EDUGUIM
Entre os anos 2002 e 2014, a maioria “precisada” de brasileiros contrariou a doutrina Tim Maia, que, em toda a sua simplicidade, contém um dos pensamentos mais desalentadores, porém mais verdadeiros do século XX: “Este país não pode dar certo. Aqui, prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme,
traficante se vicia e pobre é de direita”.
A maioria pobre parou de votar na direita no período supracitado. E se deu bem. A renda do trabalhador disparou, o desempregou despencou, casa própria, carro e curso superior ficaram ao alcance de todos…
A maioria pobre parou de votar na direita no período supracitado. E se deu bem. A renda do trabalhador disparou, o desempregou despencou, casa própria, carro e curso superior ficaram ao alcance de todos…
Rico também ganhou, mas não tanto quanto ganhava antes. E o que é pior, para a elite branca: parou de ganhar sozinha. E rico, como se sabe, não gosta de dividir espaços com pobres. Daí o ódio da classe média alta a Lula, a Dilma e ao PT.
Tudo isso durou entre 2003 e 2014. No ano passado, pela primeira vez após treze anos, a situação se inverteu. A renda e o nível de emprego caíram. A vida parou de melhorar.
A massa nunca foi e nunca será justa. Não adianta dizer a ela que ganhou durante 12 anos e perdeu em apenas um. Este Blog sempre avisou que no dia em que houvesse algum problema na economia estando um petista no poder, ele estaria frito.
Foi fácil para a direita midiática derrubar a imagem de Dilma – e, conseguentemente, de Lula e do PT – por conta de uma crise que só persiste porque a economia foi sabotada pela Lava Jato e pela crise política decorrente.
Contudo, apesar de a situação ter piorado para praticamente todo mundo, os mais vulneráveis ficaram longe dos protestos do último domingo. Segundo o instituto Datafolha, foi só a elite branca que se animou a ir à rua protestar.
Contudo, apesar de a situação ter piorado para praticamente todo mundo, os mais vulneráveis ficaram longe dos protestos do último domingo. Segundo o instituto Datafolha, foi só a elite branca que se animou a ir à rua protestar.
Apesar do crescimento do tamanho do protesto na avenida Paulista (o ato que conferiu “êxito” ao dia de manifestações pelo país), o perfil dos manifestantes se manteve elitizado. Os dados são de pesquisa doDatafolha feita por meio de 2.262 entrevistas durante o ato.
A exemplo das outras grandes manifestações contra Dilma ao longo do ano passado, os manifestantes de domingo tinham renda e escolaridade muito superiores à média da população brasileira.
Nesta terça feira, reportagem da rede de televisão pública Deutche Welle (Onda Alemã), uma espécie de BBC da Alemanha, confirma consultas que muitos leitores relatam, em emails e em outras formas de contato privado, que fizeram com pessoas humildes que não participaram das manifestações, mas que trabalham nos locais onde tais manifestações ocorreram.
Aliás, um tipo de consulta que este blogueiro também fez com esse tipo de pessoa.
A matéria da DW revela e confirma o que muitos já devem ter notado, que o povão mesmo não compareceu a esses protestos porque ficou desconfiado deles, apesar de a insatisfação com Dilma ser grande em todos os estratos sociais.
Nesse aspecto, vale a pena reproduzir e analisar o que revelou a matéria da empresa de comunicação alemã.
Segundo a DW, moradores da comunidade Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, não escondem a decepção com governo e medo da atual crise, mas ainda são pouquíssimos os que viram motivo para descer e se juntar às manifestações contra Dilma que aconteceu a metros de suas casas.
A matéria revela que a crise política divide a comunidade de cerca de 20 mil pessoas na zona sul do Rio de Janeiro. Nos bares da comunidade, frequentadores acompanhavam pela TV as últimas notícias sobre os protestos na região. E ainda que o assunto seja recorrente nas rodas de conversa em escadarias e vielas, poucos viram motivo para descer e se juntar aos manifestantes.
Entre as razões para os pobres não se jantarem às “madames” e “doutores” enfurecidos com petistas, a crença de que a corrupção é maior do que o Partido dos Trabalhadores (PT) e os governos de Dilma e de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.
Apesar de uma ponta de ressentimento com o governo federal, relata a DW, gente como a operadora de caixa Maria de Lurdes Silva, de 44 anos, acredita que os problemas do Pavão-Pavãozinho e do Brasil são fruto de uma corrupção que assola o país bem antes da chegada do PT ao poder, em 2002. No domingo, ela preferiu ficar em casa. E garante que a maioria dos vizinhos também. Para ela, as manifestações são “uma burrice sem tamanho”.
