Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

quarta-feira, 12 de março de 2014

Entenda como funciona a oposição "extraoficial" de Eduardo Cunha

Oficialmente, lidera o PMDB para aprovar os projetos de interesse do governo. Extraoficialmente trabalha para que esses projetos não sejam aprovados

Daniel Quoist
Renato Araújo / ABr


Qualquer pessoa minimamente interessada em política sabe o poder de destruição que tem uma personalidade beligerante quando assume uma função, digamos, de liderança.   

É o caso do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Oficialmente é o líder da bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, o segundo maior partido da base aliada que dá sustentação ao governo Dilma no Congresso.

Extraoficialmente é o criador de problemas por excelência: está em contínua queda de braço com a presidenta ou com seus prepostos da mesma base aliada.

Oficialmente deveria liderar a bancada do PMDB para aprovar os projetos de interesse do governo.

Extraoficialmente trabalha exatamente para que esses projetos sejam derrotados e, sempre que possível, que sejam derrotas clamorosas, ruinosas, barulhentas.

Oficialmente deveria estar alinhado com a principal figura do PMDB na atualidade, o vice-presidente Michel Temer.

Extraoficialmente é quem mais cria problemas para o nº 2 da República que, vira e mexe, tem que ir se explicar perante a presidenta Dilma, e gastar imensa energia para apagar os sucessivos focos de incêndio criado pelo correligionário carioca.

Oficialmente deveria manter um mínimo de cooperação e de urbanidade com o partido da presidenta, o PT, e somar esforços com este para produzir matéria legislativa que traduza em ações concretas o plano de governo oferecido à população nas eleições de 2010.

Extraoficialmente comporta-se como macaco em loja de louças, fustigando o presidente do PT, Rui Falcão, infernizando a vida do vice-presidente da Câmara, André Vargas, ironizando e desqualificando os diversos ministros de Estado que, por acaso, sejam petistas de carteirinha.           




Oficialmente deveria trabalhar para abater no nascedouro os escândalos ‘fakes’, artificiais, forjados por uma Oposição capenga para desgastar a imagem do governo junto à população e que sempre contam com a extrema boa vontade de uma mídia tradicional empenhada ela mesma em ter incontestável protagonismo de oposição ao governo.

Extraoficialmente é incansável em fazer articulações para desmobilizar a bancada do PMDB em defesa do governo e em promover factóides que coloquem água no moinho para a criação de Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPI), que tanto podem ser sobre a Copa 2014, a Petrobrás, o papel do Itamaraty na crise da Venezuela, as brechas no Mais Médicos, os riscos de apagão, o descontrole da inflação, os empréstimos a Cuba, o uso de aviões da FAB. Ou seja, tudo que poderia ser rapidamente esclarecido acionando as instituições competentes e que existem exatamente para isso, como a Advocacia-Geral da União, a Controladoria Geral da União, a Procuradoria Geral da República, o Ministério da Justiça, a Polícia Federal, o Itamaraty, o Ministério da Saúde, o Ministério da Fazenda, o BNDES, o Ministério das Minas e Energia.

Oficialmente deveria defender dos ataques de uma oposição - sem bandeiras e sem discurso - o governo em que seu partido ocupa a vice-presidência, mantêm em sua órbita de atuação 5 ministérios e milhares de cargos de segundo, terceiro e quarto escalões, incluindo vistosas diretorias em estatais do porte do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, Petrobras, CHESF, DNIT.

Extraoficialmente se entrega de corpo e alma a apoiar convocação de ministros de Estado, propostas pelo consórcio PSDB-DEM-PPS, com o objetivo básico de gerar desgaste para o governo, que tanto pode ser político, quando de imagem, midiático.

Oficialmente deveria ter uma atuação de líder nos tradicionais moldes que privilegiam a transparência, a sinceridade, o senso de agregação em torno de um ideário ou de uma causa e que prefira a proatividade ao invés do desmesurado reacionarismo.

Extraoficialmente faz questão de atuar nos bastidores, nas articulações que minem, avariem e enfraqueçam a capacidade do governo federal de apresentar iniciativas legislativas condizentes com o anseio da maioria dos brasileiros que elegeu o PT para lhe governar desde as eleições de 2010.

Oficialmente deveria encorajar o surgimento (e fortalecimento) de crescentes pontos de convergência entre os lideres (e suas respectivas bancadas) que integram o imenso arco de partidos que apoiam o governo.

Extraoficialmente trabalha para potencializar as insatisfações individuais dos deputados, exigir de maneira truculenta o pagamento de emendas parlamentares, ridicularizar (sempre que possível) presidentes de partidos que dão suporte ao governo, criar as condições para criar facções, blocos e similares que atravanquem de vez a ação do governo no Congresso.

Oficialmente deveria buscar interlocução preferencial com o governo a que serve e para o qual foi designado líder de bancada, a começar com o azeitamento das comunicações com a presidenta da República e o alinhamento consensual com o vice-presidente da República, fomentar diálogo fácil com demais lideranças do PT e do PMDB, abrir canais de conciliação com lideranças oposicionistas.

Extraoficialmente é imbatível em torpedear esses canais de comunicação, utilizando as redes sociais para mostrar contrariedade, desaprovação, desaforos e frustrações com os rumos do governo, de seu partido e do partido do governo.

Oficialmente deveria blindar o governo de crises artificiais, crises que têm como objetivo prioritário diminuir o imenso apoio político que a presidenta angariou para se lançar a uma campanha reeleitoral com todos os ingredientes para ser vitoriosa ainda no primeiro turno das eleições majoritárias de outubro de 2014.

Extraoficialmente se comporta mais oposicionista que os líderes de bancadas oposicionistas como Antonio Imbassahy (PSDB), Mendonça Filho (DEM), Beto Albuquerque (PSB) e Rubens Bueno (PPS).

Feitas estas considerações, algumas perguntas que exigem urgentes respostas:

1. Além dele próprio, a quem mais serve o líder peemedebista Eduardo Cunha?

2. Quem, nos bastidores, mantêm o deputado Cunha na liderança do PMDB?

3. Será que o PMDB nacional é incapaz de ver o que o Brasil todo vê: Eduardo Cunha é a pessoa menos indicada para as funções de líder de bancada governista?

4. Qual é a pauta de reivindicações do deputado carioca pendente de aprovação do Planalto?

5. Ter um ministério ‘para chamar de seu’?

6. Conseguir a nomeação de meia dúzia de afilhados para ocupar diretorias de importantes empresas estatais?

7. Apoio do governo para voos eleitorais de maior envergadura em sua base política no Rio de Janeiro?

8. Sentimento de frustração com a atuação política de lideranças de seu próprio partido (Michel Temer – Henrique Eduardo Alves – Valdir Raupp – José Sarney - Renan Calheiros)?

9. Ter protagonismo de líder oposicionista visando concorrer como vice de Aécio Neves ou em caso de rompimento de Marina Silva com o PSB, fazer dobradinha com seu xará Eduardo Campos?

10. Por que é tão difícil para o PMDB destituí-lo da liderança de sua bancada na Câmara?

QUAL O PREÇO DA VITÓRIA DO BLOCÃO CONTRA O GOVERNO? O PMDB faz um jogo duplo. Ele apoia o governo de um lado, mas surfa no antipetismo, de outro.

O blocão, foto de Pedro Ladeira, na 1ª página da Folha de hoje

Conversa Afiada reproduz artigo de Miguel do Rosário, extraído do Blog O Cafezinho:

QUAL O PREÇO DA VITÓRIA DO BLOCÃO CONTRA O GOVERNO?



por Miguel do Rosário

A oposição, aí incluindo seus tentáculos na mídia, tem o direito de comemorar a derrota política imposta pelo chamado “blocão” contra o governo nesta terça-feira, ao criar uma comissão para investigar negócios da Petrobrás na Holanda.

É uma vitória que vale especialmente para a centro-direita (ou direita mesmo) que apóia o governo de má vontade, apenas por apego ao poder, como é o caso de parcela do PMDB e quase todo PSD, cujos membros saíram do DEM à procura de sombra e água fresca.

Entretanto, esse movimento tem dois lados.

De um lado, mostra a força do blocão, que agora tentará usar isso para ampliar as chantagens contra o governo.

De outro, revela, para o governo, quem são seus verdadeiros aliados, e quem está pronto para lhe passar a perna na primeira oportunidade.

Em ano de eleição, é muito bom saber, com certeza, quem está do seu lado de verdade.

