Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quinta-feira, 17 de março de 2011

O Caso Bianca Abinader


Enviado por luisnassif

Do blog O Caso Bianca Abinader
A CBN Manaus ataca novamente 


Na última terça-feira (15), precisamente às 12h15 da tarde, o radialista Ronaldo Tiradentes, dono da rádio CBN em Manaus, invadiu a unidade de saúde Amazonas Palhano, no São José, Zona Leste da cidade.
Visivelmente descontrolado, o radialista perguntava pela médica Bianca Abinader, contra quem iniciou uma campanha pessoal em janeiro de 2010. Desde o dia 7 de fevereiro de 2011, Bianca atende os pacientes da manhã, entre 8h e meio-dia.
Quinze minutos após saída da médica, munido de uma filmadora, Ronaldo iniciou “reportagem” questionando pacientes que aguardavam consulta para outros médicos, do horário da tarde. Ronaldo queria saber se eles conheciam a médica “que não trabalhava”. Chegou a confundir um dos pacientes, que achava que se tratava de uma médica de outra Unidade, na qual Bianca nunca trabalhou.

O dono da CBN gritava com os funcionários, insistindo que a médica era “gazeteira” e que não atendia seus pacientes. A equipe de saúde, colegas da médica que convivem com Bianca há pouco mais de um mês, saiu em defesa da médica. Ronaldo não aceitou. Diante de pacientes diabéticos e hipertensos, chegou a dizer para um dos funcionários, Fernando Cabral, assistente de saúde,  que ele não precisava “encobrir” ninguém. O rapaz afirmou que não precisava encobrir ninguém, pois ele estava falando apenas a verdade.
Outros funcionários se manifestaram. Uma auxiliar do posto, Izabel Rosas,  se aproximou e questionou se ele sabia quem era o jornalista que perseguia a médica, porque ela já tinha ouvido falar que Bianca estava sendo perseguida há mais de um ano. Ronaldo afirmou que era ele mesmo, Ronaldo Tiradentes, e que ela podia avisar para a Dra. Bianca Abinader que ele tinha vindo ali procurá-la.
Ronaldo continuava alterado, invadindo as dependências internas do posto de saúde. Exigia a presença da diretora do posto, a Sra. Eurinete Santana. Eurinete foi encontrada pelo próprio Ronaldo, enquanto almoçava na copa da unidade. Filmada pelo radialista enfurecido durante sua refeição, a diretora foi cobrada sobre a presença de sua médica.
Ao contestar as acusações de Ronaldo, que persistia acusando a médica de não estar trabalhando, Eurinete desmentiu a informação, alegando que ela trabalha todos os dias, afirmando inclusive que ela era uma das poucas profissionais do posto que realmente cumpria o horário todo, além de atender todos os seus pacientes agendados.
Ronaldo então alegou que a médica deveria cumprir 6 horas/dia, quando Eurinete o desmentiu novamente, afirmando que todos os médicos de sua unidade deveriam cumprir, por contrato, apenas 20 horas semanais (4 horas/dia).
Ao menos uma dúzia de testemunhas presenciou o ataque do radialista, à medida que não encontrava sequer UM depoimento que sustentasse as acusações contra a médica.
A situação constrangeu servidores e pacientes, que aguardavam consultas com outros profissionais. Provando, mais uma vez, que sua perseguição obsessiva já está prejudicando o trabalho da profissional e dos outros funcionários que trabalham com ela.
