Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Miriam Leitão incita Globo 'mensaleira' a devolver R$ 2,7 milhões recebidos via Valério

A colunista do jornal "O Globo" Miriam Leitão, aparentemente na ânsia de agradar seus patrões demotucanos, acabou de disparar um tiro no pé da empresa que a contrata, no melhor estilo "fogo amigo".
Na sua coluna de sábado (25), depois de torturar a lógica sobre os votos no julgamento do mensalão, com um bla bla bla repetido em série pelos demotucanos da Veja, e refutado pela prova dos autos, ela soltou a pérola:
(...) Não se pode imaginar que a SMPB e a DNA fossem corruptoras no Banco do Brasil e impolutas na Câmara dos Deputados, se em tudo os atos das empresas se assemelham. (...)
Ora, ora, então vamos deixar de "imaginar", como sugere Leitão, e vamos aos fatos: se o Contrato com a Câmara dos Deputados fosse ilícito, então a Globo tem que devolver aos cofres públicos os R$ 2,7 milhões que recebeu neste contrato, via agência de Marcos Valério.
Como provam os autos do processo, o contrato da DNA Propaganda com a Câmara dos Deputados teve os serviços executados, e do total de R$ 10,9 milhões, mais de R$ 7 milhões foram para pagar anúncios nas empresas de TV, rádios, jornais, revistas, etc.
A TV Globo foi quem mais bebeu na fonte desse dinheiro, recebendo da agência de Marcos Valério R$ 2,7 milhões só deste contrato. Outra boa parte da bolada foram para a TV a cabo do grupo (Globonews), o jornalão "O Globo", a Editora Globo (via revista Época) e TVs afiliadas da rede.
Assim, se a própria Globo chamou de "mensalão" o dinheiro desse e de outros contratos, logo a Globo é "mensaleira", por ter recebido dinheiro desse "mensalão", via Marcos Valério. E como o próprio salário de Miriam Leitão é pago a partir do bolo das receitas da Globo, caberia considerar se ela própria não acaba sendo, por tabela, "mensaleira".
Até uma criança entende o que Miriam finge não entender
Uma pessoa pode ter nove carnês atrasados e, por isso, ser chamada de caloteira, mas se ela tiver outro carnê em dia, ela não pode ser cobrada por este décimo carnê que está em dia. Só pode ser cobrada pelos outros 9 atrasados, por mais "caloteira" que a pessoa seja.
Da mesma forma, se as agências de Marcos Valério foram corruptoras na execução de um contrato no Banco do Brasil (BB), não significa que tenha sido em todos os outros contratos que teve, até porque, independentemente da honestidade ou não das pessoas, tem departamentos da administração pública com estrutura de fiscalização mais rigorosa que não deixam brechas para desvios, enquanto há outros que podem ter brechas, involuntárias ou não.

Mai uma vez , medinho.


A atriz global Regina Duarte ficou famosa, no mundo da política, ao participar do programa de tevê do candidato tucano José Serra nas eleições de 2002. No vídeo, em tom terrorista, ela afirmou que “estou com medo” da vitória de Lula. A apelativa peça publicitária não convenceu os brasileiros, que elegeram o líder operário. Desgastada, ela reduziu a sua participação nas campanhas do PSDB, mas não abandonou suas ideias reacionárias. Hoje ela é a garota propaganda dos latifundiários na luta contra os direitos dos povos indígenas.

"Garota propaganda" dos fazendeiros

Segundo o Centro de Estudos Ambientais, Regina Duarte é proprietária de terras em áreas pertencentes a comunidades indígenas no Mato Grosso do Sul, na faixa de fronteira entre Brasil e Paraguai. A região tem se destacado pelo aumento dos conflitos entre ricos pecuaristas e os índios Guarani Kaiowá e Guarani Ñhandeva, que vivem em barracos de lona nas estradas e lutam para reconquistar as suas terras. Nos últimos anos, 245 índios foram mortos em confrontos com fazendeiros, ou vítimas da polícia e do tráfico.
“Regina Duarte lidera o setor pecuarista contra os povos indígenas e participa de comícios contra as demarcações em todo Brasil. No Mato Grosso do Sul, ela é a ‘garota propaganda’ em campanhas contra os indígenas”, relata o blog União Campo, Cidade e Floresta. O jornalista Leonardo Sakamoto já havia feito a mesma denúncia em seu blog no UOL em maio de 2009. Reproduzo o título e alguns trechos:
A atriz global e pecuarista Regina Duarte, em discurso na abertura da 45ª Expoagro, em Dourados (MS), disse que está solidária com os produtores e lideranças rurais quanto à questão de demarcação de terras indígenas e quilombolas no estado.
“Confesso que em Dourados voltei a sentir medo”, afirmou a atriz, neste domingo (18), com referência à previsão de criação de novas reservas na região de Dourados. “O direito à propriedade é inalienável”, explicou ela, de forma curta, grossa e maravilhosamente elucidativa o que faz do BRASIL um brasil. Em verdade, ela deve estar sentindo medo desde a campanha presidencial de 2002…
(O deputado Ronaldo Caiado, principal defensor desses princípios, deveria cobrar royalties de Regina Duarte… Inalienáveis deveriam ser o direito à vida e à dignidade, mas terra vale mais que isso por aqui.)
“Podem contar comigo, da mesma forma que estive presentes nos momentos mais importantes da política brasileira.” Ela e o marido são criadores da raça Brahman em Barretos (SP).
A postura da atriz da Rede Globo talvez ajude a explicar o aumento da violência na região, conforme aponta o vídeo abaixo


Vargas e Wainer. Dilma é a próxima ?

Quem manda não fazer a Ley de Medios? Vargas, pelo menos, incentivou Wainer.


O Conversa Afiada reproduz da Carta Maior excelente artigo de Saul Leblon.

Quem manda não fazer a Ley de Medios ?

Vargas, pelo menos, incentivou Wainer.

Quem sabe o Instituto Moreira Salles não o ajudaria hoje, de novo ?

Ao Saul:

Notícias de agosto: de Vargas ao Mensalão



Há 58 anos, naquele 24 de agosto de 1954, quando Getúlio Vargas cometeu o suicídio político mais inteligente da história, um único veículo de informação pode circular pacificamente na cidade do Rio de Janeiro, então a capital de uma República em transe: o jornal Última Hora, de Samuel Wainer.

Os demais conheceram a fúria da multidão que trouxe a dor para a rua e extravazou um ressentimento que guardava no fundo do peito. E dele talvez nem tivesse consciência, até aquele momento.

Consternado com a notícia do suicídio que ecoava pelas rádios, o povo carioca perseguiu e escorraçou porta-vozes da oposição virulenta ao Presidente. A experiência da tragédia abalou o cimento da resignação cotidiana e a multidão elegeu seu alvo: cercou e depredou a sede da rádio Globo que saiu do ar.

A radiofonia reunia então um poder e abrangência equivalentes ou superior ao da televisão nos dias atuais. A emissora do jovem udenista Roberto Marinho cumpria o mesmo papel de âncora do diretório midiático que hoje desempenha o Jornal Nacional da mesma cepa.

Os veículos impressos, a exemplo do que também ocorre hoje,mantinham as aparências da legalidade.

