São
Paulo vai beber lodo: Agencia Nacional de Água adverte que os
derradeiros 200 bilhões de litros do volume morto da Cantareira
encontram-se disponíveis em meio ao lodo; 20 anos de gestão tucana em SP
não foram suficientes para obras que, em dois anos, evitariam o que se
prenuncia: paulistano vai beber lodo se não chover muito nas próximas
semanas
Leonardo
Meirelles, dono do laboratório Laboagen, biombo para atuação do doleiro
Alberto Youssef, afirma que outros políticos do PSDB, além do
presidente do partido, Sergio Guerra, receberam dinheiro desviado de
contratos da Petrobrás
Bola
de neve: Dilma reúne 30 mil pessoas em comício em Petrolina (PE),nesta
3ª feira; 40 mil em Goiana (PE) e 50 mil no fim da tarde em Recife, no
estado tido como ponta de lança de Aécio no Nordeste
Inflação
em descontrole? Taxa média no 1º governo FHC, 9,4%; média no 2º mandato
tucano, 8,7%; média no 1º governo Lula, 6,5%; média no 2º Lula, 5,2%;
média no 1º ciclo Dilma, 6,17% (Brasil Econômico)
Não
deixa de ser potencialmente devastador que quem acusa o PT de jogar o
país num mar de lama, agora só tenha 200 bilhões de litros de lodo a
oferecer ao povo
por: Saul Leblon
O depoimento do
diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu,
nesta 3ª feira, na Assembleia Legislativa de São Paulo, caiu como uma
bomba na reta final da campanha presidencial de 2014.
Ele disse
aquilo que o PSDB se recusa a admitir: restam apenas 200 bilhões de
litros do volume morto do sistema Cantareira, que provê boa parte da
água consumida na cidade.
Outros 300 bilhões/l de um total de 500 bi/l já foram acionados.
Mas o pior de tudo: a derradeira reserva de água da cidade encontra-se disponível na forma de lodo.
Dele terá que ser separada para acudir a sede paulistana caso não chova o suficiente no próximo verão.
Ainda que isso ocorra, as chances de São Paulo ficar à mercê do lodo no inverno de 2015 são significativas.
Corta
para a campanha eleitoral de Aécio Neves em que o estandarte da
eficiência tucana é martelado diuturnamente como um tridente contra
aquilo que se acusa de obras e planos nunca realizados por culpa da
(Aécio enche a boca e escande as sílabas) ‘má go-ver-nan-ça’.
Corta de volta para um fundo de represa com 200 bilhões de litros de lodo.
Essa
é a retribuição que o PSDB prepara para o colégio eleitoral em que seu
candidato Aécio Neves teve a mais expressiva votação no primeiro turno
da disputa de 2014.
Atribuir a ingratidão a São Pedro é um pedaço
da verdade, que vale tanto mais para a inflação, por exemplo, 'acima da
meta, segundo acusa o salvacionismo conservador.
Num sugestivo
contorcionismo eleitoral, seu candidato minimiza o impacto da seca no
custo dos alimentos, ao mesmo tempo em que apela à meteorologia para
abonar o colapso em marcha em São Paulo.
Ou isso ou aquilo?
A rigor muito mais aquilo.
Estocar
comida, que não grãos, caso do vilão tomate, por exemplo, está longe de
ser uma opção exequível em larga escala no enfrentamento de uma seca.
Mas estocar água e planejar dutos interligados a mananciais
alternativos, calculados para enfrentar situações limite, mesmo que de
ocorrência secular, é uma obrigação primária de quem tem a
responsabilidade pelo suprimento de grandes concentrações urbanas.
O custo de não fazê-lo é o caos,
Com as consequências imprevisíveis que agora assombram o horizonte dos cerca de 20 milhões de moradores da Grande São Paulo.
Não
por acaso, Nova Iorque e o seu entorno, com uma população bem inferior,
de nove milhões de habitantes, nunca parou de redimensionar a rede de
abastecimento de água, movida por uma regra básica de gestão na área:
expansão acima e à frente do crescimento populacional.