Ronaldo gravou toda a sua humilhação pública em vídeo. Levou para casa, de onde, a partir das 13h20, passou a relatar o ocorrido no microblog Twitter. “@biabinader FALEI PARA VOCÊ NÃO ENCHER O SACO DO CAIO NUNES, VC NÃO OUVIU. MAIS TARDE VC ESTARÁ NO YOUTUBE.“, avisava o perfil do radialista, seguido por 42 pessoas na internet.
Quando começou sua campanha pessoal contra a médica, Ronaldo alegou que fazia uma série de reportagens sobre o atendimento das casinhas de saúde. Desde lá, a única profissional denunciada pela rádio CBN foi Bianca, que respondeu a uma sindicância em fevereiro de 2010, a pedido da rádio. O resultado dessa sindicância foi assinado em 23 de fevereiro, e atestava: Bianca Abinader era aprovada por 99% dos pacientes da casinha do Campo Dourado.
O resultado dessa sindicância nunca veio a público (leia mais em “A sindicância que a CBN cobrou, e o relatório que nunca divulgou). Em janeiro passado, Ronaldo Tiradentes teve acesso ao termo de posse da médica e ao seu histórico financeiro, documento cuja liberação só ocorre pela direção da SEMSA. Mas a sindicância, exigida, alardeada e comemorada por Ronaldo quando instaurada, nunca teve seu resultado publicado pela rádio.
Reincidência
Não é a primeira vez que Ronaldo é filmado em vídeo agredindo um servidor público. Em agosto de 2008, o radialista agrediu verbal e fisicamente a então secretária municipal de Meio Ambiente e um de seus assessores. O motivo era a retirada de uma árvore morta, nas imediações da rádio CBN, que corria o risco de cair e oferecia perigo a carros e pedestres.
O vídeo da agressão (assista aqui) ganhou o país quando o jornalista Luis Nassif repercutiu em seu site os ataques a Bianca, num artigo intitulado “A barra pesada da CBN Manaus”. O post de Nassif chocou leitores do país inteiro, e provocou uma avalanche de comentários indignados.
O vídeo gravado pelo radialista na tarde de terça, no qual absolutamente todos os funcionários rechaçam seus ataques, não foi publicado.
O Sindicato dos Médicos do amazonas – SIMEAM – já foi informado sobre o novo ataque de Ronaldo Tiradentes às equipes de saúde da Prefeitura Municipal de Manaus. Providências serão cobradas da SEMSA e da Justiça para que os funcionários das unidades de saúde e seus pacientes, abordados e constrangidos pelo radialista, sejam preservados.
A campanha da CBN contra Bianca Abinader chega ao seu 15º mês. A Prefeitura de Manaus, assim, contabiliza pacientes deixados sem médico no Campo Dourado (Zona Norte), no Morro da Liberdade (Zona Sul) e outros assustados no São José (Zona Leste).
Ronaldo e a CBN também moveram o aparato público, servidores e trâmites burocráticos (e isso custa dinheiro público) para conseguir sua sindicância em 2010. Com o relatório favorável a Bianca, a CBN conseguiu a instauração, em fevereiro deste ano, de nova sindicância.
Bianca, que atende seus pacientes entre 8h e meio-dia de segunda a sexta, precisou se ausentar do trabalho para depor à comissão de sindicância na última segunda. Novamente, pacientes deixaram de ser atendidos.
Sobre a nova sindicância instaurada pela SEMSA e as novas contradições do secretário municipal de Saúde, Francisco Deodato, o site O Caso Bianca Abinader trará detalhes em breve.
Ao final do escândalo da tarde de terça, Ronaldo Tiradentes desligou sua câmera, deixou a unidade de saúde Amazonas Palhano e anunciou: vai voltar atrás de Bianca novamente.