Mesmo assim, carros de entrega do diário da família Marinho foram caçados, tombados e queimados nas vias públicas. Prédios de outros jornais que haviam aderido ao ultimato pela renúncia de Vargas conheceram a força da desaprovação popular.

Com a mesma manchete do dia anterior, atualizada pela fatalidade bombástica, os exemplares do Última Hora eram disputados nas esquinas por uma população desesperada e perplexa em seu luto.

A tiragem extra de 850 mil exemplares, providenciada a toque de caixa por Wainer que trabalhava febrilmente, sustentou a declaração desassombrada de Getúlio, pronunciada 24 horas antes. Agora, porém, revigorada pela mão de mestre do editor: “O presidente cumpriu a palavra -”Só morto sairei do Catete!”.

Nenhum outro jornal quis ou poderia estampar o recado de um morto que conduziu assim a alça do próprio caixão até o imaginário popular . E ali perpetuou a sua influência ainda inexcedível na história brasileira.

Vargas fora eleito três anos antes, em 3 de outubro de 1950, aos 67 anos de idade. Mais que uma vitória, fora uma afronta à esférica oposição das classes dominantes e ao boicote da grande mídia, vitaminados pela rejeição de intelectuais, vacinados contra a virulência e a censura do Estado Novo.

A campanha varguista rompeu o cerco percorrendo o país com uma frota de caminhões munidos de caixas de som. Em cada morada do voto fazia-se a ampla distribuição de panfletos. Neles, a promessa revolucionária de um Brasil nacionalista e de feição popular.

Vargas confirmou o carisma nas urnas. Foram quase 4 milhões de votos, contra pouco mais de 2 milhões do brigadeiro das elites, Eduardo Gomes.
A derrota, antes de aplacar açulou a esférica rejeição conservadora ao seu nome.

Premonitório, o Presidente incentivou Samuel Wainer , que conhecera como repórter dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, a criar um poderoso aparato de imprensa diária.

Queria pressa. Pediu a Wainer um antídoto ao que antevia como ‘um pacto de silêncio’ da grande mídia contra seu governo, que dele só trataria para denegrir.

Getúlio não era persecutório, mas visionário. E não desprezava os sinais, sobretudo os ostensivos.

Em 1950, quando admitiu em entrevista ao próprio Wainer que poderia ser candidato, Carlos Lacerda escreveu na Tribuna de Imprensa, em 1º de junho: “O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”.
O velho caudilho sabia o que o esperava no crepúsculo da volta ao poder.

Wainer montou uma empresa moderna, um jornal arrojado, com financiamento levantado junto um pool de bancos, entre eles o Banco do Brasile a Caixa Econômica Federal, mas também obteve recursos de casas privadas, através de Walter Moreira Salles.

Todas as empresas de comunicação da época eram de certa forma subsidiadas pelo crédito público. Com o Última Hora não foi diferente. Mas foi objeto de uma CPI.

Para desconcerto conservador o projeto de Wainer provou-se capaz de se pagar integralmente, graças ao sucesso estrondoso que acendeu a luz amarela no oligopólio midiático.

Wainer foi mais um acerto da intuição de Vargas. A primeira edição chegou às ruas menos de cinco meses depois da posse do presidente, quando o cerco oposicionista ainda não o sufocava.

Em 12 de junho de 1951, estavas nas esquinas do Rio e das principais capitais um diário inovador na forma e no conteúdo e fulminante logística de distribuição.

Deve-se ao Última Hora a tradição da coluna dos leitores no país. A cobertura de bairro até então indigente foi elevada à categoria de pauta nobre.A política era seu forte.Mas s receita editorial buscava o olhar da multidão urbana com uma mistura de colunistas de apelo popular, como Abelardo Barbosa , o futuro Chacrinha, ao lado de intelectuais sofisticados, a exemplo de Paulo Francis e do escritor Nelson Rodrigues.

Aos que criticavam o ‘getulismo’ do projeto, Wainer fazia questão de reafirmar a natureza de um conceito de independência que estarrrecia a elite e os endinheirados: somos um jornal independente porque de oposição às classes dominantes, e de apoio ao governo.

Não qualquer governo. O segundo Vargas. Aquele que criaria o BNDE (sem o ’s’ ainda) em 1952; a Petrobras em 1953, no auge da campanha ‘o petróleo é nosso’ , e anunciaria um aumento de 100% do salário mínimo no 1º de Maio de 1954.

Foi quando o Presidente já exausto pelo bombardeio oposicionista pronunciou talvez a sua mensagem mais importante. Mais até que o texto consagrado da carta testamento. De novo, então, foi o Última Hora que deu o destaque ao ensaio de despedida e de chamamento de um Getúlio que quatro meses depois atiraria contra o próprio peito para não ceder à pressão da mídia pela renúncia.

Ao lado de João Goulart, recém afastado do governo por pressão da UDN, mas coberto de elogios pelo Presidente, que lhe creditou a paternidade do reajuste, Vargas falou aos trabalhadores que lotavam o estádio do Vasco, em São Januário:

“A minha tarefa está terminando e a vossa apenas começa. O que já obtivestes ainda não é tudo. Resta ainda conquistar a plenitude dos direitos que vos são devidos e a satisfação das reivindicações impostas pelas necessidades (…) Como cidadãos, a vossa vontade pesará nas urnas. Como classe, podeis imprimir ao vosso sufrágio a força decisória do número. Constituí a maioria. Hoje estais com o governo. Amanhã sereis o governo”

Era uma rota de colisão incontornável.

Ao mesmo tempo em que espetara as estacas necessárias ao impulso industrializante da soberania nacional, com infraestreutura, restrições ao capital estrangeiro e expansão do mercado interno, o segundo governo Vargas indiretamente pavimentava a geometria do cerco de interesses que hoje, como ontem, se opõem a esse projeto. Estreitavam-se as linhas de ataque a sua volta; ordenadas –como previra– pela corneta da mídia.

O cacho de forças silenciadas na vitória esmagadora de 1950 preservara intacta sua sonoridade junto à opinião pública. A estridência de uma narrativa que parecia ubíqua só era afrontada pela Última Hora.

À medida em que a incontinência dos decibéis superava o comedimento das formalidades e contaminava todo aparato midiático conservador, o duelo tornava-se a cada dia mais desproporcional.

Um entorno latejante de suspeição, corrupção e impasse aderia à imagem do governo assim apregoada dia e noite.

A pressão atingiu seu auge naqueles dias finais de agosto.

Cinquenta e oito anos depois do tiro que sacudiu o país, o volume asfixiante do coro conservador ainda pode ser ouvido e aquilatado.

Basta potencializar – um pouco – o jogral da condenação sumária sentenciada em cada linha, título, nota, coluna, fotomontagens, capas, escaladas televisivas e radiofônicas que nutrem o noticiário sobre o julgamento do chamado ‘mensalão’.

O sociólogo Marcos Coimbra, presidente do Instituto de Pesquisas Vox Populi, em artigo recente, já mencionado nesta página, mensurou um pedaço dessa artilharia determinada a subordinar o discernimento da sociedade.

Nas quatro semanas até 13 de agosto, 65 mil textos foram publicados na imprensa sobre o “mensalão”.

“No Jornal Nacional da Globo para cada 10 segundos de cobertura neutra houve cerca de 1,5 mil negativos”, diz Coimbra.

