A crescente possibilidade de a presidente Dilma Rousseff nomear Joaquim Levy como ministro da Fazenda gerou especulações sobre seu segundo governo que desafiam os fatos. Eis no que consiste o estardalhaço em torno dessa ainda hipotética, mas provável nomeação.
Ao longo de 3 anos, 10 meses e 25 dias, o governo Dilma foi acusado de tudo, menos de ortodoxia econômica. Muito pelo contrário: a administração da economia vem sendo acusada pela direita midiática de ser “bolivariana”, no mínimo.
Ainda que a crise econômica internacional venha a impor ajustes macro e microeconômicos menos desenvolvimentistas, cobrar que o governo Dilma não faça o que fariam Aécio Neves ou Marina Silva é, no mínimo, uma impropriedade.
Em primeiro lugar, ninguém ousará dizer que Dilma ou Levy darão “independência” ao Banco Central – o que, no frigir dos ovos, tratar-se-ia não de independência, mas de dependência do sistema financeiro, que passaria a mandar na economia.
Como acusar Dilma de pretender descumprir o programa econômico de governo que venceu a eleição presidencial se não se vislumbra tal possibilidade? Com base na provável indicação de Levy? É muito pouco.
O programa econômico de governo que Dilma apresentou ao longo da recém-terminada campanha eleitoral pregou, basicamente, ajustes na economia, sim. Ela disse com todas as letras, em vários debates, que faria os ajustes que se impõem, mas que, à diferença de Aécio ou Marina, faria paulatinamente, de forma a não gerar sacrifícios insuportáveis.
Dilma mandará seu ministro da Fazenda implantar ajustes monetário (juros) e fiscal (impostos) e cortes no orçamento, entre outros. Só que de uma forma menos dolorosa. E ela disse que faria isso durante a campanha. Está gravado em vários debates.
Só para refrescar algumas memórias: enquanto Armínio Fraga, durante a campanha, pregava “redução do papel dos bancos públicos na economia”, inclusive dizendo que não sabia se iria “sobrar muito” desses bancos, Dilma dizia que, em seu segundo mandato, as instituições continuariam tendo um papel importante.
Esses são apenas alguns pontos de tudo que Dilma prometeu durante a recente campanha eleitoral e que será lembrado aqui ao longo do tempo, inclusive para cobrar promessas.
Contudo, achar que Dilma acabará com o papel que os bancos públicos têm tido ou que promoverá um choque monetário ou fiscal do tamanho e com a velocidade com que Aécio ou Marina implantariam só porque seu novo ministro é de linha mais ortodoxa, vai uma longa distância.
O governo explica a quem quiser ouvir – e este Blog sugere que os críticos à esquerda busquem tal informação junto ao governo – que o papel de Levy será o de implantar as medidas necessárias de austeridade, mas que quem decidirá em que ritmo elas ocorrerão será Dilma.
E, mais uma vez, vale repetir que Dilma disse claramente, durante a campanha, que medidas de ajuste viriam, porém em ritmo e intensidade muito diferentes do que fariam seus adversários.
A proposta de Marina e Aécio era a de dar uma paulada na inflação e no ritmo da economia enquanto ambos criticavam o baixo crescimento dos últimos anos. Qualquer um deles no poder, porém, subiria fortemente os juros, provocando uma recessão profunda, e atribuiria o desastre ao governo anterior, com apoio da mídia.
A filosofia dessa gente é a de Maquiavel, de fazer a maldade toda de uma vez e as bondades em doses homeopáticas. Vimos isso ao longo dos dois governos Fernando Henrique Cardoso. A proposta de Dilma, porém, é muito diferente.
O governo fará as “maldades” em suportáveis doses homeopáticas, evitando forte aumento do desemprego e arrocho salarial, enquanto que as “bondades” serão feitas o quanto antes, mas dentro do possível.
Adeus, Maquiavel.
Dessa forma, evitar-se-á que milhões de empregos sejam perdidos, que os salários se tornem iníquos, que a economia sofra o tal “freio de arrumação” que integra as taras de dez entre dez neoliberais.
Onde está, portanto, o “estelionato eleitoral” sugerido por campanhas que pedem que Dilma cumpra o programa de governo com o qual venceu a eleição? Na nomeação de Levy? Bobagem.
Segundo o governo, Levy será o homem certo para apontar áreas vitais para corte, o que não quer dizer que tudo que detectar e apontar será encampado por quem decide: Dilma Rousseff. Ela determinará a velocidade e a intensidade dos ajustes. Levy dirá quais são.
As campanhas contrárias à indicação do dito “discípulo de Armínio Fraga” – carimbo que carece de materialidade – para a Fazenda são bem-intencionadas, mas carecem de memória sobre o que foi que Dilma prometeu durante a campanha eleitoral.
Para demonstrar como são injustas as acusações a Dilma, este Blog reproduz, abaixo, reportagem do Jornal Nacional sobre a nova libertação de escravos durante o governo dela. Quem promove tal feito não pode ser acusado dessa forma.