Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Leandro Fortes e a bolinha de papel do Alckmin











Ainda sobre o teatrinho de Geraldo Alckmin, a lúcida abordagem de Leandro Fortes, na CartaCapital, de volta das – imagino eu – férias do jornalista.
Ele vai no ponto: estamos diante de uma nova pantomima, como aquela da bolinha de papel “assassina” da campanha de 2010.
Só que essa feita de milhões de reais.

Circo Tucano

Agora, falando sério.
Quem, pelas pedras pisadas do cais, deu essa ideia de jerico ao governador Geraldo Alckmin? Em que mundo vivem os tucanos de São Paulo, ainda crentes da possibilidade de enganar um país inteiro com uma maluquice dessas? Não aprenderam NADA com o episódio da bolinha de papel de José Serra? Nada, nada?
A meu ver, a única explicação para uma saída indecente e patética como essa – o suspeito de ser corrupto processar o corruptor que está colaborando com a Justiça – é a plena confiança que essas lideranças do PSDB têm na submissão e na cumplicidade dessa velha e carcomida mídia nacional. Não tem outra explicação.
Quando li essa informação na coluna de Mônica Bergamo, a quem admiro como ótima jornalista que é, juro que pensei que era mais uma sacanagem de José Simão. Mas não era. 
A notícia de que Alckmin, um dos principais suspeitos de ter montado e se beneficiado do esquema de propinas da Siemens, irá processar a empresa alemã foi dada de forma séria, como se isso fosse possível, como se fôssemos, todos nós, idiotas ligados aos tubos da Matrix.
Eu compreendo os conservadores, essas pessoas que têm uma visão individualista do mundo, das relações sociais, que imaginam ser o liberalismo econômico a única saída para o pleno desenvolvimento social. A vida seria insuportável se todos pensassem da mesma forma – e eu não teria com quem quebrar o pau no Facebook. A direita deve ter seu encanto, senão não teria tanta gente com ódio do Bolsa Família e com tanta saudade da ditadura militar.
Mas eu acho que, agora, essa discussão deve se sobrepor ao posicionamento político de cada um. 
O grupo político que arrota austeridade, choques de gestão e aponta o dedo na cara de mensaleiros e petralhas é este que, agora, está sob a mira da Justiça suíça e do Ministério Público de São Paulo, embora deste último não se deva esperar muita coisa contra os tucanos.
Este grupo político, há quase duas décadas no governo de São Paulo, inclui, além de Geraldo Alckmin, o falecido Mário Covas e o vivíssimo José Serra. 
A história de Covas, é uma pena, não merecia essa mácula, mas o fato é que o esquema da Siemens começou com ele. É pouco provável que ele não soubesse do que estava acontecendo, ainda mais porque o negócio, ao que tudo indica, era tocado por um assessor direto dele, Robson Marinho.
Alckmin, este que quer processar a Siemens, deu andamento e tamanho ao esquema. Serra foi o feliz herdeiro que, segundo e-mails trocados por executivos da empresa alemã, costurava os acordos para modernizar a formação do cartel.
Não tenho dúvidas de que jornalões e alguns jornalistas dessa triste mídia brasileira irão, apesar do ridículo, endossar essa estratégia de Alckmin para manter o mínimo de dignidade eleitoral dos tucanos, para manter viva a esperança de derrotar Dilma Rousseff, de qualquer maneira, em 2014. 
O Jornal Nacional fez esse serviço, em 2010, quando inventou que Serra, além da bolinha de papel, havia levado na careca um petardo de rolo de fita crepe de 100 quilos.
Mas e as pessoas decentes, de boa fé, estas que foram à rua bradar contra a corrupção quando o gigante acordou?
O que farão essas pessoas? 
Vão se deixar cair, novamente, no conto da bolinha de papel? 
Vão compactuar com mais essa palhaçada apenas para manter alimentado o bicho conservador e antipetista que têm na barriga?
Por: Fernando Brito

LEMBRA DO BAGRE? BLÁBLÁRINA NÃO É SUSTENTÁVEL Se ela fechar as hidrelétricas e substituir por sol e vento, haverá desemprego em massa.