Nas rádios, conectadas pela propriedade cruzada aos mesmos núcleos emissores, a pregação incessante é ainda mais desabrida e abusada –como naquele agosto de 1954.

O cerco promovido contra o PT atinge dimensões inéditas na asfixia a um partido político em regime democrático, na avaliação do governador Tarso Genro, em artigo recente na página de Carta Maior.

Entre um agosto e outro, algumas peças do paiol midiático permanecem. Outras se juntaram à tradição.Os personagens se renovam, mas o método se repete.

O arsenal udenista da suspeição e da condenação sumária, avesso ao contraditório, às provas e à isenção — despida do cinismo liberal da objetividade– forma um fio de continuidade que atravessa a régua desses 58 anos.

Compare-se alguns exemplos originários da mesma cepa de interesses, da mesma lógica inarredável, encadeiados com os mesmos propósito, formando um mesmo e único fio na linha do tempo:

Março de 54:

* A usina midiática de denúncias contra o governo Vargas lança uma bomba na praça . O escândalo da vez é a denúncia de que “os caudilhos populistas” Vargas e Perón (o peronismo era o chavismo da época)– planejavam um suposto “Pacto ABC” (Argentina –Brasil –Chile). A meta era “promover a integração sul-americana formando num arquipélago de repúblicas sindicais na região contra os EUA” (qualquer semelhança com a reação ao ingresso da Venezuela no Mercosul não é apenas coincidência)

* Carlos Lacerda, na Tribuna da Imprensa e na rádio Globo, e a Banda de Música da UDN no Congresso – um pouco como o jogral que hoje modula as vozes da turma da mídia “ética” – martelavam a denúncia incansavelmente.

* Um ex-ministro rompido com Getúlio aliou-se a Lacerda para oferecer “evidências” das negociações entre o Vargas e Perón.A inexistência de provas – exceto a menção genérica de Perón à uma aliança econômica regional — não demoveu a mídia que deu à fraude contornos de verdade inquestionável, independente dos fatos, das investigações e dos desmentidos.


Setembro de 1954:

* A dramaticidade do suicídio de Vargas em 24 de agosto iluminou o quadro político e incendiou a revolta popular contra o golpismo que recuou.Mas não cedeu. Em 16 de setembro lá estava Carlos Lacerda de volta novamente nos microfones da rádio Globo. O alvo agora era João Goulart, o herdeiro político do presidente morto, adversário certo da UDN no pleito de outubro de 1955. Na voz estridente do comentarista ‘convidado’ de diversos programas da emissora foi lida –’em primeira mão’– a “Carta Brandi”. Uma suposta correspondência entre Jango e o deputado argentino Antonio Brandi; segundo Lacerda, a prova “definitiva” da conspiração para implantar “uma república sindicalista no Brasil”.

* Na efervescência da guerra eleitoral, o escândalo levou o Exército a abrir inquérito imediatamente, enviando missão oficial a Buenos Aires para investigações. Conclusão oficial: tudo não passara de uma grosseira fraude, forjada e alimentada pela imprensa anti-getulista. Inútil.

* A exemplo dos que hoje sonegam às evidências contrárias o poder de mudar sentenças já pronunciadas pela mídia, Lacerda contratacou na Tribuna da Imprensa em outubro de 1955, um mês depois da derrota da UDN para JK e Jango: “(…) Se a carta não é verdadeira seu conteúdo está de acordo, mais ou menos, com o que se sabe da vida política do sr. Goulart…”

Qualquer semelhança com o malabarismo denuncista dos últimos anos não é mera coincidência.

O exemplo ilustrativo, a seguir, reúne autores, métodos veículos em plena ação nos dias que correm:

Março de 2005:

” Documentos secretos guardados nos arquivos da Abin informam que a narcoguerrilha colombiana Farc deu 5 milhões de dólares a candidatos petistas em 2002 .Nos arquivos da Agência Brasileira de Inteligência em Brasília há um conjunto de documentos cujo conteúdo é explosivo. Os papéis, guardados no centro de documentação da Abin, mostram ligações das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) com militantes petistas. O principal documento (…)informa que, no dia 13 de abril de 2002, (…) o padre Olivério Medina, que atua como uma espécie de embaixador das Farc no Brasil, fez um anúncio pecuniário. Disse aos presentes que sua organização guerrilheira estava fazendo uma doação de 5 milhões de dólares para a campanha eleitoral de candidatos petistas de sua predileção (…) Um agente da Abin,( NR: quem, Dadá, o repórter auxiliar de Policarpo & Cachoeira já em ação?) infiltrado na reunião, ouviu tudo, fez um informe a seus chefes, e assim chegou à Abin a primeira notícia de que as relações entre militantes esquerdistas, alguns deles petistas, e as Farc podem ter ultrapassado a mera simpatia ideológica e chegado ao pantanoso terreno financeiro. Sob a condição de não reproduzi-los nas páginas da revista, VEJA teve acesso a seis documentos da pasta que trata das relações entre as Farc e petistas simpatizantes do movimento.(autor: Policarpo Jr.; veículos: revista Veja, edição 1896; 16 de março de 2005. Título: ‘Laços explosivos’ )

Os mesmos objetivos, os mesmos métodos, a mesma elasticidade ética.

A solitária trincheira do ‘Última Hora’ não existe mais para rebatê-los.
O jornal foi comprado, sugestivamente, em plena ditadura Médici, em 1971, pela família Frias, que edita a Folha de São Paulo.

Descaracterizado em imprensa sensacionalista saiu de circulação nos anos 90. Do seu vazio brota hoje um ramo vigoroso, igualmente inovador na forma, no conteúdo e na agilidade: o jornalismo digital independente.

Juntando pedaços , porém, é impossível não temer o ectoplasma presente de Lacerda e do udenismo.

Egressos da surra histórica naquele agosto em que o Última Hora e seus leitores reescreveram a narrativa do país nas ruas, eles persistem no cerco ao Catete. A qualquer Catete que dentro tenha um homem público disposto a assumir a tarefa que o mais mítico de todos eles deixou inconclusa, porém agendada na advertência de um estampido que sacudiu o discernimento nacional na manhã de 24 de agosto de 1954.

Lewandowski está salvo ! Neolibelês (*) o ataca !

Caixa Dois no PiG (**) é assim: de petista é crime; de tucano, os fins justificam os meios.


Saiu na capa do Globo online:

Lewando… para onde?


O cerco a Lewandowski se fechou impiedosamente.

Na seção de (uma só) “Opinião” do Globo, ele apanha agora de um mestre do Neolibelismo (*), cuja profícua obra só não se compara à da Urubóloga, o maior de todos os pensadores neolibelistas (*) pátrios.

(Pena que ela, como o PSDB, se encaminhe para o fundo do poço.)

Trata-se de um economista/banqueiro, que, no passado, se notabilizou por formular “o programa de Governo” do notável político/empresário paulista Afif Domingues, que, um dia, aspirou à Presidência e, hoje, se basta com um assento com almofada na plateia tucana.

O notável economista/banqueiro atinge agora, provavelmente, o ápice de sua obra intelectual, porque escreve às segundas-feiras na página de (uma só) Opinião do Globo.

