Posted by eduguim
O recuo anunciado do relator da CPI do Cachoeira, o petista Odair Cunha, no sentido de desistir dos indiciamentos do editor da revista Veja Policarpo Jr. e do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, tem significado forte. Resta, contudo, descobrir qual é.
O PT “amarelou”? Se sim, a pergunta que decorre é uma só: por quê? Medo, dirão. Mas medo de quê? O que a mídia poderia fazer a mais do que já está fazendo?
E a questão é a mídia, pois o PSDB, sem ela, não tem força alguma. Não tem militância para além de meia dúzia de bate-paus que escrevem cartinhas contra o PT a jornais e que passam o dia comentando em blogs simpatizantes do governo a fim de insultar blogueiros.
Bem, se a causa do anunciado recuo petista na CPI é a mídia, só pode ser dela que o PT supostamente tem medo. Só não se entende como ela poderia aumentar ainda mais os ataques ao partido, pois o dia só tem 24 horas…
Surge, então, a reflexão sobre por que o PT se empenha tão pouco em reagir aos ataques que sofre. E, aliás, sobre por que o partido do governo não usa as armas que tem como essa que a CPI lhe pôs no colo.
Qualquer investigação sobre o envolvimento de Policarpo Jr. com Cachoeira revelará muito mais do que a “mera relação entre repórter e fonte”. Fontes não escolhem onde o veículo do repórter deve publicar notícias e tampouco escolhem que notícias esse veículo irá publicar, e as escutas das conversas entre “Poli” e “Cachô” mostram exatamente isso.
Sem falar na declaração de ré do esquema, da mulher de Cachoeira, que disse a um juiz, em audiência oficial, que Policarpo era “empregado” do marido. E que ameaçou usar a revista em que o jornalista trabalha para difamar a autoridade que a interrogava.
Quanto ao procurador-geral da República, o caso é ainda mais grave. Não surgiu ainda uma explicação para o arquivamento das investigações contra Cachoeira e o acobertamento de Demóstenes Torres. No mínimo, deveria ser aberta uma investigação da Polícia Federal
Sobre Policarpo, Veja e Gurgel, portanto, espanta que o PT não se empenhe em usar armas como essas. Talvez esteja apenas atendendo ao Palácio do Planalto, mesmo que a contragosto. Afinal, Dilma nada em popularidade e não lhe interessa fazer marola.
Pela popularidade que a presidente tema perder, há, portanto, que quantificar seu preço. Enquanto o governo opta por apanhar sem reagir porque a surra não lhe reduz a popularidade, membros do partido desse governo – inclusive o mais importante, que o elegeu – vão sendo pisoteados pela mídia, alguns pagando altas penas de privação de liberdade…
Mas o governo segue forte. Dificilmente Dilma terá sua popularidade afetada por campanhas denuncistas. O povo vota com o bolso. Pelo menos até que a economia sofra algum revés. Então veremos o custo de o PT se deixar carimbar como inventor da corrupção no Brasil.
Um relatório (da OCDE), diferentes pesos e manchetes
O relatório da Organização para o Crescimento Econômico e Desenvolvimento (OCDE) sobre a situação econômica mundial é é amplamente favorável ao Brasil e sua política, ainda que peça o que se poderia chamar de “correção de rumos” na direção do liberalismo econômico. A boa posição do Brasil fica mais evidente levando em conta fatores comparativos com outras economias também abordadas no relatório. Para o mundo, prevê-se um crescimento econômico de 1,4% em 2013 e 2,3% em 2014. O artigo é de Flávio Aguiar, direto de Berlim.
Flávio Aguiar, direto de Berlim
A referência desse artigo está nas manchetes citadas no Blog das frases do companheiro e amigo Saul Leblon, acima nesta página da Carta Maior. Três manchetes, três realidade distintas sobre o relatório da Organização para o Crescimento Econômico e o Desenvolvimento, sobre o estado da arte no mundo e no Brasil.