Obama foi anulado pelo conservadorismo de bordel dos EUA"


"Obama foi anulado pelo conservadorismo de bordel dos EUA"

Em entrevista exclusiva à Carta Maior, a economista Maria da Conceição Tavares fala sobre a visita de Obama ao Brasil, a situação dos Estados Unidos e da economia mundial. Para ela, a convalescença internacional será longa e dolorosa. A razão principal é o congelamento do impasse econômico norte-americano, cujo pós-crise continua tutelado pelos interesses prevalecentes da alta finança em intercurso funcional com o moralismo republicano. ‘É um conservadorismo de bordel’, diz. E acrescenta: "a sociedade norte-americana encontra-se congelada pelo bloco conservador, por cima e por baixo. Os republicanos mandam no Congresso; os bancos tem hegemonia econômica; a tecnocracia do Estado está acuada”.

Quando estourou a crise de 2007/2008, ela desabafou ao Presidente Lula no seu linguajar espontâneo e desabrido: “Que merda, nasci numa crise, vou morrer em outra”. Perto de completar 81 anos – veio ao mundo numa aldeia portuguesa em 24 de abril de 1930 - Maria da Conceição Tavares, felizmente, errou. Continua bem viva, com a língua tão afiada quanto o seu raciocínio, ambos notáveis e notados dentro e fora da academia e esquerda brasileira. A crise perdura, mas o Brasil, ressalta com um sorriso maroto, ao contrário dos desastres anteriores nos anos 90, ‘saiu-se bem desta vez, graças às iniciativas do governo Lula’. 

A convalescença internacional, porém, será longa, adverte. “E dolorosa”. A razão principal é o congelamento do impasse econômico norte-americano, cujo pós-crise continua tutelado pelos interesses prevalecentes da alta finança em intercurso funcional com o moralismo republicano. ‘É um conservadorismo de bordel’, dispara Conceição que não se deixa contagiar pelo entusiasmo da mídia nativa com a visita do Presidente Barack Obama, que chega o país neste final de semana. 

Um esforço narrativo enorme tenta caracterizar essa viagem como um ponto de ruptura entre a ‘política externa de esquerda’ do Itamaraty – leia-se de Lula , Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães - e o suposto empenho da Presidenta Dilma em uma reaproximação ‘estratégica’ com o aliado do Norte. Conceição põe os pingos nos is. Obama, segundo ela, não consegue arrancar concessões do establishment americano nem para si, quanto mais para o Brasil. ‘Quase nada depende da vontade de Obama, ou dito melhor, a vontade de Obama quase não pesa nas questões cruciais. A sociedade norte-americana encontra-se congelada pelo bloco conservador, por cima e por baixo. Os republicanos mandam no Congresso; os bancos tem hegemonia econômica; a tecnocracia do Estado está acuada”. O entusiasmo inicial dos negros e dos jovens com o presidente, no entender da decana dos economistas brasileiros, não tem contrapartida nas instâncias onde se decide o poder americano. “O que esse Obama de carne e osso poderia oferecer ao Brasil se não consegue concessões nem para si próprio?”, questiona e responde em seguida: ‘Ele vem cuidar dos interesses americanos. Petróleo, certamente. No mais, fará gestos de cortesia que cabem a um visitante educado’. 

O desafio maior que essa discípula de Celso Furtado enxerga é controlar “a nuvem atômica de dinheiro podre” que escapou com a desregulação neoliberal – “e agora apodrece tudo o que toca”. A economista não compartilha do otimismo de Paul Krugman que enxerga na catástrofe japonesa um ponto de fuga capaz, talvez, de exercer na etapa da reconstrução o mesmo efeito reordenador que a Segunda Guerra teve sobre o capitalismo colapsado dos anos 30. “O quadro é tão complicado que dá margem a isso: supor que uma nuvem de dinheiro atômico poderá corrigir o estrago causado por uma nuvem nuclear verdadeira. Respeito Krugman, mas é mais que isso: trata-se de devolver o dinheiro contagioso para dentro do reator, ou seja, regular a banca. Não há atalho salvador’.

Leia a seguir a entrevista exclusiva de Maria da Conceição Tavares à Carta Maior. 

CM- Por que Obama se transformou num zumbi da esperança progressista norte-americana?

Conceição - Os EUA se tornaram um país politicamente complicado... o caso americano é pior que o nosso. Não adianta boas idéias. Obama até que as têm, algumas. Mas não tem o principal: não tem poder, o poder real; não tem bases sociais compatíveis com as suas idéias. A estrutura da sociedade americana hoje é muito, muito conservadora –a mais conservadora da sua história. E depois, Obama, convenhamos, não chega a ser um iluminado. Mas nem o Lula daria certo lá.

CM- Mas ele foi eleito a partir de uma mobilização real da sociedade....

Conceição - Exerce um presidencialismo muito vulnerável, descarnado de base efetiva. Obama foi eleito pela juventude e pelos negros. Na urna, cada cidadão é um voto. Mas a juventude e os negros não tem presença institucional, veja bem, institucional que digo é no desenho democrático de lá. Eles não tem assento em postos chaves onde se decide o poder americano. Na hora do vamos ver, a base de Obama não está localizada em lugar nenhum. Não está no Congresso, não tem o comando das finanças, enfim, grita, mas não decide.

