Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Serra critica Lula na França e ouve: "Por que não te calas?"


Homem na plateia de congresso reagiu
Derrotado nas urnas, o ex-candidato tucano à presidência, José Serra, participou nesta sexta-feira do encerramento do XI Fórum de Biarritz, no sul da França - dedicado a analisar as relações entre América Latina e União Europeia (UE) - a acusou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de desindustrializar o país e fazer "populismo" de direita em matéria econômica. Da plateia, um homem reagiu e gritou: "Por que não te calas?"
Durante sua palestra, Serra argumentou que não pôde discutir como gostaria durante a campanha eleitoral e declarou que o Brasil é um país fechado ao exterior. "Há um processo claro de desindustrialização", afirmou, criticando "a fraqueza" dos investimentos do governo e a elevada carga tributária.
"É um governo populista de direita em matéria econômica", afirmou, complementando que a a democracia não é só ganhar eleições, "é governar democraticamente".
O tucano também criticou o modelo de orçamento participativo, no qual o contribuinte pode decidir sobre a distribuição de parte dos impostos, adotado pelo Brasil e por outros países latino-americanos.
O ex-candidato também acusou o governo de se unir a ditaduras, como a do Irã. Neste momento, foi interrompido por um membro da Fundação Zapata, do México, que estava na plateia, e gritou: "Por que não te calas?", provocando um momento de agitação.
Matéria indicada pelo leitor e amigo deste blog Natale.
By: Jornal do Brasil

TV Diário na mira da Record e de Gugu

A Rede Globo que se cuide novamente. Mexeu num poderoso enxame de abelhas. Depois de obrigar a saída do satélite da TV Diário agora os diretores da Rede Globo estão prestes a ficarem com uma tremenda dor de cabeça.
TV Diário na Internet seria a saída? TV Record interessada na compra da TV Diário? Voltaria para ser via satélite? Poderia ficar apenas em sinal de TV a cabo? Transmitida apenas em território cearense? Certamente o mais novo lance da telenovela do caso da TV Diário vem direto do sudeste brasileiro (o mesmo que vetou suas imagens).

Há muito tempo o sonho do apresentador Gugu Liberato (apresentador do SBT) é colocar uma rede de televisão. O apresentador já é dono de outras emissoras, no entanto queria formar uma rede, como o SBT ou a destemida Rede Globo. A sensibilidade do apresentador ao ver a proeza de uma TV do Nordeste capturar audiência, a ponto de incomodar uma campeã de audiência, fez o apresentador Gugu Liberato passar alguns dias no Ceará (este feriadão de Páscoa) para entrar de vez na briga para levar a TV Diário (valorização da emissora depois da extrema repercussão na Internet de sua saída do satélite).

O apresentador iniciou as negociações entre os dirigentes da TV Diário (a TV Record não saiu do páreo). Leva quem dar mais! Caso o Gugu Liberato finalize as negociações com o pessoal do Ceará o Nordeste terá uma Rede de televisão com recursos e competitividade para brigar pela audiência com qualquer outra emissora do mundo sulista. Será uma situação inédita no Brasil – a primeira rede de TV capaz de ficar em primeiro lugar no IBOPE. Como diz o Gente de Mídia: “novo investimento econômico e humano na programação local; a preservação do 'cast' profissionais locais; além do restabelecimento do sinal em todo o País”. Ache bom ou ache ruim, quero ver agora se vão ter coragem de censurar uma emissora de TV do Nordeste, é isto!

