Foi curiosa, infeliz e preocupante a declaração do presidente da bolsa de Nova York, Duncan Niederauer, em sua recente visita ao Brasil, conforme relatou em sua edição de ontem o Brasil Econômico.
Segundo o executivo, o fortalecimento da economia dos países emergentes pode provocar volatilidade, riscos e, por tabela, crises mais profundas na economia global.A opinião é curiosa porque Niederauer dirige uma instituição que apareceu como um dos epicentros do terremoto que abalou os mercados em 2008. Infeliz porque ataca justamente os países que evitaram que o desastre daquele ano se transformasse numa catástrofe de proporções transatlânticas.
E preocupante, pois revela falta de compreensão sobre a gênese e a dinâmica da crise que até agora não foi debelada. Sem entender a origem das turbulências financeiras dos últimos três anos, a retomada será cada vez mais penosa.
A análise de Niederauer demonstra, de fato, uma visão "americanicista" (com perdão do neologismo) da economia. Ou seja, cabe aos Estados Unidos e aos mercados financeiros ditar as regras e puxar o crescimento global. Segundo esse conceito, sem a predominância de americanos e de europeus não será possível inaugurar um novo período de prosperidade econômica global.
O problema é que a realidade está desmentindo essas premissas. O mais recente capítulo dessa história, desencadeado com a quebra do banco Lehman Brothers em setembro de 2008, teve como base a falta de controle dos mercados financeiros justamente dos países mais desenvolvidos.
China, Brasil e Índia, entre outros emergentes, têm sido responsáveis pela manutenção dos índices de expansão econômica nos últimos anos. As grandes corporações industriais e financeiras colhem a grande parcela de seus lucros (e em muitos casos a totalidade) nas economias que até agora eram consideradas periféricas.
Além disso, a volatilidade dos mercados não começou agora. Teve início, sobretudo, com a incrível revolução tecnológica, que elevou a velocidade de comunicação a patamares inéditos e possibilitou uma integração quase total entre mercados de todo o planeta.
Esse tipo de visão beneficia justamente aqueles que resistem a dividir com os emergentes o poder em organismos multilaterais, como o FMI e o Banco Mundial, e, assim, permitir que China, Índia e Brasil, por exemplo, tenham voz mais ativa nos destinos da economia global.
Trata-se de uma atitude principalmente inócua - não há como evitar que esses países conquistem cada vez mais espaço, à medida que suas economias se tornam mais robustas e globalizadas.
Não aceitar essa nova realidade pode levar Estados Unidos e Europa a se distanciarem ainda mais da retomada do crescimento. Niederauer e outros analistas apressados podem continuar se queixando dos riscos trazidos pela surpreendente ascensão dos países emergentes.
Mas, enquanto fazem isso, não terão olhos e atenção para as enormes oportunidades que esses mercados oferecem. Eles não são o problema; são parte da solução.
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