E, nesta segunda-feira, ele presta um grande serviço à causa merválica pigânica (**): como o Ataulfo Merval de Paiva está de folga, o economista/banqueiro resolve citá-lo infatigavelmente e começa assim:

“Preocupou-me bastante … a celebração do voto do Ministro Lewandowski pelos advogados dos réus. Lembrei-me da ‘dança da pizza’. … Os advogados dos réus festejaram o voto de Lewandowski como ‘uma vitória da tese do caixa Dois’, ‘uma nova corrente de pensamento que abre caminho para a absolvição’.”



Caixa Dois no PiG (**) é assim: de petista é crime; de tucano, os fins justificam os meios.
O Dr Luizinho não pode receber mensalão para votar no PT, sendo deputado líder do PT na Câmara.
Privataria, o Maior Caixa Dois da Humanidade (fora da Russia), ah !, isso pode !
Vamos supor, amigo navegante, que numa eleição presidencial o Padim Pade Cerra precisasse fulminar o Ciro Gomes.
Ele já tinha destruído a candidatura da Roseana Sarney, com a ajuda desinteressada do Marcelo Lunus Itagiba, e agora só faltava destruir o Ciro.
E, enfim, destruir o Lula.
Começa o horário eleitoral.
Cerra desaba sobre o Ciro um conjunto de baixarias.
Era preciso, rapidamente, fazer uma pesquisa que mostrasse o papel devastador do programa eleitoral do Cerra sobre a candidatura Ciro.
Vamos supor que o Datafalha e o Globope não tivessem condições de fazer isso no prazo necessário.
E que o Cerra tivesse corrido o chapéu.
É uma hipótese razoável.
Um grupo de empresários virtuosos, que jamais se embalariam numa “dança da pizza”, aceita participar da vaquinha e fulmina o Ciro.
Vamos supor, amigo navegante – e essa é uma suposição, como a Folha supõe que a Weber vá materializar o desejo da Dilma -, vamos supor que esse dinheiro da vaquinha não tenha sido contabilizado pelo Cerra na Justiça eleitoral.
Será um crime, ou os fins justificam os meios, amigo navegante ?
O Ministro Lewandowski pode ficar sossegado.
Os neolibelês (*), de uns tempos a essa parte, não ganham nem truco.




Paulo Henrique Amorim


(*) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.

(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

O “harakiri” eleitoral de Serra

A segunda-feira amanheceu com uma boa notícia para a população de São Paulo: pesquisa eleitoral do PT feita após o início do horário eleitoral no rádio e na televisão mostra que Celso Russomano ultrapassou José Serra muito acima da margem de erro, que o tucano despencou e que Fernando Haddad quase dobrou suas intenções de voto.
A pesquisa geral mostra que Russomano chegou a 32% das intenções de voto, Serra despencou para 19% e Haddad disparou para 13%. Todavia, entre os eleitores que assistiram ao menos a um programa eleitoral de cada candidato, o do PRB vai a 35%, o do PSDB a 19% e o do PT a 18%, empatando tecnicamente com o tucano.
Como já se disse incontáveis vezes nesta página, o que está causando essa reviravolta eleitoral na capital paulista é a situação caótica e insuportável da cidade. Uma das frases mais ouvidas em Sampa, hoje, é “Não vejo a hora de sair daqui”.
Em uma situação como essa, o que o paulistano espera dos candidatos a prefeito é que proponham mudanças de rumo. A administração Kassab é rejeitada por número crescente de paulistanos e tudo o que o eleitor quer é saber quem vai mudar mais radicalmente a governança da cidade.
A desidratação eleitoral de Serra que as pesquisas vêm mostrando se deve a opção do candidato tucano de assumir publicamente a responsabilidade pela desastrosa administração que ele mesmo legou aos paulistanos ao abandonar a prefeitura para se candidatar a governador em 2006 e ao apoiar a reeleição de Kassab em 2008.
Mas foi a partir do início do horário eleitoral no rádio e na televisão que Serra cometeu um verdadeiro harakiri político. Seu programa apresentou uma São Paulo em franco progresso para uma população que vê a cidade como uma desgraça em concreto e aço.
Pior ainda tem sido o tucano ignorar tudo que não funciona no governo que legou à cidade. Ao ignorar, em seu programa, os problemas que se amontoam na capital paulista e pregar a continuidade da gestão Kassab, caso seja eleito, Serra carimbou a si mesmo como a maior ameaça a alguma solução para uma situação insuportável que flagela a cidade.
Por outro lado, o melhor dos mundos para Sampa seria um segundo turno entre Haddad e Russomano, ainda que não se possa descartar um segundo turno entre este e o Serra ou entre o tucano e o petista. Mas um segundo turno entre Haddad e Russomano seria vencido pelo primeiro, com poucas dúvidas.
Russomano ainda se alimenta do desconhecimento do candidato do PT por um eleitorado majoritariamente petista que, sem saber para onde ir, está declarando voto na alternativa a Serra mais conhecida, o candidato do PRB. Haddad tem uma avenida pela frente para crescer.
Eleito alguém como Haddad, pode-se contar, primeiro, com uma aliança entre o governo federal e a prefeitura paulistana que a aliança entre esta e o governo do Estado de São Paulo não conseguiu produzir. O governador Geraldo Alckmin não tem ajudado a mitigar o desastre paulistano. Falta ver o que resultaria de uma aliança entre Haddad e Dilma.
A realidade é a de que, dada a dimensão dos problemas paulistanos, só o governo federal tem recursos para gerar algum resultado para o paulistano no médio prazo – porque, no curto prazo, só Deus para melhorar a vida da população de uma cidade que essa mesma população condenou ao eleger Serra em 2004.
Se tudo correr bem, a população paulistana entenderá que só a eleição de Fernando Haddad pode gerar uma parceria entre níveis de governo que ataque com celeridade e intensidade essa situação insustentável, ameaçadora, desoladora mesmo, que está fazendo a maioria dos paulistanos pensar em mudar de São Paulo.

Desmistificando o discurso da direita golpista, Auxílio reclusão

A nova dança da quadrilha na zona do Euro

 

O primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, pediu mais tempo para que seu governo honre os compromissos (os de pagamento e os políticos, de mais arrocho em cima de seu povo) em torno do novo capítulo dos pacotes de ajuda, de 130 bilhões de dólares, deflagrando uma nova “dança de quadrilhas” na Zona do Euro. Segundo Samaras, o abandono de seu país à própria sorte, provavelmente fora do Zona do Euro, provocaria uma crise de tal monta que o restante da Europa seria inundado por uma tsunami de e/imigrantes empobrecidos. O artigo é de Flávio Aguiar, direto de Berlim.

Berlim - O pedido do primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, por “mais tempo” (dois anos), para que seu governo honre os compromissos (os de pagamento e os políticos, de mais arrocho em cima de seu povo) em torno do novo capítulo dos pacotes de ajuda, de 130 bilhões de dólares, deflagrou uma nova “dança de quadrilhas” pela Zona do Euro afora.

Samaras veio a Berlim, depois foi para Paris, e parece disposto a cotinuar seu périplo europeu por outras capitais. É difícil dizer qual a “reação verdadeira” que suas viagens e seu pedido obtiveram. Os dançarinos dessa quadrilha financeira e política executam diferentes passos conforme a seção do público para que dançam no momento, se os floreios se dão no proscênio, no canto do palco, nos bastidores, nos camarins, numa telescopagem sem fim de seu processo dançativo. Ou passivo, dependendo do caso.