O Congresso tem 513 deputados. O blocão conseguiu exatamente a metade do total: 257 deputados.

A turma de Eduardo Cunha assinou uma declaração de guerra. Uma guerra surda, porque entre aliados em tese, mas por isso mesmo ainda mais fratricida e sangrenta.

No Painel da Folha, há a informação de que Eduardo Cunha disse a Michel Temer que o PT tem um “projeto hegemônico que afasta aos poucos os partidos da coalização”.

Pode até ser. Mas Cunha tem um ponto-fraco. Ele confia demais em jogadas palacianas, e esquece que o poder político, seja do PT, seja do PMDB, seja do governo, seja da oposição, só tem uma fonte real: o voto.

O PMDB foi o único partido da base que perdeu filiados em 2013. Por quê? Porque não está mudando. Não está discutindo teses, programas, ideologias, projetos de país. O adversário do PMDB não é o PT, é seu próprio espelho. É um partido grande, capilarizado, que governa milhares de municípios, e que poderia contribuir muito mais para o debate político nacional se investisse mais em… debates, e menos em figuras questionáveis como Eduardo Cunha.

Afinal, o que quer o PMDB? Que o PT, ou qualquer partido que estiver no governo, lhe garanta algum tipo de cota fixa, imutável, em troca de seu apoio no Congresso?

Na verdade, o PMDB faz um jogo duplo. Ele apóia o governo, de um lado, mas surfa no antipetismo, de outro. Até aí tudo bem, é da política.

Mas haverá um momento em que o partido terá de se decidir. Essa postura de ameaçar o governo com um possível apoio a Aécio Neves apenas ridiculariza o PMDB, porque revela um partido sem substância, disposto a apoiar qualquer um, desde que lhe pague bem. Ao agir assim, as eleições se tornarão cada vez mais caras para o PMDB, porque ele terá cada vez menos o voto das pessoas politizadas, e precisarão cada vez mais do voto fisiológico, comprado a peso de ouro de um eleitor cada vez mais cético, num mercado eleitoral cada vez mais competitivo.

Tem uma senhora cujos serviços de faxina eu contrato de vez em quando que me contou uma coisa engraçada. È triste por um lado, até porque isso não deve ser legal, mas engraçado também. Os políticos lhe dão dinheiro para que ela distribua aos eleitores da região. Compra de voto descarada. O eleitor vai à casa dela, dá o número do título, e recebe R$ 50.

Aí entra a parte engraçada. Tem eleitor que vendeu seu voto para mais de cinco candidatos diferentes. Ou seja, o político, quando pensa que está enganando o eleitor, está é levando uma rasteira, merecida, do cidadão. O cidadão pega o dinheiro, evidentemente porque está precisando, mas não vota no candidato que lhe deu o recurso. Ou pode até votar num daqueles que lhe deu dinheiro, mas vota naquele de sua preferência. Ou seja, o recurso à compra de voto fica cada vez mais caro, pois o voto é secreto, protegendo o eleitor.

Voltando à “vitória” do blocão sobre o governo, tenho a impressão que muitos parlamentares que se recusaram a participar do jogo sujo de chantagem política liderado por Eduardo Cunha se identificarão com esta frase de Darcy Ribeiro, que o colega de Twitter, Mario Marona, lembrou nesta manhã, ao publicar a foto abaixo.

“Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.



Clique aqui para ler “PMDB propaga oposição na Câmara para tumultuar PT”. 

aqui para ler do Tijolaço: “Dilma não vai entregar o ouro. Quantas divisões tem Eduardo Cunha?”. 

A dúvida sobre a sigla PT associada a bandidos no Jornal Nacional





por Humberto Tobé, Chefe de Gabinete da Presidência PT-SP 

Vcs perceberam no Jornal Nacional desta noite que a TV Globo associa bandidos ligados ao tráfico de drogas ao PT?

Isso mesmo! Uma matéria feita na Rocinha que coloca além dos nomes e apelidos a sigla PT.

Se puderem compartilhar em suas redes nos ajudaria a cobrar explicações!



Leia também:

Socialista Eduardo Campos usa tática do direitista Jorge Bornhausen

Azenha: Folha (*), mensalão tucano e lista de Furnas Parece, ao leitor desavisado, que Aécio não tem relação alguma com o mensalão tucano






O Conversa Afiada republica post de Luiz Carlos Azenha, extraído do Viomundo:

A cobertura marota da Folha sobre o mensalão tucano e a lista de Furnas



por Luiz Carlos Azenha

Eu não sei se o PT está ou não promovendo a ofensiva de que fala a Folha na reportagem. Tenho comigo que trata-se de uma justificativa para a cobertura pífia que, historicamente, o jornal fez do mensalão tucano, também chamado de “mensalão mineiro”.

O certo é que fica parecendo, ao leitor desavisado, que o presidenciável Aécio Neves não tem relação alguma com o mensalão tucano e que é vítima de uma campanha difamatória do PT, de mero oportunismo dos petistas em plena campanha eleitoral.

Esta possibilidade estaria descartada se a Folha tivesse dedicado ao mensalão tucano o mesmo espaço que o Viomundo, por exemplo, dedicou.

Se isso tivesse acontecido, as relações entre Aécio Neves e o mensalão tucano estariam absolutamente claras para os leitores.

Na reportagem, a Folha esmiuça supostas acusações do PT a Aécio e abre espaço para que o tucano se defenda. Especulo que pode se tratar de uma “vacina”, ou seja, de uma antecipação da defesa de Aécio diante de argumentos que serão usados na campanha.

A Folha menciona um suposto “exército na internet”, que seria o encarregado de ajudar o partido governista a colar Aécio no mensalão tucano, mas não entra em detalhes. Estaria preparando o terreno para alguma ação aecista?

O trecho que me chamou a atenção foi o seguinte:



É importante lembrar que existem dois episódios distintos e ainda não plenamente esclarecidos em Minas, referentes às campanhas tucanas: de 1998 (reeleição de Eduardo Azeredo e FHC)  e 2002 (com Aécio concorrendo ao governo do Estado e José Serra ao Planalto).

A Folha não trata do segundo, embora alguns personagens importantes se repitam.

1998 = mensalão mineiro

2002 = lista de Furnas

Quanto a 1998, a Folha sugere que Eduardo Azeredo e Aécio Neves pertenciam a grupos políticos distintos.

Talvez venha a dizer, eventualmente, que os dois nem se conheciam.

O fato é que o mensalão tucano buscava beneficiar políticos do PSDB e de partidos aliados ao PSDB! Aécio era um deles.

Quanto a 2002, as perícias atestaram que a lista de Furnas não foi uma montagem e que a assinatura de Dimas Toledo (então diretor de Furnas) não foi falsificada.

Porém, é óbvio que os peritos não tinham condições de atestar se aquele conteúdo representava algo real ou era ficção.

Algumas informações que a Folha sonegou a seus leitores:

1. O lobista Nilton Monteiro era homem dos bastidores do tucanato. Era o intermediário. A quem ele servia? Se a prisão dele não tem relação com a falsificação da lista do mensalão tucano, nem da lista de Furnas, por que noticiar que ele está preso por falsificação sem ouví-lo, como fizemos nós do Viomundo, que temos muito menos recursos que a Folha? Por que acreditar em Roberto Jefferson mas não em Nilton Monteiro? Do jeito que a Folha noticiou, fica parecendo que Monteiro caiu de paraquedas para ganhar algum.

2. A prisão de Nilton Monteiro não foi um caso isolado. Houve busca e apreensão na casa do advogado Dino Miraglia, que representou a família de Cristiana Aparecida Ferreira. A família sustenta que o assassinato dela tem relação com o papel desempenhado por Cristiana no mensalão tucano, o de transportar dinheiro vivo. Houve a prisão do jornalista Marco Aurélio Carone, a intervenção no site que ele dirigia e busca e apreensão na casa de um segundo jornalista que trabalhou com Carone, Geraldo Elísio Machado Lopes. Por que a Folha não cobriu o caso se, como dizem os tucanos, ele demonstra claramente a existência de uma quadrilha que tinha o objetivo de difamá-los?  Por que a Folha não ouviu Carone, Miraglia e Geraldo Elísio, além de Monteiro?