Brasil está pronto para retaliar contra medida dos EUA em ‘guerra cambial’, diz ‘FT’

O Brasil poderia adotar medidas retaliatórias após a decisão americana de injetar US$ 600 bilhões em sua economia por meio da compra de títulos públicos, segundo afirma reportagem publicada nesta sexta-feira pelo diário econômico britânico Financial Times.
A decisão do Federal Reserve (o Banco Central americano), anunciada na terça-feira, pode ter o efeito de provocar a desvalorização do dólar, aumentando a competitividade dos produtos de exportação do país no mercado externo.
FT observa que o Brasil foi o país que ajudou a cunhar o termo ‘guerra cambial’ para designar as supostas manipulações dos países para desvalorizar suas moedas.
“Autoridades brasileiras do presidente para baixo criticaram a decisão do Federal Reserve de baixar as taxas de juros comprando bilhões de dólares em títulos do governo, advertindo de que isso poderia levar a medidas retaliatórias”, afirma a reportagem.
O jornal cita o secretário do comércio exterior, Welber Barral, para quem “essas são políticas que empobrecem aqueles no entorno deles (dos Estados Unidos) e acabam gerando medidas retaliatórias”.
‘Dólares de helicóptero’
O jornal cita ainda uma declaração feita pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, na quinta-feira, comparando a medida americana a “jogar dólares de um helicóptero”.
“O único resultado que tem é você desvalorizar o dólar para que os Estados Unidos tenham maior competitividade no mercado internacional”, afirmou Mantega.
A reportagem observa ainda que na véspera, na entrevista coletiva conjunta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente-eleita Dilma Rousseff, os dois afirmaram que tomariam as medidas necessárias para “evitar a valorização excessiva da moeda brasileira” e “brigar pelos interesses do Brasil”.
O FT comenta que o Brasil foi um dos países mais afetados pela guerra cambial, com uma valorização do real de 39% em relação ao dólar desde o início de 2009, “gerando o temor de esvaziamento da base industrial brasileira ao tornar as exportações de manufaturados menos competitivas”.
O jornal observa, porém, que uma das razões para que o Brasil receba um grande fluxo de divisas, valorizando o real, são os juros altos no país, no nível mais alto entre os países do G20 em termos reais.
Nem mesmo o aumento da taxação aos investimentos externos reduziu esse movimento, segundo o jornal, já que o rendimento de títulos do governo de longo prazo ainda é relativamente alto mesmo após a taxação.

Facebook promove evento pelo "orgulho nordestino"

Como uma resposta às manifestações de racismo que se disseminaram pelas redes sociais logo após o anúncio do resultado das eleições presidenciais, alguns usuários da rede social Facebook deram início a um movimento que tem como objetivo valorizar a cultura e o povo nordestino.
Página convida os usuários da rede
a postar conteúdo que exaltem
as belezas da região
e do povo nordestino
Criada no formato de um evento, a página Dia do Nordeste (clique aqui) convida os participantes da rede (nordestinos ou não) a utilizar o próximo sábado, dia 6 de novembro, para compartilhar links, poesias, imagens, vídeos ou qualquer outro conteúdo relacionado a região nordestina.
Na descrição da página, o evento é apresentado como um ato contra a xenofobia e como uma maneira de ressaltar o orgulho nordestino. A ideia é que a divulgação seja feita pelos próprios usuários, convidando os contatos de sua lista de amigos a se engajarem na ideia. O Dia do Nordeste no Facebook acontecerá entre a 0h do sábado 6 até a 0h do domingo 7.
Até o final da tarde de quinta-feira 4, a página já contava com mais de 1250 participantes confirmados no evento virtual.
Polêmica
A ideia de resgatar o valor e a cultura do Nordeste nasceu como resposta à uma série de ataques direcionados à região brasileira, postados sobretudo no Twitter desde o último dia 31. Para manifestar seu desagrado em relação a vitória da presidente eleita, Dilma Rousseff, alguns internautas começaram a postar mensagens ofensivas ao povo do Nordeste (região que concentra o maior número de eleitores da candidata do PT), sugerindo até atitudes de violência contra cidadãos nordestinos.
Para tentar barrar a onda de comentários racistas, um blog foi criado especialmente para denunciar os perfis dos internautas que haviam iniciado o movimento. A repercussão rapidamente ganhou notoriedade, chegando à imprensa e se tornando um dos assuntos mais comentados dentro das redes sociais. A OAB de Pernambuco já anunciou que irá processar a jovem que teria iniciado a leva de comentários.