CM - O deslocamento de fábricas para a China, a erosão da classe trabalhadora nos anos 80/90 inviabilizaram o surgimento de um novo Roosevelt nos EUA?

Conceição - Os EUA estão congelados por baixo. Há uma camada espessa de gelo que dissocia o poder do Presidente do poder real hoje exercido, em grande parte, pela finança. Os bancos continuam incontroláveis; o FED (o Banco Central americano) não manda, não controla. O essencial é que estamos diante de uma sociedade congelada pelo bloco conservador, por cima e por baixo. Os republicanos mandam no Congresso; os bancos tem hegemonia econômica; a tecnocracia do Estado está acuada...

CM- É uma decadência reversível?

Conceição – É forçoso lembrar, ainda que seja desagradável, que os EUA chegaram a isso guiados, uma boa parte do caminho, pelas mãos dos democratas de Obama. Foram os anos Clinton que consolidaram a desregulação dos mercados financeiros autorizando a farra que redundou em bolhas, crise e, por fim, na pasmaceira conservadora.

CM - Esse colapso foi pedagógico; o poder financeiro ficou nu, por que a reação tarda? 

Conceição - A sociedade americana sofreu um golpe violento. No apogeu, vendia-se a ilusão de uma riqueza baseada no crédito e no endividamento descontrolados. Criou-se uma sensação de prosperidade sobre alicerces fundados em ‘papagaios’ e pirâmides especulativas. A reversão foi dramática do ponto de vista do imaginário social. Um despencar sem chão. A classe média teve massacrados seus sonhos do dia para noite. A resposta do desespero nunca é uma boa resposta. A resposta americana à crise não foi uma resposta progressista. Na verdade, está sendo de um conservadorismo apavorante. Forças e interesses poderosos alimentam essa regressividade. A tecnocracia do governo Obama teme tomar qualquer iniciativa que possa piorar o que já é muito ruim. Quanto vai durar essa agonia? Pode ser que a sociedade americana reaja daqui a alguns anos. Pode ser. Eles ainda são o país mais poderoso do mundo, diferente da Europa que perdeu tudo, dinheiro, poder, auto-estima... Mas vejo uma longa e penosa convalescença. Nesse vazio criado pelo dinheiro podre Obama flutua e viaja para o Brasil.

CM – Uma viagem cercada de efeitos especiais; a mídia quer demarcá-la como um divisor de águas de repactuação entre os dois países, depois do ‘estremecimento com Lula’. O que ela pode significar de fato para o futuro das relações bilaterais?

Conceição - Obama vem, sobretudo, tratar dos interesses norte-americanos. Petróleo, claramente, já que dependem de uma região rebelada, cada vez mais complexa e querem se livrar da dependência em relação ao óleo do Chávez. A política externa é um pouco o que sobrou para ele agir, ao menos simbolicamente.

CM – E o assento brasileiro no Conselho de Segurança?

Conceição - Obama poderá fazer uma cortesia de visitante, manifestar simpatia ao pleito brasileiro, mas, de novo, está acima do seu poder. Não depende dele. O Congresso republicano vetaria. Quase nada depende da vontade de Obama, ou dito melhor, a vontade de Obama quase não pesa nas questões cruciais. 

CM - Lula também enfrentou essa resistência esfericamente blindada, mas ganhou espaço e poder...

Conceição - Obama não é Lula e não tem as bases sociais que permitiriam a Lula negociar uma pax acomodatícia para avançar em várias direções. A base equivalente na sociedade americana, os imigrantes, os pobres, os latinos, os negros, em sua maioria nem votam e acima de tudo estão desorganizados. Não há contraponto à altura do bloco conservador, ao contrário do caso brasileiro. O que esse Obama de carne e osso poderia oferecer ao Brasil se não consegue concessões nem para si próprio? 

CM – A reconstrução japonesa, após a tragédia ainda inconclusa, poderia destravar a armadilha da liquidez que corrói a própria sociedade americana ? Sugar capitais promovendo um reordenamento capitalista, como especula Paul Krugman?