3. A procuradora Andréa Bayão Pereira, do Rio de Janeiro, investigou a lista de Furnas. Ela ouviu Nilton Monteiro e executivos de empresas que teriam colaborado com a caixinha tucana. A procuradora confirmou vários aspectos da lista. Por exemplo, o deputado Roberto Jeferson confirma que recebeu os 75 mil reais atribuídos a ele na lista. Jeferson serve para denunciar o mensalão petista mas não para reforçar a credibilidade da lista? A procuradora chegou a oferecer denúncia contra Dimas Toledo, o diretor de Furnas acusado de organizar o esquema. Segundo a lista, R$ 5,5 milhões abasteceram a campanha de Aécio a governador,em 2002. Por que a Folha não tratou dos dois casos — mensalão tucano e lista de Furnas –, se ambos foram parar na Justiça e ambos repetem personagens?

4. As denúncias são sustentadas por duas das mais importantes lideranças da oposição em Minas. Os deputados Sávio Souza Cruz (PMDB) e Rogério Correia (PT). Pode se atribuir a eles motivação política — óbvia, nestes casos –, mas não se trata de dois irresponsáveis. Pelo jeito que a Folha noticiou, fica parecendo que um deles, Rogério Correia, caiu de paraquedas em Brasília, quando vem denunciando o caso faz muitos anos.

Estranho, muito estranho tudo isso. Parece uma coreografia do qual só a campanha de Aécio e a própria Folha sabem os próximos passos
.

Clique aqui para ler “Valério condenado no mensalão do PSDB. E os tucanos ?”.

E aqui para ler “Viomundo foi a Furnas: Barbosa, e os tucanos ?”.


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a  Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

50 anos de um comício que ainda fala ao Brasil





O governo Jango, como o de Vargas -e o ciclo do PT- buscava revestir o desenvolvimento brasileiro de soberania e direitos sociais inaceitáveis para as elites. 


por: Saul Leblon

Arquivo

 A derrubada violenta de Jango em 1964 foi antecedida, a exemplo do que se fez com Vargas dez anos antes, e da tentativa frustrada contra Lula, 41 depois, de uma campanha midiática de ódio e acusações de corrupção contra o seu governo e a sua pessoa.

As motivações também se assemelhavam.

E não eram aquelas estampadas pelo alarido moralista.

O governo Jango, como o de Vergas  --e o ciclo atual do PT— buscava revestir o desenvolvimento brasileiro  de  travas de soberania  e direitos sociais inaceitáveis pelo dinheiro graúdo de ontem e de hoje.

Jango ensaiava expandir o alicerce varguista, ao qual servira como ministro do Trabalho,  com o impulso a reformas de base dotadas de expressivo apoio popular.

Nos jornais, no entanto, o clima era adverso.

A crispação editorial desenhava um Brasil aos cacos, uma sociedade a caminho do esfarelamento econômico e social.

O jogral do desgoverno, do desabastecimento e da infiltração estrangeira e marxista servia o medo no café da manhã; guarnecia o jantar com a insegurança do dia seguinte.

Pesquisas do Ibope sonegadas então à opinião pública, e assim ocultadas por mais de 40 anos, contradiziam o bombardeio diuturno das expectativas  veiculadas pelos  órgãos de comunicação.

A mídia agia  ostensivamente como parte interessada no assalto ao poder que interrompeu um governo democrático, instaurou uma ditadura, suspendeu as liberdades e garantias individuais, sufocou o debate das reformas estruturais requeridas pelo desenvolvimento.

Para isso denegriu, mentiu, prendeu, matou, torturou e censurou.

Foi dela a iniciativa de convocar o pânico e a mentira e com eles sabotar o debate plural sobre o passo seguinte da história brasileira, cercando-a de interditos ideológicos e moralistas.

Ontem como hoje, seu papel foi decisivo para levar a classe média a incorporar um discernimento preconceituoso e  golpista à sua visão do desenvolvimento brasileiro.

E mesmo assim, só uma parte dela.

Os dados coletados pelo Ibope, em enquetes de opinião realizadas às vésperas do golpe  (e hoje armazenados no Arquivo Edgar Leuenroth, da Unicamp), mostram uma realidade distinta daquela cristalizada na narrativa hegemônica.

O conjunto assume incontornável  atualidade quando cotejado com a ênfase predominante no aparato midiático do Brasil, Argentina ou da Venezuela nos dias que correm.

Pesquisas levadas às ruas entre os dias 20 e 30 de março de 1964, quando a democracia era  sofregamente tangida ao matadouro pelos que bradavam em sua defesa, mostram que:

a) 69% dos entrevistados avaliavam o governo Jango como: ótimo (15%); bom (30%) e regular (24%).

b) Apenas 15% o consideravam ruim ou péssimo, fazendo eco do martelete midiático.

c) quase 50% ( 49,8%) cogitavam votar em Jango, caso ele se candidatasse à reeleição em 1965 (41,8% rejeitavam essa opção).

d) 59% apoiavam as medidas anunciadas pelo Presidente na famosa sexta-feira, 13 de março , quando assinaria decretos que expropriavam terras às margens das rodovias para fins de reforma agrária,  nacionalizaria  refinarias, comprometia-se com a reforma urbana, fiscal e educacional.

As pesquisas sigilosas compõem agora o desconcertante contrapelo das manchetes golpistas que podem ser acessadas em modernos bancos de dados, ou lidas nas edições correntes dos mesmos veículos, escritos e dirigidos pela mesma cepa  que urdiu a fraude informativa de 1964.

Um jornalismo que oculta elementos da equação política e econômica, exacerba adversidades, manipula o debate e interdita as soluções requeridas pelo desenvolvimento  –a exemplo do que fez com a agenda das reformas de base em 1964.

Em editorial  escrito com a tintura do cinismo oportunista, um dos centuriões daquelas jornadas, o diário O Globo, fez recentemente a autocrítica esperta de sua participação no episódio.

Como certos confidentes da ditadura, ora promovidos a historiadores do período, o diário dos Marinhos escusa-se se no acessório para justificar a violência golpista como inevitável diante do quadro extremado: o golpe viria de qualquer jeito, um lado ou de outro, sugere-se.

Se havia extremismo em bolsões à esquerda, a verdade é que a incerteza social e a rejeição ao governo, como se vê pela pesquisa do Ibope, foram exacerbadas deliberadamente para gerar o clima de animosidade insanável e  legitimar  assim a ruptura institucional.

As semelhanças com a engrenagem em movimento avultam aos olhos menos distraídos.

Esse é o ponto a reter.

Ele faz da rememoração do discurso que completa 50 anos nesta 5ª feira,  um mirante  oportuno para enxergar não apenas o passado.

Mas a partir dele arguir interrogações de latejante urgência no presente.

Em que medida a reordenação de um ciclo de desenvolvimento pode ocorrer dentro da democracia quando esta lhe sonega os meios para o debate e o espaço político para construção das maiorias requeridas ao passo seguinte de uma nação?

O Brasil dos anos 60  vivia, como agora, o esgotamento de um ciclo e o difícil parto do seguinte.

As reformas de base – a agrária, a urbana, a tributária, a política, a educacional — visavam destravar potencialidades e recursos de um sistema exaurido.

O impulso industrializante de Vargas, dos anos 30 a meados dos anos 50,  e o do consumo , fomentado por Juscelino, mostravam claros sinais de esgotamento.

Trincas marmorizavam todo tecido social e econômico. Os remendos já não sustentavam o corpo de uma sociedade que reclamava espaço para avançar.

Esgarçamentos eram magnificados  pelos guardiães da estabilidade, a exemplo dos que agora clamam pelo rebaixamento da nota do Brasil junto às agências de risco.

O déficit público latejava entre as urgências do desenvolvimento e as disponibilidades para financiá-lo sem uma reforma tributária corajosa.

O PIB anêmico e a inflação renitente completavam a encruzilhada de um sistema econômico a requerer um aggiornamento estrutural.

O conjunto tinha como arremate a guerra fria, exacerbada na América Latina pela vitória da revolução cubana, que desde 1959 irradiava uma alternativa à luta pelo desenvolvimento regional.

O efeito na vida cotidiana era enervante. Como o seria no Chile, nove anos depois; como o é hoje, em certa medida, na Venezuela de Maduro; ou na Argentina de Cristina.

As reformas progressistas propostas por  Jango estavam longe de caracterizar o alvorecer comunista alardeado diariamente nas manchetes do udenismo midiático.

O que se buscava era  superar entraves --e privilégios--  de uma máquina econômica entrevada em suas próprias contradições.

