Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 16 de maio de 2011

O perigoso mito da solvência dos bancos


Há uma falácia em uso segundo a qual o sistema bancário internacional estaria numa situação de perfeita solvência, enfrentando apenas um problema temporário de liquidez gerado pelo mau funcionamento dos mercados. Com o tempo, os mecanismos de mercado restaurariam o real valor dos ativos “herdados” e a economia caminharia para a recuperação. É um absurdo. O volume de dívida privada segue muito alto, o emprego segue caindo e a inadimplência e os despejos crescendo. Muitas entidades financeiras são insolventes sem esperança, portadores de uma multidão de papéis podres que não valem nada. O artigo é de Marshall Auerback.

Os bancos provavelmente terão demasiada liquidez até 2019 por culpa das regras de Basileia III para o sistema bancário global, sustentou o executivo chefe da União Bancária Suíça, Oswald Grübel, na semana passada. “Nos próximos dez anos, até o final de 2019, teremos bancos super capitalizados, com excesso de liquidez”, disse Grubel para uma plateia composta de homens de negócios em uma convenção. “No entanto, isso significa também que não haverá crescimento”. O senhor Grubel refletia sobre as mudanças no equilíbrio global de poder e sobre as possíveis consequências dessas mudanças. O alto executivo financeiro disse que a banca de investimentos poderia terminar se deslocando para os Estados Unidos e a Ásia se a Inglaterra e a Suíça seguirem exigindo fundos de capital próprio cada vez maiores. Mas o princípio econômico básico segue sendo o mesmo: “o poder vai para onde está o dinheiro”, disse.

Tudo isso está em sintonia estupenda com a falácia segundo a qual os bancos são basicamente solventes e seriam capazes de aumentar o crédito, se todos esses malditos reguladores públicos saíssem de cena. Como bem argumentou James Galbraith, toda essa gente acredita que o problema da banca financeira se reduz a um que outro encanamento obstruído. Um pouco de solvente em forma de ajudas e garantias públicas bastaria para fazer o crédito voltar a fluir normalmente. A maioria dos grandes bancos não seria insolvente, diz-se, e teria apenas um problema temporário de liquidez gerado pelo mau funcionamento dos mercados financeiros. Com o tempo, os mecanismos de mercado restaurariam o verdadeiro valor dos ativos “herdados”. E uma vez recobrada a saúde dos bancos, a economia toda caminharia para a recuperação.

Um absurdo. As cargas da dívida privada seguem sendo demasiado altas, o emprego segue caindo, e a inadimplência e os despejos seguem aumentando. Os ativos estão super valorizados mesmo com os preços deprimidos atuais. Muitas entidades financeiras (entre as quais se incluem, muito provavelmente, as maiores) são insolventes sem esperança, portadoras de uma multidão de papéis podres que jamais valerão nada.

Assim, portanto, por que estamos nos esforçando para implementar políticas que não fazem outra coisa que manter uma economia fundada no crédito? Aqueles que tomam decisões políticas no mundo seguem alimentando por toda parte a ficção de que se trata apenas de um problema de falta de liquidez temporária e não, como é o caso, de um problema de alavancagem excessiva, de endividamento excessivo e de alguns ativos herdados incrivelmente sobrevalorizados, baseados em alguns cenários econômicos acontecerão. Dadas as premissas erradas utilizadas pelos tomadores de decisões nos EUA, na Inglaterra e na Eurozona para lidar com a alavancagem das entidades financeiras, resulta óbvio que os problemas seguiram agravando-se se os governos não mudarem seu curso de ação. Isso redundará em uma restrição da capacidade de recuperação econômica mundial, trazendo consigo uma miríade de “décadas perdidas” de estilo japonês por todo o planeta.

Todo o boom econômico dos últimos 25 anos se baseou na desregulamentação financeira, na fraude massiva e em uma imensa acumulação de dívida privada, consequência de uma política fiscal incapaz de gerar pleno emprego e receitas crescentes. O crescimento se baseou no empréstimo ás famílias e na persistência de tendências de poupança negativa (ou seja, no crescimento da dívida das famílias). Por conseguinte, um bom ponto de partida para os esforços de recuperação seria mudar este método de crescimento econômico: promover o emprego em vez de capitular ante os cantos de sereia de alguns banqueiros, cuja falta de escrúpulos nos meteu nesta situação.

Em um mundo muito mais saudável, já teríamos sido arrastados pelo impulso de um gigantesco investimento público, ao estilo do que já ocorreu por ocasião da corrida espacial ou do Projeto Manhattan, para desenvolver novas tecnologias energéticas, ampliando a produtividade e a inovação, rebaixando assim os custos por unidade. Seria preciso também um esforço articulado para garantir as novas infraestruturas que são necessárias. (Cabe lembrar que as autoestradas foram construídas, em parte, por razões de defesa nacional e as ferrovias e canais foram parcialmente subsidiadas com dinheiro público). Mas com as colossais quantidades de dinheiro destinadas às campanhas eleitorais, não se pode confiar que um tal esforço público possa receber apoios significativos, tampouco de uma cidadania fragmentada e convertida em uma coleção de consumidores ansiosos. Os fundamentalistas da austeridade do déficit não conseguem compreender que o déficit orçamentário é essencial para o crescimento econômico estável, e que a contribuição do saldo comercial da balança de pagamentos – a diferença entre exportações e importações – não basta para sustentar a demanda interna quando o que o setor privado interno busca é economizar.

