com certas operações de representantes do poder público são explícitos.
Argumentar que o país precisa de uma “faxina” com base nessas práticas é algo embrulhado em espetacular hipocrisia. Seria ótimo se as forças políticas realmente comprometidas com a ética na política tivessem forças para avançar nas investigações e passar o Brasil a limpo de alto a baixo, de forma justa, democrática e séria. Mas no jogo político do Brasil de hoje, infelizmente a torpeza é uma moeda corrente.
Mundos e fundos
O problema é que o país está em campanha eleitoral, a mídia tem o seu programa de governo e, diante da necessidade real de tomar uma atitude, achou que o melhor a fazer era apresentar-se mais uma vez como a guardiã da fé.
É possível que os barões da comunicação mobilizem mundos e fundos — principalmente fundos — para sustentar o fogo das denúncias até às barbas das eleições de 2014, de modo a “sangrar” a presidenta, como anunciaram que fariam com Lula. Heraldo Pereira, da
TV Globo, por exemplo, anunciou que a “imprensa” vai apurar todo o “esquema de corrupção” até o “último centavo'' — mas, na prática, até agora não esclareceu nem o primeiro.
Vamos enfrentar um incêndio por dia. Eles ignorarão o povo, com o qual não conseguem dialogar, e o próprio bom senso para tentar impor o seu coquetel goela abaixo dos brasileiros. A tática é deixar o eleitor sem entender patavina. Trânsfugas da esquerda, oportunistas de diferentes matizes e chacais enraivecidos serão cada vez mais acionados para este fim. Nessa selva, nunca se sabe onde está o inocente útil e onde está o vilão oportunista.