Saiu na colona (*) do Ataulfo Merval de Paiva (**):

O DISCURSO DE CADA UM



(…)

O fato de Marina continuar subindo como conseqüência da onda dos protestos mostra que há uma parcela silenciosa do eleitorado que vê nela a alternativa de uma maneira diferente de fazer política. Mesmo que as grandes manifestações espontâneas tenham refluído, o sentimento de insatisfação continua latente.

(…)

Marina Silva pode ter dificuldades para ser o escoadouro dessa insatisfação se não colocar de pé sua Rede de Sustentabilidade. Qualquer partido político gostaria de tê-la como candidata, mas aí terá que fazer acordos com os tais políticos tradicionais, o que retirará, pelo menos em parte, sua legitimidade.
O Ataulfo, como se sabe, é a biruta do aeroporto da Big House.
E a biruta está desnorteada.
Não sabe para onde apontar.
É que o PT tem dois candidatos e a Big House nenhum – diz o amigo navegante Mario Trovas.
As “pesquisas” ressuscitaram a Bláblárina, que, como diz o Mauricio Dias,corre o risco de ficar sem a Rede e cair no colo do Penna, do Partido Verde.
(O amigo navegante se lembra de a Blablárina fugir do Partido Verde ameaçando denunciar cobras e lagartos e não denunciou uma cambaxirra …)
O Nunca Dantes saiu-se com uma demolidora: a Marina não é sustentável …
Disse o Lula, ao Estadão, pag. A6: “Não vejo nenhuma modernização quando você quer deixar partidos e políticos de lado”.
E completou: “Dilma já está reeleita, o que incomoda uma parte da sociedade elitista brasileira” – e seus porta-vozes.
A Bláblárina, como se sabe, é o exemplo mais sublime do “soft power” de uma parte da Big House brasileira.
A Bláblárina tem problemas com Darwin, com a evolução das espécies, com a pesquisa com células tronco, e, acima de tudo, com a construção de usinas hidrelétricas, uma fonte de energia renovável, barata, e que só o Brasil tem na quantidade que tem e com a tecnologia que acumulou.
Ela é contra.
Prefere a energia do vento e do sol.
Se o amigo navegante fechar todas as hidrelétricas e só produzir energia do vento e do sol, a economia do Brasil quebra e o desemprego será em massa.
Essa é a sustentabilidade da Bláblarina.
Conta-se que o presidente Lula já estava irritado com a demora da Bláblárina, então Ministra do Verde, em concordar com a construção das usinas de Santo Antonio e Jirau, no rio Madeira.
Duas obras primas de energia renovável e barata, amiga do meio ambiente.
O que era para estar aprovado em seis meses já ia para dois anos, por causa do verdismo bláblárínico.
Até que houve uma reunião decisiva.
A certa altura, a Bláblárina cede a palavra a uma bagróloga, especialista em bagres: em cópula de bagre e em piracema de bagre.
A bagróloga atormentou o Nunca Dantes.
Ela demonstrou que os bagres não copulariam em paz e não desovariam com as duas usinas.
O Nunca Dantes entraria para a História da Humanidade como o Genocida dos Bagres.
O Nunca Dantes ouviu quieto e convocou uma nova reunião para daí a duas semanas.
Quando a Blablárina deu de novo a palavra à bagróloga, e Lula fez a primeira intervenção.
Mas, a senhora se refere ao bagre Veludo ou ao bagre Sari ?
Porque, como a senhora sabe, entre um e outro há diferenças essenciais no que concerne à piracema.
A bagróloga se entupiu.
Respondeu titubeante, engatou uma réplica, e o Nunca Dantes interrompeu: não, a senhora me desculpe, insigne bagróloga, mas quem copula nessa posição é o bagre Papai.
E continou: já a piracema do bagre Urutu…
E lá foi o Nunca Dantes a consultar umas anotações do próprio punho, que tinha à frente.
Diante da perplexidade da bagróloga e da Bláblárina, ele suspendeu a reunião e disse:
- Marina, daqui a 15 dias você volta para me explicar como vão ser feitas Santo Antonio e Jirau. E, não, se podem ser feitas.
Poucos dias depois, a Bláblárina pediu as contas e botou a culpa na Dilma …
É com esse jenio que a Big House vai realizar a piracema dos bagres.
Ou a cópula.