Comecemos pela periferia da periferia. Ou seja, pela Grécia. A Grécia recebe ameaças? Recebe. Mas seu governo também faz. A última ameaça que Samaris carrega – falando de boca fechada como um ventríloquo – é a de que o abandono de seu país à própria sorte, provavelmente fora do Zona do Euro, provocaria uma crise interna de tal monta que o restante da Europa seria inundado por uma tsunami de e/imigrantes empobrecidos. Tal ameaça é de tirar o sono de qualquer governante europeu, em geral já às voltas com imigrantes considerados “irregulares”, muçulmanos, norte-africanos, remanescentes do leste europeu, e assim por diante. Mas essa carta tem seu verso, onde se lê o pânico de Samaras diante de uma possível retirada ou expulsão do euro: perderia ele o coringa que o elegeu para o retorno à chefia de governo, a alardeada permanência na Zona do Euro. O que viria depois não se sabe, mas certamente o governo de Samaras desabaria como um castelo de cartas.

Passemos à periferia. Portugal, Espanha e Itália seguem atentamente o que vai acontecer com os pedidos, as pressões e asameaças de e sobre Samaras. Seu alvo não é tanto a questão grega em si, mas as rotas que serão abertas pelas resultantes. Essas rotas apontam para Mário Draghi, diretor presidente do Banco Central Europeu, que vem se mostrando cada vez mais disposto a intervir no mercado secundário de “bonds”, comprando a juro baixo os títulos das dívidas dos países quebrados ou em vias de quebrarem. Para aqueles países, mais eventualmente a Irlanda e Chipre, essa possibilidade soa como os sinos da salvação. Não que a partir daí (pelo menos nos três primeiros) esses governos estivessem dispostos a aliviar o fardo de seus povos, mas certamente isso facilitaria a vida dos estados em obter melhores condições de superávits primários, para seus bancos igualmente, e a aparência de que sua governança permanece estável, podendo eles se concentrar mais facilmente em comprimir ou suprimir direitos e invetimentos sociais.

Entretanto, passando ao centro, essa perspectiva acalentada por Madri, Lisboa e Roma e planejada por Draghi provoca azia, indigestão e malestar em Jens Weidmann, diretor do Banco Central Alemão e representante deste no BCE, o mais ardoroso opositor de qualquer intervenção deste diretamente no mercado financeiro e o mais empedernido defensor da ortoxia neolibê deste lado do Atlântico. Em declarações no domingo à Der Spiegel, Weidmann alertou que essa possibilidade poderia se transformar numa poderosa “droga viciante” no continente. Por quê? Porque facilitaria a vida para governos encalacrados que, assim, poderiam ter de fazer as propaladas “reformas estruturais” com o vigor necessário. É claro que isso aponta para a batalha do pensamento que Weidmann representa, que é o de aproveitar essa belíssima oportunidade que a crise oferece para reformar a Europa inteira, livrando-a dos pensamentos viciososos de Keynes, por exemplo.

De quebra, Weidmann sabe que a adoção da política agora antevista por Draghi representaria o seu isolamento definitivo no Conselho do BCE, que já está em curso. Neste caso, a dança da quadrilha se transformaria numa dança das cadeiras, e ele poderia muito bem perder a sua no BCE e quiçá, no BCA porque, por mais ortodoxo que seja, o governo alemão não se pode dar ao luxo de ter uma voz no BCE que fala para as paredes.

Continuando em Berlim, a chanceler Angela Merkel teve de fazer cara feia e falar grosso com Samaras, recusando qualquer prorrogação – pelo menos de momento (fica sempre essa entrelinha) – que facilite a vida em Atenas. É claro: existem amplos setores de seu governo, dispersos pela CDU, a CSU bávara, e o sempre descrito em inglês como “business frend” FDP que precisam mostrar ao eleitorado”, cujas retinas fatigadas estão sempre cobertas pela cortina de fumaça dos ortodoxos “planos de austeridade, que não vão facilitar as coisas para ninguém nesse “sul da Europa” ao mesmo tempo “perdulário e devedor”.

Porém, nas entrelinhas, a dança pode ser outra: dirigentes do próprio FDP reconheceram que, no caso de Samaras expor resultados ao invés de promessas, eles poderiam muito bem pensar em facilitar-lhe a permanência no poder – porque, no fim de contas, eles sabem que um governo como o do líder direitista na Grécia ainda é a melhor – senão a única opção interessante para os conservadores alemães.

Passando a uma outra periferia, o momento mostrou novamente que a áspera liderança de Berlim na Europa também passa por estremecimentos. O governo austríaco, através de seu chanceler Werner Faymann, normalmente dançando de acordo com a música germânica, desta vez desafinou, e declarou-se favorável a um alívio nos prazos para Atenas. É claro: uma queda de Atenas para fora da Arca de Noé do Euro, seria uma pequena catástrofe para os grandes (Alemanha, Holanda, Finlândia, até, em parte, a França), mas uma grande catástrofe para os pequenos, que sabe-se lá onde iriam parar (pelo menos seus governos) na maré de descontentamento e instabilidade geral que se seguiria na Europa.

Resta a esfinge parisiense, o Monsieur Normal, François Hollande. Ele mostrou-se também algo inflexível com Samaras. Mas suas razões podem ser inteiramente outras do que as de Merkel. Hollande está sempre a beira de contenciosos com a chanceler alemã. Samaras é uma boa oportunidade para demonstrar alguma aproximação. A solidariedade de Hollande vai sobretudo com o PS grego, e Samaras é uma pedra nesse caminho.

É um jogo arriscado, porque com Samaras o PS pode cair também, em favor do Syriza, ou então de uma nova força de direita que renasça das cinzas da Nova Democracia grega. Mas Hollande sabe, como todos os outros, que tem tempo. Nada de definitivo vai se decidir antes de meados de outubro, quando se reúne a cúpula da União Européia.

Até lá, muita quadrilha vai rolar. Quem sabe algumas cabeças.

NOTÍCIAS DE AGOSTO: DE VARGAS AO MENSALÃO

*STF: última semana de Cezar Peluso no Supremo cria expectativa em relação ao seu voto no julgamento do chamado mensalão**contestado por Ricardo Lewandowski em função de contas erradas, omissões sobre repasses a grandes grupos de comunicação e interpretações desprovidas de provas, Joaquim Barbosa faz hoje sua réplica (http://www.tvjustica.jus.br/) ** EUA batem recorde de venda de armamentos em 2011: mais de US$ 66 bi exportados, o triplo de 2010** principal destino: a 'democrática' Arábia Saudita (US$ 33,5 bi)






Há 58 anos, naquele 24 de agosto de 1954, quando Vargas cometeu o suicídio político mais inteligente da história, um único veículo de informação pode circular pacificamente na cidade do Rio de Janeiro, então a capital de uma República em transe: o jornal Última Hora, de Samuel Wainer. O projeto havia sido instigado pelo próprio Getúlio, logo após a vitória eleitoral esmagadora de 1950, conquistada à revelia de toda a mídia, com caminhões de som e panfletos. Vargas sabia o que o esperava e pediu pressa a Wainer, que colocou um diário moderno nas ruas cinco meses depois da posse. Consternada e enfurecida, a mesma população que disputava os exemplares do Última Hora naquela terça-feira fatídica, não hesitou em eleger o alvo oposto: cercou e depredou a sede da rádio Globo que saiu do ar. LEIA MAIS AQUI



Noam Chomsky: “Querem vencer Assange pelo cansaço”

Nesta entrevista ao site equatoriano GkillCity, o linguista e filósofo norte-americano defende que Assange não teria hipóteses de ter um julgamento justo nos Estados Unidos. Chomsky acrescenta que do ponto de vista de quem ama a democracia, o fundador do Wikileaks merecia "uma medalha de honra" em vez de um julgamento. "A sombra que paira sobre todo este assunto é a expectativa de que a Suécia envie rapidamente Assange para os EUA, onde as hipóteses de ele receber um julgamento justo são virtualmente zero".

