Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O custo da popularidade de Dilma


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O recuo anunciado do relator da CPI do Cachoeira, o petista Odair Cunha, no sentido de desistir dos indiciamentos do editor da revista Veja Policarpo Jr. e do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, tem significado forte. Resta, contudo, descobrir qual é.
O PT “amarelou”? Se sim, a pergunta que decorre é uma só: por quê? Medo, dirão. Mas medo de quê? O que a mídia poderia fazer a mais do que já está fazendo?
E a questão é a mídia, pois o PSDB, sem ela, não tem força alguma. Não tem militância para além de meia dúzia de bate-paus que escrevem cartinhas contra o PT a jornais e que passam o dia comentando em blogs simpatizantes do governo a fim de insultar blogueiros.
Bem, se a causa do anunciado recuo petista na CPI é a mídia, só pode ser dela que o PT supostamente tem medo. Só não se entende como ela poderia aumentar ainda mais os ataques ao partido, pois o dia só tem 24 horas…
Surge, então, a reflexão sobre por que o PT se empenha tão pouco em reagir aos ataques que sofre. E, aliás, sobre por que o partido do governo não usa as armas que tem como essa que a CPI lhe pôs no colo.
Qualquer investigação sobre o envolvimento de Policarpo Jr. com Cachoeira revelará muito mais do que a “mera relação entre repórter e fonte”. Fontes não escolhem onde o veículo do repórter deve publicar notícias e tampouco escolhem que notícias esse veículo irá publicar, e as escutas das conversas entre “Poli” e “Cachô” mostram exatamente isso.
Sem falar na declaração de ré do esquema, da mulher de Cachoeira, que disse a um juiz, em audiência oficial, que Policarpo era “empregado” do marido. E que ameaçou usar a revista em que o jornalista trabalha para difamar a autoridade que a interrogava.
Quanto ao procurador-geral da República, o caso é ainda mais grave. Não surgiu ainda uma explicação para o arquivamento das investigações contra Cachoeira e o acobertamento de Demóstenes Torres. No mínimo, deveria ser aberta uma investigação da Polícia Federal
Sobre Policarpo, Veja e Gurgel, portanto, espanta que o PT não se empenhe em usar armas como essas. Talvez esteja apenas atendendo ao Palácio do Planalto, mesmo que a contragosto. Afinal, Dilma nada em popularidade e não lhe interessa fazer marola.
Pela popularidade que a presidente tema perder, há, portanto, que quantificar seu preço. Enquanto o governo opta por apanhar sem reagir porque a surra não lhe reduz a popularidade, membros do partido desse governo – inclusive o mais importante, que o elegeu – vão sendo pisoteados pela mídia, alguns pagando altas penas de privação de liberdade…
Mas o governo segue forte. Dificilmente Dilma terá sua popularidade afetada por campanhas denuncistas. O povo vota com o bolso. Pelo menos até que a economia sofra algum revés. Então veremos o custo de o PT se deixar carimbar como inventor da corrupção no Brasil.

Um relatório (da OCDE), diferentes pesos e manchetes

O relatório da Organização para o Crescimento Econômico e Desenvolvimento (OCDE) sobre a situação econômica mundial é é amplamente favorável ao Brasil e sua política, ainda que peça o que se poderia chamar de “correção de rumos” na direção do liberalismo econômico. A boa posição do Brasil fica mais evidente levando em conta fatores comparativos com outras economias também abordadas no relatório. Para o mundo, prevê-se um crescimento econômico de 1,4% em 2013 e 2,3% em 2014. O artigo é de Flávio Aguiar, direto de Berlim.



A referência desse artigo está nas manchetes citadas no Blog das frases do companheiro e amigo Saul Leblon, acima nesta página da Carta Maior. Três manchetes, três realidade distintas sobre o relatório da Organização para o Crescimento Econômico e o Desenvolvimento, sobre o estado da arte no mundo e no Brasil.

Não esqueçamos que o relatório segue, como seria óbvio esperar, um “design” completamente liberal para discutir a economia mundial – e a nossa brasileira também. Apesar disso, ele é amplamente favorável ao Brasil e sua política, ainda que peça o que se poderia chamar de “correção de rumos” naquela direção do liberalismo econômico. Deixei o texto original em inglês, devido à complexidade da terminologia técnica, e ofereço abaixo uma tentativa de tradução. Cito também, no original, a tabela de indicadores econômicos oferecida pelo relatório, em que se prevê uma retomada do crescimento numa taixa de 4 % ao ano, a partir do ano que vem. 

The effects of strong monetary and fiscal stimulus are gradually lifting the economy out of below-trend growth. Forward-looking confidence indicators look promising and unemployment is low. Inflation has declined and stabilised, albeit somewhat above the midpoint of the target range. 