Ligo para o Oráculo, assustado: - Você viu no que deu o ódio do Serra ? - O que ?, o que é isso ?, pergunta o Oráculo, também assustado. - O Serra semeou o ódio, a divisão, a intolerância e deu nisso. - O que, meu filho ? - Deu no movimento “SP só para paulistas” (clique aqui para ver). - Ah, mas isso já estava lá, submerso. O Serra só fez acender o fósforo. - Sim, mas isso assusta, não ? - Claro. - É a Liga Norte separatista da Itália, o Sarkozy a expulsar os ciganos … - Basta, basta, já entendi tudo. Os chicanos nos Estados Unidos … - E como se sai dessa ? - Meu filho, eu é que pergunto: que líder de São Paulo vai subir na tribuna e dizer: basta ! - Um Kennedy, que disse “eu sou berlinense”. - É, meu filho, não tem Kennedy em São Paulo, diz o Oráculo. - E o Fernando Henrique ?, pergunto. - Esse renunciou ao papel de estadista, para ser chefe de facção. - É o que ele diz do Lula. - É o que eu digo dele: o Fernando Henrique perdeu a autoridade moral. - Então, quem vai levantar a voz e dizer: São Paulo é contra a xenofobia, São Paulo também é o Nordeste ? - Não vejo ninguém. - E no que vai dar nisso, ? pergunto. - Os bolivianos serão as primeiras vítimas. - Os bolivianos ? - Sim ! Quem disse que os mauricinhos de São Paulo cheiram cocaína por culpa da Bolívia ? - É verdade. O Serra. - E quem são os escravos da indústria têxtil de São Paulo ? - Os bolivianos, respondi, assustado. - E quem é perseguido nas escolas públicas de São Paulo ? - O aluno boliviano. - Pois é, meu filho. - O que ? - Vai começar com os bolivianos. Depois é que vai para os nordestinos. Os cariocas. Os mineiros. Os judeus etc etc etc … Pano rápido. Paulo Henrique Amorim

Ligo para o Oráculo, assustado:

- Você viu no que deu o ódio do Serra ?

- O que ?, o que é isso ?, pergunta o Oráculo, também assustado.

- O Serra semeou o ódio, a divisão, a intolerância e deu nisso.

- O que, meu filho ?

- Deu no movimento “SP só para paulistas” (clique aqui para ver).

- Ah, mas isso já estava lá, submerso. O Serra só fez acender o fósforo.

- Sim, mas isso assusta, não ?

- Claro.

- É a Liga Norte separatista da Itália, o Sarkozy a expulsar os ciganos …

- Basta, basta, já entendi tudo. Os chicanos nos Estados Unidos … 

- E como se sai dessa ?

- Meu filho, eu é que pergunto: que líder de São Paulo vai subir na tribuna e dizer: basta ! 

- Um Kennedy, que disse “eu sou berlinense”.

- É, meu filho, não tem Kennedy em São Paulo, diz o Oráculo.

- E o Fernando Henrique ?, pergunto.

- Esse renunciou ao papel de estadista, para ser chefe de facção.

- É o que ele diz do Lula.

- É o que eu digo dele: o Fernando Henrique perdeu a autoridade moral. 

- Então, quem vai levantar a voz e dizer: São Paulo é contra a xenofobia, São Paulo também é o Nordeste ?

- Não vejo ninguém.

- E no que vai dar nisso, ? pergunto.

- Os bolivianos serão as primeiras vítimas.

- Os bolivianos ?

- Sim ! Quem disse que os mauricinhos de São Paulo cheiram cocaína por culpa da Bolívia ?

- É verdade. O Serra.

- E quem são os escravos da indústria têxtil de São Paulo ?

- Os bolivianos, respondi, assustado.

- E quem é perseguido nas escolas públicas de São Paulo ?

- O aluno boliviano.

- Pois é, meu filho.

- O que ?

- Vai começar com os bolivianos. Depois é que vai para os nordestinos. Os cariocas. Os mineiros. Os judeus etc etc etc …

Pano rápido.