Conceição - A situação da economia mundial é tão complicada que dá margem a esse tipo de especulação. Como se uma nuvem atômica de dinheiro pudesse consertar uma nuvem atômica verdadeira. Não creio. Respeito o Krugman, mas não creio. O caminho é mais difícil. Trata-se de devolver a nuvem atômica de dinheiro para dentro do reator; é preciso regular o sistema, colocar freios na especulação, restringir o poder do dinheiro, da alta finança que hoje campeia hegemônica. É mais difícil do que um choque entre as duas nuvens. Ademais, o Japão eu conheço um pouco como funciona, sempre se reergueu com base em poupança própria; será assim também desta vez tão trágica. Os EUA por sua vez, ao contrário do que ocorreu na Segunda Guerra, quando eram os credores do mundo, hoje estão pendurados em papagaios com o resto do mundo –o Japão inclusive. O que eles poderiam fazer pela reconstrução se devem ao país devastado?

CM – Muitos economistas discordam que essa nuvem atômica de dinheiro seja responsável pela especulação, motivo de índices recordes de fome e de preços de alimentos em pleno século XXI. Qual a sua opinião?

Conceição - A economia mundial não está crescendo a ponto de justificar esses preços. Isso tem nome: o nome é especulação. Não se pode subestimar a capacidade da finança podre de engendra desordem. Não estamos falando de emissão primária de moeda por bancos centrais. Não é disso que se trata. É um avatar de moeda sem nenhum controle. Derivam de coisa nenhuma; derivativos de coisa nenhuma representam a morte da economia; uma nuvem nuclear de dinheiro contaminado e fora de controle da sociedade provoca tragédia onde toca. Isso descarnou Obama. 

É o motor do conservadorismo americano atual. Semeou na America do Norte uma sociedade mais conservadora do que a própria Inglaterra, algo inimaginável para alguém da minha idade. É um conservadorismo de bordel, que não conserva coisa nenhuma. É isso a aliança entre o moralismo republicano e a farra da finança especulativa. Os EUA se tornaram um gigante de barro podre. De pé causam desastres; se tombar faz mais estrago ainda. Então a convalescença será longa, longa e longa.

CM – Esse horizonte ameaça o Brasil?

Conceição - Quando estourou a crise de 2007/2008, falei para o Lula: - Que merda, nasci numa crise mundial, vou morrer em outra... Felizmente, o Brasil, graças ao poder de iniciativa do governo saiu-se muito bem. Estou moderadamente otimista quanto ao futuro do país. Mais otimista hoje do que no começo do próprio governo Lula, que herdou condições extremas, ao contrário da Dilma. Se não houver um acidente de percurso na cena externa, podemos ter um bom ciclo adiante.

CM – A inflação é a pedra no meio do caminho da Dilma, como dizem os ortodoxos?

Conceição - Meu temor não é a inflação, é o câmbio. Aliás, eu não entendo porque o nosso Banco Central continua subindo os juros, ainda que agora acene com alguma moderação. Mas foram subindo logo de cara! Num mundo encharcado de liquidez por todos os lados, o Brasil saiu na frente do planeta... Subimos os juros antes dos ricos, eles sim, em algum momento talvez tenham que enfrentar esse dilema inflacionário. Mas nós? Por que continuam a falar em subir os juros se não temos inflação fora de controle e a prioridade número um é o câmbio? Não entendo...

CM - Seria o caso de baixar as taxas?

Conceição - Baixar agora já não é mais suficiente. Nosso problema cambial não se resolve mais só com inteligência monetária. Meu medo é que a situação favorável aqui dentro e a super oferta de liquidez externa leve a um novo ciclo de endividamento. Não endividamento do setor público, como nos anos 80. Mas do setor privado que busca lá fora os recursos fartos e baratos, aumentando sua exposição ao risco externo. E quando os EUA subirem as taxas de juros, como ficam os endividados aqui? 

CM – Por que o governo hesita tanto em adotar algum controle cambial?

Conceição - Porque não é fácil. Você tem um tsunami de liquidez externa. Como impedir as empresas de pegarem dinheiro barato lá fora? Vai proibir? Isso acaba entrando por outros meios. Talvez tenhamos que implantar uma trava chilena. O ingresso de novos recursos fica vinculado a uma permanência mínima, que refreie a exposição e o endividamento. Mas isso não é matéria para discutir pelos jornais. É para ser feito. Decidir e fazer. 