Growth is projected to pick up to about potential rates as stronger global growth, the depreciated real and recent measures to address the supply-side factors behind weak performance benefit investment and exports. Growth would be supported by further reducing the tax burden and tax complexity, containing labour costs, deepening long-term financial markets and improving infrastructure. The recently adopted trade protection measures, in contrast, could slow down productivity growth.


[Os efeitos de estímulos monetários e fiscais robustos estão levantando gradualmente a economia de uma tendência a ficar num nível abaixo do esperado. Os indicadores de uma confiança quando se foca o futuro parecem promissores e o desemprego é baixo. A inflação caiu e se estabilizou, embora um pouco acima da média almejada.

Projeta-se uma elevação do crescimento até uma taxa potencialmente tão robusta quanto a do crescimento global, o real desvalorizado e medidas recentes dirigidas a fatores de insumo que estão por trás de um desempenho fraco beneficiam o investimento e a exportação. O crescimento seria favorecido por uma maior redução do peso e da complexidade dos impostos, da contenção do custo do trabalho, do aprofundamento dos mercados financeiros de longo prazo e da melhora na infra-estrutura. As recentes medidas de proteção comercial, no entanto, podem retardar o crescimento da produtividade]. 


A boa posição do Brasil fica mais evidente levando em conta fatores comparativos com outras economias também abordadas no relatório. Para o mundo, prevê-se um crescimento econômico de 1,4% em 2013 e 2,3% em 2014. Os respectivos números para estes anos são, conforme o país abordado:

Japão, 0,7% e 0,8%; Zona do Euro, - 0,1% e + 1,3%; Alemanha, 0,5% e 2%, mas com crescimento do desemprego em 2013; Reino Unido, 1,1% e 1,8%; Estados Unidos, em que o relatório afirma estar a economia e a taxa de emprego em recuperação lenta, 2,2% e 3,2%; França, 0,3% e 1,3%.

Enfim, os dados completos do relatório podem ser consultados em

http://www.oecd.org/eco/economicoutlook.htm

lembrando que em inglês a sigla da OCDE é OECD.

A posição favorável do Brasil fica mais evidente ainda levando-se em conta o comentário do Secretário Geral da Organização, Ángel Gurría: “Os governos devem atuar decisivamente, usando todos os meios à sua disposição para reerguer a confiança e dar impulso ao crescimento nos Estados Unidos, na Europa e em toda a parte” (“Governments must act decisively using all the tools at their disposal to turn confidence around and boost growth and jobs in the USA, in Europe and elsewhere”), frase que não deixa de conter um “granum salis” de crítica à obsessão com a “austeridade” que assola a Europa.

De resto, o relatório aponta com fatores mais preocupantes e ameaçadores, nessa ordem, a recessão Européia e o “despenhadeiro” (ou, “paredão de rocha”, “cliff”) fiscal norte-americano, embora ressalte que neste último caso se deva evitar um corte exagerado, precipitado ou indiscriminado nas despesas públicas para não comprometer aquela lenta recuperação.

Como se vê, SMJ, não há razão para se privilegiar apenas um ponto negativo em relação ao Brasil. Durma-se com uma mídia dessas!


A praga da liderança Prozac


Do inevitável Bergman ao movimento Dogma 95, e além… O cinema escandinavo sempre ofereceu alternativas aos interessados em fugir do entediante escapismo hollywoodiano. A Arte do Pensamento Negativo é uma comédia de humor negro norueguesa, realizada em 2006. O filme, escrito e dirigido por Bård Breien, foi apresentado na 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2010. A história gira em torno de Geirr, um homem de 33 anos que ficou paraplégico após um acidente de automóvel. O protagonista vive em uma casa de campo, na companhia de sua bela e dedicada esposa, Ingvild. Passa o tempo bebendo, fumando maconha e assistindo a filmes sobre a Guerra do Vietnã.