Paulo Henrique Amorim





05 Novembro 2010

A estudante de direito Mayara Petruso foi demitida do escritório de advocacia onde estagiava

Ontem, a estudante foi demitida do escritório de advocacia onde estagiava.

"Com muito pesar e indignação, (o escritório) lamenta a infeliz opinião pessoal emitida em rede social, da qual apenas tomou conhecimento pela mídia e que veemente é contrário, deixando, assim, ao crivo das autoridades competentes as providências cabíveis", informou, em nota, o escritório Peixoto e Cury Advogados. A estudante paulista também postou comentários ofensivos a nordestinos em seu Facebook. "Afunda, Brasil. Deem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalha pra sustentar vagabundos que fazem filhos pra ganhar bolsa 171." Depois da repercussão negativa das frases, Mayara publicou mensagens desculpando-se e cancelou seus perfis nos sites de relacionamento. Mas os comentários da estudante foram duramente criticados na rede mundial de computadores. Expressões como "xenofobia, não" foram reproduzidas pelos internautas.







Apropriação indébita: como os ricos estão tomando nossa herança comum


Hoje 95% do milho plantado nos EUA é de uma única variedade, com desaparecimento da diversidade genética. O livre acesso às composições de Heitor Villalobos será a partir de 2034. Isto está ajudando a criatividade de quem? Patentes de 20 anos há meio século atrás podiam parecer razoáveis, mas com o ritmo de inovação atual, que sentido fazem? Já são 25 milhões de pessoas que morreram de Aids, e as empresas farmacêuticas proibem os países afetados de produzir o coquetel. Há um imenso enriquecimento no topo da pirâmide, baseado não no que estas pessoas aportaram, mas no fato de se apropriarem de um acúmulo historicamente construído durante sucessivas gerações. O artigo é de Ladislau Dowbor.
Gar Alperovitz and Lew Daly – Apropriação Indébita: como os ricos estão tomando a nossa herança comum – Editora Senac, São Paulo 2010, 242 p. 

A concentração de renda e a destruição ambiental constinuam sendo os nosso grandes desafios. São facetas diferentes da mesma dinâmica: na prática, estamos destruindo o planeta para a satisfação consumista de uma minoria, e deixando de atender os problemas realmente centrais. Como explicar que, com tantas tecnologias, produtividade e modernidade, estejamos reproduzindo o atraso? Em particular, como a sociedade do conhecimento pode se transformar em vetor de desigualdade? 

O prêmio Nobel Kenneth Arrow considera que os autores de “Apropriação indébita: como os ricos etão tomando a nossa herança comum”, Gar Alperovitz e Lew Daly, “se baseiam em fontes impecáveis e as usam com maestria. Todo mundo irá aprender ao ler este livro”. Eu, que não sou nenhum prêmio Nobel, venho aqui contribuir com a minha modesta recomendação, transformando o meu prefácio em instrumento de divulgação. Mania de professor, querer comunicar o entusiasmo de boas leituras. E recomendação a não economistas: os autores deste livro têm suficiente inteligência para não precisar se esconder atrás de equações. A leitura flui. 

A quem vai o fruto do nosso trabalho, e em que proporções? É a eterna questão do controle dos nossos processos produtivos. Na era da economia rural, os ricos se apropriavam do fruto do trabalho social, por serem donos da terra. Na era industrial, por serem donos da fábrica. E na era da economia do conhecimento, a propriedade intelectual se apresenta como a grande avenida de acesso a uma posição privilegiada na sociedade. Mas para isso, é preciso restringir o acesso generalizado ao conhecimento, pois se todos tiverem acesso, como se cobrará o pedágio, como se assegurará a vantagem de minorias? 

Um argumento chave desta discussão, é naturalmente a legitimidade da posse. De quem é a terra, que permitia as fortunas e o lazer agradável dos senhores feudais? Apropriação na base da força, sem dúvida, legitimada em seguida por uma estrutura de heranças familiares. Uma vez aceito, o sistema funciona, pois na parte de cima da sociedade forma-se uma aliança natural ditada por interesses comuns. 