CM - A senhora tem conversado com a Presidenta Dilma, com Lula?

Conceição - O governo está começando; é preciso dar um tempo ao tempo. Falei com Lula recentemente quando veio ao Rio. Acho que o Instituto dele está no rumo certo. Deve se debruçar sobre dois eixos fundamentais da nossa construção: a questão da democracia e a questão das políticas públicas. Torço para que o braço das políticas públicas tenha sede no Rio. O PT local precisa desse empurrão. E fica mais perto para participar.

Imprudência diplomática


Mauro Santayana


É preciso romper o silêncio da amabilidade para estranhar o pronunciamento público que o presidente Obama fará, da sacada do Teatro Municipal, diante da histórica Cinelândia. Afinal, é de se indagar por que a um chefe de Estado estrangeiro se permite realizar um comício – porque de comício se trata – em nosso país. Apesar das especulações, não se sabe o que ele pretende dizer exatamente aos brasileiros que, a convite da Embaixada dos Estados Unidos – é bom que se frise – irão se reunir em um local tão estreitamente vinculado ao sentimento nacionalista do nosso povo.


É da boa praxe das relações internacionais que os chefes de estado estrangeiros sejam recebidos no Parlamento e, por intermédio dos representantes da nação, se dirijam ao povo que eles visitam. Seria aceitável que Mr. Obama, a exemplo do que fez no Cairo, pronunciasse conferência em alguma universidade brasileira, como a USP ou a UNB, por exemplo. Ele poderia dizer o que pensa das relações entre os Estados Unidos e a América Latina, e seria de sua conveniência atualizar a Doutrina Monroe, dando-lhe  significado diferente daquele que lhe deu o presidente Ted Roosevelt, em 1904. Na mensagem que então enviou ao Congresso dos Estados Unidos, o  presidente declarou o direito de os Estados Unidos policiarem o mundo, ao mesmo tempo em que instruiu seus emissários à América Latina a se valerem do provérbio africano que recomenda falar macio, mas carregar um porrete grande.


Se a idéia desse ato público foi de Washington, deveríamos ter ponderado, com toda a elegância diplomática, a sua inconveniência. Se a sugestão partiu do Itamaraty ou do Planalto, devemos lamentar a imprudência. Com todos os seus méritos, a presidência Obama ainda não conseguiu amenizar o sentimento de animosidade de grande parte do povo brasileiro com relação aos Estados Unidos. Afinal, nossa memória guarda fatos como os golpes de 64, no Brasil, de 1973, no Chile, e ação ianque em El Salvador, em 1981, e as cenas de Guantánamo e Abu Ghraid.


O Rio de Janeiro é uma cidade singular, que, desde a noite das garrafadas, em 13 de março de 1831, costuma desatar seu inconformismo em protestos fortes. A Cinelândia, como outros já apontaram, é o local em que as tropas revolucionárias de 1930, chefiadas por Getúlio Vargas, amarraram seus cavalos no obelisco então ali existente. Depois do fim do Estado Novo, foi o lugar preferido das forças políticas nacionalistas e de esquerda, para os grandes comícios. A Cinelândia assistiu, da mesma forma, aos protestos históricos do povo carioca, quando do assassinato do estudante Edson Luis, ocorrido também em março (1968). Da Cinelândia partiu a passeata dos cem mil, no grande ato contra a ditadura militar, em 26 de junho do mesmo ano.


Não é, convenhamos,  lugar politicamente adequado para o pronunciamento público do presidente dos Estados Unidos. É ingenuidade não esperar manifestações de descontentamento contra a visita de Obama. Além disso – e é o mais grave – será difícil impedir que agentes provocadores, destacados pela extrema-direita dos Estados Unidos, atuem, a fim de criar perigosos incidentes durante o ato. Outra questão importante: a segurança mais próxima do presidente Obama será exercida por agentes norte-americanos, como é natural nessas visitas. Se houver qualquer incidente entre um guarda-costas de Obama e um cidadão brasileiro, as conseqüências serão inimagináveis.