Jango pretendia associar a isso um salto de cidadania e justiça social, ampliando o acesso à educação e aos direitos no campo e nas cidades para dar um novo estirão ao mercado interno.

Diante do salto ensaiado,  convocada a democracia a discutir as grandes avenidas do futuro brasileiro, os centuriões da legalidade optaram pelo golpe.

Deram ao escrutínio popular um atestado de incapacidade para formar os grandes  consensos  indispensáveis à estabilidade e duração de um ciclo de expansão produtiva e florescimento democrático.

Os ecos persistentes desse período encerram  uma lição negligenciada por aqueles que ainda encaram o binômio 'mídia e regulação' como um ruído contornável com a barganha de  indulgências junto a um aparato que em última instância deseja-lhes a mesma sorte de Jango.

A verdade é que nem mesmo um programa moderado de reformas e oxigenação social  como o da coalizão centrista liderada pelo  PT é tolerável.

É imperativo iluminar a seta do tempo que não se quebrou  na atualidade das mudanças estruturais reclamadas pelo país.

Em 13 de março de 1964, Jango pronunciaria  o discurso memorável, que daria a essa agenda o lugar que ela ainda cobra na história brasileira. E que a narrativa conservadora insiste em lhe sonegar.

Leia, a seguir, a íntegra do comício pronunciado pelo Presidente João Goulart, na Central do Brasil, no dia 13 de março de 1964

“Devo agradecer em primeiro lugar às organizações promotoras deste comício, ao povo em geral e ao bravo povo carioca em particular, a realização, em praça pública, de tão entusiasta e calorosa manifestação. Agradeço aos sindicatos que mobilizaram os seus associados, dirigindo minha saudação a todos os brasileiros que, neste instante, mobilizados nos mais longínquos recantos deste país, me ouvem pela televisão e pelo rádio.

Dirijo-me a todos os brasileiros, não apenas aos que conseguiram adquirir instrução nas escolas, mas também aos milhões de irmãos nossos que dão ao brasil mais do que recebem, que pagam em sofrimento, em miséria, em privações, o direito de ser brasileiro e de trabalhar sol a sol para a grandeza deste país.

Presidente de 80 milhões de brasileiros, quero que minhas palavras sejam bem entendidas por todos os nossos patrícios.

Vou falar em linguagem que pode ser rude, mas é sincera sem subterfúgios, mas é também uma linguagem de esperança de quem quer inspirar confiança no futuro e tem a coragem de enfrentar sem fraquezas a dura realidade do presente.

Aqui estão os meus amigos trabalhadores, vencendo uma campanha de terror ideológico e sabotagem, cuidadosamente organizada para impedir ou perturbar a realização deste memorável encontro entre o povo e o seu presidente, na presença das mais significativas organizações operárias e lideranças populares deste país.

Chegou-se a proclamar, até, que esta concentração seria um ato atentatório ao regime democrático, como se no Brasil a reação ainda fosse a dona da democracia, e a proprietária das praças e das ruas. Desgraçada a democracia se tiver que ser defendida por tais democratas.

Democracia para esses democratas não é o regime da liberdade de reunião para o povo: o que eles querem é uma democracia de povo emudecido, amordaçado nos seus anseios e sufocado nas suas reinvindicações.

A democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do anti-sindicato, da anti-reforma, ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos grupos a que eles servem ou representam.

A democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobrás; é a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais, é a democracia que luta contra os governos populares e que levou Getúlio Vargas ao supremo sacrifício.

Ainda ontem, eu afirmava, envolvido pelo calor do entusiasmo de milhares de trabalhadores no Arsenal da Marinha, que o que está ameaçando o regime democrático neste País não é o povo nas praças, não são os trabalhadores reunidos pacificamente para dizer de suas aspirações ou de sua solidariedade às grandes causas nacionais. Democracia é precisamente isso: o povo livre para manifestar-se, inclusive nas praças públicas, sem que daí possa resultar o mínimo de perigo à segurança das instituições.

Democracia é o que o meu governo vem procurando realizar, como é do seu dever, não só para interpretar os anseios populares, mas também conquistá-los pelos caminhos da legalidade, pelos caminhos do entendimento e da paz social.

Não há ameaça mais séria à democracia do que desconhecer os direitos do povo; não há ameaça mais séria à democracia do que tentar estrangular a voz do povo e de seus legítimos líderes, fazendo calar as suas mais sentidas reinvindicações.

Estaríamos, sim, ameaçando o regime se nos mostrássemos surdos aos reclamos da Nação, que de norte a sul, de leste a oeste levanta o seu grande clamor pelas reformas de estrutura, sobretudo pela reforma agrária, que será como complemento da abolição do cativeiro para dezenas de milhões de brasileiros que vegetam no interior, em revoltantes condições de miséria.

Ameaça à democracia não é vir confraternizar com o povo na rua. Ameaça à democracia é empulhar o povo explorando seus sentimentos cristãos, mistificação de uma indústria do anticomunismo, pois tentar levar o povo a se insurgir contra os grandes e luminosos ensinamentos dos últimos Papas que informam notáveis pronunciamentos das mais expressivas figuras do episcopado brasileiro.

O inolvidável Papa João XXIII é quem nos ensina que a dignidade da pessoa humana exige normalmente como fundamento natural para a vida, o direito ao uso dos bens da terra, ao qual corresponde a obrigação fundamental de conceder uma propriedade privada a todos.

É dentro desta autêntica doutrina cristã que o governo brasileiro vem procurando situar a sua política social, particurlamente a que diz respeito à nossa realidade agrária.

O cristianismo nunca foi o escudo para os privilégios condenados pelos Santos Padres. Nem os rosários podem ser erguidos como armas contra os que reclamam a disseminação da propriedade privada da terra, ainda em mãos de uns poucos afortunados.

Àqueles que reclamam do Presidente de República uma palavra tranqüilizadora para a Nação, o que posso dizer-lhes é que só conquistaremos a paz social pela justiça social.

Perdem seu tempo os que temem que o governo passe a empreender uma ação subversiva na defesa de interesses políticos ou pessoais; como perdem igualmente o seu tempo os que esperam deste governo uma ação repressiva dirigida contra os interesses do povo. Ação repressiva, povo carioca, é a que o governo está praticando e vai amplia-la cada vez mais e mais implacavelmente, assim na Guanabara como em outros estados contra aqueles que especulam com as dificuldades do povo, contra os que exploram o povo e que sonegam gêneros alimentícios e jogam com seus preços.

Ainda ontem, trabalhadores e povo carioca, dentro da associações de cúpula de classes conservadoras, levanta-se a voz contra o Presidente pelo crime de defender o povo contra aqueles que o exploram nas ruas, em seus lares, movidos pela ganância.

Não tiram o sono as manifestações de protesto dos gananciosos, mascarados de frases patrióticas, mas que, na realidade, traduzem suas esperanças e seus propósitos de restabelecer a impunidade para suas atividades anti-sociais.

Não receio ser chamado de subversivo pelo fato de proclamar, e tenho proclamado e continuarei a proclamando em todos os recantos da Pátria – a necessidade da revisão da Constituição, que não atende mais aos anseios do povo e aos anseios do desenvolvimento desta Nação.

Essa Constituição é antiquada, porque legaliza uma estrutura sócio-econômica já superada, injusta e desumana; o povo quer que se amplie a democracia e que se ponha fim aos privilégios de uma minoria; que a propriedade da terra seja acessível a todos; que a todos seja facultado participar da vida política através do voto, podendo votar e ser votado; que se impeça a intervenção do poder econômico nos pleitos eleitorais e seja assegurada a representação de todas as correntes políticas, sem quaisquer discriminações religiosas ou ideológicas.

Todos têm o direito à liberdade de opinião e de manifestar também sem temor o seu pensamento. É um princípio fundamental dos direitos do homem, contido na Carta das Nações Unidas, e que temos o dever de assegurar a todos os brasileiros.

Está nisso o sentido profundo desta grande e incalculável multidão que presta, neste instante, manifestação ao Presidente que, por sua vez, também presta conta ao povo dos seus problemas, de suas atitudes e das providências que vem adotando na luta contra forças poderosas, mas que confia sempre na unidade do povo, das classes trabalhadoras, para encurtar o caminho da nossa emancipação.

É apenas de lamentar que parcelas ainda ponderáveis que tiveram acesso à instrução superior continuem insensíveis, de olhos e ouvidos fechados à realidade nacional.