Tubulações
estendidas desde as montanhas de Catskill, situadas a cerca de 200 kms e
1200 m de altitude oferecem ao novaiorquino água pura, dispensada de
tratamento e acessível direto da torneira.
Terras e mananciais
distantes são periodicamente adquiridos pelos poderes públicos para
garantir a qualidade e novas fontes de reforço da oferta.
O
sistema de abastecimento de Nova York reúne três grandes reservatórios
que captam bacias hidrográficas preservadas em uma área de quase 2.000
km2.
A adutora original foi inaugurada em 1890; em 1916 começou a
funcionar outro ramal a leste da cidade; em 1945 foi concluída a obra
de captação a oeste, que garante 50% do consumo atual.
Mesmo com
folga na oferta e a excelente qualidade oferecida, um novo braço de 97
kms de extensão está sendo construído há 20 anos.
Para reforçar o abastecimento e prevenir colapsos em áreas de expansão prevista da metrópole.
Em 1993 foi concluída a primeira fase desse novo plano.
Em 1998 mais um trecho ficou pronto.
Em
2020, entra em operação um terceiro ramal em obras desde o final dos
anos 90.Seu objetivo é dar maior pressão ao conjunto do sistema e servir
como opção aos ramais de Delaware e Catskill, que estão longe de secar.
Uma quarta galeria percorrerá mais 14 kms para se superpor ao abastecimento atual do Bronx e Queens.
Tudo
isso destoa de forma superlativa da esférica omissão registrada em duas
décadas ininterruptas de gestão do PSDB no Estado de São Paulo, objeto
de crítica até de um relatório da ONU, contestado exclamativamente pelo
governador reeleito, Geraldo Alckmin.
Se em vez do mantra do
choque de gestão, os sucessivos governos de Covas, Ackmin, Serra e
Alckmin tivessem reconhecido o papel do planejamento público, São Paulo
hoje não estaria na iminência de beber lodo.
O Brasil todo
desidrata sob o maçarico de um evento climático extremo. Mas desde os
alertas ambientais dos anos 90 (a Rio 92, como indica o nome, aconteceu
no Brasil há 22 anos) essa é uma probabilidade que deveria estar no
monitor estratégico de governantes esclarecidos.
Definitivamente
não se inclui nessa categoria o tucanato brasileiro que em 2001 já havia
propiciado ao país um apagão de energia elétrica pela falta de obras e
renúncia deliberada ao planejamento público. Os mercados cuidariam disso
com mais eficiência e menor preço.
Ademais de imprevidente, o PSDB desta vez mostrou-se mefistofelicamente oportunista na mitigação dos seus próprios erros.
Ou
seja, preferiu comprometer o abastecimento futuro de 20 milhões de
pessoas, a adotar um racionamento que colocaria em risco o seu quinto
mandato em São Paulo.
Não conseguiria concluir a travessa sem a
cumplicidade da mídia conservadora que, mais uma vez, dispensou a um
descalabro tucano uma cobertura sóbria o suficiente para fingir isenção,
sem colocar em risco o continuísmo no estado.
É o roteiro pronto
de um filme de Costa Gavras: as interações entre o poder, a mídia, o
alarme ambiental e o colapso no abastecimento de água em uma das maiores
manchas urbanas do planeta.
Tudo sincronizado pelo cronômetro eleitoral da direita.
O
PSDB que hoje simula chiliques com o que acusa de ‘uso político da
água’, preferiu ao longo das últimas duas décadas privatizar a Sabesp,
vender suas ações nas bolsas dos EUA e priorizar o pagamento de
dividendos a investir em novos manaciais.
Mais um subtexto para o filme de Costa Gavras: a captura dos serviços essenciais pela lógica do capital financeiro.
