Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Governo Temer é inviável

:

Emir Sader

Bem que a direita tentou. Primeiro, buscando questionar a contagem de votos, depois buscando denúncias de corrupção contra a Dilma, para finalmente ficar com a via golpista de usar uma maioria parlamentar para aprovar um impeachment sem fundamento e levar Temer ao governo interino. Tudo foi devidamente montado, inclusive o circo midiático-parlamentar daquela vergonhosa votação na Câmara, para que se conseguisse o sonho da direita desde 2003: terminar com o ciclo de governos do PT.

Porém, muito cedo Temer demonstrou que não está à altura da pantomima. Seu governo revelou-se rapidamente ser inviável. A começar porque sofre as mais amplas manifestações de repúdio de todos os setores da sociedade, com a exceção da mídia monopolista e do grande empresariado, assim como amplos setores do Judiciário. Os outros setores, de jovens a mulheres, de torcidas de futebol a movimento de música negra, de advogados a professores, de trabalhadores da cidade a trabalhadores do campo, entre tantos outros, repudiam o governo e fazem ecoar diariamente o clamor das ruas do Fora Temer!

Mesmo resignado a governar para o 1% mais rico, o governo interino se revela inviável. Composto por um núcleo de políticos corruptos, cujas gravações já demonstraram seu objetivo de chegar ao governo para se verem livres das acusações de corrução que pesam sobre eles, que inclui o próprio presidente interino, o governo não tem a mínima estabilidade para atuar. Diariamente está convulsionado por novas acusações, por riscos de prisão e possibilidades de novas substituições no governo. Não tem a mínima estabilidade desde dentro mesmo do governo e está sitiado pelas manifestações populares.

Um presidente que, ao invés de transmitir confiança, esperança, de se congraçar com a população, não pode sair às ruas, nem sequer frequentar sua casa em São Paulo. Foge do povo, como foge das acusações que pesam também sobre ele de ter recebido recursos de forma ilegal. Além de que, vergonhosamente, é um politico ficha-suja, um presidente ficha-suja, inelegível por 8 anos.

O país não aguenta um presidente, mesmo interino, e um governo assim. O Brasil precisa, urgentemente, de uma condução politica legítima, eleita pelo povo, com apoio dos brasileiros, para resgatar o Brasil da crise profunda e prolongada que vive.

O governo Temer se revelou inviável, aumentou e não diminuiu a ingovernabilidade, apesar da maioria parlamentar e do apoio da mídia. Não conseguirá sequer abrir as Olimpíadas sem manifestações generalizadas de escracho contra ele, que confirmaram para o mundo sua ilegitimidade e o repúdio dos brasileiros contra ele.

Temer deve renunciar, porque não consegue governar, não consegue impor o programa econômico antipopular e antinacional que anuncia, porque não tem estabilidade interna e nenhum apoio democrático da população. Será um governo de espasmos, de sustos, de instabilidades, acuado, assustado, foragido.
Já não é apenas o clamor das ruas, é o próprio senso comum que diz, pelo bem do Brasil: Fora Temer!

Le Monde: Diante de caos político, Dilma pode voltar

:

Em reportagem intitulada "A implosão do sistema brasileiro", o jornal francês Le Monde, um dos mais influentes da Europa, diz que "a terra treme no Brasil" e aponta que a falta de credibilidade do presidente interino Michel Temer e a crise política pela qual o país atravessa poderão fazer com que a presidente afastada Dilma Rousseff, que vinha sendo considerada "politicamente morta", retome o seu mandato; para a correspondente Claire Gatinois, o governo interino "ainda enfrenta uma sociedade revoltada.

A governabilidade continua frágil. E, sobretudo, a falta de credibilidade continua a envolver uma elite política implicada na operação Lava Jato"; jornalista observa que a população acabou descobrindo que a corrupção não afeta somente o PT e que "todo o sistema político está gangrenado"247 - Com uma matéria intitulada "A implosão do sistema brasileiro" (aqui, em francês), o jornal francês Le Monde diz que "a terra treme no Brasil" e aponta que a falta de credibilidade do presidente interino Michel Temer e a crise política pela qual o país atravessa poderão fazer com a que presidente afastada Dilma Rousseff, que vinha sendo considerada "politicamente morta", retome o seu mandato.