São certamente, trabalhadores, os piores surdos e os piores cegos, porque poderão, com tanta surdez e tanta cegueira, ser os responsáveis perante a História pelo sangue brasileiro que possa vir a ser derramado, ao pretenderem levantar obstáculos ao progresso do Brasil e à felicidade de seu povo brasileiro.

De minha parte, à frente do Poder Executivo, tudo continuarei fazendo para que o processo democrático siga um caminho pacífico, para que sejam derrubadas as barreiras que impedem a conquista de novas etapas do progresso.

E podeis estar certos, trabalhadores, de que juntos o governo e o povo – operários , camponeses, militares, estudantes, intelectuais e patrões brasileiros, que colocam os interesses da Pátria acima de seus interesses, haveremos de prosseguir de cabeça erguida, a caminhada da emancipação econômica e social deste país.

O nosso lema, trabalhadores do Brasil, é “progresso com justiça, e desenvolvimento com igualdade”.

A maioria dos brasileiros já não se conforma com uma ordem social imperfeita, injusta e desumana. Os milhões que nada têm impacientam-se com a demora, já agora quase insuportável, em receber os dividendos de um progresso tão duramente construído, mas construído também pelos mais humildes.

Vamos continuar lutando pela construção de novas usinas, pela abertura de novas estradas, pela implantação de mais fábricas, por novas escolas, por mais hospitais para o nosso povo sofredor; mas sabemos que nada disso terá sentido se o homem não for assegurado o direito sagrado ao trabalho e uma justa participação nos frutos deste desenvolvimento.

Não, trabalhadores; sabemos muito bem que de nada vale ordenar a miséria, dar-lhe aquela aparência bem comportada com que alguns pretendem enganar o povo. Brasileiros, a hora é das reformas de estrutura, de métodos, de estilo de trabalho e de objetivo. Já sabemos que não é mais possível progredir sem reformar; que não é mais possível admitir que essa estrutura ultrapassada possa realizar o milagre da salvação nacional para milhões de brasileiros que da portentosa civilização industrial conhecem apenas a vida cara, os sofrimentos e as ilusões passadas.

O caminho das reformas é o caminho do progresso pela paz social. Reformar é solucionar pacificamente as contradições de uma ordem econômica e jurídica superada pelas realidades do tempo em que vivemos.


Trabalhadores, acabei de assinar o decreto da SUPRA com o pensamento voltado para a tragédia do irmão brasileiro que sofre no interior de nossa Pátria. Ainda não é aquela reforma agrária pela qual lutamos.

Ainda não é a reformulação de nosso panorama rural empobrecido.

Ainda não é a carta de alforria do camponês abandonado.

Mas é o primeiro passo: uma porta que se abre à solução definitiva do problema agrário brasileiro.

O que se pretende com o decreto que considera de interesse social para efeito de desapropriação as terras que ladeiam eixos rodoviários, leitos de ferrovias, açudes públicos federais e terras beneficiadas por obras de saneamento da União, é tornar produtivas áreas inexploradas ou subutilizadas, ainda submetidas a um comércio especulativo, odioso e intolerável.

Não é justo que o benefício de uma estrada, de um açude ou de uma obra de saneamento vá servir aos interesses dos especuladores de terra, quese apoderaram das margens das estradas e dos açudes. A Rio-Bahia, por exemplo, que custou 70 bilhões de dinheiro do povo, não deve bemeficiar os latifundiários, pela multiplicação do valor de suas propriedades, mas sim o povo.

Não o podemos fazer, por enquanto, trabalhadores, como é de prática corrente em todos os países do mundo civilizado: pagar a desapropriação de terras abandonadas em títulos de dívida pública e a longo prazo.

Reforma agrária com pagamento prévio do latifundio improdutivo, à vista e em dinheiro, não é reforma agrária. É negócio agrário, que interessa apenas ao latifundiário, radicalmente oposto aos interesses do povo brasileiro. Por isso o decreto da SUPRA não é a reforma agrária.

Sem reforma constitucional, trabalhadores, não há reforma agrária. Sem emendar a Constituição, que tem acima de dela o povo e os interesses da Nação, que a ela cabe assegurar, poderemos ter leis agrárias honestas e bem-intencionadas, mas nenhuma delas capaz de modificações estruturais profundas.

Graças à colaboração patriótica e técnica das nossas gloriosas Forças Armadas, em convênios realizados com a SUPRA, graças a essa colaboração, meus patrícios espero que dentro de menos de 60 dias já comecem a ser divididos os latifúndios das beiras das estradas, os latifúndios aos lados das ferrovias e dos açudes construídos com o dinheiro do povo, ao lado das obras de saneamento realizadas com o sacrifício da Nação. E, feito isto, os trabalhadores do campo já poderão, então, ver concretizada, embora em parte, a sua mais sentida e justa reinvindicação, aquela que lhe dará um pedaço de terra para trabalhar, um pedaço de terra para cultivar. Aí, então, o trabalhador e sua família irão trabalhar para si próprios, porque até aqui eles trabalham para o dono da terra, a quem entregam, como aluguel, metade de sua produção. E não se diga, trabalhadores, que há meio de se fazer reforma sem mexer a fundo na Constituição. Em todos os países civilizados do mundo já foi suprimido do texto constitucional parte que obriga a desapropriação por interesse social, a pagamento prévio, a pagamento em dinheiro.

No Japão de pós-guerra, há quase 20 anos, ainda ocupado pelas forças aliadas vitoriosas, sob o patrocínio do comando vencedor, foram distribuídos dois milhões e meio de hectares das melhores terras do país, com indenizações pagas em bônus com 24 anos de prazo, juros de 3,65% ao ano. E quem é que se lembrou de chamar o General MacArthur de subversivo ou extremista?

Na Itália, ocidental e democrática, foram distribuídos um milhão de hectares, em números redondos, na primeira fase de uma reforma agrária cristã e pacífica iniciada há quinze anos, 150 mil famílias foram beneficiadas.

No México, durante os anos de 1932 a 1945, foram distribuídos trinta milhões de hectares, com pagamento das indenizações em títulos da dívida pública, 20 anos de prazo, juros de 5% ao ano, e desapropriação dos latifúndios com base no valor fiscal.

Na Índia foram promulgadas leis que determinam a abolição da grande propriedade mal aproveitada, transferindo as terras para os camponeses.

Essas leis abrangem cerca de 68 milhões de hectares, ou seja, a metade da área cultivada da Índia. Todas as nações do mundo, independentemente de seus regimes políticos, lutam contra a praga do latifúndio improdutivo.

Nações capitalistas, nações socialistas, nações do Ocidente, ou do Oriente, chegaram à conclusão de que não é possível progredir e conviver com o latifúndio.

A reforma agrária não é capricho de um governo ou programa de um partido. É produto da inadiável necessidade de todos os povos do mundo. Aqui no Brasil, constitui a legenda mais viva da reinvindicação do nosso povo, sobretudo daqueles que lutaram no campo.

A reforma agrária é também uma imposição progressista do mercado interno, que necessita aumentar a sua produção para sobreviver.

Os tecidos e os sapatos sobram nas prateleiras das lojas e as nossas fábricas estão produzindo muito abaixo de sua capacidade. Ao mesmo tempo em que isso acontece, as nossas populações mais pobres vestem farrapos e andam descalças, porque não tem dinheiro para comprar.

Assim, a reforma agrária é indispensável não só para aumentar o nível de vida do homem do campo, mas também para dar mais trabalho às industrias e melhor remuneração ao trabalhador urbano.

Interessa, por isso, também a todos os industriais e aos comerciantes. A reforma agrária é necessária, enfim, à nossa vida social e econômica, para que o país possa progredir, em sua indústria e no bem-estar do seu povo.

Como garantir o direito de propriedade autêntico, quando dos quinze milhões de brasileiros que trabalham a terra, no Brasil, apenas dois milhões e meio são proprietários?

O que estamos pretendendo fazer no Brasil, pelo caminho da reforma agrária, não é diferente, pois, do que se fez em todos os países desenvolvidos do mundo. É uma etapa de progresso que precisamos conquistar e que haveremos de conquistar.