Na fase industrial, um empresário pega um empréstimo no banco – e para isso ele já deve pertencer a um grupo social privilegiado – e monta uma empresa. Da venda dos produtos, e pagando baixos salários, tanto auferirá lucros pessoal como restituirá o empréstimo ao banco. De onde o banco tirou o dinheiro? Da poupança social, sob forma de depósitos, poupança esta que será transformada na fábrica do empresário. Aqui também, vale a solidariedade dos proprietários de meios de produção, e o resultado de um esforço que é social será em boa parte apropriado por uma minoria. 

Mudam os sistemas, evoluem as tecnologias, mas não muda o esquema. Na fase atual, da economia do conhecimento, coloca-se o espinhoso problema da legitimidade da posse do conhecimento. A mudança é radical, relativamente aos sistemas anteriores: a terra pertence a um ou a outro, as máquinas têm proprietário, são bens “rivais”. No caso do conhecimento, trata-se de um bem cujo consumo não reduz o estoque. Se transmitimos o conhecimento a alguém, continuamos com ele, não perdemos nada, e como o conhecimento transmitido gera novos conhecimentos, todos ganham. A tendência para a livre circulação do conhecimento para o bem de todos torna-se portanto poderosa. 

A apropriação privada de um produto social deve ser justificada. O aporte principal de Alperovitz e de Daly, neste pequeno estudo, é de deixar claro o mecanismo de uma apropriação injusta – Unjust Deserts – que poderíamos explicitar com a expressão mais corrente de apropriação indébita. Ao tornar transparentes estes mecanismos, os autores na realidade estão elaborando uma teoria do valor da economia do conhecimento. A força explicativa do que acontece na sociedade moderna, com isto, torna-se poderosa. 

Para dar um exemplo trazido pelo autor, quando a Monsanto adquire controle exclusivo sobre determinada semente, como se a inovação tecnológica fosse um aporte apenas dela, esquece o processo que sustentou estes avanços. “O que eles nunca levam em consideração, é o imenso investimento coletivo que carregou a ciência genética dos seus primeiros passos até o momento em que a empresa toma a sua decisão. Todo o conhecimento biológico, estatístico e de outras áreas sem o qual nenhuma das sementes altamente produtivas e resistentes a denças poderia ter sido desenvolvida – todas as publicações, pesquisas, educação, treinamento e ferramentas técnicas relacionadas sem os quais a aprendizagem e o conhecimento não poderiam ter sido comunicados e fomentados em cada estágio particular de desenvolvimento, e então passados adiante e incorporados, também, por uma força de trabalho de técnicos e cientistas – tudo isto chega à empresa sem custo, um presente do passado” (55). Ao apropriar-se do direito sobre o produto final, e ao travar desenvolvimentos paralelos, a empresa canaliza para si gigantescos lucros da totalidade do esforço social, que ela não teve de financiar. Trata-se de um pedágio sobre o esforço dos outros. Unjust Deserts. 

Se não é legítimo, pelo menos funciona? A compreensão do caráter particular do conhecimento como fator de produção já é antiga. Uma jóia a este respeito é um texto 1813 de Thomas Jefferson: 

“Se há uma coisa que a natureza fez que é menos suscetível que todas as outras de propriedade exclusiva, esta coisa é a ação do poder de pensamento que chamamos de idéia....Que as idéias devam se expandir livremente de uma pessoa para outra, por todo o globo, para a instrução moral e mútua do homem, e o avanço de sua condição, parece ter sido particularmente e benevolmente desenhado pela natureza, quando ela as tornou, como o fogo, passíveis de expansão por todo o espaço, sem reduzir a sua densidade em nenhum ponto, e como o ar no qual respiramos, nos movemos e existimos fisicamente, incapazes de confinamento, ou de apropriação exclusiva. Invenções não podem, por natureza, ser objeto de propriedade.” (1) 

O conhecimento não constitui uma propriedade no mesmo sentido que a de um bem físico. A caneta é minha, faço dela o que quiser. O conhecimento, na medida em que resulta de um esforço social muito amplo, e constitui um bem não rival, obedece a outra lógica, e por isto não é assegurado em permanência, e sim por vinte anos, por exemplo, no caso das patentes, ou quase um século no caso dos copyrights, mas sempre por tempo limitado: a propriedade é assegurada por sua função social – estimular as pessoas a inventarem ou a escreverem – e não por ser um direito natural. 