Em tempo: o Lula teve aulas com uma bagróloga progressista…


Paulo Henrique Amorim


(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

(**) Ataulfo de Paiva foi o mais medíocre – até certa altura – dos membros da Academia. A tal ponto que seu sucessor, o romancista José Lins do Rego quebrou a tradição e espinafrou o antecessor, no discurso de posse. Daí, Merval merecer aqui o epíteto honroso de “Ataulfo Merval de Paiva”, por seus notórios méritos jornalísticos,  estilísticos, e acadêmicos, em suma. Registre-se, em sua homenagem, que os filhos de Roberto Marinho perceberam isso e não o fizeram diretor de redação nem do Globo nem da TV Globo. Ofereceram-lhe à Academia.E ao Mino Carta, já que Merval é, provavelmente, o personagem principal de seu romance “O Brasil”.

Mídia desembarca do “Tucanic”

Alguns dirão que é jogo de cena, que toda vez que a grande mídia noticia alguma coisa desfavorável ao PSDB é porque, em seguida, virá bomba contra o PT. Essa, porém, seria uma explicação fácil para um grande noticiário que é preciso ter uma dose extra de má vontade para afirmar que tem poupado o tucanato paulista no âmbito do rumoroso “trensalão”.
Vá lá que não estejam existindo aquelas críticas furiosas e profusas que tonitruam sobre as nossas cabeças quando a acusação envolve petistas ou aliados tidos como mais fieis – ou algo próximo disso.
Porém, o que até a Globo vem divulgando sobre os escândalos Siemens-Alstom deixa o PSDB paulista em uma situação em que não há memória de ter sido igual ao menos no século XXI. Só para se ter uma ideia, denúncia do sindicato dos metroviários feita ao Cade na última terça-feira fora conhecida dias antes pelos telejornais.
O SBT, por exemplo, exibiu várias matérias mostrando que o Estado de São Paulo, ainda no governo Mario Covas, gastou R$ 1,7 bilhão com a modernização de 98 trens de metrô e que com um pouco mais seria possível comprar trens novos.
Segundo matéria publicada há vários dias pela tevê do Sílvio Santos, “O custo de reforma dos trens velhos foi de 85,7% do preço de um saído da fábrica e a base de comparação é outro contrato assinado no ano passado, em que um trem novo saiu por R$ 23,6 milhões. Já o reformado de 2009 custou, em média, R$ 17,1 milhões”.
Já a Globo, semana passada, gastou 8 minutos com denúncias menos detalhadas – e, portanto, menos comprometedoras –, mas que permitiram ao telespectador entender que há uma acusação grave contra os governos do Estado de São Paulo sob o comando do PSDB.
E não ficou só nisso. O caso foi parar até no tucanérrimo Jornal da Globo, exibido tarde da noite e, por isso, objeto das maiores, digamos assim, “licenças partidárias” da emissora.
Isso sem falar na Folha de São Paulo, que, como o resto da grande mídia, entrou timidamente no caso mas depois se soltou e já o está cobrindo com certo “gosto”, com manchetes em primeira página como não se via desde o escândalo da compra de votos para a reeleição de FHC, no século passado.
Não se descarta, porém, que, como no passado, tudo isso esteja ocorrendo como um álibi para um ataque muito mais forte ao PT, mas essa tese carece de lógica.
Após colocar os tucanos “no mesmo saco”, não haverá lucro político em mostrar que o PT lhes faz companhia. Até porque, a mídia já carimbou nos petistas tudo o que pôde em termos de corrupção, tanto justa quanto injustamente.
Claro que ficou bem difícil esconder o “trensalão” com a internet fervendo com o assunto, mas a mídia esconder escândalos graves do PSDB não chega a ser novidade. Aliás, ela parece disposta a não tomar mais furos – ou tomar menos – em um caso que só tem feito crescer.
Não se espera que, de uma hora para outra, corporações de mídia que se notabilizaram pelo partidarismo se tornem exemplos de profissionalismo jornalístico, que requer distanciamento ou, se possível, algo que se pareça razoavelmente com isenção. Mas o que parece é que, finalmente, essas corporações começam a entender que há muito menos idiotas por ai do que imaginava.
Excesso de otimismo? Ingenuidade? Talvez não, apesar de parecer. Essas corporações talvez não sejam tão idiotas a ponto de ainda não terem percebido que a continuidade do tratamento do público como débil mental se tornou inviável, sobretudo quando se vai descobrindo que ir à rua não é um jogo que só pode ser jogado por um lado.
Em um momento em que todo mundo começou a se manifestar por um sem-número de causas, ocultar um escândalo da magnitude desse que envolve o PSDB pode gerar resultados imprevisíveis.
Como as vítimas do mau serviço do metrô de São Paulo contam-se aos milhões, proteger quem essas massas vão descobrindo ser responsável por seu sofrimento no transporte público pode atrair ira popular de um tamanho como o que se viu em junho.
Imaginemos dezenas de milhares de pessoas diante de uma Globo dizendo umas verdades daquele tipo que os barões da mídia não podem se dar ao luxo de que sejam conhecidas… O prejuízo – inclusive financeiro – que envolveria uma situação dessas seria incalculável e, talvez, irremediável.
Se as coisas continuarem nesse rumo, portanto, logo, logo só vai restar a Veja bradando no deserto contra um lado só da política enquanto o outro se esbalda em corrupção e ela finge não ver. Eis porque um desembarque midiático em peso do “Tucanic” talvez não envolva esse tentáculo da mídia, que pode se dispor a afundar junto.
Aliás, convenhamos que não deixa de ser comovente a lealdade da Veja ao PSDB, não?