Esta manifestação deslumbrante que presenciamos é um testemunho vivo de que a reforma agrária será conquistada para o povo brasileiro. O próprio custo daprodução, trabalhadores, o próprio custo dos gêneros alimentícios está diretamente subordinado às relações entre o homem e a terra. Num país em que se paga aluguéis da terra que sobem a mais de 50 por cento da produção obtida daquela terra, não pode haver gêneros baratos, não pode haver tranquilidade social. No meu Estado, por exemplo, o Estado do deputado Leonel Brizola, 65% da produção de arroz é obtida em terras alugadas e o arrendamento ascende a mais de 55% do valor da produção. O que ocorre no Rio Grande é que um arrendatário de terras para plantio de arroz paga, em cada ano, o valor total da terra que ele trabahou para o proprietário. Esse inquilinato rural desumano é medieval é o grande responsável pela produção insuficiente e cara que torna insuportável o custo de vida para as classes populares em nosso país.

A reforma agrária só prejudica a uma minoria de insensíveis, que deseja manter o povo escravo e a Nação submetida a um miseravel padrão de vida.

E é claro, trabalhadores, que só se pode iniciar uma reforma agrária em terras economicamente aproveitáveis. E é claro que não poderíamos começar a reforma agrária, para atender aos anseios do povo, nos Estados do Amazonas ou do Pará. A reforma agrária deve ser iniciada nas terras mais valorizadas e ao lado dos grandes centros de consumo, com transporte fácil para o seu escoamento.

Governo nenhum, trabalhadores, povo nenhum, por maior que seja seu esforço, e até mesmo o seu sacrifício, poderá enfrentar o monstro inflacionário que devora os salários, que inquieta o povo assalariado, se não form efetuadas as reformas de estrutura de base exigidsa pelo povo e reclamadas pela Nação.

Tenho autoridade para lutar pela reforma da atual Constituição, porque esta reforma é indispensável e porque seu objetivo único e exclusivo é abrir o caminho para a solução harmônica dos problemas que afligem o nosso povo.

Não me animam, trabalhadores – e é bom que a nação me ouça – quaisquer propósitos de ordem pessoal. Os grandes beneficiários das reformas serão, acima de todos, o povo brasileiro e os governos que me sucederem. A eles, trabalhadores, desejo entregar uma Nação engrandecida, emancipada e cada vez mais orgulhosa de si mesma, por ter resolvido mais uma vez, pacificamente, os graves problemas que a História nos legou. Dentro de 48 horas, vou entregar à consideração do Congresso Nacional a mensagem presidencial deste ano.

Nela, estão claramente expressas as intenções e os objetivos deste governo. Espero que os senhres congressistas, em seu patriotismo, compreendam o sentido social da ação governamental, que tem por finalidade acelerar o progresso deste país e assegurar aos brasileiros melhores condições de vida e trabalho, pelo caminho da paz e do entendimento, isto é pelo caminho reformista.

Mas estaria faltando ao meu dever se não transmitisse, também, em nome do povo brasileiro, em nome destas 150 ou 200 mil pessoas que aqui estão, caloroso apelo ao Congresso Nacional para que venha ao encontro das reinvindicações populares, para que, em seu patriotismo, sinta os anseios da Nação, que quer abrir caminho, pacífica e democraticamente para melhores dias. Mas também, trabalhadores, quero referir-me a um outro ato que acabo de assinar, interpretando os sentimentos nacionalistas destes país. Acabei de assinar, antes de dirigir-me para esta grande festa cívica, o decreto de encampação de todas as refinarias particulares.

A partir de hoje, trabalhadores brasileiros, a partir deste instante, as refinarias de Capuava, Ipiranga, Manguinhos, Amazonas, e Destilaria Rio Grandense passam a pertencer ao povo, passam a pertencer ao patrimônio nacional.

Procurei, trabalhadores, depois de estudos cuidadosos elaborados por órgãos técnicos, depois de estudos profundos, procurei ser fiel ao espírito da Lei n. 2.004, lei que foi inspirada nos ideais patrióticos e imortais de um brasileiro que também continua imortal em nossa alma e nosso espírito.

Ao anunciar, à frente do povo reunido em praça pública, o decreto de encampação de todas as refinarias de petróleo particulares, desejo prestar homenagem de respeito àquele que sempre esteve presente nos sentimentos do nosso povo, o grande e imortal Presidente Getúlio Vargas.

O imortal e grande patriota Getúlio Vargas tombou, mas o povo continua a caminhada, guiado pelos seus ideais. E eu, particurlamente, vivo hoje momento de profunda emoção ao poder dizer que, com este ato, soube interpretar o sentimento do povo brasileiro.

Alegra-me ver, também, o povo reunido para prestigiar medidas como esta, da maior significação para o desenvolvimento do país e que habilita o Brasil a aproveitar melhor as suas riquezas minerais, especialmente as riquezas criadas pelo monopólio do petróleo. O povo estará sempre presente nas ruas e nas praças públicas, para prestigiar um governo que pratica atos como estes, e também para mostrar às forças reacionárias que há de continuar a sua caminhada, no rumo da emancipação nacional.

Na mensagem que enviei à consideração do Congresso Nacional, estão igualmente consignadas duas outras reformas que o povo brasileiro reclama, porque é exigência do nosso desenvolvimento e da nossa democracia. Refiro-me à reforma eleitoral, à reforma ampla que permita a todos os brasileiros maiores de 18 anos ajudar a decidir dos seus destinos, que permita a todos os brasileiros que lutam pelo engrandecimento do país a influir nos destinos gloriosos do Brasil. Nesta reforma, pugnamos pelo princípio democrático, princípio democrático fundamental, de que todo alistável deve ser também elegível.

Também está consignada na mensagem ao Congresso a reforma universitária, reclamada pelos estudantes brasileiros. Pelos universitários, classe que sempre tem estado corajosamente na vanguarda de todos os movimentos populares nacionalistas.

Ao lado dessas medidas e desses decretos, o governo continua examinando outras providências de fundamental importância para a defesa do povo, especialmente das classes populares.

Dentro de poucas horas, outro decreto será dado ao conhecimento da Nação. É o que vai regulamentar o preço extorsivo dos apartamentos e residências desocupados, preços que chegam a afrontar o povo e o Brasil, oferecidos até mediante o pagamento em dólares. Apartamento no Brasil só pode e só deve ser alugado em cruzeiros, que é dinheiro do povo e a moeda deste país. Estejam tranqüilos que dentro em breve esse decreto será uma realidade.

E realidade há de ser também a rigorosa e implacável fiscalização para seja cumprido. O governo, apesar dos ataques que tem sofrido, apesar dos insultos, não recuará um centímetro sequer na fiscalização que vem exercendo contra a exploração do povo. E faço um apelo ao povo para que ajude o governo na fiscalização dos exploradores do povo, que são também exploradores do Brasil. Aqueles que desrespeitarem a lei, explorando o povo – não interessa o tamanho de sua fortuna, nem o tamanho de seu poder, esteja ele em Olaria ou na Rua do Acre – hão de responder, perante a lei, pelo seu crime.

Aos servidores públicos da Nação, aos médicos, aos engenheiros do serviço público, que também não me têm faltado com seu apoio e o calor de sua solidariedade, posso afirmar que suas reinvindicações justas estão sendo objeto de estudo final e que em breve serão atendidas. Atendidas porque o governo deseja cumprir o seu dever com aqueles que permanentemente cumprem o seu para com o país.

Ao encerrar, trabalhadores, quero dizer que me sinto reconfortado e retemperado para enfrentar a luta que tanto maior será contra nós quanto mais perto estivermos do cumprimento de nosso dever. À medida que esta luta apertar, sei que o povo também apertará sua vontade contra aqueles quenão reconhecem os direitos populares, contra aqueles que exploram o povo e a Nação.

Sei das reações que nos esperam, mas estou tranqüilo, acima de tudo porque sei que o povo brasileiro já está amadurecido, já tem consciência da sua força e da sua unidade, e não faltará com seu apoio às medidas de sentido popular e nacionalista.

Quero agradecer, mais uma vez, esta extraordinária manifestação, em que os nossos mais significativos líderes populares vieram dialogar com o povo brasileiro, especialmente com o bravo povo carioca, a respeito dos problemas que preocupam a Nação e afligem todos os nossos patrícios. Nenhuma força será capaz de impedir que o governo continue a assegurar absoluta liberdade ao povo brasileiro. E, para isto, podemos declarar, com orgulho, que contamos com a compreensão e o patriotismo das bravas e gloriosas Forças Armadas da Nação.

Hoje, com o alto testemunho da Nação e com a solidariedade do povo, reunido na praça que só ao povo pertence, o governo, que é também o povo e que também só ao povo pertence, reafirma os seus propósitos inabaláveis de lutar com todas as suas forças pela reforma da sociedade brasileira. Não apenas pela reforma agrária, mas pela reforma tributária, pela reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros, pela pureza da vida democrática, pela emancipação econômica, pela justiça social e pelo progresso do Brasil.