É preciso por fim a estas políticas econômicas ridículas. Não precisamos só de um incremento substancial da supervisão e da regulação do setor financeiro, mas temos que deter imediatamente as práticas que geraram, em primeira instância, esta crise. Abandonados a sua própria inércia para enfrentar os problemas atuais, o que os mecanismos de mercado conseguirão é empurrar os executivos e os proprietários de entidades financeiras insolventes a ampliar suas perdas e enrolar-se em uma contabilidade ainda mais fraudulenta, o que inelutavelmente trará consigo um colapso ainda maior.

(*) Marshall Auerback é analista econômico, membro conselheiro do Instituto Franklin e Eleanor Roosevelt, onde colabora com o projeto de política econômica alternativa New Deal 2.0.

Tradução: Katarina Peixoto

Exército de Israel mata doze palestinos em dia de protesto


Milhares de palestinos participaram neste domingo de protestos nas fronteiras de Israel com a Síria e o Líbano, para marcar o dia da Nakba, que marca a criação do Estado de Israel, em 1948. Militares israelenses abriram fogo contra os manifestantes. Pelo menos 12 palestinos foram mortos nos confrontos. “Dei ordem ao exército para atuar com a maior prudência, mas também para impedir que nossas fronteiras sejam violadas”, disse o primeiro ministro israelense Benjamin Netanyahu.

Milhares de palestinos marcharam neste domingo para marcar o dia da “Nakba” (catástrofe, que é como os palestinos chamam o dia da fundação de Israel, em 1948). Militares israelenses abriram fogo contra os manifestantes em áreas localizadas nas fronteiras com a Síria e o Líbano. “Dei ordem ao exército para atuar com a maior prudência, mas também para impedir que nossas fronteiras sejam violadas”, justificou o primeiro ministro israelense Benjamin Netanyahu. Pelo menos 12 palestinos foram mortos nos confrontos.

As tropas israelenses abriram fogo contra uma manifestação de pelo menos 1.000 pessoas que se dirigia em direcção ao check point de Erez, na passagem entre a Faixa de Gaza e Israel. Segundo relatou uma correspondente da Al Jazeera, um grupo de palestinos, incluindo crianças, foi morto pelo exército israelense depois de atravessar um posto de controle do Hamas e entrar no que Israel chama de "zona tampão" - um espaço vazio entre as fronteiras.

Também foram ouvidos disparos de artilharia a partir da fronteira de Israel com a Faixa de Gaza e há notícias da existência de dezenas de feridos resultantes de um tiroteio nas Colinas de Golã, uma área de fronteira com a Síria. Vários refugiados palestinianos vindos do lado sírio foram mortos ao tentar romper o muro da fronteira.

Os incidentes ocorreram nas zonas fronteiriças da Síria e do Líbano. O exército israelense disparou contra manifestantes vindos da Síria que penetraram numa área das colinas de Golan, território ocupado desde 1967 por Israel apesar das condenações internacionais que reconhecem o território como pertencente à Síria.

“Esperamos que a calma regresse rapidamente, mas estamos determinados a defender nossas fronteiras e nossa soberania”, disse ainda Netanyahu, que acrescentou: “as manifestações não dizem respeito às fronteiras de 1967, mas são um questionamento da própria existência do Estado de Israel”.

Para os palestinos, a “Nakba” se traduziu no êxodo de cerca de 760 mil pessoas que, hoje, incluindo seus descendentes chegam a 4,8 milhões. Os refugiados palestinos estão refugiados entre Jordânia, Síria e Líbano. A resolução 194 da ONU dispõe que “os refugiados que desejem regressar a seus lares e viver em paz com seus vizinhos devem ser autorizados a fazê-lo o mais cedo possível”.

Todos os governos israelenses se opuseram à aplicação do direito de retorno. Os palestinos exigem o reconhecimento desse direito por Israel, ainda que se declarem dispostos a negociar as modalidades de sua aplicação.

(*) Com informações do Página/12 e do portal Esquerda.net

Churrasco da 'gente diferenciada'


A polêmica em torno da estação do metrô de Higienópolis -que uma parte da elite do bairro rejeita para evitar um canal de contaminação com a 'gente diferenciada' das periferias--  antecipa o debate eleitoral de 2012 ao dar vertiginosa transparência a uma questão rebaixada pelo noticiário: quem decide São Paulo? Quem discute e opina sobre as políticas urbanas na maior cidade do país? Por que questões importantes como o traçado do metrô, a ampliação das marginas imposta por Serra como artefato eleitoral em 2010, a limpeza do rio Tietê e o que se quer com ele nas próximas décadas, assim como os malabarismos do alcaide serrista Gilberto Kassab em torno do Plano Diretor não são debatidas em audiências públicas de verdade? Amplas e com cobertura adequada e abrangente da mídia? O tucanato que manda no Estado há 17 anos e a mídia que o apóia cobram, com razão, assembléias e debates amplos para as obras federais do  PAC, mas resolvem en petit comite as questões cruciais que vão condicionar o futuro da metrópole e dos seus habitantes. São Paulo não está sucateada apenas do ponto de vista urbanístico. Os mecanismos de discussão da cidade colapsaram; são mais estreitos e anacrônicos que as galerias pluviais remanescentes dos anos 50. O que se espera dos movimentos sociais e da esquerda em geral é que o churrasco da 'gente diferenciada' seja apenas o prato de entrada de um cardápio mais amplo decidido a propor métodos e políticas que devolvam o destino da cidade aos seus cidadãos. O apartheid higienista é uma realidade estruturante na reprodução da cidade. O episódio da estação do metrô  evidenciou uma trinca que rechaça até remendos subterrâneos.  Quais são as propostas da esquerda para reverter esse higienismo social em uma cidade funcional, republicana e democrática do século 21?
(Carta Maior; 2º feira, 16/05/ 2011)