O governo norte-americano emitiu uma nota em que declara que este assunto Julian Assange é um problema de britânicos, equatorianos e suecos. Você acha esse argumento honesto? Os EUA estão interessados no destino do criador do Wikileaks?

A declaração não pode ser levada a sério. A sombra que paira sobre todo este assunto é a expectativa de que a Suécia envie rapidamente Assange para os EUA, onde as hipóteses de ele receber um julgamento justo são virtualmente zero. Tudo isso é evidente a partir do tratamento brutal e ilegal dado a Bradley Manning [o soldado norte-americano acusado de ter vazado as informações mais importantes que o Wikileaks publicou], e a histeria geral com que o governo e os media vêm tratando o caso.

Além disso, do ponto de vista de quem acredita no direito dos cidadãos a saber o que seus governos planeiam e fazem – ou seja, de quem tem afeto pela democracia – Assange não deveria receber um julgamento, mas uma medalha de honra.

Numa entrevista com Amy Goodman para o Democracy Now!, você afirmou que a principal razão para os segredos mantidos pelos Estados é protegerem-se da sua própria população. É a primeira vez na história em que o mundo vê as verdadeiras cores da diplomacia?

Qualquer um que estuda documentos cujo prazo de sigilo expirou, percebe que o segredo é, em grande parte, um esforço para proteger os políticos dos seus próprios cidadãos – e não o país dos seus inimigos. Sem dúvida o segredo é por vezes justificado, mas é raro – e no caso dos documentos expostos pelo Wikileaks, eu não vi um único exemplo disto.

Esta não é – de maneira nenhuma – a primeira vez que as verdadeiras “cores da diplomacia” foram expostas por documentos divulgados. Os Pentagon papers são um caso famoso. Mas a questão é que se trata de um tema recorrente. As informações contidas inclusive nos documentos desclassificados oficialmente são, em geral, muito impressionantes. Porém, muito raramente estas informações tornam-se conhecidas pelo público – e até pela maior parte dos académicos.

Sobre o asilo oferecido pelo Equador para Assange, aponta-se uma ambiguidade na atitude do governo de Rafael Correa. Por um lado, manteria confronto retórico constante com os media (estando em disputa judicial com o diário El Universo e o jornalista Juan Carlos Calderón e Christian Zurita, autores do livro Big Brother). Por outro, defende Julian Assange. Você também vê uma contradição nisso?

Pessoalmente, acho que só em circunstâncias extremas o poder do Estado deveria limitar a liberdade de imprensa – não importando, a esse respeito, quão vergonhoso e corrupto seja o comportamento dos media. Não há dúvida que houve vários graves abusos – por exemplo, quando as leis de difamação inglesa foram usadas por uma grande empresa mediática para destruir um pequeno jornal dissidente, que publicou uma crítica a uma de suas notícias sobre um escândalo internacional. Ocorreu há alguns anos, e não despertou praticamente nenhuma critica.

O caso do Equador tem de ser analisado pelos seus méritos, mas qualquer que seja a conclusão, não há qualquer influência em dar asilo ao Assange; assim como a supressão vergonhosa da liberdade de imprensa, no caso que mencionei, não deveria pesar, se a Grã-Bretanha concedesse o direito de asilo a alguém que teme perseguição estatal. Nem ninguém afirmaria o contrário, no caso de um poderoso Estado ocidental.

Já que estamos falando de ambiguidade, haveria um duplo padrão na aplicação das leis pelos britânicos, já que no caso de Pinochet o pedido de extradição solicitado por Baltazar Garzón foi negado?

O padrão reinante é subordinado aos interesses de poder. Raramente há uma exceção.

Qual é, na sua opinião, o futuro imediato no caso Assange? A polícia britânica invadirá a embaixada equatoriana? Assange será capaz de deixar a Inglaterra? Mais tarde, estará em perigo, mesmo recebido pelo Equador?

Não há praticamente nenhuma possibilidade de Assange sair do Reino Unido, ou da embaixada. Duvido bastante que a Inglaterra invada o território, uma violação radical do direito internacional – mas esta hipótese não pode ser descartada. Vale a pena lembrar o ataque contra a embaixada do Vaticano, por forças norte-americanas, depois da invasão no Panamá, em 1989. As grandes potências normalmente consideram-se imunes à lei internacional; e as classes próximas ao poder costumam proteger essa postura. Ao meu ver, a Inglaterra tentará vencer Assange pelo cansaço, esperando que ele não consiga suportar o confinamento num pequeno quarto na embaixada.

Num aspecto mais amplo, Slavoj Zizek disse que não estamos a destruir o capitalismo, mas apenas a testemunhar como o sistema se destrói a si mesmo. Seriam os movimentos do Occupy, a crise financeira na Europa e nos EUA, a ascensão da América Latina e outros países marginais ou o caso Wikileaks sinais deste desmoronamento?

Longe disso. A crise financeira na Europa poderia ser resolvida, mas está a ser usada como uma alavanca para minar o contrato social europeu. É basicamente um caso de guerra de classes. A atuação do banco central dos EUA (o Federal Reserve) é melhor do que a do europeu, mas é muito limitada. Outras medidas poderiam aliviar a grave crise no EUA, principalmente o desemprego. Para a maior parte da população, o desemprego é a principal preocupação, mas para as instituições financeiras, que dominam a economia e o sistema político, o interesse está em limitar o déficit, para permitir que prossiga o pagamento de juros.

Em geral, há um enorme abismo entre a vontade pública e política. Este é apenas um caso. A ascensão da América Latina é um fenómeno de grande significado histórico, mas está longe de estremecer o sistema capitalista. Embora o Wikileaks e os movimentos Occupy sejam irritantes para os que estão no poder – e um grande apoio para o bem público –, não são uma ameaça para os poderes dominantes.

(*) Entrevista por José Maria León, publicada no site Gkillcity | Tradução: Cauê Ameni, para o site Outras Palavras.


Em 3 linhas, Folha ofende Dilma, Weber e o leitor

A Folha diz qualquer coisa de um lado só. É uma leviandade – para ser gentil – com método, diria o Hamlet.

Saiu na Folha (*):

JARDIM 2


O voto de Rosa (Weber), mesmo contra a sua vontade, será traduzido como o empenho (ou a falta dele) de Dilma pela absolvição de réus. Recém-nomeada para o STF, a ministra é amiga pessoal da família da presidente.