(*) Atualização de nota publicada neste blog em novembro de 2013.

Dilma não vai entregar o ouro. Quantas divisões tem Eduardo Cunha?

cunha
Os moralistas da imoralidade.
Este poderia ser o título de um post mais conceitual sobre o que aconteceu na Câmara dos Deputados.
Os será que uma pessoa no Brasil que ache que os deputados do PMDB, do PR, do PTB e do PSC que votaram e aprovaram o requerimento de investigações sobre a Petrobras não querem cargos, posições e favores, a apenas sete meses de uma eleição onde, até  que fatos novos possam dizer o contrário, o Governo é favorito.
(Aliás, que investigações sobre a Petrobras?  A empresa abriu uma sindicância sobre as notas publicadas nos jornais e o Ministério Público da Holanda, sede da empresa denunciada, diz que , por enquanto, estão analisando os documentos e não existe uma investigação sobre as denúncias. Nem mesmo confirmam que existe menção à Petrobras.)
Isso são escaramuças eleitorais levadas ao mais baixo nível das práticas políticas.
Sérgio Cabral, tentando o que sabe já ser impossível: evitar que o PT tenha candidatura própria no Rio de Janeiro.
Geddel Viera Lima, com sua candidatura de enfrentamento a Jaques Wagner, o governador petista.
Sandro Mabel, exigindo que o PT apóie o empresário Júnior Friboi em Goiás.
O PMDB de Roseana Sarney, tentando salvar seu candidato Luís Fernando Silva.
Tirando o Ceará, onde de fato Eunício Oliveira tem força eleitoral, mas o Governo tem um compromisso com Cid e Ciro Gomes, e Goiás – onde os argumentos da Friboi fizeram até Roberto Carlos voltar a comer carne – , o resto é cavalo matungo, embora com dinheiro e poder.
Gedel, na Bahia, até tem alguma expressão, mas sabe que será esmagado pelo favoritismo de Paulo Souto (do DEM e que será o candidato de Aécio) e um candidato petista apoiado por Wagner e Lula.
Os mais de 40% que Dilma ostenta nas pesquisas lhe dão poder de fogo para colocar pressão sobre estas forças.
Não que vá atirá-los pela janela, mas também não vai entregar a rapadura, que é doce e todos eles querem.
O “Blocão” já cumpriu sua função.
Amanhã começa a romaria.
De um lado,  no Governo, oferecendo arrependimento.
De outro, a Eduardo Cunha, cobrando os mundos e fundos que ele diz ser capaz de mobilizar.
E a nossa imprensa, “ética”, que inviabilizou a proposta do plebiscito para a reforma político-eleitoral com a qual nada disso estaria acontecendo, acorrendo a Cunha, o novo Varão de Plutarco, guia moral da vida pública brasileira.
Talvez, porém, o episódio ajude a melhorar a política brasileira.
Algumas ausências na campanha de Dilma são daquelas que preenchem uma lacuna.