Enquanto
coloca em risco o abastecimento de 20 milhões de pessoas, revelando-se
uma ameaça à população, a Sabesp foi eleita uma das empresas de maior
valorização na bolsa de Nova Iorque.
Não sem motivo: destina ¼ de
seu lucro à distribuição de dividendos à Internacional dos Acionistas,
para tomar emprestado uma alegoria do governador Tarso Genro.
Como
em um sistema hidráulico, o dinheiro que deveria financiar a expansão
do abastecimento, vazou no ralo da captura financeira.
"Como a
reserva fica no fundo, se a crise se acentuar, não haverá outra
alternativa a não ser ir no lodo e tirar essa água”, confirmou o diretor
presidente da agência nacional, no debate “A falta de água em São
Paulo”, realizada na ALESP.
As chances de uma chuva redentora que evite o indigesto desfecho são reduzidas, segundo os serviços de meteorologia.
Mesmo
que a pluviometria neste verão fique em 70% da média para a estação, o
sistema Cantareira --segundo os cálculos da ANA-- ingressará no segundo
trimestre de 2015 praticamente com 5% de estoque (hoje está com 3,2%).
Ou
seja chegará no início da estação seca de 2015 com a metade da reserva
que dispunha em abril deste ano; e muito perto da marca desesperadora
vivida agora, na antessala das chuvas de verão.
O lodo que espreita as goelas paulistanas não pode ser visto como uma fatalidade.
Dois
anos é o tempo médio calculado pelos especialistas para a realização de
obras que poderiam tirar São Paulo da lógica do lodo. Portanto, se ao
longo dos 20 anos de reinado tucano em São Paulo, o PSDB de FH e Aécio
Neves, tivesse dedicado 10% do tempo a planejar a provisão de água, nada
disso estaria acontecendo.
Infelizmente, deu-se o oposto. De
1980 para cá, a população de São Paulo mais que dobrou. A oferta se
manteve a mesma com avanços pontuais.
O choque de gestão tucano preferiu se concentrar em mananciais de maior liquidez, digamos assim.
Entre
eles, compartilhar os frutos das licitações do metrô de SP com
fornecedores de trens e equipamentos. A lambança comprovada e
documentada sugestivamente pela polícia suíça, até agora não gerou
nenhum abate de monta no poleiro dos bicos longos.
‘Todos soltos’, como diz a presidenta Dilma.
Lubrificada
pelo jeito tucano de licitar, a rede metroviária de São Paulo, embora
imune a desequilíbrios climáticos, de certa forma padece da mesma
incúria que hoje ameaça as caixas d’agua dos paulistanos.
O
salvacionismo tucano em São Paulo não conseguiu fazer mais que 1,9 km de
metrô em média por ano, reunindo assim uma rede inferior a 80 kms, a
menor entre as grandes capitais do mundo.
A da cidade do México, que começou a ser construída junto com a de São Paulo, tem 210 kms.
O
planejamento público que a ortodoxia abomina, ao lado do mercado
interno de massa que seus colunistas desdenham, representam, na verdade,
as duas grandes turbinas capazes de afrontar o contágio da estagnação
mundial no Brasil.
Tudo isso tem sido solenemente ignorado, quando não demonizado, pelo salvacionismo conservador nesta campanha presidencial.
O
mito da gestão tucana é o que de mais reluzente o discurso de Aécio
Neves tem a esgrimir para afrontar o que caracteriza como sendo um
Brasil aos cacos, após 12 anos de governo do PT.
As ironias da história podem ser demolidoras nessa reta final de campanha.
Não
deixa de ser potencialmente devastador que quem acusa o PT de jogar o
país num mar de lama, agora só tenha 200 bilhões de litros de lodo a
oferecer à população de SP para matar a sede.
É essa a garantia
de abastecimento de água na capital de um estado onde o festejado choque
de gestão está no poder há 20 anos. Ininterruptos.
O legado recomenda uma recidiva da receita para todo o Brasil?
Com a palavra o discernimento popular.
Bom voto.