Argumenta-se que não só Obama, como Kennedy, discursaram em público em Berlim. A situação é diferente. A Alemanha tem a sua soberania limitada pela derrota de 1945, e ainda hoje se encontra sob ocupação militar americana.             Finalmente, podemos perguntar se a presidente Dilma, ao visitar os Estados Unidos, poderá falar  diretamente aos novaiorquinos, em palanque armado  no Times Square.

O espectro Lula


16/03/2011

O anticomunismo é o ultimo refúgio das elites brasileiras em pânico. Cada vez que vêem seus interesses e seus privilégios em perigo, apelam para o expediente do “espectro do comunismo”. Foi em seu nome que se fizeram as piores coisas na história brasileira, incluído o golpe de 1964, perpetrado pelo suposto risco que o comunismo traria para a democracia, para instaurar a pior ditadura que o Brasil já conheceu.


Por que se apela de novo para o “espectro do comunismo”? Porque essas mesmas elites passaram do desespero ao desalento, ao verem seus candidatos serem derrotados pela terceira vez em seguida e se darem conta que o país – que sempre consideraram deles – escapar entre seus dedos.

O fantasma que assusta as elites dominantes se chama Lula. Conseguiram contorná-lo por muito tempo, até que o fracasso do presidente dos seus sonhos – FHC – acabou abrindo espaço para que Lula fosse eleito, em 2002.

Lula começou sob os olhares confiantes dos que consideravam que ele não seria capaz de controlar uma herança econômica de depressão profunda e prolongada, além de descontrole inflacionário, endividamento alto, déficits da balança comercial e de pagamentos, reservas baixas e cartas de compromisso assinadas com o FMI que comprometiam a soberania nacional e a possibilidade de fortalecer o Estado e desenvolver politicas sociais.

Em seguida, quando se deram contra das precauções com que o Lula assumia, passaram a atacá-lo por supostamente tomar de assalto o aparelho de Estado pelos partidos de esquerda, pelos sindicatos. Tentaram a derrubada do governo em 2005, mas ao temer as reações populares, trataram de deixá-lo sangrar até ser derrotado nas eleições de 2006.

Derrotados, o editor chefe de um dos jornais da direita dava murros na mesa enquanto andava, raivoso, em torno dela, na reunião do comitê de redação da empresa, gritando: “Onde é que nós erramos. Onde é que nós erramos?” (O mesmo personagem que tinha interpelado Lula em almoço na redação da sua empresa sobre como ele pensava governar o Brasil, se não sabia falar inglês?)

Tiveram que conviver com o Lula por dois mandatos e, pior (para eles), um presidente que foi recebendo apoios populares de forma crescente e inédita, na mesma medida em que a velha mídia perdia credibilidade e audiência. E passava a diminuir, pela primeira vez, a desigualdade que as elites tinham produzido como característica marcante do Brasil, rompendo com todos os dogmas que essa mesma elite jurava que eram inalteráveis.

O espectro que assusta as elites dominantes hoje, no Brasil, não é outro, senão o espectro Lula. O das camadas populares que passaram a ter seus direitos minimamente garantidos, que passam a ter consciência que um deles pode chegar a governar o Brasil e o faz de maneira incomparavelmente superior do que todos os anteriores representantes daquelas elites.

Lula tira o sono das elites e dos seus ventríloquos na velha mídia. Acreditaram nas pesquisas e se jogaram por inteiro atrás do seu candidato contra Dilma, até que tiveram que se ater à realidade de que o Brasil mudou - apesar deles. Resta-lhes acenar velhos fantasmas como o “espectro do comunismo”, quando o medo deles é do Lula, é medo do povo, é medo da democracia, é medo do Brasil.
Postado por Emir Sader às 11:35