Vale notar o que disse essa mulher. Vejam que a análise dela é muito mais sofisticada do que a que faz a massa de endinheirados com curso superior, o que prova que para entender de política não precisa ser rico, basta ser realista e intelectualmente honesto, o que só ocorre com quem conhece a realidade da vida, o que a grande maioria de endinheirados está longe de conhecer.
Maria de Lurdes continua sua explanação:
Maria de Lurdes continua sua explanação:
“Vão tirar a Dilma e colocar quem no lugar? Ela está sendo usada como bode expiatório. Todo mundo rouba no Brasil, e até acho que o Lula tenha roubado também. Quem não? Mas o governo dele melhorou a vida dos pobres. Quando o Fernando Henrique governou, roubou também. O problema foi causado porque o Lula não conseguiu colocar rédeas na roubalheira”
As palavras da operadora de caixa explicam a razão pela qual tentam prender Lula de qualquer jeito. Esse ponto de vista é mortal para a direita e é disseminado entre os pobres. Na hora em que o conjunto da sociedade tiver que fazer uma escolha eleitoral, será pensando assim que a maioria pobre irá decidir.
Só prendendo Lula, então…
Outro tipo de pensamento que ameaça os planos da elite branca de voltar ao poder é o do motorista Carlos Alberto da Silva, de 52 anos. Ele está entre aquele contingente que faz Dilma ir muito mal nas pesquisas, mas esmiuçando a má avaliação que ele faz do governo percebe-se que essas pesquisas não dizem tudo:
“Eu votei na Dilma e estou muito decepcionado, mas ela foi eleita e tem de terminar o trabalho. A vida mudou nos últimos anos para melhor, apesar de eu estar desempregado há seis meses”
Aquela gente que foi protestar na Paulista ou em Copacabana não enxerga a melhora de vida do povão, da imensa massa que foi beneficiada pelos governos do PT porque a elite não melhorou de vida – até porque não precisava melhorar.
Quem tinha seus imóveis e conta gorda no banco só não perdeu. Alguns até ganharam um pouco, mas não admitem. Mas o povão não entra nessa convera. Não vai negar que sua vida melhorou. Por isso, Lula é uma ameaça. As pessoas mais humildes (que são a maioria esmagadora dos brasileiros) sempre vão lembrar de tudo que o PT fez por suas vidas.
Outro personagem que DW trouxe à ribalta mostra um tipo de eleitor que existe, mas nem aparece em pesquisas nem em parte alguma. Trata-se do porteiro Manuel, de 40 anos.
Morador do alto do morro, Manoel trabalha num edifício à beira-mar. Ele estava trabalhando no domingo, mas garante que, mesmo se tivesse tempo, não iria para as ruas porque “só havia ricos protestando”.
Seu ponto de vista é interessantíssimo:
“Eu via no prédio onde trabalho. Todos os ricos foram. E rico não gosta do PT e de pobre. Rico só gosta do trabalho dos pobres. Não podemos confiar em quem defende os ricos. Votei no Lula, na Dilma e, se ele se candidatar em 2018, voto nele de novo. Pelo menos, eles pensam na gente. Dilma foi eleita e tem que ficar. Só não sei se ela vai ter força, esse negócio está muito embaraçado”.
Detalhe: Manoel pediu para não ter o sobrenome revelado. Mas, na urna, pode ter certeza que ele vai se manifestar sem medo, leitor. É esse o pesadelo que assombra aquela massa que foi tomar champanhe na Paulista, servida por mucamas uniformizadas.
Eis um exemplo ainda mais radical daquele que votou no PT em 2002, 2006, 2010 e 2014, mas que, hoje, dá nota ruim para Dilma nas pesquisas. Para Jacinto Pedro da Costa, de 42 anos, protestar não adianta nada. Ele votou no PT nas últimas eleições e, decepcionado, diz que não pretende repetir a escolha.
Nascido e criado no Pavão-Pavãozinho, ele se diz apartidário e promete pesquisar muito bem antes de decidir em quem votar no futuro. Mas, ele acredita ser injusto atribuir somente ao PT os problemas do país. E arrisca: se outros partidos fossem melhores, trabalhariam juntos por uma reforma política.
“Existem empresários ricos que não querem só derrubar a Dilma, mas querem acabar com o PT. Não é justo, mesmo que tenham cometido erros. Por causa do PT consegui abrir minha primeira conta em banco, consegui crédito para comprar as coisas e colocar mais comida dentro de casa.
Jacinto também é porteiro de um dos condomínios de luxo de Copacabana e sabe muito bem porque não se mistura com a elite branca.
Como se vê, as pesquisas sobre a avaliação do governo não dizem tudo. Muita gente que está aborrecida com o governo e avalia mal o governo Dilma quando é pesquisada, nem por isso pretende votar em um Aécio Neves da vida, entre outros reacionários que tentarão ludibriar esse povo em 2018 – ou antes, se conseguirem dar o golpe paraguaio no Brasil.