Não esqueçamos que o relatório segue, como seria óbvio esperar, um “design” completamente liberal para discutir a economia mundial – e a nossa brasileira também. Apesar disso, ele é amplamente favorável ao Brasil e sua política, ainda que peça o que se poderia chamar de “correção de rumos” naquela direção do liberalismo econômico. Deixei o texto original em inglês, devido à complexidade da terminologia técnica, e ofereço abaixo uma tentativa de tradução. Cito também, no original, a tabela de indicadores econômicos oferecida pelo relatório, em que se prevê uma retomada do crescimento numa taixa de 4 % ao ano, a partir do ano que vem.
The effects of strong monetary and fiscal stimulus are gradually lifting the economy out of below-trend growth. Forward-looking confidence indicators look promising and unemployment is low. Inflation has declined and stabilised, albeit somewhat above the midpoint of the target range.
Growth is projected to pick up to about potential rates as stronger global growth, the depreciated real and recent measures to address the supply-side factors behind weak performance benefit investment and exports. Growth would be supported by further reducing the tax burden and tax complexity, containing labour costs, deepening long-term financial markets and improving infrastructure. The recently adopted trade protection measures, in contrast, could slow down productivity growth.
[Os efeitos de estímulos monetários e fiscais robustos estão levantando gradualmente a economia de uma tendência a ficar num nível abaixo do esperado. Os indicadores de uma confiança quando se foca o futuro parecem promissores e o desemprego é baixo. A inflação caiu e se estabilizou, embora um pouco acima da média almejada.
Projeta-se uma elevação do crescimento até uma taxa potencialmente tão robusta quanto a do crescimento global, o real desvalorizado e medidas recentes dirigidas a fatores de insumo que estão por trás de um desempenho fraco beneficiam o investimento e a exportação. O crescimento seria favorecido por uma maior redução do peso e da complexidade dos impostos, da contenção do custo do trabalho, do aprofundamento dos mercados financeiros de longo prazo e da melhora na infra-estrutura. As recentes medidas de proteção comercial, no entanto, podem retardar o crescimento da produtividade].
A boa posição do Brasil fica mais evidente levando em conta fatores comparativos com outras economias também abordadas no relatório. Para o mundo, prevê-se um crescimento econômico de 1,4% em 2013 e 2,3% em 2014. Os respectivos números para estes anos são, conforme o país abordado:
Japão, 0,7% e 0,8%; Zona do Euro, - 0,1% e + 1,3%; Alemanha, 0,5% e 2%, mas com crescimento do desemprego em 2013; Reino Unido, 1,1% e 1,8%; Estados Unidos, em que o relatório afirma estar a economia e a taxa de emprego em recuperação lenta, 2,2% e 3,2%; França, 0,3% e 1,3%.
Enfim, os dados completos do relatório podem ser consultados em
http://www.oecd.org/eco/economicoutlook.htm
lembrando que em inglês a sigla da OCDE é OECD.
A posição favorável do Brasil fica mais evidente ainda levando-se em conta o comentário do Secretário Geral da Organização, Ángel Gurría: “Os governos devem atuar decisivamente, usando todos os meios à sua disposição para reerguer a confiança e dar impulso ao crescimento nos Estados Unidos, na Europa e em toda a parte” (“Governments must act decisively using all the tools at their disposal to turn confidence around and boost growth and jobs in the USA, in Europe and elsewhere”), frase que não deixa de conter um “granum salis” de crítica à obsessão com a “austeridade” que assola a Europa.
De resto, o relatório aponta com fatores mais preocupantes e ameaçadores, nessa ordem, a recessão Européia e o “despenhadeiro” (ou, “paredão de rocha”, “cliff”) fiscal norte-americano, embora ressalte que neste último caso se deva evitar um corte exagerado, precipitado ou indiscriminado nas despesas públicas para não comprometer aquela lenta recuperação.
Como se vê, SMJ, não há razão para se privilegiar apenas um ponto negativo em relação ao Brasil. Durma-se com uma mídia dessas!