Portanto, segundo a Folha (*), a Presidenta do Brasil nomeou ministra porque é “amiga pessoal da família da presidente”.
Segundo, Dilma é quem vota por ministros do Supremo.
E, portanto, ministros do Supremo são títeres.
Claro, isso só seria possível no chiqueiro em que a Folha (*) habita.
Em tempo:
Diz amiga navegante: é assim mesmo, a Folha (*) é capaz de dizer qualquer coisa.
Não, responde o ansioso blogueiro.
A Folha diz qualquer coisa de um lado só.
Vê se essa colonista (**) diz uma coisa dessas com impacto no outro lado.
É uma leviandade – para ser gentil – com método, diria o Hamlet.




Paulo Henrique Amorim


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a  Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta  costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse  pessoal aí.

Quanto mais rico, pior

O título do texto não é só uma provocação e um exagero completo. Agora mesmo surgiu indício científico de que o dinheiro, ao invés de tornar a pessoa melhor, freqüentemente pode torná-la bem pior – ao menos do ponto de vista intelectual.
Muitos ficarão surpresos. Ora, como o dinheiro pode tornar alguém mais burro se permite ao endinheirado pagar por educação de melhor qualidade?
Burrice e inteligência são conceitos vagos. Quem já não julgou “burro” alguém com enorme bagagem de diplomas acadêmicos? Quem já não se espantou com a sagacidade e com a clarividência de alguém sem instrução formal e de origem pobre?
Em termos de inteligência política, ao menos, ter dinheiro parece danoso. É o que mostra pesquisa Datafolha recém divulgada pelo jornal Folha de São Paulo. A sondagem quis saber a opinião do eleitor sobre o horário eleitoral na TV e no rádio.
Apesar de o Datafolha mostrar que 64% dos paulistanos apóiam a propaganda eleitoral “gratuita” nos meios eletrônicos e que apenas 32% querem que seja extinta, entre os que têm renda acima de dez salários mínimos o percentual contrário à propaganda chega a 43%.
Ao ler sobre essa pesquisa me veio à mente um amigo que tem instrução formal e muita grana no banco, sem falar do vasto patrimônio. Para ele, política é uma brincadeira, um fla-flu. Discute o assunto seriíssimo sem qualquer compromisso com a seriedade.
Como quase todo paulistano de classe média alta, esse amigo é antipetista até a raiz dos cabelos – meu filho é mesário há várias eleições em um bairro desse estrato social e relata que, ali, a direita costuma ganhar com até 90% dos votos. Serra, em 2010, teve 93%.
Até aí, tudo bem. Por óbvio, não se sugere, aqui, que só quem tem inteligência política são os simpatizantes do PT. O problema do sujeito é outro, é o seu descompromisso com fatos e com a seriedade que o assunto requer.
Anda sempre com um jornal da direita midiática a tiracolo (Estadão ou Jornal da Tarde ou Folha de São Paulo), quando não carrega a Veja. Sai por aí vomitando acusações contra o PT e, quando perguntado se não vê corrupção nos partidos que apóia, muda de assunto.
Liguei para o amigo após ler a tal pesquisa Datafolha. Perguntei, sem falar da pesquisa, sua opinião sobre o horário eleitoral. A resposta era previsível: quer acabar com ele, pois decide seu voto pela orientação que recebe da “imprensa”.
Perguntei se não era melhor, então, acabar com as eleições e delegar à imprensa a prerrogativa de escolher parlamentares e chefes do poder Executivo (prefeitos, governadores e presidentes). A resposta foi a de que “Até que não seria má idéia”.
Poucos dias antes, o amigo foi me visitar em meu escritório. Já entrou cantarolando o jingle de José Serra. Fitei-o demoradamente enquanto refletia sobre sua postura. Decidi ir mais fundo em seu ideário político.
Quis saber se estava satisfeito com São Paulo. Respondeu que adora a cidade. Expliquei que não me referia a isso, que o que perguntara fora se estava satisfeito com a administração da cidade. Resposta: “No meu bairro, sim”.
Então lhe perguntei se achava que os outros bairros estão bons. Respondeu-me que os da periferia continuam uma porcaria, mas que, para ele, o que interessa é onde vive.
Decidi, então, aferir seus conhecimentos sobre seu próprio bairro – de fato, um bairro dito nobre.
Quis saber sobre a limpeza. Começou dizendo que era boa. Como meu escritório fica no bairro em que mora, pedi que viesse à janela e lhe mostrei a rua emporcalhada. A resposta foi a esperada: a sujeira em seu bairro “maravilhoso” é culpa da “baianada”.
Então perguntei sobre a educação pública. Respondeu que nunca precisou da educação pública para os seus filhos, apesar de ter estudado em escola pública. Mas como tem mais de sessenta anos, cursou-a à época em que servia a poucos, mas tinha qualidade.
Agora, pergunto sobre a saúde pública. A resposta é a de que nunca precisou de saúde pública e que seu plano de saúde familiar é “top de linha” – paga inacreditáveis 3,7 mil reais por um plano de saúde para si, a mulher e duas filhas.
E a segurança pública em São Paulo, é boa? Claro que sim. Só não é melhor por culpa de quem mesmo? Adivinhe, leitor, se puder…
Pergunto como a segurança pode ser boa se a sua casa parece um campo de concentração – fica em uma vila particular em que um portão enorme fecha o espaço público, além de grades, fios elétricos e câmeras por toda parte. Mais uma vez, a “baianada” levou a culpa.
Burrice, preconceito, irresponsabilidade… Tudo isso na boca de um ex-juiz do Trabalho, contador formado e que tem conta bancária com quase sete dígitos. Que desculpa tem esse homem para suas opiniões cretinas?
É tudo bem simples: vivemos em um país que está entre os 12 mais socialmente desiguais em um planeta que tem cerca de duas centenas de países. Essa minúscula elite que concentra renda, como ficou demonstrado acima, não precisa do Estado.
Criou-se, entre esse segmento microscópico – e influente – da sociedade, uma fé fervorosa no mais legítimo fascismo. Quer, no mínimo, deportar os nordestinos excedentes aos que necessita como empregados domésticos, garçons, manobristas, porteiros etc.
Alguns devem ter visto, aliás, entrevista que uma socialite chamada Anna Maria Corsi deu à mesma Folha de São Paulo, entre outras congêneres que também se manifestaram. A mulher disse, com todas as letras, o que afirmo no parágrafo anterior.
A mesma coisa é o meu amigo supracitado – que é infinitamente menos rico, mas igualmente preconceituoso. Aliás, mais radical, pois prega que coloquem todos os nordestinos “no paredão” e “passem fogo”.
“Horário eleitoral pra quê?”, diz o amigo reacionário. Segundo ele, os jornais já dizem quem é o candidato que “vai defender a gente dos comunistas que querem dar aos baianos indolentes o que conseguimos com nosso suor”.
Quis perguntar como ele pode ter “suado” para conseguir seu patrimônio se herdou tudo do pai, mas desisti. Vivo em um bairro de classe média alta – apesar de não ser dessa classe – e não posso brigar com a vizinhança toda.