CONTRA SIEMENS E ALSTOM, MPL PARA SÃO PAULO ÀS 15H

PT CONSEGUE UNIDADE PARA CRIAR CPI DO CASO SIEMENS

ERMÍNIA MARICATO: HORA DE LUTAR PELA CIDADE


*Alckmin diz que o  cartel enganou o PSDB. Por 16 anos. A mídia também? (leia mais)  

ANHANGABAU,15 HS: CONTRA A CORRUPÇÃO, POR TRANSPORTE DE QUALIDADE
As reivindicações desta 4ª dos Metroviários, MPL e CUT: abertura da caixa preta**Prisão dos corruptos e corruptores*Expropriação de bens e devolução do dinheiro* Suspensão da licitação da Linha 6* Fim das privatizações  *Redução da tarifa, rumo à tarifa zero*- Passe livre*- Fim das terceirizações* Manutenção e operação 100% estatais*- Contratação de mais funcionários* metrô 24 hs aos domingos e feriados*- Gestão pelos trabalhadores e usuários
*Acompanhe os protestos:

Exclusivo, Operação Condorem 1970, o então embaixador Azeredo da Silveira, depois chanceler da ditadura Geisel, participou diretamente do sequestro do coronel Jefferson Cardim, na Argentina.



'Agora temos de ir para a rua. Criamos um Ministério das Cidades pra quê? Mais um espaço para ser moeda de troca? A esse arcabouço legal e institucional precisa corresponder uma correlação de forças favorável, senão é inútil. O Estatuto da Cidade é festejado no mundo inteiro e nós não conseguimos aplicá-lo. A esperança sempre tem de estar nas gerações que estão vindo, porque para quem tem a minha idade o tempo é limitado. A nossa cabeça é um patrimônio. Somos educados, aprendemos, vivemos experiências e adquirimos certa sabedoria. Há alguns anos, quando eu ia para a periferia, pensava que perderíamos uma geração, porque ninguém estava dando suporte para aquela criançada. Mas estou muito mais otimista depois que as manifestações explodiram. Porque eu acho que a direita neste país, apesar de muito agressiva, não tem condições de dar um golpe. A esquerda, sim, está em condições de se reorganizar e voltar a trabalhar de forma menos institucional e mais preocupada com o social. Mano Brown e Emicida estão entre as lideranças mais importantes do país. Pela cultura, eles discutem tudo, especulação imobiliária e também a questão urbana. Essa efervescência me dá esperança.