Preocupada com o marido, Ingvild o inscreve em um grupo de autoajuda, formado por pessoas com diferentes deficiências. O grupo é liderado por Tori, uma entusiasta da autoajuda. Ela, que não tem nenhuma deficiência, proíbe os membros do grupo de dizer qualquer coisa negativa sobre seus problemas e os estimula com clichês e frases de efeito. “Focar em nossas fraquezas nos apequena, mas, se focarmos em nosso potencial, nós podemos nos tornar gigantes”, proclama Tori em uma reunião para deleite do grupo.
O choque entre Tori e Geirr é inevitável. Tori tenta estimular Geirr a pensar positivamente e “concentrar-se nas soluções, não nos problemas”. Geirr, iconoclasta e irreverente, rebela-se contra a visão idílica de Tori e, de crise em crise, conquista o grupo para sua visão crítica e niilista da realidade. Aos poucos, o faz de conta induzido por Tori perde força, os membros do grupo vão se abrindo para seus próprios problemas e encontram algum consolo na honestidade e na solidariedade que começam a surgir.
O filme norueguês trata cinicamente da “cultura de autoajuda”, praga contemporânea que cruzou fronteiras nas últimas décadas e avança sobre os mais diversos domínios da sociedade, da Escandinávia aos trópicos. Sintomaticamente, a mídia popular brasileira está hoje impregnada pela lógica e pelo discurso da autoajuda. Em muitos países, a autoajuda se transformou em uma indústria milionária: palestras, livros, revistas, vídeos, treinamento, consultoria etc.
O mundo corporativo foi domínio no qual a autoajuda encontrou terreno propício, com as portas escancaradas pelas deslumbradas áreas de recursos humanos. Nas empresas, o culto do pensamento positivo fomenta o otimismo, encoraja o estabelecimento de metas ambiciosas e celebra o sucesso. Contudo, sob os efeitos especiais de powerpoints apresentados em reuniões, as metas são manipuladas, o sucesso tem pés de barro.
David Collinson, professor da Escola de Negócios da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, publicou recentemente um texto no jornal britânico Financial Times, com o sugestivo título “O lado negativo da liderança positiva”. Segundo Collinson, no coração da crise em muitas nações ocidentais, encontra-se uma abordagem específica de liderança, da qual foi extirpado o pensamento crítico em favor do pensamento positivo e da propensão ao risco. O autor denomina o fenômeno de “liderança Prozac”, mal que afeta a sociedade e as empresas e causa vício em uma positividade excessiva e artificial.
Os líderes Prozac fazem discursos delirantes, acreditam em suas próprias palavras e desencorajam visões alternativas e críticas. Alguns são carismáticos e nutrem fiéis seguidores: eles ignoram problemas e tornam suas organizações menos preparadas para enfrentar crises. Quando encontram terreno propício, criam uma “cultura positiva”, que pune ou aliena funcionários não praticantes.
Candidatos a líderes Prozac são fáceis de identificar. Eles aguardam ansiosamente as palestras promovidas pela HSM, empresa especializada em eventos de autoajuda empresarial, e discutem avidamente as pérolas ouvidas dos “grandes nomes do management”. Circulam entusiasticamente vídeos das conferências TED (Technology, Entertainment and Design), cujo grande objetivo parece ser atrair cientistas e pensadores, misturá-los com caçadores de novidades e transformar todos em celebridades de auditório.
Collinson observa que o pensamento positivo, base da liderança Prozac, pode ter certo poder de transformação, facilitando inovações e processos de mudança. Porém, o otimismo excessivo pode estimular o cinismo, erodir a confiança e provocar o afastamento da realidade. Mais sábio seria combinar doses adequadas de pensamento positivo e pensamento crítico, de forma a enfrentar realidades complexas. O ilusionismo, bem sabemos, é competência essencial nas organizações, públicas e privadas, grandes e pequenas. Porém, convém não exagerar.
Últimos artigos de Thomaz Wood Jr.:
A arte do tempo
Anjo caído

A VIRTUDE E O PORTEIRO DE LULA


*Uma notícia em três manchetes:

 a) Agencia EFE: 'OCDE prevê que Brasil cresça 4% em 2013, depois do 1,5% de 2012' 

**b) Estadão: 'Brasil terá pior taxa de crescimento dos Brics em 2012, segundo OCDE'

**Folha: 'Brasil terá menor crescimento entre emergentes em 2012, diz OCDE 



Danuza Leão, que  foi esposa de Samuel Wainer, criador do  Última Hora - o principal veículo de resistência ao cerco udenista contra Vargas nos anos 50, lamenta a ascensão do consumo de massa no Brasil. Não por  ter restrições ao consumo. Mas porque ficou difícil  'ser especial'  nesses tempos em que  'todos têm acesso a absolutamente tudo, pagando módicas prestações mensais', explica na coluna que assina na Folha. Musicais na Broadway perderam a graça, afirma, não pelo gosto duvidoso do que se oferece ali. "Por R$ 50 mensais, o porteiro do prédio também pode ir", lamenta-se. O desencanto algo patológico com o Brasil de Lula inclui outras versões de apelo não tão exclusivista. O porteiro do prédio  neste caso é a 'corrupção de massa' que o PT teria promovido, segundo os críticos, num aparelho de Estado antes depenado com elegância pelos donos do país. A virtude que se cobra da esquerda não é um dote imanente a porteiros que viajam a prestação ou a governantes eleitos pelos pobres. Virtuosas devem ser as instituições. Mas o partido que pretende mudar a sociedade tem a obrigação de associar à luta econômica o combate por ideias emancipadoras que ampliem o horizonte subjetivo para além do consumismo. (LEIA MAIS AQUI)