A ‘redenção’ de Joaquim Barbosa

Acabo de ler mais um dos incontáveis textos de “colunistas” do consórcio demo-tucano-midiático paridos após o ministro do STF Ricardo Lewandowski ter inocentado o petista e ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha, contrariando o relator do processo do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, que votou por sua condenação.
Entre outras reflexões, desanima a previsibilidade que vai se comprovando sobre o que diriam esses “colunistas” sobre os votos antagônicos dos dois juízes. A última coluna que li foi de Miriam Leitão, que, como todos os seus congêneres na grande mídia, por óbvio deu razão a Barbosa.
Outra reflexão, que é a que orienta este texto, versou sobre a “redenção” de Barbosa na mídia que a sua posição sobre o mensalão, desde o início alinhada ao que ela quer, está lhe proporcionando agora, após ter sido alvo midiático por tanto tempo.
A maledicência midiática contra Barbosa teve início já em 2003, quando de sua nomeação como ministro do STF pelo então recém-empossado presidente Lula. Os mesmos “colunistas” insinuavam que o juiz chegara aonde chegara simplesmente por ser negro.
Segundo diziam aquelas más línguas, Lula queria um negro – qualquer negro – para a vaga que surgira naquela Corte e Barbosa era o que havia à mão. Como sempre ocorreu quando o ex-presidente deu oportunidades a negros – fosse no ensino superior, fosse na Suprema Corte –, eclodiu todo um discurso midiático sobre “meritocracia”, à qual o escolhido não faria jus.
Nos anos seguintes, as militâncias midiática e governista travariam, sobretudo na internet, um furioso embate sobre Barbosa. Governistas defenderiam a belíssima história de vida de um negro pobre, filho de pedreiro, e a mídia oposicionista diria que sua escolha fora “política”, como se as de todos os juízes do STF não fossem.
Barbosa, porém, fez por merecer o cargo de ministro do STF. Aos 16 anos, saiu de casa. Foi viver em Brasília, onde arranjou emprego na gráfica do jornal Correio Brasiliense e estudou em colégio público. Chegou à universidade e ao bacharelado em Direito na Universidade de Brasília, onde obteve seu mestrado em Direito do Estado.
Barbosa também foi Oficial de Chancelaria do Ministério das Relações Exteriores (1976-1979), tendo servido na Embaixada do Brasil em Helsinki, Finlândia, e depois foi advogado do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) (1979-84).
Prestou concurso público para procurador da República e foi aprovado. Licenciou-se do cargo e foi estudar na França por quatro anos, tendo obtido mestrado e doutorado pela Universidade de Paris em 1990 e 1993.
Retornou ao cargo de procurador no Rio de Janeiro. Foi professor concursado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Foi visiting scholar no Human Rights Institute da faculdade de direito da Universidade Columbia em Nova York (1999 a 2000) e na Universidade da Califórnia Los Angeles School of Law (2002 a 2003).
Fez estudos complementares de idiomas estrangeiros no Brasil, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Áustria e na Alemanha. É fluente em francês, inglês, alemão e espanhol. Toca piano e violino desde os 16 anos de idade.
Ufa! É uma trajetória de tirar o fôlego. Ainda assim, ao ser indicado para o STF – uma corte para a qual as indicações têm menos que ver com o currículo do indicado do que com as conveniências políticas de quem indica –, só o que a mídia enxergou foi “populismo” de Lula, que o teria escolhido “só por ser negro”.
Os anos foram se passando e Barbosa continuou sendo alvo de narizes torcidos da elite midiática, sendo visto por ela como “o juiz negro de Lula”.
Essa situação se agravou em abril de 2009 durante sessão do STF que analisava uma lei paranaense que estendia a aposentadoria do setor público a funcionários de cartórios. Naquela oportunidade, Barbosa se desentendeu com o juiz “da oposição”, Gilmar Mendes.
Diga-se que os dois juízes já vinham se estranhando devido aos habeas corpus “cangurus” que Mendes dera a Daniel Dantas nas horas mortas da madrugada, e devido à perseguição do juiz “tucano” ao juiz Fausto de Sanctis e ao delegado da operação Satiagraha Protógenes Queiroz, condutas de Mendes que Barbosa criticava duramente.
A discussão entre os dois juízes foi duríssima e permaneceu por semanas a fio no noticiário. E, claro, confirmando a previsibilidade de viés que ressurge agora na disputa retórica entre o relator do inquérito do mensalão, o mesmo Joaquim Barbosa, e o revisor, Ricardo Lewandowski. Todavia, à diferença de hoje, àquela época a mídia tomou partido do adversário do juiz negro.
Editoriais e colunas dos grandes jornais e os blogs e sites da grande mídia na internet praticamente trucidaram Barbosa. Na imprensa paulista, por exemplo, Folha de São Paulo, Estadão e Veja saíram, furiosamente, em defesa de Gilmar Mendes contra Joaquim Barbosa.
Em 24 de abril de 2009, a Folha publica o editorial “Altercação no STF”. O previsível editorial, já no primeiro parágrafo, demonstrava a que vinha:
O ministro Joaquim Barbosa excedeu-se na áspera discussão travada anteontem com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. Não se justificam os argumentos “ad hominem” e a linguagem desabrida empregada por Barbosa em sessão aberta na mais alta corte brasileira (…)”
No mesmo dia, o Estadão, sempre mais passional, partiu para o insulto em editorial sob o título “Falta de compostura”:
“(…) Na sessão de quarta-feira, durante o julgamento de um recurso do governo do Paraná contra decisão do STF, que em 2006 considerou inconstitucional a lei que criou o fundo de previdência do Estado, o ministro Joaquim Barbosa, que dialogava com o presidente da Corte, Gilmar Mendes, perdeu a compostura (…)”
Na coluna de Eliane Cantanhêde, na Folha, tudo no Day After da “altercação” entre Barbosa e Mendes, não foi diferente:
“(…)Era uma discussão técnica qualquer, os dois (Barbosa e Mendes) se desentenderam e Barbosa perdeu a compostura (…)”
No blog de Reinaldo Azevedo, no portal da revista Veja, o pitbull da publicação repisa a questão racial em relação a Joaquim Barbosa:
“(…) Eu tenho verdadeiro horror, asco mesmo, de quem costuma reivindicar o lugar do oprimido (…)”
Os anos foram se passando e Barbosa acabou ficando com a relatoria do inquérito do mensalão. A partir dali, quando foi ficando claro que o fato de ter sido indicado por Lula não estava pesando no viés que assumira em relação ao caso, o discurso midiático contra si foi sendo abrandado, chegando, hoje, a se tornar o novo queridinho da mídia no STF.
Uma coisa é certa: a conduta de Barbosa no âmbito do inquérito do mensalão lhe valeu “redenção” na mídia. De juiz que chegara ao STF pelo único “mérito” de ser negro e de “juiz de Lula”, converteu-se em profundo conhecedor da lei e exemplo de “isenção” – sem, por óbvio, a ressalva de que o mérito de nomear um juiz “isento” é de Lula.
Joaquim Barbosa é um vencedor. Sua trajetória, antes empanada por acusações de cunho racial na mídia, não encontra mais óbices. A postura que adotou no julgamento do mensalão quebrou as resistências que a cor de sua pele sempre lhe gerou entre uma elite que agora o idolatra e defende, ao menos enquanto lhe for útil.