As falanges em ação


A cobertura da mídia sobre os protestos no Rio e as ações do governo estadual revelam que eles parecem saudosos da ditadura. Mas a censura, agora, opera através dos próprios meios de comunicação, com a seletividade dos seus noticiários não só sobre as manifestações de rua, mas também diante de temas como a reforma política e a proposta do governo federal para ampliar o atendimento médico. Por Laurindo Lalo Leal Filho, para a Revista do Brasil



Final de tarde no Rio de Janeiro. Dia da chegada do Papa ao Brasil. No Largo do Machado, reduto histórico de manifestações políticas, entre o Catete e as Laranjeiras, o clima assemelha-se a um happening. Em cantos diferentes da praça reúnem-se jovens católicos de várias partes do mundo, militantes do PSTU, ativistas dos movimentos LGBTS (algumas moças com seios à mostra), outros com bandeiras anarquistas e, claro, os policiais em trajes de guerra. Mas fica cada um no seu canto, com suas armas, cartazes e palavras de ordem. Sem confrontos.

Caminho sem preocupações entre os grupos quando outro tipo de gente chama a minha atenção: homens fortes, com idades entre trinta e quarenta anos, trajando camisetas justas começam a circular pela praça. Um está de luvas, outro enrola-se na bandeira da CTB, uma das centrais sindicais brasileiras. Muito estranho.

Os jovens católicos continuam a cantar nas escadarias da igreja. O grupo com as bandeiras do movimento gay aproxima-se e depois segue com os demais manifestantes rumo ao Palácio Guanabara, onde o Papa é recebido. Perco-os de vista.

Mais tarde soube dos tumultos às portas do palácio. Uma bomba caseira foi atirada contra os policiais. Claro que a culpa é logo atribuída pela mídia conservadora aos manifestantes. O desmentido chega através de um vídeo postado na internet revelando a ação de agentes policiais à paisana provocando tumultos. A maior surpresa vem a seguir. Lá estava em frente ao palácio, sendo dobrada por um policial, a bandeira da CTB vista por mim horas antes no Largo do Machado. 

A ação dos policiais infiltrados, os chamados P2, não aparece na TV que, além disso, dá proteção total aos fardados. A GloboNews afirmou que um repórter da agência de notícias France Presse, visto com a cabeça sangrando em frente ao Guanabara, havia sido atingido por um coquetel Molotov. A narrativa fazia crer que a bomba só poderia ter sido atirada pelos manifestantes. Na verdade o jornalista fora vítima de uma cacetada desferida por um policial. O canal reconheceu o erro muitas horas depois, quando o estrago já estava feito. Pude ouvir pessoas nas ruas atribuindo essa violência aos manifestantes, sem saber da verdade.

A reação do governo do Rio foi a pior possível. Por decreto instituiu uma Comissão Especial de Investigações de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas com poderes até para exigir das empresas de telefonia e de servidores da internet a entrega de dados das comunicações feitas por qualquer pessoa. Recuou um pouco diante das reações desfavoráveis. O advogado Técio Lins e Silva chegou a comparar o decreto com as comissões de inquérito criadas na ditadura. “Está entre o delírio e o abuso de poder. É caso de impeachment, há uma violação clara de direitos constitucionais”. 

Driblando a inconstitucionalidade a comissão foi mantida e admite investigar a ação dos infiltrados. No entanto, dada a sua composição, fica difícil acreditar que a verdade venha à tona. Formam o grupo representantes do Ministério Público do Rio, da Secretaria de Segurança Pública e das polícias civil e militar. 

Diante do histórico dessas polícias só resta chamar o ladrão, como dizia a música do Chico Buarque na época da ditadura. 

Mídia e governo do Rio parecem saudosos daqueles tempos. A censura opera agora através dos próprios meios de comunicação com a seletividade dos seus noticiários não só sobre as manifestações de rua, mas também diante de temas como a reforma política, a proposta do governo para ampliar o atendimento médico, a denúncia de sonegação fiscal cometida pela Globo e o debate em torno da democratização da mídia, por exemplo. Temas que, quando não omitem, distorcem.

A desinformação associa-se ao autoritarismo do governo estadual fazendo lembrar - com um arrepio na espinha – do incêndio do Reichestag, o parlamento alemão, ocorrido há exatos 80 anos. Ação isolada de um individuo ou articulada por um grupo nazista serviu de pretexto para milhares de prisões garantindo apoio popular para um governo que levou a humanidade a um dos seus períodos históricos mais aterradores. Há seguidores por aqui.

*Artigo publicado originalmente na Revista do Brasil, edição de agosto de 2013