Debate entre PT e PSOL é inútil



Não houve propriamente um “debate entre o PT e o PSOL”, como amigos blogueiros escreveram sobre
um debate que, em verdade, foi travado na internet entre duas importantes lideranças desses dois partidos tão diferentes, apesar da origem comum.
Quem debateu foram Valter Pomar, uma liderança histórica do PT, e o professor e cartunista Gilberto Maringoni, do PSOL. Mas, sim, eles debateram sobre as divergências – que vejo insanáveis – entre os seus partidos.
Para informar quem não os conhece: Pomar esteve à frente da Secretaria de Relações Internacionais do PT de 2005 a 2009 e, desde então, ocupa o cargo de Secretário Executivo do Foro de São Paulo; Maringoni foi candidato a vereador pelo PSOL em 2012.
Uma dúvida: será que alguém dirá que um petista que ajuda a dirigir o Foro de São Paulo é “de direita”?
Ironicamente, não conheço Pomar em pessoa. Contudo, conheço Maringoni, com quem estive na Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) em 2010 – ambos fomos delegados por São Paulo –, em encontros de blogueiros e em vários outros eventos.
Antes de prosseguir, uma explicação: prometi a um amigo de quem gosto muito – e que me avisou do ataque de Maringoni – que não responderia ao ataque que eu e outros que pensam como eu recebemos, mas tenho uma razão para romper a promessa, a qual irei expor mais adiante.
Maringoni, por opção própria, tornou-se desafeto deste que escreve. Surtou quando fiz a primeira crítica aos protestos de junho do ano passado, convocados pelo Movimento Passe Livre.
Em 12 de junho de 2013, escrevi o post Por que levam coquetéis molotov a “manifestações pacíficas”? O trecho daquele post que fez o psolista em tela surtar, foi este:
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“(…) Quem leva rojões (…), gasolina e coquetéis molotov a uma imensa aglomeração, por certo está procurando encrenca (…)”.
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No alto deste texto, o leitor vê imagem do protesto que comentei no post supracitado. Essa cena ocorreu no dia 6 de junho de 2013. Matéria do portal G1 relatou o episódio. Abaixo, trecho da matéria.
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“(…) Os protestos realizados nesta quinta-feira (6) contra o aumento das tarifas do transporte público deixaram um rastro de destruição e sujeira na Avenida Paulista. O vandalismo atingiu a estação Brigadeiro do Metrô, o Shopping Paulista, bases móveis da PM, bares e bancas de jornais da região (…)”
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Alguns dirão: “Ah, você, então, agora acredita na Globo?”. Não, não tomo ao pé da letra nada do que sai na grande mídia. Mas, nesse caso, foi diferente.
Naquele mesmo dia, mas no começo da noite, na hora em que o Movimento Passe Livre estava tocando o terror na avenida Paulista, eu, que resido na região, tive que levar minha filha caçula (hoje com 15 anos) às pressas ao hospital Santa Catarina – que fica naquela avenida.
Era urgente levar a menina ao hospital porque ela tem paralisia cerebral e estava com começo de pneumonia – quem conhece direito alguém com tal quadro de saúde sabe o que isso significa.
Levei minha filha de carro porque a ambulância estava demorando e resido a poucas quadras do hospital. Contudo, não consegui chegar lá. Devido ao que estava acontecendo, fomos para outro hospital.
Comigo, no carro, estavam minha mulher, minha filha e a enfermeira dela. Porém, não havia como chegar ao Santa Catarina. Era um risco transitar pela região com uma pessoa tão doente junto, além do que havia bloqueios feitos pelos manifestantes.
E aqueles manifestantes estavam enfurecidos. Na verdade, estavam enlouquecidos. Tocavam fogo por toda parte, quebravam tudo que viam pela frente. Perderam totalmente o controle.
As mulheres, no carro, entraram em pânico. A menina estava passando mal. Tinha 40 graus de febre, batimentos cardíacos baixíssimos, era uma situação de emergência. E como ela nasceu e sempre se tratou no Santa Catarina, queríamos levá-la para lá.
Aliás, cansei de ver ambulâncias impedidas por protestos, ano passado.
Interrompo a narrativa, neste ponto, para dar uma informação relevante à compreensão do caso: este que escreve não tem ligação alguma com o PT ou com qualquer partido político, sindicato etc. e nunca se candidatou – e jamais se candidatará – a nada.
Retomando: o psolista em questão leu meu post, enfureceu-se, veio a este blog e deixou um comentário virulento, cheio de insultos. Tentei contemporizar, pois conheço essa pessoa, mas nem explicando o que acabo de explicar acima ele quis saber.
Perdi a paciência e deletei seus comentários.
Como conheço o sujeito, ainda lhe enviei um e-mail depois que a situação se acalmou, tentando contemporizar. Dessa vez ele foi mais receptivo. Chegamos a nos encontrar depois, em um evento da Agência Carta Maior, e conversamos civilizadamente.
Porém, quando os black blocs mataram o cinegrafista da Bandeirantes e postei relatos sobre o envolvimento do PSOL com eles, Maringoni surtou de novo e começou a espalhar ataques a mim no Facebook por conta da minha opinião. Ataques pesados, cheios de insultos.
Não dei bola. Escrevo sobre política. Tenho opiniões bem sólidas. Dessa maneira, tem gente que me adora e tem gente que me odeia.
Uma curiosidade: outro dia descobri que uma turminha do PSOL criou um clube no Twitter que se dedica exclusivamente – acredite quem quiser – a falar mal deste que escreve. Criticam até a minha barriguinha, cultivada ao longo de quase trinta anos.
Bem, eu quero mais é que se explodam. Não dou bola a essas coisas. Se nem Jesus Cristo conseguiu ser unanimidade, não serei eu a conseguir.
Conto toda essa história para que entendam o que vem a seguir.
Nesse debate improvisado com Valter Pomar, Maringoni fez ataques a mim, a Paulo Henrique Amorim e ao colunista da revista Carta Maior Antonio Lassance, quem não conheço. Agiu desse modo simplesmente por nossas opiniões contrárias aos protestos do ano passado e deste, contra a Copa.
O texto em que começou essa bobagem irrelevante, porém, obviamente (de novo) partiu de Maringoni. Ele, como tantos outros, não me esquece. Não consigo entender a importância que tucanos, pefelês (ou demos, como preferirem) e psolistas me dão. Mas eles dão. E muita.
Mas não foi por isso que escrevi este post. Escrevo para demonstrar que Pomar – quem defendeu a mim, a PHA e a Lassance – gastou vela com mau defunto. O PSOL é infantil. Sua maioria age como garoto briguento – há exceções, como Jean Wyllys, mas são exceções.
Abaixo, pois, reproduzo o primeiro ataque que Maringoni fez recentemente aos blogueiros acima citados, a primeira defesa que Pomar fez de nós, um segundo ataque de Maringoni aos mesmos blogueiros e a segunda defesa que Pomar nos fez.
Maringoni escreveu a seguinte enormidade em seu perfil no Facebook:
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Há algumas semanas, setores do PT passaram a atacar de forma violenta o PSOL, sem motivo aparente. Primeiro foram blogueiros das franjas petistas – que podem ter ligações com o aparato de segurança do governo – como Paulo Henrique Amorim, Eduardo Guimarães e Antonio Lassance. Essa primeira investida tentava vincular a morte do cinegrafista da Bandeirantes, Santiago Andrade, em manifestação pública no Rio de Janeiro, ao deputado [do PSOL] Marcelo Freixo (…)”.
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Pomar respondeu:
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Prezado Maringoni, acho que não ajuda dizer que ‘blogueiros das franjas petistas’ como Paulo Henrique Amorim, Eduardo Guimarães e Antonio Lassance ‘podem ter ligações com o aparato de segurança do governo’. Primeiro, porque é irrelevante: conheço centenas de petistas sem nenhuma ligação com o governo e que fizeram críticas duríssimas ao PSOL em função dos fatos citados. Segundo, porque trata-se de uma especulação totalmente sem fundamento. Terceiro, porque – ao menos para quem é da tradição da esquerda – este tipo de insinuação envenena o ambiente, quando o teu objetivo deveria ser distensionar o ambiente entre PT e PSOL, certo? (…)”
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Maringoni voltou ao ataque:
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“(…) Você diz que minha afirmação sobre blogueiros das franjas petistas – que podem ter ligações com o aparato de segurança do governo – como Paulo Henrique Amorim, Eduardo Guimarães e Antonio Lassance é uma especulação sem fundamento.
Sinto, mas prefiro manter minha desconfiança alerta. Em junho do ano passado, tive uma ácida discussão com Guimarães aqui pelo FB. Antes dos black blocs começarem suas arruaças, quando havia poucos provocadores nas manifestações, Guimarães afirmou que os manifestantes portavam coquetéis molotov nas mochilas. Eu o desafiei a provar a afirmação. Ele demorou, demorou e depois me apareceu com a declaração do comandante da PM, dada a um jornal, para corroborar sua sentença. Denunciei imediatamente que ele – ausente dos atos – se valia da palavra da polícia para comprovar suas acusações.
Amorim, por sua vez, em 27 de janeiro deste ano, sapecou em seu blog uma manchete digna de nota: ‘Não vai ter Copa é um movimento terrorista!’. Deploro a palavra de ordem ‘Não vai ter Copa’. Mas chamar o movimento de terrorista significa adentrar um terreno perigoso.
Pois logo em seguida, setores da direita no Congresso – alguns da base aliada e pelo menos um senador petista – começaram a articular a aprovação da lei antiterror.
Já Lassance, em 11 de fevereiro, soltou uma pérola, na Carta Maior: ‘A conivência do PSOL com os black blocs’. Talvez este tenha sido o pior. Deu a senha – ou a ‘linha’, como se dizia em outros tempos – para os destrambelhados ataques da Globo e da direita contra nosso partido e, em especial, contra Marcelo Freixo.
Foi o que bastou para que Alckmin, ato contínuo, desatasse aquela ação alucinada do batalhão Ninja, elogiada pelo ministro Cardozo e pelo prefeito Haddad (…)”
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Antes de publicar a resposta de Pomar, um comentário: quer dizer que Alckmin leu Eduardo Guimarães, Paulo Henrique Amorim, Antonio Lassance e, num lampejo de petismo (já que pertencemos, os blogueiros, ao “aparato de segurança do governo”), decidiu montar o “batalhão ninja”?!
Fala sério…
E um detalhe: demorei coisa nenhuma a responder sobre a “prova” que Maringoni pediu de que havia coquetéis molotov na manifestação. Não havia prova possível. Estava no carro com minha família e vi. Como exigia “provas”, dei o link da declaração de um oficial da PM.
O que Maringoni queria, que eu tivesse tirado fotos enquanto minha filha convulsionava no banco de trás do carro?
Contudo, pouco me importa no que esse indivíduo acredita. Escrevo este texto para chegar ao que diz seu título, ou seja, à inutilidade de o PT pedir serenidade e maturidade ao PSOL.
Abaixo, pois, a resposta de Pomar ao segundo ataque de Maringoni aos blogueiros:
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“(…) Você acusou [Paulo Henrique] Amorim, Eduardo [Guimarães] e [Antonio] Lassance de ‘ligações com o aparato de segurança do governo’.
Agora você apresenta teus indícios disto: Eduardo teria citado uma ‘declaração do comandante da PM, dada a um jornal, para corroborar sua sentença’. Amorim no dia 27 de janeiro teria chamado o ‘Não vai ter Copa’ de ‘terrorista’ e ato contínuo setores da direita no Congresso começaram a ‘articular a aprovação da lei antiterror’. E Lassance escreveu sobre a ‘A conivência do PSOL com os black blocs’, depois do que Alckmin e outros patrocinaram a barbárie.
Desculpe, Maringoni, mas nada disto permite você acusar alguém de ter ‘ligações com o aparato de segurança’.
Você está criticando opiniões políticas. Não é preciso ter ligações com o aparato de segurança para citar uma declaração de um policial, para considerar o não vai ter Copa como terrorista ou para falar das ligações do PSOL com os Black Blocks. E o aparato de segurança controlado pela direita não precisa de pretextos, nem de instruções de gente de esquerda, para fazer o que está fazendo.
Respeitosamente, acho que você pesou a mão. E faria melhor em reconhecer isto. Manter a desconfiança ligada é um dever; alardear esta desconfiança, sem que haja embasamento sólido, é uma estultice, no mínimo (…)”
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Retomo: quando, lá atrás (em 12 de junho de 2013), eu disse que havia coquetéis molotov e outros artefatos perigosos nas mãos dos que protestavam, Maringoni surtou. Negou que existiam esses artefatos nos protestos, apesar dos incêndios, de tudo o que todos viram.
O ex-candidato a vereador pelo PSOL diz que, naquele momento (junho de 2013), não havia black blocs. Conversa fiada. Havia, sim. Se ainda não se autoproclamavam black blocs, faziam o que fazem os black blocs. Ponto.
Uma derradeira pergunta, antes de terminar: hoje em dia alguém põe em dúvida que os que fazem protestos desde o ano passado usam coquetéis molotov e outros artefatos perigosos?
Enfim, escrevi este texto não pelos ataques que eu e outros blogueiros sofremos de Maringoni. Recebemos ataques muito piores todos os dias, ainda que de gente bem menos relevante do que o ex-candidato a vereador que não conseguiu se eleger pelo PSOL.
Escrevo para que fique claro que é inútil debater com esse partido. Pelo menos enquanto não amadurecer, não desenvolver o mínimo senso de ridículo. E, sobretudo, enquanto continuar dopado pela pior das drogas: o rancor contra o partido do qual nasceu.