Segundo a matéria, a expectativa era de que com o afastamento de Dilma, no dia 12 de maio, Michel Temer implantasse medidas rápidas para tirar o país da crise econômica e política, o que não aconteceu. Para a correspondente Claire Gatinois, o governo interino "ainda enfrenta uma sociedade revoltada. A governabilidade continua frágil. E, sobretudo, a falta de credibilidade continua a envolver uma elite política implicada na operação Lava Jato".

O jornal destaca ainda que Temer, "antigo" parceiro de Dilma, prometeu criar um governo de "união nacional" e o que se viu de fato foi a queda de dois ministros do seu governo em menos de um mês. O veículo lembra que outros membros do ministério do governo Temer são investigados pela Operação Lava Jato. Um deles - Henrique Alves, do Turismo - foi mantido no cargo essa semana apesar da divulgação de gravações envolvendo seu nome
.
A jornalista observa que a população acabou descobrindo que a corrupção não afeta somente o PT e que "todo o sistema político está gangrenado". "Mais de um terço dos parlamentares estão sendo investigados. Até mesmo a probidade do Supremo Tribunal Federal é questionada", diz o texto.

Glenn Greenwald: “Tudo ficou mais claro: é golpe”

:

Em entrevista à Carta Capital, o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept, disse que não há dúvidas sobre os motivos do impeachment; "Qualquer que seja a definição de 'golpe', ela se enquadra no que foi feito no Brasil com relação à presidenta Dilma Rousseff. Houve envolvimento de políticos, da Justiça, da mídia e dos militares", afirmou; Greenwald não poupou críticas à atuação do ministro Gilmar Mendes, do STF; "É impensável ver um juiz encontrando-se com políticos, almoçando com políticos" 

247 - O jornalista e escritor Glenn Greenwald, do site The Intercept, disse em entrevista à revista Carta Capital que não há dúvidas de que a presidente Dilma Rousseff é vítima de um golpe parlamentar.
"Entendi que o impeachment foi desfechado para impedir a Lava Jato. Mas, em última instância, ele visa a aniquilar o PT e mudar totalmente os rumos do País, impondo políticas que nunca seriam aceitas pela população, pelo voto", disse ele.
Ele conta que começou a usar a palavra golpe para descrever a situação do Brasil após a divulgação da conversa do senador Romero Jucá (PMDB-RR), ex-ministro do Planejamento do governo interino de Michel Temer.
"Eu, pessoalmente, nunca usava a palavra golpe porque, para mim, era como a palavra 'terrorismo'. Todo mundo usa essa palavra politicamente. Não tem um significado específico. Para mim, a gravação de Jucá mudou tudo, porque tive todos os ingredientes necessários para definir um golpe", diz Greenwald. "Qualquer que seja a definição de "golpe", ela se enquadra no que foi feito no Brasil com relação à presidenta Dilma Rousseff. Houve envolvimento de políticos, da Justiça e dos militares, entre outros. O motivo não foram as alegadas 'pedaladas fiscais'. No dia da votação na Câmara, ninguém falou desse motivo", afirmou.
Ganhador de um Prêmio Pulitzer e personagem do documentário que fez com Laura Poitras sobre o ex-agente americano Edward Snowden, Glenn Greenwald se diz chocado com o fato de ver o Brasil relegado ao 104º lugar no quesito liberdade de imprensa no mundo, na avaliação imparcial da ONG Repórteres sem Fronteitas, que destacou em seu relatório de 2016.
"De maneira pouco velada, os principais meios de comunicação incitaram o público a ajudar na derrubada da presidenta Dilma Rousseff. Os jornalistas que trabalham nesses grupos estão claramente sujeitos à influência de interesses privados e partidários, e esse permanente conflito de interesses prejudica fortemente a qualidade de suas reportagens. Imagino que isso deve ter causado muita vergonha no Estadão, Folha, Globo, Veja e IstoÉ", afirmou.
Sobre a atuação de magistrados do Judiciário brasileiro, como o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, Glenn Greenwald comparou ao que ocorre nos Estados Unidos. "Um juiz da Suprema Corte não pode falar publicamente sobre assuntos que estão em julgamento. A autoridade do Judiciário precisa ser e parecer independente da política. É impensável ver um juiz encontrando-se com políticos, almoçando com políticos. Para mim, como advogado que sou, esse processo é totalmente corrupto. Que confiança você pode ter num juiz que discute com políticos casos que está julgando?", questiona.
Leia na íntegra a entrevista de Glenn Greenwald à Carta Capital.