O merecimento é para todos nós um argumento central. Segundo as palavras dos autores, “nada é mais profundamente ancorado em pessoas comuns do que a idéia de que uma pessoa tem direito ao que criou ou ao que os seus esforços produziram”.(96) Mas na realidade, não são propriamente os criadores que são remunerados, e sim os intermediários jurídicos, financeiros e de comunicação comercial que se apropriam do resultado da criatividade, trancando-o em contratos de exclusividade, e fazem fortunas de merecimento duvidoso. Não é a criatividade que é remunerada, e sim a apropriação dos resultados: “Se muito do que temos nos chegou como um presente gratuito de muitas gerações de contribuiçoes históricas, há uma questão profunda relativamente a quanto uma pessoa possa dizer que “ganhou merecidamente” no processo, agora ou no futuro.”(97) 

As pessoas em geral não se dão conta das limitações. Hoje 95% do milho plantado nos EUA é de uma única variedade, com desaparecimento da diversidade genética, e as ameaças para o futuro são imensas. Teremos livre acesso às obras de Paulo Freire apenas a partir de 2050, 90 anos depois da morte do autor. O livre acesso às composições de Heitor Villalobos será a partir de 2034. Isto está ajudando a criatividade de quem? Patentes de 20 anos há meio século atrás podiam parecer razoáveis, mas com o ritmo de inovação atual, que sentido fazem? Já são 25 milhões de pessoas que morreram de Aids, e as empresas farmacêuticas (o Big Pharma) proibem os países afetados de produzir o coquetel, são donas de intermináveis patentes. Ou seja, há um imenso enriquecimento no topo da pirâmide, baseado não no que estas pessoas aportaram, mas no fato de se apropriarem de um acúmulo historicamente construído durante sucessivas gerações. 

Nesta era em que a concentração planetária da riqueza social em poucas mãos está se tornando nsustentável, entender o mecanismo de geração e de apropriação desta riqueza é fundamental. Os autores não são nada extermistas, mas defendem que o acesso aos resultados dos esforços produtivos devam ser minimamente proporcionais aos aportes. “A fonte de longe a mais importante da prosperidade moderna é a riqueza social sob forma de conhecimento acumulado e de tecnologia herdada”, o que significa que “uma porção substantiva da presente riqueza e renda deveria ser realocada para todos os membros da sociedade de forma igualitária, ou no mínimo, no sentido de promover maior igualdade”.(153)

Um livro curto, muito bem escrito, e sobretudo uma preciosidade teórica, explicitando de maneira clara a deformação generalizada do mecanismo de remuneração, ou de recompensas, que o nosso sistema econômico gerou. Trata-se aqui de um dos melhores livros de economia que já passaram por minhas mãos. Bem documentado mas sempre claro na exposição, fortemente apoiado em termos teóricos, na realidade o livro abre a porta para o que podemos qualificar de teoria do valor, mas não da produção industrial, e sim da economia do conhecimento, o que Daniel Bell qualificou de “knowledge theory of value”. A Editora Senac tomou uma excelente iniciativa ao traduzir e publicar este livro. Vale a pena. (www.editorasenacsp.com.br)

(1) Citado por Lawrence Lessig, The Future of Ideas: the Fate of the Commons in an Connected World – Random House, New York, 2001, p. 94 

(*) Ladislau Dowbor, professor de economia e administração da PUC-SP, é autor de Democracia Econômica e de Da propriedade Intelectual à Sociedade do Conhecimento, disponíveis em http://dowbor.org