Oficialmente,
lidera o PMDB para aprovar os projetos de interesse do governo.
Extraoficialmente trabalha para que esses projetos não sejam aprovados
Daniel Quoist
Daniel Quoist
Qualquer
pessoa minimamente interessada em política sabe o poder de destruição
que tem uma personalidade beligerante quando assume uma função, digamos,
de liderança.
É o caso do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Oficialmente
é o líder da bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, o segundo maior
partido da base aliada que dá sustentação ao governo Dilma no Congresso.
Extraoficialmente
é o criador de problemas por excelência: está em contínua queda de
braço com a presidenta ou com seus prepostos da mesma base aliada.
Oficialmente deveria liderar a bancada do PMDB para aprovar os projetos de interesse do governo.
Extraoficialmente
trabalha exatamente para que esses projetos sejam derrotados e, sempre
que possível, que sejam derrotas clamorosas, ruinosas, barulhentas.
Oficialmente deveria estar alinhado com a principal figura do PMDB na atualidade, o vice-presidente Michel Temer.
Extraoficialmente
é quem mais cria problemas para o nº 2 da República que, vira e mexe,
tem que ir se explicar perante a presidenta Dilma, e gastar imensa
energia para apagar os sucessivos focos de incêndio criado pelo
correligionário carioca.
Oficialmente
deveria manter um mínimo de cooperação e de urbanidade com o partido da
presidenta, o PT, e somar esforços com este para produzir matéria
legislativa que traduza em ações concretas o plano de governo oferecido à
população nas eleições de 2010.
Extraoficialmente
comporta-se como macaco em loja de louças, fustigando o presidente do
PT, Rui Falcão, infernizando a vida do vice-presidente da Câmara, André
Vargas, ironizando e desqualificando os diversos ministros de Estado
que, por acaso, sejam petistas de carteirinha.
Oficialmente
deveria trabalhar para abater no nascedouro os escândalos ‘fakes’,
artificiais, forjados por uma Oposição capenga para desgastar a imagem
do governo junto à população e que sempre contam com a extrema boa
vontade de uma mídia tradicional empenhada ela mesma em ter
incontestável protagonismo de oposição ao governo.
Extraoficialmente
é incansável em fazer articulações para desmobilizar a bancada do PMDB
em defesa do governo e em promover factóides que coloquem água no moinho
para a criação de Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPI), que
tanto podem ser sobre a Copa 2014, a Petrobrás, o papel do Itamaraty na
crise da Venezuela, as brechas no Mais Médicos, os riscos de apagão, o
descontrole da inflação, os empréstimos a Cuba, o uso de aviões da FAB.
Ou seja, tudo que poderia ser rapidamente esclarecido acionando as
instituições competentes e que existem exatamente para isso, como a
Advocacia-Geral da União, a Controladoria Geral da União, a Procuradoria
Geral da República, o Ministério da Justiça, a Polícia Federal, o
Itamaraty, o Ministério da Saúde, o Ministério da Fazenda, o BNDES, o
Ministério das Minas e Energia.
Oficialmente
deveria defender dos ataques de uma oposição - sem bandeiras e sem
discurso - o governo em que seu partido ocupa a vice-presidência, mantêm
em sua órbita de atuação 5 ministérios e milhares de cargos de segundo,
terceiro e quarto escalões, incluindo vistosas diretorias em estatais
do porte do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, Petrobras,
CHESF, DNIT.
Extraoficialmente
se entrega de corpo e alma a apoiar convocação de ministros de Estado,
propostas pelo consórcio PSDB-DEM-PPS, com o objetivo básico de gerar
desgaste para o governo, que tanto pode ser político, quando de imagem,
midiático.
Oficialmente
deveria ter uma atuação de líder nos tradicionais moldes que
privilegiam a transparência, a sinceridade, o senso de agregação em
torno de um ideário ou de uma causa e que prefira a proatividade ao
invés do desmesurado reacionarismo.
Extraoficialmente
faz questão de atuar nos bastidores, nas articulações que minem,
avariem e enfraqueçam a capacidade do governo federal de apresentar
iniciativas legislativas condizentes com o anseio da maioria dos
brasileiros que elegeu o PT para lhe governar desde as eleições de 2010.
Oficialmente
deveria encorajar o surgimento (e fortalecimento) de crescentes pontos
de convergência entre os lideres (e suas respectivas bancadas) que
integram o imenso arco de partidos que apoiam o governo.
Extraoficialmente
trabalha para potencializar as insatisfações individuais dos deputados,
exigir de maneira truculenta o pagamento de emendas parlamentares,
ridicularizar (sempre que possível) presidentes de partidos que dão
suporte ao governo, criar as condições para criar facções, blocos e
similares que atravanquem de vez a ação do governo no Congresso.
Oficialmente
deveria buscar interlocução preferencial com o governo a que serve e
para o qual foi designado líder de bancada, a começar com o azeitamento
das comunicações com a presidenta da República e o alinhamento
consensual com o vice-presidente da República, fomentar diálogo fácil
com demais lideranças do PT e do PMDB, abrir canais de conciliação com
lideranças oposicionistas.
Extraoficialmente
é imbatível em torpedear esses canais de comunicação, utilizando as
redes sociais para mostrar contrariedade, desaprovação, desaforos e
frustrações com os rumos do governo, de seu partido e do partido do
governo.
Oficialmente
deveria blindar o governo de crises artificiais, crises que têm como
objetivo prioritário diminuir o imenso apoio político que a presidenta
angariou para se lançar a uma campanha reeleitoral com todos os
ingredientes para ser vitoriosa ainda no primeiro turno das eleições
majoritárias de outubro de 2014.
Extraoficialmente
se comporta mais oposicionista que os líderes de bancadas
oposicionistas como Antonio Imbassahy (PSDB), Mendonça Filho (DEM), Beto
Albuquerque (PSB) e Rubens Bueno (PPS).
Feitas estas considerações, algumas perguntas que exigem urgentes respostas:
1. Além dele próprio, a quem mais serve o líder peemedebista Eduardo Cunha?
2. Quem, nos bastidores, mantêm o deputado Cunha na liderança do PMDB?
3.
Será que o PMDB nacional é incapaz de ver o que o Brasil todo vê:
Eduardo Cunha é a pessoa menos indicada para as funções de líder de
bancada governista?
4. Qual é a pauta de reivindicações do deputado carioca pendente de aprovação do Planalto?
5. Ter um ministério ‘para chamar de seu’?
6. Conseguir a nomeação de meia dúzia de afilhados para ocupar diretorias de importantes empresas estatais?
7. Apoio do governo para voos eleitorais de maior envergadura em sua base política no Rio de Janeiro?
8.
Sentimento de frustração com a atuação política de lideranças de seu
próprio partido (Michel Temer – Henrique Eduardo Alves – Valdir Raupp –
José Sarney - Renan Calheiros)?
9.
Ter protagonismo de líder oposicionista visando concorrer como vice de
Aécio Neves ou em caso de rompimento de Marina Silva com o PSB, fazer
dobradinha com seu xará Eduardo Campos?
10. Por que é tão difícil para o PMDB destituí-lo da liderança de sua bancada na Câmara?
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