Evolução da conquista através da música


Uma análise da evolução da relação de conquista e do amor do homem para a mulher, através das músicas que marcaram época. Não é saudosismo, mas vejam como os quarentões, cinquentões tratavam seus amores.
É por isso que de vez em quando vemos uma mulher nova enroscada no pescoço de um cinquentão.
Década de 30: Ele, de terno cinza e chapéu panamá, em frente à vila onde ela mora, canta:
"Tu és, divina e graciosa, estátua majestosa! Do amor por Deus esculturada.
És formada com o ardor da alma da mais linda flor, de mais ativo olor, na vida é a preferida pelo beija-flor...."
Década de 40: Ele ajeita seu relógio Pateck Philip na algibeira, escreve para Rádio Nacional e, manda oferecer a ela uma linda música: 
"A deusa da minha rua, tem os olhos onde a lua, costuma se embriagar. Nos seus olhos eu suponho, que o sol num dourado sonho, vai claridade buscar."
Década de 50: Ele pede ao cantor da boate que ofereça a ela a interpretação de uma bela bossa:
"Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça. É ela a menina que vem e que passa, no doce balanço a caminho do mar. Moça do corpo dourado, do sol de Ipanema. O teu balançado é mais que um poema. É a coisa mais linda que eu já vi passar."
Década de 60: Ele aparece na casa dela com um compacto simples embaixo do braço, ajeita a calça Lee e coloca na vitrola uma música papo firme: 
"Nem mesmo o céu, nem as estrelas, nem mesmo o mar e o infinito não é maior que o meu amor, nem mais bonito. Me desespero a procurar alguma forma de lhe falar, como é grande o meu amor por você...."
Década de 70: Ele chega em seu fusca, com roda tala larga, sacode o cabelão, abre porta pra mina entrar e bota uma melô jóia no toca-fitas: 
"Foi assim, como ver o mar, a primeira vez que os meus olhos se viram no teu olhar.... Quando eu mergulhei no azul do mar, sabia que era amor e vinha pra ficar...."
Década de 80: Ele telefona pra ela e deixa rolar um: 
"Fonte de mel, nos olhos de gueixa, Kabuki, máscara. Choque entre o azul e o cacho de acácias, luz das acácias, você é mãe do sol. Linda...."
Década de 90: Ele liga pra ela e deixa gravada uma música na secretária eletrônica: 
"Bem que se quis, depois de tudo ainda ser feliz. Mas já não há caminhos pra voltar. E o que é que a vida fez da nossa vida? O que é que a gente não faz por amor?"
Em 2001: Ele captura na internet um batidão legal e manda pra ela, por e-mail: 
"Tchutchuca! Vem aqui com o teu Tigrão. Vou te jogar na cama e te dar muita pressão! Eu vou passar cerol na mão, vou sim, vou sim! Eu vou te cortar na mão! Vou sim, vou sim! Vou aparar pela rabiola! Vou sim, vou sim"!
Em 2002: Ele manda um e-mail oferecendo uma música:
"Só as cachorras! Hu Hu Hu Hu Hu! As preparadas! Hu Hu Hu Hu! As poposudas! Hu Hu Hu Hu Hu!"
Em 2003: Ele oferece uma música no baile: 
"Pocotó pocotó pocotó...minha éguinha pocotó!
Em 2004: Ele a chama para dançar no meio da pista: 
"Ah! Que isso? Elas estão descontroladas! Ah! Que isso? Elas Estão descontroladas! Ela sobe, ela desce, ela da uma rodada, elas estão descontroladas!"
Em 2005: Ele resolve mandar um convite para ela, através da rádio: 
"Hoje é festa lá no meu apê, pode aparecer, vai rolar bunda lele!"
Em 2006: Ele a convida para curtir um baile ao som da música mais pedida e tocada no país: 
"Tô ficando atoladinha, tô ficando atoladinha, tô ficando atoladinha!!! Calma, calma foguetinha!!! Piriri Piriri Piriri, alguém ligou pra mim!"
Em 2010: Ele encosta com seu carro com o porta-malas cheio de som e no máximo volume: 
"Chapeuzinho pra onde você vai, diz aí menina que eu vou atrás. Pra que você quer saber? Eu sou o lobo mau, au, au Eu sou o lobo mau, au, au E o que você vai fazer? Vou te comer, vou te comer, vou te comer, Vou te comer, vou te comer, vou te comer, Vou te comer, vou te comer, vou te comer"
ONDE FOI QUE ERRAMOS?
SERÁ QUE AINDA É POSSÍVEL PIORAR?
Oxe, ainda falta o Reboletion e a do Super-Homem e a Mulher Maravilha...
Saudades dos Tons, dos Miltons, dos Gonzagas, dos Rauls, dos Caetanos, dos Djavans, dos Chicos...