Não esqueçamos que o relatório segue, como seria óbvio esperar, um “design” completamente liberal para discutir a economia mundial – e a nossa brasileira também. Apesar disso, ele é amplamente favorável ao Brasil e sua política, ainda que peça o que se poderia chamar de “correção de rumos” naquela direção do liberalismo econômico. Deixei o texto original em inglês, devido à complexidade da terminologia técnica, e ofereço abaixo uma tentativa de tradução. Cito também, no original, a tabela de indicadores econômicos oferecida pelo relatório, em que se prevê uma retomada do crescimento numa taixa de 4 % ao ano, a partir do ano que vem.
The effects of strong monetary and fiscal stimulus are gradually lifting the economy out of below-trend growth. Forward-looking confidence indicators look promising and unemployment is low. Inflation has declined and stabilised, albeit somewhat above the midpoint of the target range.
Growth is projected to pick up to about potential rates as stronger global growth, the depreciated real and recent measures to address the supply-side factors behind weak performance benefit investment and exports. Growth would be supported by further reducing the tax burden and tax complexity, containing labour costs, deepening long-term financial markets and improving infrastructure. The recently adopted trade protection measures, in contrast, could slow down productivity growth.
[Os efeitos de estímulos monetários e fiscais robustos estão levantando gradualmente a economia de uma tendência a ficar num nível abaixo do esperado. Os indicadores de uma confiança quando se foca o futuro parecem promissores e o desemprego é baixo. A inflação caiu e se estabilizou, embora um pouco acima da média almejada.
Projeta-se uma elevação do crescimento até uma taxa potencialmente tão robusta quanto a do crescimento global, o real desvalorizado e medidas recentes dirigidas a fatores de insumo que estão por trás de um desempenho fraco beneficiam o investimento e a exportação. O crescimento seria favorecido por uma maior redução do peso e da complexidade dos impostos, da contenção do custo do trabalho, do aprofundamento dos mercados financeiros de longo prazo e da melhora na infra-estrutura. As recentes medidas de proteção comercial, no entanto, podem retardar o crescimento da produtividade].
A boa posição do Brasil fica mais evidente levando em conta fatores comparativos com outras economias também abordadas no relatório. Para o mundo, prevê-se um crescimento econômico de 1,4% em 2013 e 2,3% em 2014. Os respectivos números para estes anos são, conforme o país abordado:
Japão, 0,7% e 0,8%; Zona do Euro, - 0,1% e + 1,3%; Alemanha, 0,5% e 2%, mas com crescimento do desemprego em 2013; Reino Unido, 1,1% e 1,8%; Estados Unidos, em que o relatório afirma estar a economia e a taxa de emprego em recuperação lenta, 2,2% e 3,2%; França, 0,3% e 1,3%.
Enfim, os dados completos do relatório podem ser consultados em
http://www.oecd.org/eco/economicoutlook.htm
lembrando que em inglês a sigla da OCDE é OECD.
A posição favorável do Brasil fica mais evidente ainda levando-se em conta o comentário do Secretário Geral da Organização, Ángel Gurría: “Os governos devem atuar decisivamente, usando todos os meios à sua disposição para reerguer a confiança e dar impulso ao crescimento nos Estados Unidos, na Europa e em toda a parte” (“Governments must act decisively using all the tools at their disposal to turn confidence around and boost growth and jobs in the USA, in Europe and elsewhere”), frase que não deixa de conter um “granum salis” de crítica à obsessão com a “austeridade” que assola a Europa.
De resto, o relatório aponta com fatores mais preocupantes e ameaçadores, nessa ordem, a recessão Européia e o “despenhadeiro” (ou, “paredão de rocha”, “cliff”) fiscal norte-americano, embora ressalte que neste último caso se deva evitar um corte exagerado, precipitado ou indiscriminado nas despesas públicas para não comprometer aquela lenta recuperação.
Como se vê, SMJ, não há razão para se privilegiar apenas um ponto negativo em relação ao Brasil. Durma-se com uma mídia dessas!